quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Botafogo 2x1 Bragantino – inovação inesperada

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Surpreendentemente o Botafogo abandonou o amado 4x3x3 de Luís Castro para um 4x4x2 muito bem estruturado, bem à medida das restrições com jogadores lesionados e das características do Bragantino. Pode-se dizer que o Bragantino não sentiu o cheiro da bola na 1ª parte e andou completamente desorientado à mercê do Botafogo.

Com os mais espetaculares 20 minutos jogados este ano, o Botafogo inaugurou o marcador aos 17’, jogando em 4x4x2 e com muita verticalidade, que é exatamente o meu modelo de jogo preferido, e não o tique-taque de posse de bola à moda do Barcelona, do qual nunca gostei. Marçal recebeu lançamento pela esquerda, centrou, no meio da confusão a bola foi ao poste, depois Tiquinho foi derrubado na área, mas de imediato Gabriel Pires chutou para o fundo das redes apesar das enormes defesas que o goleiro adversário fizera até ao momento: Botafogo 1x0.

A avalanche alvinegra continuou a enredar o Bragantino durante toda a 1ª parte, mas o placar não tornou a atualizar-se. As ações rápidas e verticais do ataque botafoguense poderiam ter conseguido 2x0 ou 3x0 ao intervalo, mediante velocidade, foco na verticalidade e súbitas mudanças de flanco, mas dois tipos de situação evitaram o pior para o Bragantino: o extraordinário desempenho do arqueiro adversário, que evitou seis situações iminentes de gol, e os erros de passes para assistência (sobretudo de Jeffinho) acompanhados de um gramado que por diversas vezes travou a bola evitando chegar nas melhores condições de gol. O gramado do Niltão não pode continuar como está.

Notas finais da 1ª parte: (a) Tiquinho já não é o goleador nato que atuou no FC Porto, mas o seu desempenho técnico e a sua força estraçalham completamente as defesas adversárias e é absolutamente determinante na melhoria de um esquema de jogo envolvente, coisa que o nosso Erison (que talvez regresse melhorado) não conseguiria fazer na frente de ataque; (b) Jeffinho, que é um jogador com enorme potencial, continua errando muitas decisões de passe e alternativas no momento do remate a gol; o Botafogo teve seis oportunidades claras para marcar contra zero remates do Bragantino à baliza do Glorioso.

Na 2ª parte, Barbieri – que me parece um treinador com potencial – inverteu o triângulo a meio campo e criou maiores dificuldades ao Botafogo, que entrou novamente bem no jogo mas foi perdendo fôlego. O Bragantino pressionou, começou a criar perigo, equilibrou o jogo e à 2ª oportunidade de gol em contra-ataque não perdoou: 1x1.

Porém, ao contrário de outros momentos, o Botafogo reagiu rapidamente à situação de ‘empatamento’ e voltou a segurar as rédeas do jogo. Castro tornou a ser ousado e fez entrar Patrick de Paula para equilibrar um meio campo predominantemente ofensivo, que deixava espaços atrás de si. Dito e feito. A equipe reequilibrou-se e foi precisamente Patrick de Paula que fez um lançamento longo, à maneira de Gérson, o canhotinha de ouro, bem aproveitado por Júnior Santos na direita, que cruzou para Tchê Tchê aparecer oportunamente à entrada da pequena área e fulminar para o fundo das redes: Botafogo 2x1.

E desde aí o jogo praticamente terminou porque o Botafogo – que se aplicou muito fisicamente – geriu a partida de modo equilibrado, não tornou a criar grandes oportunidades, enquanto por sua parte o Bragantino foi incapaz de engendrar jogadas de envolvimento para a área do Glorioso, mostrando nulidade atacante para penetrar numa zaga em que Adryelson e Cuesta são senhores absolutos.

De notar que a posse de bola foi de cerca de 58% a favor do Bragantino, mas o Botafogo rematou praticamente o quádruplo do adversário, o qual teve duas oportunidades de gol em toda a partida e rematou uma única vez enquadrado na baliza, fazendo o seu gol, já que Gatito não teve que se empenhar numa única defesa difícil em todo o jogo.

Em suma, a ‘enceradeira’ do Bragantino – equipe bastante forte e bem organizada – foi insuficiente para travar um Botafogo rápido e vertical, que no 4-4-2 beneficiava da mobilidade de Marçal e dos dois meia-atacantes que se juntavam aos dois atacantes, fazendo aparecer rapidamente na área quatro finalizadores.

A capacidade de flexibilidade tática que o Botafogo começa a mostrar pode ser muito interessante para um auspicioso 2023 – que vai ser um ano de consolidação com duas interessantes disputas nacionais e uma internacional.

FICHA TÉCNICA

Botafogo 2x1 Bragantino

» Gols: Gabriel Pires, aos 17’, e Tchê Tchê (Botafogo); Luan Piazon, aos 61’ (Bragantino)

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 26.10.2022

» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)

» Público: 9.984 pagantes; 11.093 espectadores

» Renda: R$ 269.673,00

» Árbitro: Dyorgines José Padovani de Andrade (ES); Assistentes: Alessandro Álvaro Rocha de Matos (BA) e Fabiano da Silva Ramires (ES); VAR: Rodrigo D'Alonso Ferreira (SC)

» Disciplina: cartão amarelo – Gabriel Pires (Botafogo) e Lomónaco e Popó (Bragantino)

» Botafogo: Gatito Fernández; Daniel Borges, Adryelson, Cuesta e Marçal; Tchê Tchê, Gabriel Pires, Jeffinho (Lucas Piazon) e Victor Sá (Patrick de Paula); Júnior Santos (Diego Gonçalves) e Tiquinho Soares. Técnico: Luís Castro.

