por JOCELYN DE SOUSA LOPES
Acervo de ANGELO ANTONIO SERAPHINI, Colaborador do Mundo Botafogo
Boletim Oficial do Botafogo, nº 74, de 1948. Título original: “Duas atitudes que valem uma história”
[…] Uma feliz batida de flagrante fotografico, assinala a manifestação louca e exultante de Pirilo quando Otávio havia marcado o segundo goal que deu a vitória ao Botafogo no jogo contra o Vasco; nesse salto flutuante, braços levantados, bôca excepcionalmente aberta como se dela se escapasse um formidável “hurrah”, cabeleira do leo, fisionomia em franca alegria, Sílvio Pirilo o já perfeito botafoguense se expânde numa explosiva manifestação de alegria pelo feito de seu companheiro de ala.
Essa alegria, esse espoucar de entusiasmo, toda essa expressão de ardor com que tem se portado entre nós o valoroso centro avante gaúcho, envergando a camisa do clube da estrela solitária, seria muito natural e bem cômoda a velhos botafoguenses que há anos vêm lutando nas suas hostes em defesa das suas côres.
Isso seria comum, essa alegria seria bastante aceitável se partisse, como também partiu, de um Oswaldo, Gerson, Juvenal, Otávio ou Geninho, elementos que vêm por mais de ano defendendo a grémio de Carlos Martins da Rocha. Mas, partindo de um jogador que no primeiro campeonato defende esta jaqueta, recém-vindo de um clube co-irmão, mas adversário destemido como sempre soube ser o rubro-negro e onde durante sete longos anos foi ardoroso elemento, constitue a afirmação do já acendrado amor que Pirilo dedica ao seu atual clube, integrando-o com carinho na família botafoguense.
Pode o autor destas linhas mencionar com satisfação de que modo Pirilo se portou nas altas regiões da Bolívia, onde mesmo bastante contundido jogou matchs de sensação se portando de maneira apreciável pelo seu valor pessoal e interesse pela vitória.
Nesta ocasião em que Otavio assinalava o espetacular goal da vitória sobre os vascaínos, Pirilo poderia felicitar e abraçar seu companheiro como uma manifestação de solidariedade simplesmente. Mas, o seu gesto tão expressivo, arrojando-se ao alto com seus braços francamente levantados como que acenando aos céus, agradecendo a vitória, numa atitude de raro entusiasmo, bem traduz a limpidez de sua alma de são desportista, fervoroso e leal, merecendo com sinceridade um registro especial pelas colunas do BOLETIM. […]
Assim, nesta página, referendo sinceramente o conceito com que já é tido Pirilo perante a já fortalecida torcida botafoguense; desejo associar-me aos que vêm em Pirilo, o defensor sempre ardoroso como se nas hostes do Clube já labutasse de há muito.
Pirilo cresceu no nosso conceito e construiu no coração de cada botafoguense um degrau da escada que o levará ao apogeo dos grandes ídolos do grande clube alvi-negro.
Esse seu salto espetacular com que quiz festejar
sósinho, antecipadamente a vitória do Glorioso, elevou-o para nunca mais
baixar, na simpatia e sincera amizade dos seus inúmeros admiradores.
12 comentários:
Olá Ruy!
Que alegria ler essa matéria, Pirilo é um craque que tenho no meu coração, e é uma alegria ele ser festejado em CRF e BFR.
Outro dia mesmo falávamos dele por aqui,sobre o que Nilton Santos dizia a seu respeito.
Lindo o texto de JOCELYN DE SOUSA LOPES!
Pirilo foi o substituto insubstituível, chegou ao Flamengo após a saída de Leonidas que conquistou pelo Fla um carioca em 39 e foi parte fundamental do tri de 42 43 e 44. Chega ao Botafogo após a saída de Heleno que não teve a felicidade de ser campeão pelo BFR, e logo em 48 já se sagra campeão, com título em cima do Expresso da Vitória, Vascaíno.
Ele é o detentor do maior número de gols numa edição de campeonato carioca, 39 gols em 1941.
