sábado, 15 de maio de 2021

Botafogo 1907: o 1º protesto antirracista do futebol brasileiro

In Pepe, B.; Miranda, L.; Carvalho, N. (1996). Botafogo o Glorioso - uma história em preto e branco.

por RUY MOURA

Editor do Mundo Botafogo

A primeira manifestação antirracista do desporto brasileiro foi do Botafogo em maio de 1907 quando a Liga Metropolitana de Sports Athleticos comunicou ao Clube que não poderia aceitar o registro, como atletas, de pessoas de cor.

Na sessão da diretoria no dia 15 de maio de 1907, o único benemérito do Clube até então, Alfredo Chaves, repudiou veementemente a sórdida medida e defendeu que as pessoas devem ser avaliadas pelos seus costumes e não pela sua cor. Veja-se um excerto da Ata de Sessão da Diretoria:

O Sr. Alfredo Chaves pedindo a palavra declara que vem protestar contra uma medida da Liga que constitue verdadeira selecção odiosa, contraria a todos os princípios democratas e racionaes. Que, a seu ver, não é motivo sufficiente para eliminação do nosso meio o facto de um individuo ter a côr preta.” [A citação obedece à ortografia da época]

Em causa estava participação do lateral direito negro Paulino de Souza no campeonato carioca de segundos quadros pelo Clube, no qual Paulino havia de se sagrar bicampeão em 1906 e 1907.

A pergunta que não quer calar: teria o Brasil sido campeão do mundo em 1958 se não tivesse no seu quadro Djalma Santos, Didi, Garrincha e Pelé?...

2 comentários:

Sergio disse...

Por mais que eu me esforce não consigo entender essa porcaria de racismo. Julgar alguém pela cor da pele é algo abominável. Realmente sem as chamadas "minorias" não teríamos ganho nada em futebo e em muitas outras coisas também. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

A humanidade tem coisas de um enorme absurdo, além das guerras, das matanças e da necessidade de submeter os da sua espécie: racismo, misoginia, homofobia, xenofobia. Um julga pela pele, outro julga pelo gênero, outro julga pela orientação sexual, outro julga pela nacionalidade. E ainda há a questão da religião em que se condena aqueles que têm confissão religiosa diferente. Tudo absurdo. E só quem sofre na pele esses estigmas sabe verdadeiramente o quanto doem. Sou branco, homem, heterossexual e europeu, nunca fui estigmatizado. Mas se fosse negro, mulher, homossexual ou de algum país estigmatizado, certamente que teria diversas mágoas difíceis de sarar.

Abraços gloriosos, meu querido amigo.

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