por Ruy Moura
Editor do Mundo Botafogo
Garrincha fez uma célebre estreia em Copas do Mundo no dia 15 de junho de 1958. O Brasil precisava apenas de empatar, mas corria o risco de ser eliminado pela União Soviética e Vicente Feola apostou no camisa 11 entre os titulares. Era a criatividade do ponta direita contra o ‘cientificismo’ que era atribuído aos temidos soviéticos, cuja equipe era apontada como o grande ‘fantasma’ daquela Copa devido ao seu tão propalado ‘futebol científico’.
Antes do apito inicial, o técnico ordenou a Didi: “Lembre, o primeiro passe vai para Mané”. E, segundo Nelson Rodrigues, “a desintegração da defesa começou exatamente no primeiro momento em que Garrincha tocou a bola”.
O que se viu a seguir à espetacular apresentação de Mané Garrincha foi o espanto coletivo de torcedores do mundo inteiro.
Idealizador da Liga dos Campeões, o jornalista Gabriel Hanot definiu o início daquele jogo como ‘os três melhores minutos da história do futebol’. Neste curto intervalo, Garrincha e Pelé acertaram a trave de Lev Yashin, enquanto Didi lançou Vavá para abrir o placar.
Naquele dia, Mané eternizava o ‘João’ para o mundo, o marcador que sabia muito bem o que ele faria, mas não se cansava de ser driblado. Boris Kuznetzov, o lateral esquerdo da seleção soviética, foi quem mais sofreu com aquele trançar infinito de pernas tortas.
Com 30 segundos de jogo, Kuznetzov já tinha sido ludibriado por Garrincha algumas vezes e ido ao chão – pouco antes de receber reforço de outros dois companheiros na marcação, igualmente enganados pela ginga. E a cena dos soviéticos tropeçando nas próprias pernas seria constante. Em uma delas, Mané colocou o pé sobre a bola e estendeu a mão para o defensor se levantar. Bastou o adversário ficar em pé novamente para que ele voltasse a correr. Uma humilhação gigantesca, tratada pelo craque como um lance de pelada.
O notável Nelson Rodrigues iniciou assim a sua crônica sobre o feito de Garrincha:
“E eis que, pela primeira vez, um “seu Manuel” é o meu personagem da semana. Com esse nome cordial e alegre de anedota, ele tomou conta da cidade, do Brasil e, mais do que isso, da Europa. Creiam, amigos: o jogo Brasil x Rússia acabou nos três minutos iniciais. Insisto: nos primeiros três minutos da batalha, já o “seu” Manuel, já o Garrincha, tinha derrotado a colossal Rússia, com a Sibéria e tudo o mais. E notem: bastava ao Brasil um empate. Mas o meu personagem não acredita em empate e se disparou pelo campo adversário, como um tiro. Foi driblando um, driblando outro e consta inclusive que, na sua penetração fantástica, driblou até as barbas de Rasputin.”
O Brasil venceu por 2x0 o ‘futebol científico’.
Fontes principais: https://mundobotafogo.blogspot.com/search?q=kuznetzov; https://jornalggn.com.br/noticia/as-historias-de-garrincha/; http://www.youtube.com/watch?v=ojLKzLuvni8
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