Já vi escreverem seu nome como Pirilo e como Pirillo, isso certamente importa menos que seus 6 gols marcados em apenas 5 jogos pela seleção.
Ele é o 4 maior artilheiro da história do Flamengo, e ainda conseguiu marcar seu nome na história do BFR, ao ajudar no seu primeiro título no futebol profissional, após a unificação do Club de Regatas e o Football Club.
Imaginem substituir Leônidas e Heleno, e lograr êxito! Tarefa para muitos poucos, quase ninguém.
Que gostoso passar por aqui.
Um abração!
Pirillo era realmente pessoa sensacional e atleta bem completo, conseguindo substituir dois «cracaços» como Leônidas da Silva e Heleno de Freitas.
Provavelmente, Friendereich, Carvalho Leite, Leônidas e Heleno terão sido os maiores craques da 1ª metade do século XX, mas o ganho obtido com Pirillo no Botafogo foi considerável, porque a equipe estava habituada a jogar para Heleno, que era muito individualista e de personalidade complicativa, e Pirillo veio dar uma nova dimensão à equipe do Botafogo tornando-a muito mais coletiva e colaborativa, que desse modo conseguiu conquistar o título que o Clube perseguiu ano após ano na década de 1940 e não o obteve senão em 1948 após a saída de Heleno.
Grande abraço, Leymir!
Só pra enriquecer um pouco mais a histórica foto, eis a ficha do jogão.
Botafogo 3 x 1 Vasco[1]
Data: 12/12/1948
Local: Estádio General Severiano
Público: 20.000 (18.321 pagantes)
Árbitro: Mário Vianna
Gols: 1° tempo: Botafogo 2 a 0, Paraguaio e Braguinha; Final: Botafogo 3 a 1, Octávio e Ávila (contra)
Botafogo: Osvaldo Baliza, Gérson e Nílton Santos; Rubinho, Ávila e Juvenal; Paraguaio, Geninho, Pirillo, Octávio e Braguinha. Técnico: Zezé Moreira.
Vasco: Barbosa, Augusto e Wilson; Ely, Danilo e Jorge; Friaça, Ademir Menezes, Dimas, Ipojucan e Chico. Técnico: Flávio Costa.
Quantos nomes mitológicos, que timaços! Sempre que leio a escalação de Barbosa tenho tremenda vontade de pedir desculpas a ele.
Obrigado, Leymir!
Grandes craques. Barbosa foi o bode expiatório dos erros de Flávio Costa na final da Copa do Mundo de 1950. Uma verdadeira injustiça que se tornou um fantasma que acompanhou Barbosa anos após anos.
Grande abraço.
Estimado professor!
Meus livros sobre o Botafogo ainda não chegaram, problemas com o correio. Já chegaram os do Vasco, já chegaram os do Flamengo e já os li, mas ainda não chegaram os do Botafogo, e por isso ainda não dividi minhas impressões contigo.
Mas minha curiosidade não me deixa parado, tenho pensado muito na fundação dos dois clubes e no que eles tem de igual, parecido e também opostos. Para isso precisaria ler mais sobre a fundação do Botafogo, do Grupo de Regatas Botafogo.
Precisava saber tanto de Nestor de Barros, quanto de Luiz Caldas, tanto da Etincelle quanto da Pherusa, e quase tudo que pesquiso sobre o Botafogo é aqui que venho parar!
Sou muito grato pela atenção que me entrega, porque você também é um craque do Botafogo, eu te respeito como um dos grandes do Botafogo, o trabalho que existe nesse blogue é absurdo!
Digo sem melindres, porque sei que não irás me confundir como um puxa saco, aqui não escreve um puxa saco e sim um apaixonado pelo espirito desportivo e pelo futebol, que encontra aqui para além de vasto material de grande qualidade para pesquisa, gentileza e acolhimento.
Eu precisava dizer isso publicamente, porque prestas aqui um serviço enorme e gratuito para todos aqueles que pesquisam e amam, e ou admiram o Botafogo e o esporte em si.
Parabéns e muito obrigado!
Quanto a Pherusa e a Etincelle, não poderiam ser mais distintas e parecidas!
