por Manuel Maria de PAULA RAMOS
in Boletim Oficial do Botafogo, nº
198
Gentileza de ANGELO ANTONIO SERAPHINI
Prometi a mim mesmo escrever um dia sobre os homens que construíram esse monumento que é o Botafogo de Futebol e Regatas.
Dois objetivos nortearam meu intento: 1º Render preito de justiça aos que sempre merecem ser lembrados com muito carinho e gratidão; 2º Dar conhecimento aos novos que necessitam venerar a memória dos que se foram e honrar os que ainda nos alegram com sua presença e mais, os que ainda lutam, sem embargo dos anos que os envelhecem, por um Botafogo cada vez mais poderoso e respeitado.
São biografias desportivas, evidentemente despidas do mínimo valor literário, valendo-me muito da memória, hoje já um pouco embotada confesso, e dos informes dos remanescentes, com seus arquivos vivos talvez mais esclarecidos do que eu.
Não há preferência por este ou aquele, na ordem das biografias singelas e despretensiosas. Vale o acaso da escolha. São todos gigantes. Todos homens que se sacrificaram abnegadamente e alguns deles hoje, por milagre divino, ainda vivem para dar de coração tudo que é possível pelo nosso glorioso Botafogo.
Credores, assim, de nosso mais absoluto respeito e de nossa gratidão.
Iniciarei com Luiz Aranha, o nosso querido Lulu. Surgiu por aqui em fim de 1930, "descoberto" por Carlito Rocha, consta que no Sul do país (Porto Alegre). Lulu logo se aproximou de nós, afeiçoou-se de tal forma numa admirável reciprocidade que dava a impressão que convivia connosco de há muito, tão familiarizado se tornou com as cousas do Botafogo.
Demonstrou de início características de um líder. Sua projeção na vida desportiva dentro e fora do Botafogo foi rápida. Ocupou cargos de destaque e sua palavra oracular ainda hoje é acatada, mercê de lealdade que é o seu apanágio e a dignidade que imprime às suas opiniões. Foi presidente da Confederação Brasileira de Desportos, Vice-Presidente do Conselho Nacional de Desportos e em todos os setores vem brilhando com sua inteligência fulgurante e irrival. Temperamento franco diz, sem rebuços, o que sente e vence o que quer, dentro de um clima de otimismo que lhe empresta ainda agora um aspecto de eterna adolescência.
No Botafogo é um grande presidente do Conselho Deliberativo, cujas sessões conduz com uma rara habilidade como não conheço outro que pudesse imitá-lo, em que pese possuir o Botafogo um sem número de homens ilustres de extraordinário cabedal de inteligência e cultura. Lulu é também um terrível político... Tem sido o magnífico articulador de inúmeros acontecimentos político-desportivos e o clube muito lhe deve pelos serviços que vem prestando com extrema dedicação, sem inúteis alardes ou publicidade, tão do gosto dos vaidosos ou fúteis.
Na cisão do desporto carioca com a prematura implantação do profissionalismo de futebol, em que o Botafogo surpreendido, de início, discordou, houve-se de tal forma, coadjuvado por Paulo Azeredo, Sérgio Darcy, Rivadávia Correia Meyer e tantos outros, que sua ação pacificadora culminou pelo honroso acordo em que o Botafogo ensarilhou armas, cessando a luta, altaneiro e honrado, considerado vencedor.
Foi mais um dos inestimáveis serviços que o Grande Benemérito Luiz Aranha prestou ao Botafogo. Sua ação dentro e fora do clube, nas entidades em que serviu, devem-lhe tal realce que com muita justiça lhe foi conferido o título de 'Patrono do Desporto Brasileiro' sendo agraciado pelo Governo Juscelino Kubitschek com a ‘Cruz do Mérito Desportivo', maior galardão conferido a desportistas.
Êste, é assim, um rápido bosquejo, o nosso retratado de hoje que dá início a uma série de biografias, onde, por certo, não se descrevem detalhes ou minúcias indispensáveis, com omissões facilmente perdoáveis, a personalidade do Grande Benemérito do Botafogo, Doutor Luiz Aranha, um legítimo, um verdadeiro “Homem do Botafogo”.
Informações Complementares do MUNDO BOTAFOGO
Luiz Aranha, ou carinhosamente Lulu Aranha, como lhe chamava o presidente Getúlio Vargas, nasceu em Alegrete, no Rio Grande do Sul, e faleceu no Rio de Janeiro.
Luiz Aranha possuía dois irmãos que, na época, também exerciam cargos de alto nível: Oswaldo Aranha, um dos articuladores do Golpe de 1930 e posteriormente ministro da Justiça, da Fazenda e das Relações Exteriores nos governos de Getúlio Vargas (1930/1945 e 1951/1954); e Ciro Aranha, presidente do Vasco da Gama (1942/1944; 1946/1948; 1952/1954).
Presidiu à Confederação Brasileira de Desportos (CBD) entre 1936-1943 e simultaneamente era dirigente no Botafogo.
Segundo Ademir Takara (in Museu do Futebol, 14.06.2014), “Luiz Aranha foi um importante articulador dentro da CBD durante o período de confronto entre os defensores do amadorismo e contra os profissionalistas. Mas seu objetivo era o de submeter as organizações esportivas ao Estado, não apenas para acabar com as constantes cisões, mas, principalmente para utilizar o esporte como apoio à ideologia do governo. E ele conseguiu, primeiro elegendo-se presidente da Confederação em 1936, pacificando e reaproximando a CBD e a dissidente Federação Brasileira de Futebol (FBF), fundada pelos profissionalistas, fundindo as duas entidades. E culminando com a criação do Conselho Nacional do Desporto (CND), órgão responsável pela fiscalização, regulação e regulamentação de todos os esportes no Brasil, instituição da qual foi o primeiro presidente em 1940.”
Em 1940 foi criada a Taça Luiz Aranha, em homenagem ao
ex-presidente da CBD. Segundo Túlio Nassif (in Terceiro Tempo), “a competição foi o primeiro Torneio
Internacional Interclubes no Brasil, disputada entre equipes do Brasil e
Argentina no estádio São Januário, com curta duração (20 minutos cada partida)
e realizada durante todo o dia 14 de janeiro, tendo o Vasco da Gama como
campeão”.
4 comentários:
Botafogo. Cultura e história. Eu mesmo nunca havia atinado do parentesco de Osvaldo com Luís e Ciro.
A gente lê sobres esses que construíram o grande Botafogo e vê o que os "notáveis" das últimas 4 décadas fizeram com o clube e fica em dúvida se esses eram de fato botafoguenses. Triste o que fizeram com o BFR. ABS e SB!
É muita história. Tivemos dirigentes fantásticos. E não apenas no futebol, mas também no remo, no basquete, no vôlei, na natação, no polo aquático.
Abraços Gloriosos.
Depois de Emil Pinheiro somente um se empenhou de alma e coração no Botafogo: Bebeto de Freitas. E depois dele até teve direito pelo menos a um presidente não botafoguense - dirigente do futebol de praia do América.
Abraços Gloriosos.
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