Imagem: Reprodução- Internet/ Lance!
LANCE!
02.05.2018
Mané Garrincha foi campeão em 1958 e em
1962, quando guiou a Seleção sem Pelé
"Em
1962, com a contusão de Pelé, descobriu-se um outro Garrincha. De repente parou
de brincar, virou sério, compenetrado de que a conquista da Copa dependia dele.
Quase sozinho, ganhou a Copa. Fez o que nunca tinha feito. Gols de cabeça, pé
esquerdo, folha-seca. E driblou como um endiabrado, endoidando os
adversários". O relato do jornalista Sandro Moreyra resume o que foi
Garrincha na Copa disputada no Chile. Aquela foi a Copa de Mané. O
ponta-direita já tinha brilhado e sido campeão em 1958, mas foi quatro anos
depois que ele escreveu seu nome como protagonista na história dos Mundiais.
Garrincha disputou sua primeira Copa em
1958, aos 24 anos. Grande nome do Botafogo, o ponta era reserva do flamenguista
Joel. Mané só foi ganhar uma chance no time na terceira rodada da primeira
fase, contra a União Soviética. O Brasil começou o Mundial goleando a Áustria
por 3 a 0, mas depois não saiu de empate por 0 a 0 contra a Inglaterra e então
o técnico Vicente Feola decidiu promover a entrada do Anjo das Pernas Tortas. O
duelo com a União Soviética também seria a estreia de Pelé, então com 17 anos,
em Copas - o futuro Rei do Futebol vinha se recuperando de lesão antes. Antes
do jogo, Garrincha foi abordado com uma pergunta que entrou para a história. Um
jornalista, querendo tirar sarro de Mané, o questionou sobre o significado da
sigla que ficava na camisa soviética, CCCP - no original: União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas. Sempre ágil, Garrincha disparou: "Cuidado Com o
Criolo Pelé!".
A dupla Pelé-Garrincha foi apresentada ao
mundo em 15 de junho de 1958. O Brasil jogou muito e bateu a União Soviética
por 2 a 0, com dois gols de Vavá. Entre o apito inicial e os três minutos,
Garrincha "humilhou" a defesa rival com dribles desconcertantes,
mandou uma bola na trave e deu assistência para gol. Depois, o baile seguiu até
o fim da partida. Gavril Katchalin, técnico soviético, destacou seu
encantamento com Mané: "Garrincha é um verdadeiro assombro. É um jogador
como jamais vi igual". A partir dali, Garrincha e Pelé não saíram mais do
time. Nas quartas de final, vitória por 1 a 0 diante um ferrolho do País de
Gales, gol de Pelé. Na semi, 5 a 2 sobre a França, com partida discreta de
Mané. Na final, contra a dona da casa Suécia, Garrincha jogou melhor e ajudou o
Brasil a levar seu primeiro titulo mundial com goleada por 5 a 2. Apesar dos
dribles genais e grandes passes naquele Mundial, Mané saía da Copa da Suécia
sem marcar. No entanto, os gols e o protagonismo viriam quatro anos depois.
Em 1962, Garrincha e Pelé já eram os grandes nomes do
futebol brasileiro. Mané jogou a Copa do Chile com a camisa 7, número que
imortalizou. Em 58, ele havia vestido a 11 - na Suécia, a numeração tinha sido
definida de forma curiosa, baseada na ordem das malas dos jogadores em
arrumação na porta de um hotel. Voltando ao Mundial do Chile, o Brasil estreou
contra o México e venceu por 2 a 0, gols de Zagallo e Pelé. No segundo jogo,
empate por 0 a 0 diante da Tchecoslováquia, Pelé sofreu um estiramento muscular
e ali a Copa terminou para ele. Mas o que parecia ser o início de uma tragédia
foi na verdade o "abre-alas" para o show de Garrincha. Para o
terceiro jogo, o técnico Aymoré Moreira colocou o atacante Amarildo, do
Botafogo, no lugar de Pelé, apostando no entrosamento que vinha do Alvinegro. E
a escolha foi certeira.
