por RUY MOURA | Editor do Mundo
Botafogo
Tínhamos confiança numa vitória que não veio. Porém, para efeitos presentes e futuros foi um jogo deveras interessante – e talvez até
tenha sido uma sorte recebermos neste momento uma equipe tão difícil como o
Athletico.
O resumo da partida é fácil de definir. O Botafogo propôs
jogo durante os 15 minutos iniciais, o Athletico recuou, resistiu aos nossos
ataques – que até pareciam os do Fluminense, isto é, muito posse e muita
ineficácia, apesar de termos tido a possibilidade de inaugurar o marcador por
Júnior Santos.
A partir daí, nos 15 minutos seguintes, o Athletico
encaixou totalmente no jogo do Botafogo, fez marcação cerradíssima,
especialmente ao nosso meio campo, que praticamente foi anulado e não alimentou
o ataque, obrigando o Botafogo a avançar praticamente pelas laterais. Então, nos
últimos 15 minutos até ao intervalo foi a vez do Athletico se afoitar ao ataque
e em contra golpes tentar a sua sorte.
O Athletico marcava muito bem os nossos jogadores e
quando o Botafogo errava passes ou perdia divididas o adversário aproveitava a
verticalidade e em contra ataque poderia ter marcado em dois ou três lances
perigosíssimos.
O segundo tempo iniciou-se ao mesmo ritmo do primeiro, e
nem foi desagradável de acompanhar, apesar da nossa contrariedade com o rumo
dos acontecimentos. O Athletico manteve-se muito organizado, marcou
implacavelmente e acabou por encaixar um contra-ataque letal aos 52’, por
virtude de mau posicionamento de Bastos, que permitiu aos paranaenses abrirem o
placar à boca da Baliza. Athletico 1x0.
Bastos que, todavia, se redimiu salvando por duas vezes
gols do adversário e decretando o empate.
Pouco depois o Athletico teve uma nova oportunidade perdida
para ‘matar’ o jogo cara a cara com John, que mostrou uma vez mais as suas
qualidades. O Botafogo continuou nos mesmos moldes, com muita dificuldade para
encontrar espaços que os sulistas não davam.
Apesar disso, Cuiabano perdeu um gol quase-feito. AJ
efetuou substituições que não mudaram a face do jogo, esbarrando no sistema
organizativo do Athletico.
Por volta dos 80’ o Athletico poderia ter feito um grande
gol com remate fora da área, mas a defesa de John foi ainda melhor. Por sua
vez, Bastos evitou os mencionados dois gols quase-feitos.
O Athletico recompunha-se sempre rapidamente e começou a ‘encerar’
o gramado, sob a complacência do árbitro. Tudo se encaminhava para a nossa
derrota no Nilton Santos.
Porém, a equipe nunca desistiu e foi Bastos que,
novamente de cabeça, na sequência de cobrança de escanteio por Diego Hernández,
e na última jogada da partida, cabeceou forte para o canto inferior direito da
baliza do Athletico e conquistou um ponto para evitarmos a liderança dos
paranaenses e mantê-la em nosso poder. 1x1 e final da partida.
Porque foi então um jogo deveras interessante? – Porque
pode servir de aprendizado, sobretudo a Artur Jorge e a John Textor.
Não poderíamos ter tido melhor adversário do que o
Athletico para se evidenciar as nossas enormes dificuldades contra um ferrolho
defensivo de qualidade, cuja marcação é primorosa e espera que o adversário
erre para contra-atacar verticalmente em velocidade.
Foi dessa forma semelhante que o Botafogo chegou à
liderança em 2023, e foi dessa forma que por um triz o Athletico não chegou à
liderança devido à oportuna cabeçada de Bastos.
Adaptando o pensamento de Sun Tzu (“A Arte da Guerra”) às
estratégias e às táticas do futebol pode-se dizer que ao longo do seu curso a
água molda-se ao terreno para traçar o trajeto a seguir, enquanto os
estrategistas do desporto-rei tiram partido dos erros e fraquezas dos adversários
para alcançar a vitória.
Porém, esse não é o principal modelo de jogo de AJ, que somente
em circunstâncias específicas o usa, mas sim o futebol de proposição, avançado
e vistoso.
E é por isso que o Athletico foi o adversário ideal, porque
evidenciou as nossas dificuldades de marcação devido a falta de imaginação da
equipe em encontrar os espaços sonegados. O meio campo foi anulado e os
atacantes não recebiam boas bolas, ficando dependentes dos laterais que subiam
para suprir as deficiências do meio campo. Savarino faz uma falta imensa.
No caso de Cuiabano, que julgo ser um lateral-esquerdo
com bastante potencial, mostra a necessidade de ganhar mais experiência na
qualidade de ‘atacante’ afinado nos cruzamentos e nas oportunidades de gol e efetuar
rapidamente a recomposição defensiva.
