quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Os Homens do Botafogo: Luiz Aranha

por Manuel Maria de PAULA RAMOS

in Boletim Oficial do Botafogo, nº 198

Gentileza de ANGELO ANTONIO SERAPHINI

Prometi a mim mesmo escrever um dia sobre os homens que construíram esse monumento que é o Botafogo de Futebol e Regatas.

Dois objetivos nortearam meu intento: 1º Render preito de justiça aos que sempre merecem ser lembrados com muito carinho e gratidão; 2º Dar conhecimento aos novos que necessitam venerar a memória dos que se foram e honrar os que ainda nos alegram com sua presença e mais, os que ainda lutam, sem embargo dos anos que os envelhecem, por um Botafogo cada vez mais poderoso e respeitado.

São biografias desportivas, evidentemente despidas do mínimo valor literário, valendo-me muito da memória, hoje um pouco embotada confesso, e dos informes dos remanescentes, com seus arquivos vivos talvez mais esclarecidos do que eu.

Não há preferência por este ou aquele, na ordem das biografias singelas e despretensiosas. Vale o acaso da escolha. São todos gigantes. Todos homens que se sacrificaram abnegadamente e alguns deles hoje, por milagre divino, ainda vivem para dar de coração tudo que é possível pelo nosso glorioso Botafogo.

Credores, assim, de nosso mais absoluto respeito e de nossa gratidão.

Iniciarei com Luiz Aranha, o nosso querido Lulu. Surgiu por aqui em fim de 1930, "descoberto" por Carlito Rocha, consta que no Sul do país (Porto Alegre). Lulu logo se aproximou de nós, afeiçoou-se de tal forma numa admirável reciprocidade que dava a impressão que convivia connosco de há muito, tão familiarizado se tornou com as cousas do Botafogo.

Demonstrou de início características de um líder. Sua projeção na vida desportiva dentro e fora do Botafogo foi rápida. Ocupou cargos de destaque e sua palavra oracular ainda hoje é acatada, mercê de lealdade que é o seu apanágio e a dignidade que imprime às suas opiniões. Foi presidente da Confederação Brasileira de Desportos, Vice-Presidente do Conselho Nacional de Desportos e em todos os setores vem brilhando com sua inteligência fulgurante e irrival. Temperamento franco diz, sem rebuços, o que sente e vence o que quer, dentro de um clima de otimismo que lhe empresta ainda agora um aspecto de eterna adolescência.

No Botafogo é um grande presidente do Conselho Deliberativo, cujas sessões conduz com uma rara habilidade como não conheço outro que pudesse imitá-lo, em que pese possuir o Botafogo um sem número de homens ilustres de extraordinário cabedal de inteligência e cultura. Lulu é também um terrível político... Tem sido o magnífico articulador de inúmeros acontecimentos político-desportivos e o clube muito lhe deve pelos serviços que vem prestando com extrema dedicação, sem inúteis alardes ou publicidade, tão do gosto dos vaidosos ou fúteis.

Na cisão do desporto carioca com a prematura implantação do profissionalismo de futebol, em que o Botafogo surpreendido, de início, discordou, houve-se de tal forma, coadjuvado por Paulo Azeredo, Sérgio Darcy, Rivadávia Correia Meyer e tantos outros, que sua ação pacificadora culminou pelo honroso acordo em que o Botafogo ensarilhou armas, cessando a luta, altaneiro e honrado, considerado vencedor.

Foi mais um dos inestimáveis serviços que o Grande Benemérito Luiz Aranha prestou ao Botafogo. Sua ação dentro e fora do clube, nas entidades em que serviu, devem-lhe tal realce que com muita justiça lhe foi conferido o título de 'Patrono do Desporto Brasileiro' sendo agraciado pelo Governo Juscelino Kubitschek com a ‘Cruz do Mérito Desportivo', maior galardão conferido a desportistas.

Êste, é assim, um rápido bosquejo, o nosso retratado de hoje que dá início a uma série de biografias, onde, por certo, não se descrevem detalhes ou minúcias indispensáveis, com omissões facilmente perdoáveis, a personalidade do Grande Benemérito do Botafogo, Doutor Luiz Aranha, um legítimo, um verdadeiro “Homem do Botafogo”.

Informações Complementares do MUNDO BOTAFOGO

Luiz Aranha, ou carinhosamente Lulu Aranha, como lhe chamava o presidente Getúlio Vargas, nasceu em Alegrete, no Rio Grande do Sul, e faleceu no Rio de Janeiro.

Luiz Aranha possuía dois irmãos que, na época, também exerciam cargos de alto nível: Oswaldo Aranha, um dos articuladores do Golpe de 1930 e posteriormente ministro da Justiça, da Fazenda e das Relações Exteriores nos governos de Getúlio Vargas (1930/1945 e 1951/1954); e Ciro Aranha, presidente do Vasco da Gama (1942/1944; 1946/1948; 1952/1954).

Presidiu à Confederação Brasileira de Desportos (CBD) entre 1936-1943 e simultaneamente era dirigente no Botafogo.

Segundo Ademir Takara (in Museu do Futebol, 14.06.2014), “Luiz Aranha foi um importante articulador dentro da CBD durante o período de confronto entre os defensores do amadorismo e contra os profissionalistas. Mas seu objetivo era o de submeter as organizações esportivas ao Estado, não apenas para acabar com as constantes cisões, mas, principalmente para utilizar o esporte como apoio à ideologia do governo. E ele conseguiu, primeiro elegendo-se presidente da Confederação em 1936, pacificando e reaproximando a CBD e a dissidente Federação Brasileira de Futebol (FBF), fundada pelos profissionalistas, fundindo as duas entidades. E culminando com a criação do Conselho Nacional do Desporto (CND), órgão responsável pela fiscalização, regulação e regulamentação de todos os esportes no Brasil, instituição da qual foi o primeiro presidente em 1940.”

Em 1940 foi criada a Taça Luiz Aranha, em homenagem ao ex-presidente da CBD. Segundo Túlio Nassif (in Terceiro Tempo), “a competição foi o primeiro Torneio Internacional Interclubes no Brasil, disputada entre equipes do Brasil e Argentina no estádio São Januário, com curta duração (20 minutos cada partida) e realizada durante todo o dia 14 de janeiro, tendo o Vasco da Gama como campeão”.

4 comentários:

jornal da grande natal disse...

Botafogo. Cultura e história. Eu mesmo nunca havia atinado do parentesco de Osvaldo com Luís e Ciro.

Sergio disse...

A gente lê sobres esses que construíram o grande Botafogo e vê o que os "notáveis" das últimas 4 décadas fizeram com o clube e fica em dúvida se esses eram de fato botafoguenses. Triste o que fizeram com o BFR. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

É muita história. Tivemos dirigentes fantásticos. E não apenas no futebol, mas também no remo, no basquete, no vôlei, na natação, no polo aquático.

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Depois de Emil Pinheiro somente um se empenhou de alma e coração no Botafogo: Bebeto de Freitas. E depois dele até teve direito pelo menos a um presidente não botafoguense - dirigente do futebol de praia do América.
Abraços Gloriosos.

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