A partida contra a Espanha coroou a parceria
Garrincha-Amarildo, mas o começo foi difícil. Abelardo abriu o placar para os
espanhóis, que poderiam ter feito 2 a 0. Nilton Santos cometeu pênalti em
Enrique Collar, mas ludibriou o árbitro ao dar dois passos à frente e sair da
grande área. O Brasil cresceu na segunda etapa e Garrincha brilhou, iniciando
os lances para Amarildo virar o duelo para 2 a 1. Nas quartas, contra a
Inglaterra, Garrincha detonou a defesa rival com dribles incríveis e marcou
dois em vitória por 3 a 1. Na semi, nova atuação mágica, desta vez contra o
Chile, dono da casa. Mané fez os dois primeiros de triunfo brasileiro por 4 a
2. Quase no fim da partida, o camisa 7, cansado de apanhar do marcador Rojas,
revidou uma entrada desleal com um pontapé no traseiro do lateral. O árbitro
peruano Arturo Yamasaki expulsou Garrincha. Mané ficaria fora da final, contra
a Tchecoslováquia, mas graças a uma manobra política da Confederação Brasileira
de Desportos (CBD) pôde disputar a decisão. Única testemunha do camisa 7 no
chileno Rojas, o assistente uruguaio Esteban Marino não apareceu para depor no
julgamento. Isso porque a CBD teria bancado sua viagem para fora do país.
Ex-jogadores da Seleção não confirmam a história, mas dizem terem ouvido algo
do tema no dia da final. Depois da Copa, Marino trabalhou na Federação Paulista
de Futebol.
Com Garrincha livre, o Brasil foi para cima da
Tchecoslováquia. O time rival quase sempre tinha três marcadores em cima de
Mané, o que resultava em espaços para os demais jogadores brasileiros. Josef
Masopust até colocou os europeus na frente, mas a Seleção Brasileira se impôs e
virou com gols de Amarildo, Zito e Vavá. Era o bicampeonato, a Copa de
Garrincha. Quatro anos depois, Mané ainda foi para a Copa da Inglaterra, mas já
vivia fase de declínio e pegou a camisa 16. O ponta tinha 32 anos e sofria de
atrose no joelho, o que dificultava os dribles. Feola, técnico de 58,
substituiu Aymoré e manteve Garrincha de titular. Na estreia, vitória por 2 a 0
sobre a Bulgária. Os gols foram de falta, de Pelé e Garrincha. Seria a última
vez da dupla junta pela Seleção - inclusive, Pelé e Garrincha jamais perderam
com a camisa do Brasil juntos, com 36 vitórias e quatro empates. O segundo
duelo foi diante da Hungria, sem Pelé, que estava sem condição de atuar após
pancada na estreia. O Brasil perdeu por 3 a 1 e Garrincha foi barrado para o
terceiro jogo, quando a Seleção decidiria sua vida contra Portugal. Como não
havia substituições no futebol, Mané viu do banco a eliminação brasileira - em
jogo que Pelé foi caçado e o Brasil perdeu por 3 a 1. Se Mané pudesse ter
entrado em ação, talvez esse final fosse outro.
FICHA DA FERA
Garrincha (Manuel Francisco dos Santos)
Nascimento: 28/10/1933. Magé (RJ)
Falecimento: 20/01/1983 (49 anos). Rio de Janeiro (RJ)
Posição: ponta-direita
Pela Seleção Brasileira: 60 jogos/17 gols (de 1955 a 1966)
2 comentários:
Prezado Rui Moura .
Lembro-me de meu pai dizendo que Garrincha foi um assombro na copa do mundo de 1958. Exibindo seu futebol de pura ofensividade destuiu as defesas européias e ajudou o Brasil neste e no outro mundial de 1962.
Grande abraço.
Humberto.
Três curiosidades:OBola de Ouro de 1958 fo Didi, o Bola de Ouro de 1962 foi Garrincha e o único jogador que marcou gols emtodos os jogos em uma Copa do Mundo foi Jaizinho no tri! Que saudades...
Abraços Gloriosos.
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