por FERNANDO VANNIER BORGES
Centro de Pesquisa e Estudos
Sociais da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Portugal
Explosão da oferta no mercado de media desportivo
A abertura
dos mercados de telecomunicações na Europa fez aumentar a concorrência. Para
atrair o público, houve uma corrida por direitos de transmissão, elevando os
preços de conteúdos desportivos, sobretudo no futebol. Isso fez com que o
desporto passasse a ser explorado, em sua maioria, por canais privados e
especializados. Apesar de haver concorrência entre diferentes tipos de media, a abundância de informação
desportiva pode acabar sendo benéfica. A televisão detém o papel na transmissão
dos jogos, enquanto rádios e online
conseguem dar as notícias de maneira mais rápida e o impresso tem espaço para
análises mais aprofundadas. Assim, cada um acaba por achar o seu espaço, sem
que haja grandes prejuízos (Boyle, 2006).
Contudo, a
ampliação da oferta nos conteúdos não significou maior variedade ou aumento de
qualidade. Veículos especializados contribuem para uma maior circulação de
informação desportiva, mas há uma concentração em modalidades mais populares e
espetacularizadas. A hierarquia que se cria pode estar sujeita a efeitos de
conjuntura, como sucesso momentâneo, gostos nacionais e grandes acontecimentos,
como os Jogos Olímpicos (Marchetti, 2002, p. 70). Com a sofisticação do
mercado, surgem mais ações de promoção cruzada e maior proximidade entre os
setores comerciais, editoriais e desportivos. Veículos impressos aproveitam
grandes eventos desportivos ou momentos no início da época para lançar edições
especiais, almanaques e guias sobre campeonatos. Outra estratégia recorrente
para veículos impressos tradicionais passa pela criação de canais de televisão
paga ou via Internet como forma de manter uma posição de destaque no mercado
editorial. Exemplos podem ser vistos em Portugal, através de A Bola, mas também
no Times de Londres (Boyle, 2006, 89) e, em França, com o jornal L’Équipe
(Marchetti, 2002, p. 73).
O
crescimento económico do futebol permitiu que a cobertura jornalística se
expandisse. Mais do que cobrir resultados, os lados económico e cultural também
passaram a ocupar as páginas dos jornais. Para Boyle (2006, p. 92), o futebol é
o principal motor de transformação, na medida em que ele agora faz parte da
indústria do entretenimento, sendo um negócio importante envolvendo as finanças
de grandes corporações. O crescimento do futebol como indústria e a sua
internacionalização, associada a maior demanda por conteúdo, fizeram com que a
cobertura desportiva – principalmente de grandes eventos – tomasse também
conotações políticas e económicas, mudando a forma como o jornalismo desportivo
era tradicionalmente feito.
O aumento do
fluxo financeiro no futebol profissional e o interesse das grandes marcas em
associar a sua imagem a clubes e atletas fez com que o poder e a influência de
agentes, consultores de imagem e relações públicas aumentassem. Esses
profissionais agem como intermediários entre as estrelas e o público, tendo por
meta a construção e gestão da imagem de seus clientes através de uma variedade
de plataformas. Isso acabou influenciando a velocidade, a escala e o formato da
atual cultura de celebridade (Whannel, 2002). O reposicionamento do futebol
como parte da indústria do entretenimento e dos espetáculos faz com que algumas
das práticas dos últimos sejam incorporadas ao ambiente desportivo, tornando,
também o jornalismo desportivo, mais semelhante ao jornalismo feito sobre
setores das indústrias culturais (Boyle, 2006, p. 111).
Tanto
atletas como clubes passaram a empregar profissionais de comunicação para gerir
a sua relação com a imprensa. Tendo em conta o volume dos investimentos
económicos e a multiplicação de jornalistas e veículos cobrindo o desporto, os
organizadores dos grandes eventos e instituições desportivas profissionalizaram
a sua comunicação, exercendo maior controle sobre o acesso e a difusão da
informação (Borges, 2018). A concretização dessas estratégias se evidencia pelo
recurso frequente às conferências de imprensa, o desenvolvimento de sites por onde são divulgadas as
informações e a negociação das entrevistas (Marchetti, 2002, p. 76).
Dentro dos
clubes, o processo de profissionalização passa pelo reconhecimento da
importância de pessoas especializadas na comunicação de organizações desportivas,
como assessores de marketing,
relações públicas, entre outros (Montañola et al, 2012). O nível de
mediatização de uma modalidade desportiva e a sua notoriedade influenciam o
nível de desenvolvimento da profissionalização da comunicação e os orçamentos
colocados a disposição (Frandsen, 2016). Sendo o futebol a modalidade mais
popular e que gera mais recursos no mundo, ao lado das grandes ligas
americanas, é normal que essas organizações tenham atingido um nível de
profissionalização mais avançado.
Alguns
clubes decidiram ir mais além e criaram seus próprios canais de televisão. O
Manchester United foi o pioneiro ao lançar um canal de TV paga com conteúdos
exclusivos sobre o clube. Com o tempo, outros clubes, tanto no Reino Unido
(Boyle & Haynes, 2004), como em outros países, seguiram o exemplo da MUTV.
Tal como há uma variedade de clubes e formas de gestão, o mesmo pode ser dito
sobre os seus media, pois assumem
diferentes formatos, como rádio online,
TV paga, WebTV, entre outros (Borges, 2017).
BORGES, F.
V. (2019). Os clubes de futebol e novas formas de produzir a informação
desportiva. In Media, comunicação e
desporto. Mediapolis – Revista
de Comunicação, Jornalismo e Espaço Público, nº 8, p. 121-122. https://doi.org/10.14195/2183-6019_8_8
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