Júnior Santos, que é um lutador, tem algumas deficiências
de tecnicidade, porque o seu estilo de jogo é outro e necessita de um parceiro
criativo, e Luiz Henrique ainda não mostrou consistência suficiente para o
efeito.
Por outro lado, quando as substituições têm que recorrer
a um ‘plantel’ com Fabiano e Yarlen, muito pouco desenvolvidos ainda para as
lides futebolísticas profissionais, torna-se óbvio que John Textor tem que “entrar
em campo” e contratar.
Em suma, o Athletico poderá ter sido uma excelente lição
para Artur Jorge cogitar sobre o assunto como “estudo de caso” visando
encontrar outras soluções quando o adversário nos suprime os espaços vitais,
prejudica os nossos movimentos e ataca verticalmente em contra-ataques muito rápidos.
FICHA TÉNICA
Botafogo 1x1 Athletico
» Gols: Bastos, aos 90+7’ (Botafogo); Mastriani, aos 52’
(Athletico)
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 19.06.2024
» Local: Estádio Olímpico
Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Público: 17.047 pagantes / 19.589 espectadores
» Renda: R$ 750.495,00
» Árbitro: Ramon Abatti Abel (SC); Assistentes: Alex dos Santos (SC)
e Gizeli Casaril (SC); VAR: Igor
Junio Benevenuto de Oliveira (MG)
» Disciplina: cartão amarelo – Erick, Christian,
Esquivel, Pablo e Alex Santana (CAP)
» Botafogo: John; Damián Suárez (Yarlen), Lucas Halter,
Bastos e Cuiabano; Óscar Romero (Fabiano), Danilo Barbosa (Luiz Henrique),
Marlon Freitas (Gregore) e Tchê Tchê; Eduardo (Diego Hernández) e Júnior Santos.
Técnico: Artur Jorge.
» Athletico: Léo Linck; Léo Godoy, Kaique Rocha, Thiago
Heleno e Esquivel (Mateo Gamarra); Fernandinho, Erick e Christian (Zé Vítor);
Nikão (Alex Santana), Mastriani (Pablo) e Cuello (Julimar). Técnico: Daniel
Cerqueira.
6 comentários:
Excelente comentário.
Eu tenho uma tese sobre o jogo de ontem e na minha opinião a escalação inicial do AJ foi equivocada. O Artur Jorge precisava testar essa formação com o Eduardo e o Romero juntos que tiraram o dinamismo da equipe, esse o maior problema, principalmente o Eduardo completamente nulo em todos os sentidos, simplesmente porque sem Tiquinho, Savarino, Jefinho contundido,com o risco de perder o Luís Henrique pelo terceiro cartão amarelo, que time ele escalaria senão o de ontem, fica claro que há necessidade de reforços além dos dois jogadores já contratados. O momento de saber o que o treinador tem e o que esperar deles é agora e não em jogos decisivos. Claro que a vitória é sempre bem vinda, mas há muito a acontecer nesse campeonato e ontem não era uma decisão.
O Atlético Paranaense usou uma estratégia que é a de atrair o adversário, deu certo em grande parte pela ineficiência e falta de dinamismo do nosso meio campo, mas principalmente porque o Eduardo foi peça nula e o Romero não tem dinamismo, mas como frisei, o AJ precisa tratar diversas formações. O Luís Henrique mesmo não estando no seu melhor momento é um jogador que não deve ficar no banco, mas o temor do terceiro amarelo pode ter sido o motivo de entrar tão tarde.
Duas observações importantes: mesmo jogando abaixo do esperado, isso porque o adversário também teve mérito em sua superioridade,nem nenhum momento o time do Botafogo abdicou de tentar uma melhor sorte, um melhor resultado, e isso é importante.
A segunda é a arbitragem sempre muito ruim e os critérios parecem que dependem de qual é o clube que pode ser beneficiado com as decisões do var. O Junior Santos foi claramente empurrado dentro a da área, mas o var nem se manifestou, entretanto um lance parecido ano passado do Di Plácido contra o Palmeiras o pênalti foi assinalado. Cora isso o anto jogo com faltas grosseiras em vários contra ataques do Botafogo em que claramente o jogador não disputa a bola mas vai para derrubar o adversário. Esse tipo de falta em minha opinião além de enfeitar o espetáculo mostra que a regra deveria ser modificada para o bem do bom futebol. Esse tipo de falta é tão grosseira que deveria ser vermelho direto. Tenho visto alguns jogos da Eurocopa e de campeonatos europeus, posso estar errado e não acompanho a totalidade dos jogos, mas raramente vejo esse tipo de jogada. Acho que há uma distinção clara em um jogador tentar ganhar a bola e cometer a falta e um jogador claramente saber que não vai conseguir e parar a jogada com deslealdade. Enfim, é uma opinião minha. Nesse ponto o basquete é bem mais rígido .