Aqui mesmo nesse blogue existe uma medalha de 1895, conquistada na regata de Niteroi a bordo da Etincelle, que Alcança sua eternidade na merecida gloria, e está aí sua justa vitória.
A Pherusa que foi imaginada com os olhares direcionados a Etincelle, em misto de inveja e encantamento dos jovens fundadores do GRF, encontra sua eternidade através do naufrágio e da resiliência, não do pódio e está aí também sua justa vitória.
Eu terei que aprender sobre Regatas, só assim para entender de verdade estes clubes.
Que historias fascinantes! E provavelmente não teria mergulhado nelas sem esse blogue.
Um grande abraço e obrigado novamente!
No dia 8 de dezembro de 2007 o blogue MUNDO BOTAFOGO foi para o ar com a seguinte definição editorial: «A missão do blogue não possui qualquer interesse de natureza pessoal, visando tão-somente compilar e divulgar a história do Botafogo de Futebol e Regatas, registrando casos e façanhas em mais de cem anos de existência do Clube da Estrela Solitária, cuja vida se iniciou oficialmente a 1 de julho de 1894 com a fundação do Club de Regatas Botafogo».
Segui sempre essa linha. Um Clube é muito mais do que meramente os seus títulos, sejam muito invejáveis ou não; um Clube é o seu perfil, os seus valores desportivos, o seu enredamento na teia social das comunidades em que se insere, as suas vibrações, angústias e exaltações, os seus casos e as suas façanhas, o pulsar dos seus associados, dos seus aderentes, dos seus simpatizantes. Um Clube é Cultura!
O seu comentário é muitíssimo relevante porque percebeu inteiramente a alma do blogue, e creio que está entendendo muito melhor o que é sentir o Botafogo. E, obviamente, é um elogio mágico, que enaltece o trabalho realizado no cumprimento da uma missão e que fica gravado na galeria de honra do Mundo Botafogo.
E creia que a sua amizade é inteiramente correspondida por este escriba botafoguense.
Grande abraço, Companheiro!
Mas… sobre não ter ainda recebido os livros do Botafogo, eu penso que a questão é a seguinte: o emissor da encomenda é vascaíno e não quer, de modo algum, que a forjada rivalidade entre Flamengo e Vasco, obra exclusiva de Eurico de Melo, seja desfeita e reposta a maior e verdadeira rivalidade do Rio de Janeiro que conta o bonito número de 125 anos, iniciada com a disputa pioneira entre dois grandes clubes cariocas nas águas da Baía da Guanabara em 1895 e o inédito jogo de futebol realizado no campo do Paysandu em 1903. Falo, obviamente, dos mais tradicionais clubes do Rio de Janeiro que ainda hoje são grandes protagonistas do «Clássico da Rivalidade» e tantas vezes se comportam ainda como aqueles garotos do século XIX dos bairros de Botafogo e do Flamengo no auge da sua vigorosa juventude!
Grande abraço, Companheiro!
Isso daria até um samba, se ja não tivesse dado! Hahaha
E o Juiz Apitou
Wilson Batista
Eu tiro o domingo para descansar
Mas não descansei
Que louco eu fui
Regressei do futebol
Todo queimado de sol
O Flamengo perdeu
Pro Botafogo
Amanhã vou trabalhar
Meu patrão é Vascaíno
E de mim vai zombar
Foram noventa minutos
Que eu sofri como louco
Até ficar rouco
Nandinho passa a Zizinho
Zizinho serve a Pirilo
Que preparou pra chutar
Aí o juiz apitou
O tempo regulamentar
Que azar...
Sem dúvida a maior rivalidade do Rio é entre Botafogo e Flamengo, a maior e a mais bonita também!
Um abração!
Esse sambinha do Wilson Batista é bem engraçado, sem dúvida.
Botafogo e Flamengo foram fundados por rapazes de calções, Fluminense e Vasco por homens bigodudos. As rivalidades entre rapazes são sempre muito mais emocionantes.
Joaquim Guimarães inventou a expressão Fla-Flu e o Mário Filho reinventou-a a partir de O Globo para se promover no seu relançamento jornalístico após as tragédias da família Rodrigues, portanto, rivalidade forjada a partir de um jornal.
