[Nota Preliminar: O texto que segue é uma montagem do Mundo Botafogo a partir de diversas reportagens de Daslan Melo Lima, que viveu intensamente o glorioso tempo dos concursos de Misses.]
por DASLAN MELO LIMA
Passarela Cultural
“Maria Raquel Helena de Andrade, Miss Botafogo, Miss Guanabara, Miss Brasil, semifinalista Miss Universo 1965.
Maracanãzinho, Rio de Janeiro, noite fria de 26 de junho de 1965, um cenário de sonho e 25.000 pessoas presentes ao concurso de Miss Guanabara.” (Daslan Melo Lima)
“Vinte e cinco mil pessoas aplaudiram as misses que desfilaram numa feérica passarela reproduzindo o símbolo do IV Centenário. O público e os jurados ficaram unidos em torno de Maria Raquel Andrade. Os onze jurados do Maracanãzinho tiveram que escolher a mais bela entre trinta candidatas. Mas não houve dificuldade; o público consagrou Maria Raquel antes de ser conhecido o veredicto.
Quando os povos fazem quatrocentos anos sentem uma irresistível atração pelas louras. Esta é uma verdade que não se encontra em nenhum compêndio, mas foi definitivamente comprovada no Rio de Janeiro. A Rainha do IV Centenário é loura; a Sereia das Praias Cariocas também. E agora, no Maracanãzinho festivamente iluminado, surgiu a substituta da mulata Vera Lúcia no trono de Miss Guanabara: Maria Raquel Andrade é louríssima e tem olhos azuisíssimos.” (Revista Manchete, 03.06.1965)
“Vestindo azul-claro, combinando com os seus olhos azuis, a loura Maria Raquel Helena de Andrade, Miss Botafogo, vinte anos de idade completados no dia 8 de maio, foi eleita Miss Guanabara 1965. Filha do casal João Luís Vieira de Andrade e Raquel de Andrade, residente na Av. Copacabana, seria ainda eleita Miss Brasil e semifinalista do concurso Miss Universo 1965.” (Daslan Melo Lima)
Os segredos e as orientações que Vera Lúcia Couto (Miss Guanabara e vice-Miss Brasil 1964), Vera Ribeiro (Miss Distrito Federal e Miss Brasil 1959) e Vera Lúcia Saba (Miss Guanabara e 3º lugar no Miss Brasil 1962) passaram para Maria Raquel de Andrade foram positivos. A preferida do público para o título de Miss Brasil 1965 era a morena Marilena de Oliveira Lima, Miss Mato Grosso, quarta colocada, mas foi a loura do Botafogo quem recebeu a faixa, a coroa e o cetro de Miss Brasil 1965.” (Daslan Melo Lima)
Em abril de 1966, dois meses antes de Maria Raquel Andrade passar as faixas para suas sucessoras Miss Guanabara e Miss Brasil, André Kallás da revista Manchete (Ano 13, Nº 730, 16.04.1966) fez uma reportagem sob o título “Maria Raquel de Andrade – Vale a pena ser Miss?”
Maria Raquel de Andrade – Vale a pena ser Miss?
Maria Raquel responde: Sim, vale a pena ser Miss Brasil. Desde que recebi a faixa, no ano passado, as alegrias que tive e continuo tendo são muito mais numerosas do que as decepções. Não me arrependo de ter representado o Brasil em Miami. Pelo contrário, sinto um orgulho imenso, por mim, pelos meus pais, pelos meus amigos e pelo Botafogo. E. se isso fosse possível gostaria de recomeçar tudo de novo. Até mesmo o título de Miss Marte me deixaria feliz.
Maria Raquel foi descoberta pela jornalista Nina Chaves, que publicou sua foto no suplemento feminino do jornal O Globo. A foto era sensacional, e a moça de cabelos louros, agitados pelo vento, teve que ser explicada com a seguinte legenda: Ela existe, sim senhores! E mora no Rio!
Então, de repente, Maria Raquel ficou viciada em bailes de debutantes. Depois do seu verdadeiro Baile das Debutantes, realizado em Florianópolis, ela foi procurada pelo Barão de Siqueira Júnior, especializado em promover esse tipo de festa juvenil. O Barão lhe disse:
- Você é simplesmente um sonho! Eu quero que você participe do Baile das Debutantes que vou dar no Rio, no Clube Monte Líbano. Maria Raquel topou. A festa foi linda. Mas o Barão, ainda não satisfeito, exigiu que ela participasse de outro baile, o mais solene dos três, no Copacabana Palace e tendo por madrinha a senhora Sarah Kubitschek. Hoje ela comenta com um sorriso:
- Se dependesse do Barão, eu iria continuar debutando até hoje…
Em 1964, no Maracanãzinho, ela viu pela primeira vez a eleição de Miss Brasil.
- Fiquei deslumbrada com aquele movimento, o entusiasmo do público e tudo o mais. Aplaudi freneticamente Ângela Vasconcelos, no momento em que foi coroada. Mas nunca poderia pensar que no ano seguinte tudo aquilo aconteceria comigo mesma.
Maria Raquel fez um curso de recepcionista na Socila e a professora Maria Fernanda incentivou-a a se inscrever no Miss Guanabara. A mãe não apoiou, mas o pai disse sim. A família torcia pelo Botafogo e quando um diretor do clube perguntou se ela gostaria de representar o clube da estrela solitária no Miss Guanabara, Maria Raquel não teve dúvida em aceitar.
Havia uma onde tremenda contra mim. Algumas candidatas diziam que se eu ganhasse era marmelada, e que em represália não cantariam em minha homenagem, conforme estava no programa. Não cantaram mesmo, mas não liguei. O importante foi o momento em que a linda Vera Lúcia Couto me passou a faixa. Foi o momento mais emocionante da minha vida, muito mais emocionante do que quando fui coroada Miss Brasil.
Ninguém pode imaginar o que é um camarim durante a eleição de Miss
Brasil. Ouvem-se fofocas de arrepiar os cabelos. Aquela correria para lá e para
cá, a demora em começar o desfile, a expectativa, tudo mexe com os nervos da
gente. No entanto, na hora de colocar os pés na passarela, senti-me
estranhamente calma. Estava tão serena que cheguei a observar a posição das
diferentes torcidas, percebendo que a turma do Botafogo estava do lado
esquerdo. Comecei a andar de cabeça erguida, sorrindo até o fim, indiferente às
vaias, que foram muitas, e aos também numerosos aplausos. Se ganhasse, seria
ótimo. Se perdesse, azar meu. Era assim que eu pensava. Ganhei.
2 comentários:
Adorei
Fic contente! Obrigado!
Abraços Gloriosos.
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