Ao retornar da Copa do Mundo da Suécia como o
mais celebrado dos jogadores pela crônica esportiva – junto com Garrincha,
Didi, o brilhante meio-campista que Nelson Rodrigues carimbou como o ‘Príncipe
Etíope’, lembrou-se que tinha de pagar uma promessa feita ao Senhor do Bonfim,
na Bahia. Não devia apenas o pagamento pela promessa feita, caso a Seleção
Brasileira trouxesse para a casa a Copa Jules Rimet. Devia outra, atrasada,
quando prometeu ao santo vir à Bahia, caso seu time, o Botafogo, conquistasse o
título de campeão carioca de 1957.
Na manhã de 25.07.1958, Didi subiu a Colina
Sagrada, em companhia de sua lindíssima esposa, atriz do elenco da Tupy, a
baiana Guiomar Pereira, e a sua pequena filha, Rebeca. O craque da Seleção
rezou no interior do templo, agradeceu a Deus, distribuiu autógrafos no adro e
depositou na Sala dos Milagres uma bola de cera e os uniformes do Botafogo e da
Seleção Brasileira. A sua esposa, Guiomar, devota fervorosa do Senhor do
Bonfim, tinha sido a mentora da promessa feita e paga naquele momento. O que o
casal não sabia é que no dia em que o Brasil derrotou a Suécia por 5x2 os sinos
do Bonfim, assim como de outras igrejas de Salvador, badalaram por horas.
A seleção do Brasil era uma das favoritas no
Mundial de 1958, em função das boas apresentações realizadas em jogos
amistosos, em especial na Itália, e a crônica desportiva já destacava a
qualidade da defesa, nenhuma palavra de incentivo que não fosse para a zaga, a
não ser para o médio-volante Didi. O jogo de estreia contra os austríacos
firmou essa convicção; o Diário da Noite estampou em manchete: - “A defesa
sobrepujou totalmente o ataque”. Didi seria durante toda a Copa a grande
atração, a imprensa sueca lhe conferiu o título de melhor jogador. A Copa de 1958,
porém, revelaria outro grande craque, Garrincha, que deu um baile nos russos e
no jogo final contra os suecos foi o maior destaque ao lado de Didi, Pelé, Vavá
e Zagalo.
A vitória do Brasil nos campos europeus
enlouqueceu o país que deu vazão à maré de entusiasmo represada desde a
fatídica derrota para os uruguaios, em 1950, no Maracanã. Em todas as cidades
houve festas e Carnaval e em Salvador como já dito um tocar de sinos geral,
espontâneo, badaladas de autêntica fé. O jogo da vitória foi assistido pelo
rádio, em praças públicas, através de alto-falantes, nenhuma imagem na TV; não
tínhamos ainda satélite para transmissões ao vivo, devíamos nos contentar com
os filmes editados, cinco minutos se muito, exibidos no telejornal da noite, no
dia seguinte. O cinema preencheu a saudade com a exibição de um filme da Copa
do Mundo, produzido pelos alemães, exibido em agosto de 1958 em todo o país.
A Odeon aproveitou a oportunidade e gravou e
distribuiu 100 mil discos, um LP de 33 rotações, com a narrativa dos gols do
Brasil comentados por Valdir Amaral. Toda a sociedade se mobilizou para premiar
os craques que na época ganhavam em poucos e desvalorizados cruzeiros. Os
jogadores receberam da indústria e do comércio, cada, uma moto Monark, um jipe
Willis Overland, caneta Parker, aparelho de som Philips, relógio Ômega, um
aparelho de TV GE e mais gasolina de graça por um ano nos postos Esso.
Receberam também ternos e sapatos, 10 mil cruzeiros em conta poupança da Caixa e
até ações da Petrobrás, oferta dos funcionários que doaram uma hora de
trabalho, dentre outros mimos.
A bela Guiomar Pereira, que convenceu Didi a
fazer a promessa ao Senhor do Bonfim, foi sua companheira por mais de meio
século, várias vezes esteve na Bahia, acompanhando o jogador nos jogos oficiais
para louvar o santo e se deu ao luxo de morrer apenas um mês após o craque
desencarnar.
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