Eurico Miranda, para promover o Vasco e se guindar a lugar mais importante no Rio de Janeiro inventou literalmnte uma 'grande' rivalidade por entre brumas de fumo de charutos, portanto, rivalidade forjada a partir do gabinete da presidência vascaína.
Já a rivalidade Botafogo x Flamengo nasceu à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas (1895), estendeu-se ao campo de futebol do Paysandu (1903) e consolidou-se na inauguração do campo de futebol do Botafogo no 1º BFR x CRF oficial (1913), portanto, foi forjada na autenticidade da vida social e desportiva de rapazes a partir de disputas concretas.
Grande abraço.
Ruy,
Com toda certeza!
Eu vou comentar, mas agora não consigo.
Estou muito nervoso, na verdade bastante nervoso! Hahahhaha
Ta falando duas horas para o jogo, só consigo roer unhas!
Um grande abraço!!!!!
Oi Ruy!
"Botafogo e Flamengo foram fundados por rapazes de calções, Fluminense e Vasco por homens bigodudos. As rivalidades entre rapazes são sempre muito mais emocionantes."
É verdade, tanto Botafogo quanto Flamengo foram mais sentidos que pensados e a transformação do que se sente e materializa, tende a ser maior do que o que aquilo que se planeja.
É mais difícil e raro materializar aquilo que se sente, do que aquilo que se planeja, porém é também muito maior!
Essa vocação adolescente em nossos clubes, graças a Deus é uma chama imortal!
"Joaquim Guimarães inventou a expressão Fla-Flu e o Mário Filho reinventou-a a partir de O Globo para se promover no seu relançamento jornalístico após as tragédias da família Rodrigues, portanto, rivalidade forjada a partir de um jornal."
Vou pesquisar mais sobre, muito bom você ter me dado um norte.
Aqui também há uma culpa grande do Flamengo, a bobagem, aliás mais que isso, a mentira que o CRF advem do Fluminese da origem a essa rivalidade umbilical que nunca existiu.
Na verdade a genesis do Fluminense prestas contas ao Flamengo e não ao contrário, o então presidente do Flamengo comandou a reunião de fundação do Fluminense...
É isso prova o clube de bigodudos que é o Fluminense, o Flamengo participa de sua fundação em um gesto burocrático, a típica coisa que se planeja mais do que se sente.
Na verdade o inicio do Flamengo tem mais a ver com o Botafogo, e aí sim está uma rivalidade umbilical genuína, e tem a ver não com o amparo burocrático de uma reunião e sim com algo muito maior inspiração.
Tem muito mais ver, com olhar a embarcação alvi-negra na Bahia de Guanabara, e o feito de seus atletas em seus respectivos sucessos desportivos e amorosos! Hahahaha
E assim surge o GRF, sem nenhuma estrutura e muita coragem, algo que só meninos poderiam encarar.
E sim, repito o que vc já havia dito e como sou religioso ainda empresto minha fé! Graças a Deus Botafogo e Flamengo são clubes de meninos!!!!
Quanto a artimanha do Eurico, contou sempre com as mazelas mais recorrentes:
A) preguiça de buscar as raízes históricas
B) a necessidade da venda urgente, que a longo prazo se torna obviamente predatória, pois nada que enfraquece a história verdadeira de instituições tão gigantescas, irá prosperar com o mesmo brilho da verdade.
"Já a rivalidade Botafogo x Flamengo nasceu à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas (1895), estendeu-se ao campo de futebol do Paysandu (1903) e consolidou-se na inauguração do campo de futebol do Botafogo no 1º BFR x CRF oficial (1913), portanto, foi forjada na autenticidade da vida social e desportiva de rapazes a partir de disputas concretas."
Esse último parágrafo é somente pra celebrar e nada para comentar!
Um grande abraço meu amigo Ruy!
Os: sobrevivi a noite de ontem, mas não foi fácil. Hehehe
Assino em baixo de suas palavras. É isso mesmo!
Grande abraço.
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