por CLAUDIO ZAIDAN
Garrincha dribla
Mel Hopkins (País de Gales), em jogo pela Copa do Mundo de 1958
Créditos: AFP
PHOTO/INTERCONTINENTALE
Já perdi a conta das vezes em que, de uns
tempos pra cá, ouvi debates sobre a situação do Botafogo. Nada a ver com a
posição do time no campeonato, ou com a mudança de técnico, ou com o fundo de
investimento que parece ser a única saída para o clube. O que discutem é a
grandeza do Botafogo.
Algumas dessas conversas são sérias, mantidas
por gente que descarta falsas polêmicas; mas há os debates primários e
indigentes. Vez ou outra, […] os debatedores parecem tentar definir uma
medida capaz de estabelecer o tamanho de uma instituição. Mas há histórias que
não podem ser mensuradas. […]
Sei que há, pelo mundo, agremiações que podem
ser definidas em sua largura e em sua estatura, e cuja existência nunca interferiu
na importância do futebol. […] Mas há os clubes que se fizeram
imprescindíveis para a grandeza do futebol e até mesmo para o melhor da
história da Copa do Mundo. Entre estes está o Botafogo.
No jogo que deu ao Brasil seu primeiro título
mundial, em 58, contra a Suécia, estavam em campo três jogadores
de General Severiano [nota do MB: quatro, e não três, porque Zagalo já era
jogador do Botafogo quando integrou o elenco campeão]: Nilton Santos, Didi e Garrincha [nota do MB: e Zagallo]. Quatro anos depois, o Brasil faturou sua
segunda Copa. Na decisão, contra a Tchecoslováquia, cinco botafoguenses foram
titulares [nota do MB: Nilton Santos, Didi, Garrincha, Amarildo e Zagalo]. […]
O time titular do Brasil na Copa de 62 era
quase um combinado de Santos e Botafogo. […] A ausência de Pelé desde o terceiro jogo,
além de mudar a carreira de Amarildo, mexeu com a disposição de outro fenômeno:
Mané Garrincha.
Todo o mundo esperava que o ponta brasileiro
simplesmente repetisse o que havia feito em 58. […] Mas
ele fez muito mais. […] Mané mostrou
ser capaz de um espetáculo ainda maior e mais rico que sua rotina de jogadas
espantosas. […]
Didi foi um dos melhores que o mundo viu. O
Botafogo foi o único clube na vida de Nilton Santos, que não precisou de outra
camisa para ser reconhecido como enciclopédia do futebol.
E veio a geração seguinte, com Nei, Rogério,
Gerson, Jairzinho, Roberto e Paulo Cezar; permaneceu o Manga, melhor goleiro da
história do clube. Resultado: dois títulos estaduais seguidos e um brasileiro.
Gerson e Jairzinho foram titulares de Saldanha na seleção que venceu todos os
jogos no classificatório para a Copa no México.
Paulo Cezar também foi utilizado na campanha [nota do MB: e também Roberto Miranda, que
substituiu Tostão e Jairzinho em dois jogos].
No Mundial, sob comando de Zagallo, não houve partida em que Jairzinho não
marcasse gol – foram sete em seis jogos. Gerson, que já havia trocado o
Botafogo pelo São Paulo, jogou um futebol extraordinário nos campos mexicanos.
Paulo Cezar foi titular contra a Inglaterra, então campeã mundial, e contra a
Romênia.
A história do Botafogo tem assinatura de
Oscar Basso, Carvalho Leite, Carlos Alberto, Fischer, Nilo, Nariz, Túlio, Mauro
Galvão, Flávio Ramos, Paraguaio, Afonsinho, Leônidas, Octávio, Dirceu, Marinho
Chagas, Hime, Dino da Costa e Paulo Valentim. Lá está a assinatura de
Quarentinha, maior artilheiro do clube. O extraordinário Leônidas da Silva, que
tinha mania de ser campeão, gravou seu nome com um título. Essa história tem o
irrepetível e genial Heleno de Freitas.
E insisto: tem Jair, Paulo Cezar, Manga,
Didi, Gerson e Nilton Santos. Mas já bastaria ter Garrincha. […]
A vida do Botafogo não está fácil. É ótimo
que sua crise seja discutida, avaliada, mensurada. Mas que a crônica não
pretenda questionar o tamanho dessa história. A grandeza do Botafogo durará até
ao último apito do último jogo de futebol.
Leia o texto completo na coluna ‘Campo
Livre’ em https://www.uol.com.br/esporte/colunas/campo-livre/2019/11/11/zaidan-a-crise-e-a-grandeza-do-botafogo.htm
1 comentário:
O Zaidan é um dos grandes conhecedores de futebol e um respeitado jornalista da imprensa do Brasil.
Ele disse tudo aquilo o que os novos jornalistas não dão o braço a torcer.Reconhece sem menosprezar ninguém,a grandeza do Botafogo e a prova com fatos irrefutáveis.
Os melhores trechos do texto para mim são: "Sei que há, pelo mundo, agremiações que podem ser definidas em sua largura e em sua estatura, e cuja existência nunca interferiu na importância do futebol. […] Mas há os clubes que se fizeram imprescindíveis para a grandeza do futebol e até mesmo para o melhor da história da Copa do Mundo. Entre estes está o Botafogo." e "A grandeza do Botafogo durará até ao último apito do último jogo de futebol."
Para nós,que gostamos do futebol-arte,o Botafogo contribuiu muitíssimo para a história do FUTEBOL como um todo.
Contribuiu para que o futebol brasileiro fosse globalizado,ou seja conhecido pelo mundo todo e tendo a simpatia pelos estrangeiros ao redor do planeta.
Há alguns clubes e seleções que transformaram o futebol no esporte que ele é hoje e é inegável a participação do Botafogo nesse processo.
Pra mim aquela lista dos maiores clubes do seculo XX está quase correta,mas para mim faltou Torino,Sporting e Honved,elas estão mais no "imaginario" do futebol-arte que algumas equipes que lá estão inclusas. E com menções honrosas a Vasco do Expresso,Palmeiras da Academia e Cruzeiro entre 66-75.
O que seria do futebol sem o pioneirismo tatico do Arsenal,Austria da decada de 30,Hungria da decada de 50,O Real Madrid de Di Stefano,O Barça com a invasão hungara,o Honved de Puskas,o River e o Torino da decada de 40,Botafogo e Santos da decada de 60,Ajax e Holanda,etc.
Enquanto aqui no Brasil tem gente achando q um certo tecnico tá inventando a roda.
Na verdade só está fazendo o obvio,reuniu bons jogadores para jogar de uma forma q as outras não jogam,com velocidade e troca de passes,nada mais que isso.
Visto que as outras equipes salvo 1 ou 2,não conseguem fazer o básico.
Ps: Sobre esse tema de futebol revolucionario,eu tenho que o Botafogo da decada de 30 certamente já jogava um futebol moderno para a época,talvez até muito próximo do que foi uma Austria de 1930,ou Hungria de 1954.
Abraços,Ruy!!!
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