terça-feira, 11 de agosto de 2020

Os clubes de futebol e novas formas de produzir a informação desportiva – estudo de casos Benfica, Botafogo e PSG (I)

por FERNANDO VANNIER BORGES
Centro de Pesquisa e Estudos Sociais da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Portugal

Resumo

A indústria do futebol vem crescendo economicamente e os clubes passam por um processo de racionalização, que profissionaliza gestores e busca mão- -de-obra especializada. Em paralelo, a digitalização provocou alterações no mercado dos media desportivos, aumentando a oferta de conteúdos e abrindo espaço a novos atores. Os clubes de futebol criaram seus próprios canais de comunicação, empregando profissionais com formação e experiência em jornalismo para a produção de conteúdos informativos. Neste trabalho, [Sport Lisboa e] Benfica, Botafogo [de Futebol e Regatas] e Paris Saint-Germain [Football Club] (PSG). serão analisados, tendo sido escolhidos pela inovação na gestão e criação de conteúdos audiovisuais (Benfica criou a primeira TV de clube em Portugal; Botafogo com um canal próprio em redes sociais e críticas positivas da imprensa; PSG inovou ao fazer um canal para web). Esse estudo permite refletir sobre as mudanças no campo do jornalismo. Os resultados mostram que a produção da informação obedece ao mesmo tempo a lógicas próprias dos clubes e do jornalismo. Palavras-chave: jornalismo, clubes, futebol.

Introdução

Nas últimas décadas, as organizações desportivas têm vindo a se transformar, deixando para trás o lado amador da sua gestão. Isso significa que, em geral, há um processo de racionalização e profissionalização a nível administrativo, que se reflete na especialização de seus funcionários (Gasparini, 2000).

Essa transformação é liderada por instituições ligadas ao desporto espetáculo, nomeadamente as ligas norte- -americanas e os clubes de futebol. Em particular, os grandes clubes europeus passam a ser vistos como empresas multinacionais pelo seu alcance global e pela sua capacidade de atrair mão-de-obra e consumidores estrangeiros (Andreff, 2012).

Para alguns, a espetacularização do futebol, sua relação com os media e os avanços nas tecnologias digitais faz com que clubes de futebol sejam comparados com empresas de entretenimento, pois competem pelo mesmo mercado (Portet-Ginesta, 2011).

O desenvolvimento das tecnologias digitais contribui para alterações na forma de trabalhar e na composição do mercado mediático. Para Neveu (2005), entre os anos 1980 e 2000, houve uma expansão e valorização da profissão de jornalista, devido ao crescimento do volume de profissionais e a queda de regimes autoritários. Com mais jornalistas no mercado, é mais fácil para as empresas de comunicação e media lançarem novos empreendimentos no mercado digital (Estienne, 2007, p.28). Com essas e outras mudanças, os jornalistas precisam repensar as suas atividades, com novas formas e novos espaços de produção de conteúdo.

Em paralelo, há uma crise de valores e de modelo financeiro dos meios de comunicação. Atualmente, nota-se a utilização de novas diretrizes na produção da informação, maior tendência à convergência digital e a falência do modelo de negócio da imprensa (Pereira e Adghirni, 2011). Enquanto as empresas de media passam por uma crise de identidade, a facilidade para publicar, no ambiente digital, permitiu que clubes de futebol aproveitassem para lançar seus próprios veículos para reforçar as suas estratégias de comunicação, desenvolvimento de marca e atingir objetivos comerciais (Borges, 2017).

Em Portugal, os boletins informativos das organizações desportivas estão presentes na história de imprensa desportiva desde a viragem do século XIX ao século XX (Pinheiro, 2010, p. 77), tendo ainda ganhado uma impulsão nos anos 1980 e 1990 (Pinheiro, 2010, p. 417). Grandes clubes portugueses mantêm ativas publicações impressas regulares, seja em forma de revista ou de jornal. Contudo, essas condições não foram encontradas nos países nos quais se desenvolveu a presente investigação, além de ter sido dado prioridade a veículos audiovisuais.

Neste artigo, vamos analisar a produção de informação por parte de três clubes de futebol: Benfica, Botafogo e Paris Saint-Germain (PSG). Cada um dos clubes apresentava elementos inovadores na gestão e criação de conteúdos audiovisuais (Benfica, na criação da primeira TV de clube em Portugal; Botafogo, com um canal próprio em redes sociais e críticas positivas da imprensa; PSG inovou ao fazer uma canal para web). Alterações recentes no mercado dos media e no cenário do jornalismo desportivo criaram um ambiente para que organizações desportivas passassem a desenvolver os seus próprios canais de comunicação, tais como os casos estudados. Assim, a análise da produção de conteúdo por parte dos clubes será vista dentro do contexto de transformações do jornalismo, permitindo refletir sobre a prática profissional.

BORGES, F. V. (2019). Os clubes de futebol e novas formas de produzir a informação desportiva. In Media, comunicação e desporto. Mediapolis – Revista de Comunicação, Jornalismo e Espaço Público, nº 8, p. 119-121. https://doi.org/10.14195/2183-6019_8_8

2 comentários:

Rico 75 disse...

Ruy, boa noite, parabéns pela iniciativa, o blog é muito bom, eu gostaria de sugerir uma pauta se me permite?
De que forma as sedes do clube, principalmente o Mourisco Mar e General Severiano poderiam servir de ativos e ganho em rentabilidade para o Clube aja vista a excelente localização de ambas. Falo isso tendo como exemplo grande clubes mundo afora que sabem tirar proveito de suas sedes, construindo arenas multiusos, hotel temático do clube etc.
Acho um grande desperdício o campo de General Severiano, penso que ali poderia ser construído um arena para shows, eventos corporativos E ainda assim receber partidas de Basquete, Vôlei etc. Uma aparelho como esse poderia render uma boa grana para o Clube e uma baita valorização do imóvel, ganhos com venda de naming right, porcentagem em todas as programações enfim... Acho que vale o debate!

Ruy Moura disse...

Caro Rico, as suas sugestões são boas e em tempos viu-se como foi possível rentabilizar o Engenhão através de eventos, mas a incompetência gerou o que temos. E o que temos é um espaço de Shopping com uma concessão de décadas por um valor mixuruca, um campo sem aproveitamente e, sobretudo, uma piscina fechada há um ano, cheia de rachas que piora de ano para ano e que vão chegar provavelmente à impossibilidade de recuperá-la.

Concordo inteiramente com as suas propostas, mas... quem as ouve?...

Abraços Gloriosos.

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