quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Os clubes de futebol e novas formas de produzir a informação desportiva – estudo de casos Benfica, Botafogo e PSG (II)

por FERNANDO VANNIER BORGES
Centro de Pesquisa e Estudos Sociais da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Portugal

Explosão da oferta no mercado de media desportivo

A abertura dos mercados de telecomunicações na Europa fez aumentar a concorrência. Para atrair o público, houve uma corrida por direitos de transmissão, elevando os preços de conteúdos desportivos, sobretudo no futebol. Isso fez com que o desporto passasse a ser explorado, em sua maioria, por canais privados e especializados. Apesar de haver concorrência entre diferentes tipos de media, a abundância de informação desportiva pode acabar sendo benéfica. A televisão detém o papel na transmissão dos jogos, enquanto rádios e online conseguem dar as notícias de maneira mais rápida e o impresso tem espaço para análises mais aprofundadas. Assim, cada um acaba por achar o seu espaço, sem que haja grandes prejuízos (Boyle, 2006).

Contudo, a ampliação da oferta nos conteúdos não significou maior variedade ou aumento de qualidade. Veículos especializados contribuem para uma maior circulação de informação desportiva, mas há uma concentração em modalidades mais populares e espetacularizadas. A hierarquia que se cria pode estar sujeita a efeitos de conjuntura, como sucesso momentâneo, gostos nacionais e grandes acontecimentos, como os Jogos Olímpicos (Marchetti, 2002, p. 70). Com a sofisticação do mercado, surgem mais ações de promoção cruzada e maior proximidade entre os setores comerciais, editoriais e desportivos. Veículos impressos aproveitam grandes eventos desportivos ou momentos no início da época para lançar edições especiais, almanaques e guias sobre campeonatos. Outra estratégia recorrente para veículos impressos tradicionais passa pela criação de canais de televisão paga ou via Internet como forma de manter uma posição de destaque no mercado editorial. Exemplos podem ser vistos em Portugal, através de A Bola, mas também no Times de Londres (Boyle, 2006, 89) e, em França, com o jornal L’Équipe (Marchetti, 2002, p. 73).

O crescimento económico do futebol permitiu que a cobertura jornalística se expandisse. Mais do que cobrir resultados, os lados económico e cultural também passaram a ocupar as páginas dos jornais. Para Boyle (2006, p. 92), o futebol é o principal motor de transformação, na medida em que ele agora faz parte da indústria do entretenimento, sendo um negócio importante envolvendo as finanças de grandes corporações. O crescimento do futebol como indústria e a sua internacionalização, associada a maior demanda por conteúdo, fizeram com que a cobertura desportiva – principalmente de grandes eventos – tomasse também conotações políticas e económicas, mudando a forma como o jornalismo desportivo era tradicionalmente feito.

O aumento do fluxo financeiro no futebol profissional e o interesse das grandes marcas em associar a sua imagem a clubes e atletas fez com que o poder e a influência de agentes, consultores de imagem e relações públicas aumentassem. Esses profissionais agem como intermediários entre as estrelas e o público, tendo por meta a construção e gestão da imagem de seus clientes através de uma variedade de plataformas. Isso acabou influenciando a velocidade, a escala e o formato da atual cultura de celebridade (Whannel, 2002). O reposicionamento do futebol como parte da indústria do entretenimento e dos espetáculos faz com que algumas das práticas dos últimos sejam incorporadas ao ambiente desportivo, tornando, também o jornalismo desportivo, mais semelhante ao jornalismo feito sobre setores das indústrias culturais (Boyle, 2006, p. 111).

Tanto atletas como clubes passaram a empregar profissionais de comunicação para gerir a sua relação com a imprensa. Tendo em conta o volume dos investimentos económicos e a multiplicação de jornalistas e veículos cobrindo o desporto, os organizadores dos grandes eventos e instituições desportivas profissionalizaram a sua comunicação, exercendo maior controle sobre o acesso e a difusão da informação (Borges, 2018). A concretização dessas estratégias se evidencia pelo recurso frequente às conferências de imprensa, o desenvolvimento de sites por onde são divulgadas as informações e a negociação das entrevistas (Marchetti, 2002, p. 76).

Dentro dos clubes, o processo de profissionalização passa pelo reconhecimento da importância de pessoas especializadas na comunicação de organizações desportivas, como assessores de marketing, relações públicas, entre outros (Montañola et al, 2012). O nível de mediatização de uma modalidade desportiva e a sua notoriedade influenciam o nível de desenvolvimento da profissionalização da comunicação e os orçamentos colocados a disposição (Frandsen, 2016). Sendo o futebol a modalidade mais popular e que gera mais recursos no mundo, ao lado das grandes ligas americanas, é normal que essas organizações tenham atingido um nível de profissionalização mais avançado.

Alguns clubes decidiram ir mais além e criaram seus próprios canais de televisão. O Manchester United foi o pioneiro ao lançar um canal de TV paga com conteúdos exclusivos sobre o clube. Com o tempo, outros clubes, tanto no Reino Unido (Boyle & Haynes, 2004), como em outros países, seguiram o exemplo da MUTV. Tal como há uma variedade de clubes e formas de gestão, o mesmo pode ser dito sobre os seus media, pois assumem diferentes formatos, como rádio online, TV paga, WebTV, entre outros (Borges, 2017).

BORGES, F. V. (2019). Os clubes de futebol e novas formas de produzir a informação desportiva. In Media, comunicação e desporto. Mediapolis – Revista de Comunicação, Jornalismo e Espaço Público, nº 8, p. 121-122. https://doi.org/10.14195/2183-6019_8_8

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