por DEMÓSTENES TORRES | ex-Senador,
Procurador de Justiça aposentado e Advogado | www.poder360.com.br
Botafogo foi minha primeira
paixão. E em dobro. Era um córrego piscoso na Goiânia da minha infância, em
meados da década de 1960, e o coração do pescador-mirim acabou fisgado pelo
clube do Rio de Janeiro. Tenho na memória as melhores imagens dos 2, do
1º enchendo as vistas de belezas naturais a partir dos barrancos em que atirava
as linhadas, do 2º construídas pelas narrações dos locutores de rádio. A partir
daí, o riozinho vem sendo diariamente vítima de homicídio tentado e o Fogão tem
cada vez mais vida, conquistando a glória eterna da Copa Libertadores no
recente 30 de novembro e o Brasileirão no domingo (8.dez.2024).
Nestes dias de chuva, os 10
km de comprimento do arroio Botafogo têm sido notícia por transbordar. É de sua
natureza se impor além da caixa de concreto que o aprisiona em 4 m de largura.
Nestes dias, em que chove contentamento, a instituição Botafogo não sai de pauta por transbordar felicidade. Futebol e regatas só no clube carioca, pois os rios da minha aldeia, como o de Fernando Pessoa, já foram maiores e mais livres, neles se buscavam os lambaris do almoço, por eles ia-se para o mundo. Nos córregos Capim Puba, a poucos passos da casa em que cresci, e em Botafogo não sobreviveram canoa, remo, peixe, borboleta, flores, água limpa de beber e de banhar. […]
Só pré-adolescente soube que
Botafogo era nome de diversas atrações no Rio, […] E a gente aprendia tudo isso no
rádio e na TV p&b.
Decorava as escalações dos diversos
participantes dos torneios no eixo RJ-SP-MG. Lembro-me da maioria. Para
memorizar os do glorioso, bastava saber os do Brasil bicampeão em 1958 e 1962.
Era imbatível o/a SeleFogo.
Ao longo das décadas, o
Botafogo testou o coração da torcida, do qual jamais saiu. O tetra carioca de
1932 a 1935 não se repetiria e só seria campeão novamente uma vez por década,
em 1948 e 1957.
Voltou ao topo nos anos 1960. […]
Nesse contexto, milhões de
outras crianças e eu começamos a torcer para o Botafogo. Era inescapável e, que
ótimo, não escapamos. Ecoam ainda hoje em minha mente os passes, os desarmes,
os gols de 1968, o ano que nunca vai terminar.
Como esquecer craques do
nível de Manga, Carlos Alberto, Rogério, Valtencir, Ferretti, Gérson, que atuou
com nosso trio na melhor equipe esportiva de todos os tempos no planeta, a
Seleção do tri em 1970, Jairzinho, Roberto e Paulo César Lima, que depois virou
Caju?
Antes do biênio de ouro,
1967/1968, […] o Botafogo
teve uma geração de pedras preciosas lapidadas para a imortalidade, como os
astros das duas primeiras Copas do penta do Brasil, Amarildo, Didi, Garrincha,
Nilton Santos e Zagallo.
A TV era como a camisa do
Botafogo, alvinegra. E raridade. Na vizinhança do bairro em que morávamos, o
marechal Rondon, o único da rua que tinha o aparelho era outro militar, o
capitão João Estêvão. Nossa família inteira, duas dúzias de olhos, assistia lá.
Quando meu pai comprou uma, em 1965, o show passou a ser lá em casa, sala lotada, gente no quintal, pendurada na janela, esticando o pescoço por cima da cerca, esforçando-se de todo jeito. […]
Depois, duas décadas sem nem vice, seca brava interrompida só com a Taça Rio de 1989 e o bi carioca de 1989/1990. Desencantamos com meu conterrâneo Túlio Maravilha & Cia. em 1995, quando a estrela deixou de ser solitária. […]
Revivemos em 2023 as
agruras, com as piadinhas de sempre, “tem coisa que só acontece com o
Botafogo”, cavalo paraguaio, voo de pato etc. A hora chegaria. E chegou.
As apresentações de Luiz Henrique e Igor Jesus com a camisa canarinho nestas eliminatórias para a próxima Copa reviveram em mim as transmissões de rádio, a TV p&b e a magia dos anos 1960. Pensei: “Agora, vai”. Foi. […]
Foi longe. Merecidamente. Estreia nesta 4ª feira (11.dez.2024) em Doha, na Taça Intercontinental, e joga em 2025, nos Estados Unidos, o 1º Mundial de Clubes verdadeiro. […]
Sonho em preto e branco. A
próxima realização é pescar nas águas translúcidas de outro Botafogo, o córrego
do centro de Goiânia.
É, infelizmente, está mais
fácil surgir um atleta que drible igual ao Garrincha, lance com a perfeição de
Gerson, atue na lateral tipo Nilton Santos, defenda a cabeça da área como
Carlos Alberto, bata falta no estilo Didi, seja vencedor como Zagallo, furacão
como o Jairzinho, habilidoso como Luiz Henrique e oportunista como Túlio
Maravilha. Ou concentra tudo isso num só jogador ou será banco no Fogão.
2 comentários:
Mais uma bela narrativa sobre o amor ao nosso Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas. Abs e SB!
Esta tem um grande enredo literário. Coisa Senador mesmo! (rs)
Abraços Gloriosos.
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