Que o Textor atenda os pedidos do Artur Jorge sobre reforços, pois os garotos da base ainda precisam de rodagem; se o americano quiser que o Botafogo realmente dispute as competições atuais com chance, que traga reforços de peso. Abs e SB!
Concordo, Sergio. O Eduardo está longe do que já foi e o Romero é lento, embora eu pense que ele tem qualidade para boas assistências. Mas quem faz mesmo falta ali é o Savarino, que toca de primeira a bola para arranques como os do JS em velocidade.
Sobre o Luiz Henrique ainda estou à espera que comece a criar valor à medida do seu preço, porque até agora tem sido um jogador relativamente vulgar, apesar das suas potenciais qualidades.
O Tiquinho também faz falta, mas temo que o seu emocional esteja comprometido por razões intra e extra campo.
Os árbitros foram péssimos pelo menos nos nossos 3 últimos jogos, com prejuízos importantes. É o habitual. E se comerçarmos a ter uma liderança destacada (o que duvido porque acredito que a disputa seja forte na frente), então os 'erros' escandalosos renascem. Temos sempre que jogar o dobro dos melhores adversários para conquistarmos algo.
Estou convicto que o sucesso (ou frustração) nesta época passa por John Textor na janela de transferências. Se repetir o comportamento do ano passado, que contratou atletas que não se firmaram como titulares e pouquíssimo acrescentaram, estaremos 'fritos'...
Abraços Gloriosos.
Ruy,
Muito boa análise.
O Botafogo carece, de há muito, de meias criativos. Para mim, a pior herança de castro deixou foi essa. Chegou a declarar, em entrevista, que o jogador mais importante da equipe seriam os volantes. E que preferia dois (camisas) 8, a um (camisa) 10. Não à toa, perdemos vários pontos e jogos, em casa, contra adversários retrancados (lembro de jogos contra Goiás, Cuiabá etc.). Contra retranca, só meio-campo criativo para furar defesas bem postadas.
Sobre o jogo em si, achei que AJ errou, muito. Com Eduardo e Romero no meio, perdemos velocidade e poder de marcação. Subustituiu Romero, mas manteve Eduardo até ao fim. Ele, Yarlen e Fabiano não acertaram nada. Eu fiquei pensando que, talvez, AJ tenha colocado os dois garotos para evidenciar a Textor que presicamos, e muito, de banco.
Para finalizar, acrescentaria à sua análise, minha indignação contra a arbitragem. Houve pênalti em Júnior Santos, não marcado; e um adversário deveria ter sido expulso, ao pisar o calcanhar de Tchê Tchê, por trás.
No mais, devemos aguardar que Textor faça o contrário do ano passado, e contratar reforços.
Saudações Gloriosas!
Émerson.
Li agora os comentários, de Sergio e Ruy, e vi que estamos pensando de forma parecida. Tomara que Textor entre na nossa sintonia, também.
Só mais uma coisa. Esse time do Athletico, acho muito desleal e praticante do anti-jogo. Desde o ano passado, eles jogam assim contra a gente.
Émerson.
Esse é um dos problemas: meio campo criativo. Mas há outro que, em minha opinião é tão ruim ou pior - meias e atacantes com muito pouca capacidade de definição a gol. Então, são os defensores que têm que subir e marcar os gols que os atacantes perdem - e algumas dessas perdas são 'escandalosas'.
Eduardo e Tiquinho, que eram dois suportes importantes do extinto Castro, pouco ou nada têm feito há meses. Os jovens, mal acompanhados nas bases pelo Lúcio Flávio, chegam à equipe principal e evidencia-se a falta de apoio que tiveram na sua preparação. Enfim, muitos problemas que não se resolvem em duas penadas.
Sei que todos nós queremos títulos - uma Copa do Brasil, uma Copa Sul-americana, pelo menos... - mas este projeto é de médio e não de curto prazo, perdida que foi a possibilidade de ganhar o Brasileirão. Agora é tudo mais difícil porque os adversários estão mais cautelosos com o Botafogo devido ao que tem feito o AJ.
Arbitragens?!... São 'apitadores' ao serviço de quem?... Dos preferidos de sempre... Fez bem o Textor em colocar o dedo na ferida...
E fará bem se contratar gente capaz este ano, e não repetir a janela de transferências de há um ano.
Abraços Gloriosos.
Nãosei como o Athletico joga contra outros adversários, mas contra nós parece o América (RJ) nos tempos do amadorismo. Clube muito pouco simpático.
Abraços Gloriosos.
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