"Em
1999 prometi-lhe publicamente um par de bofetadas. Foi uma promessa que ainda
não pude cumprir. Não me cruzei com a personagem, Augusto M. Seabra, ao longo
de todos estes anos. Mas continuo a esperar ter essa sorte. Lá chegará o dia."
– João Soares, Ministro da Cultura
de Portugal, depois de ser ofendido em artigo de jornal.
Nota do Mundo Botafogo: O novo
governo português continua resgatando a honra que o neoliberalismo quer suprimir: além de um primeiro-ministro de origem goesa, uma ministra
negra, um Secretário de Estado cigano e uma Secretária de Estado invisual,
quebrando tabus enraizados, teve a coragem de fazer acordos parlamentares
inéditos com todas as esquerdas à sua esquerda, visando governar para suprimir
as políticas neoliberais e vingativas do anterior governo de direita que, em
quatro anos, impôs uma brutal austeridade ao povo, acima do que o próprio FMI
propusera. Agora, ao contrário de membros do governo anterior que resistiam a
demitir-se após comportamentos publicamente reprováveis em altas figuras do
Estado, João Soares proferiu ontem a frase acima e hoje demitiu-se invocando “razões que têm a
ver com a minha profunda solidariedade com o Governo e o primeiro-ministro, e o
seu projeto político de esquerda", visando não embaraçar o chefe do governo em
querelas públicas com os seus detratores à direita. João Soares é filho do socialista Mário Soares, ex-preso
político por 12 vezes e depois exilado pelo governo fascista derrubado em 1974,
ex-Presidente da República, ex-Primeiro-Ministro e maior referência democrática
portuguesa de todos os tempos. A honra existe, e João Soares, embora tenha
proferido apenas um desabafo e nada mais, mas era Ministro da… Cultura e deve
dar o exemplo à nação, não se escondeu sob a capa da família. Continuará de
cabeça erguida apesar da ameaça (que jamais se concretizaria) das bofetadas a
um intelectual sem pruridos.
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