por
Ruy Moura
editor
do Mundo Botafogo
Confesso
que só a grande paixão pelo Botafogo me faz ver futebol tão ruim, seja nas
bases seja na equipe principal. Para quem gosta sobretudo de assistir a grandes
partidas onde se joga futebol verdadeiramente profissional, ou
profissionalizante como é o caso das bases, é doloroso acompanhar aquilo que
todos – julgo eu – reconhecem ser futebol abaixo do tolerável.
Se a nossa equipe principal é fraca, os juniores não
lhe ficam atrás, parecendo mais infantis do que juniores, tal a falta de noção
de jogo coletivo, de posicionamento tático e de visão, acrescido da falta de
forte vontade de vencer. O individualismo, as firulas, o absurdo afunilamento
para o miolo da área querendo driblar quatro ao mesmo tempo como se Garrincha
fossem, predomina durante os 90 minutos de jogo.
O Botafogo jogou sem um esquema tático forte, sem uma
marcação vincada, sem vontade clara de vencer temeroso do adversário e sem autoridade
construída na consistência do jogo. E o Visão Celeste acabou por ameaçar
perigosamente as redes à guarda de Andrew e, caso fosse uma boa equipe, teria
mesmo feito dois gols em contra-ataques rápidos, deixando o Botafogo em maus
lençóis.
A estes jogadores falta claramente uma cultura
futebolística de imposição e determinação vencedora. Recordo-me quando o FC
Porto chegou a ganhar 7 em 8 campeonatos portugueses apostando numa forte
padronização das equipes: desde os mirins aos atletas da equipe principal o
sistema tático era o 4x3x3, os treinadores eram escolhidos em função disso, os
atletas ganhavam perspectiva tática, sentido de equipe, cooperação permanente,
capacidade de luta e acabavam por ganhar campeonatos uns atrás dos outros.
No Botafogo, recordo-me que Manoel Renha [dirigente
sério e de muita confiança, mas de quem discordo estrategicamente no que
respeita ao futebol das bases] despediu, em 2016, um treinador campeão da base (campeão
Estadual de 2014, campeão do Torneio Otávio Pinto Guimarães de 2015, líder do
Estadual 2016 que acabaríamos por conquistar e o seu sucessor ainda beneficiou
do seu trabalho ao ganhar o Brasileirão Sub-20 posteriormente) com o argumento
que as bases não existiam para ganhar campeonatos, mas para criar alternativas
de chegada à equipe principal.
“Mesmo
com os juniores na liderança do Campeonato Carioca e invicto, com 16 pontos
conquistados em seis rodadas, a comissão técnica foi desfeita com as saídas do
treinador Maurício Ferreira, mais conhecido por "Mauricinho", do
auxiliar técnico Irapuã França e do preparador de goleiros Gérson Rios. Os
próprios jogadores foram pegos de surpresa com o desligamento”. –
Globoesporte.com de 25.02.2016.
Porém, quando essa equipe, 7 meses
depois, foi campeã brasileira, Renha proclamou que “Ganhar um título todos gostam, para mim esse é o título mais
competitivo da categoria. Sem desmerecer a Copa São Paulo, esse é diferente,
tem os 20 maiores clubes do Brasil.” – Globoesporte.com de 21.09.2016.
Desde aí, as bases somente conquistaram o Torneio OPG em
2017, porque não conseguiram vencer nenhum campeonato estadual ou brasileiro em
2017, 2018 e 2019, e não foram revelados atletas que fossem grandes promessas.
Em minha opinião, foi um erro absurdo demitir
Mauricinho e toda a sua comissão técnica que fez um trabalho notável de ganhar
títulos e incutir uma cultura vencedora. Jairzinho e uma boa parte das
fabulosas equipes da segunda metade da década de 1960 (bicampeões cariocas,
bicampeões da Taça Guanabara e campeões da Taça Brasil) haviam sido
tetracampeões de juniores na primeira metade da década (1961-62-63-64).
E foi aí que se começou a ganhar espírito de equipe vencedora,
que exercitou o seu sentido coletivo, que saboreou as vitórias e as taças
obtidas, numa época de grande revelação de jogadores com cultura vencedora…
Não me parece aceitável que não se preparem jogadores
com espírito vencedor, e habituados às vitórias, para integrar a equipe
principal – isso também é formação! Não o fazer é preparar atletas numa base
individualista, sem cultura tática e sem cultura vencedora, num mundo
futebolístico dominado pelo taticismo, pela cooperação coletiva, pela
preparação física e mental, pela absoluta busca de resultados vencedores.
O Botafogo tinha obrigação de pressionar fortemente o
Visão Celeste desde o início da partida, mas começou com uma sucessão de
movimentos frouxos e demorou 63’ a marcar um gol contra a sofrível equipe do
Visão Celeste (e só após três rebotes sucessivos que resultaram de uma cobrança
de falta de Wendel, que embateu no poste). No final da partida Ênio mencionou
ao repórter que o Botafogo jogara mal no 1º tempo porque era a estreia e havia
muito nervosismo. Nervosismo contra o Visão Celeste?... Só mesmo de jogadores
não formados numa cultura futebolística vencedora.
Continuo sendo opositor da estratégia desenvolvida nas
bases, que deixou de ganhar os títulos necessários a uma cultura vencedora e
nem por isso criou jogadores de elevado nível para a equipe principal como Manoel
Renha anunciara.
Mas continuamos torcendo pelo nosso apaixonante Clube,
evidentemente… E aguardando por melhores exibições da nossa equipe na Copa São
Paulo.
Nota de rodapé: Wendel pela criação e Ênio pelos
oportunos remates certeiros foram os destaques do jogo.
FICHA TÉCNICA
Botafogo
2x0 Visão Celeste (RN)
» Gols: Ênio, aos 63’ e 70’
» Competição: Copa São Paulo de Futebol Júnior
» Data: 03.01.2019
» Local: Estádio Doutor Alfredo de Castilho, em Bauru
(SP)
» Árbitro: Rafael
Emílio Acerra; Assistentes: Marcelo Zamian de Barros e
Orlando Massola Júnior
» Disciplina: Wesley, Wendel, Ênio e Michel (Botafogo) e
João Victor, Gabriel e Marcos Guilherme (Visão Celeste)
» Botafogo: Andrew; Diego (Elivelton), Sousa, Wesley (Henrique
Luro) e Hugo; Wendel, Romildo (Michel) e Maciel (Juninho); Renato (Dedé), Ênio
e Maxuel (Thiaguinho). Técnico: Marcos Soares.
» Visão Celeste: João Victor; Pedro, Natan, João Paulo e
Victor; Ítalo (Evando), Marcelo e Odair (Francisco de Assis); Bisneto (Marcos
Guilherme), João e Gabriel. Técnico: Hélio Florêncio.
Sem comentários:
Enviar um comentário