» Bragantino: Cleiton; Aderlan, Lomónaco, Natan e Luan Cândido; Jadsom (Hyoran), Raul e Lucas Evangelista (Gabriel Novaes); Artur, Helinho (Sorriso) e Popó (Carlos Eduardo). Técnico: Maurício Barbieri.

3 comentários:

Sergio disse...

Aos poucos o Castro vai conseguindo dar forma ao time do Botafogo, apesar das inúmeras dificuldades ao longo da temporada e de uma série de críticas muitas vezes infundadas. Eu de minha parte sempre acreditei que o Luís Castro poderia fazer um grande trabalho, mas naturalmente necessitava de tempo e de bons jogadores. Claro que o caminho está sendo pavimentado, mas ainda ha que se pavimentar um bom trecho. Porém, o que foi conseguido até agora nos dá esperança.
Outro fator importante que atribuo em grande parte ao treinador português é a recuperação do Tchê Tchê e em especial do Patrick de Paula, que parece estar renascendo para o futebol, e não esqueçamos do Gabriel Pires, que a bem da verdade faz dos jogos sua pré temporada.
Gostei muito do time ontem, bem disposto física, técnica e taticamente e, se não fosse uma certa ansiedade nas conclusões de muitas jogadas ofensivas, tenho a impressão que o Botafogo poderia sair com 2 ou 3 gols na primeira parte.
Bom, o primeiro objetivo foi cumprido, não vamos cair para tristeza dos críticos pessimistas, e que sabe se não vislumbramos a pré Libertadores. Ficarei satisfeito com uma Sul Americana.
O que se pode concluir é que qualquer trabalho de construção leva tempo, e se para o próximo ano vierem uns 5 ou 6 jogadores de qualidade, o patamar da equipe poderá trazer possibilidades real boas disputas nas competições vindouras.
Como é bom ver o time do Botafogo crescendo, e sensacional é ver essa fantástica torcida vibrando e feliz. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Sérgio, confesso que houve um momento em que expressei que talvez o melhor fosse o LC sair por não estar a compreender ainda o futebol brasileiro, não ter em conta que o 4-3-3 de posse não servia aqueles jogadores, e ele insistindo num modelo que era inadequado na altura devido a falta de amadurecimento dos jogadores devido a não conviverem habitualmente com aquele tipo de futebl. E, por outro lado, custava-me saber que o LC é uma pessoa de enormíssima qualidade pessoal e um treinador de nível acima da média (sem ser um verdadeiro craque com os são os melhores treinadores do mundo - Klopp, Ancelotti, Mourinho, Guardiola...) e estar a ser tão maltrarado, em especial por alguns xenófobos da praça sem qualidade humana nem conhecimento sério de futebol. ainda ontem li que contra o Bragantino o LC não atrapalhou... Não atrapalhou?... O homem foi brilhante no esquema do 4-2-2 e nas substituições e dizem que... não APENAS não atapalhou?!?!?! É demagogia e má vontade a mais. Ontem, até o Barbieri mostrou a sua qualidade na alteração da sua equipe no 2º tempo. Os dois treinadores foram muito bem!

Mas veja a sequência que me fez pensar na saída do LC antes que os treinadores invejosos e os torcedores xenófobos o triturassem: 4 derrotas sucessivas (Cuiabá, América, Atlético Mineiro e Santos), depois uma única excepção ganhando ao Athletico para logo em seguida empatar com o Ceará, Atlético Goianiense e Juventude - os 3 na zona do Z4!!!

Mas,enfim, logo depois retomei a minha confiança e vê-se o Botafogo tranquilo em 8º lugar e espreitando a pré-Libertadores após uma atribuladíssima temporada cheia de problemas. E se os árbitros não nos prejudicassem estaríamos em 6º ou 7º lugar. Por mim, continuo com a mesma expectativa inicial de quando o LC entrou: 10º lugar e Sul-americana. Então, 2023: Brasileirão, Copa do Brasil e Sul-americana, sendo que nas duas competições com eliminatórias teremos chance de alguma conquista.

E há outros aspectos que já devemos ao LC, entre os quais aqueles que o Sergio mencionou relativamente a jogadores: foi ele que reencaminhou Tchê Tchê, Júnior Santos e provavelmente reencaminha o PK. Articula bem os mais experientes com os mais jovens e vão sair novas safras das bases.

O Sergio conhece o provérbio: "Roma e Pavia não se fizeram em um dia". Há que criar infraestruturas, modelos de gestão, metodologias de recrutamento para as bases e para a equipe principal, credibilidade externa, etc. É assim que se constrói um grande Clube e não um clubinho que de vez em quando ganha um Carioca e não conquista nada de importante há 27 anos! Tenho, por isso, muita esperança em comemorar um título importante em 2023. E depois é pensar ainda mais pra cima em 2024.

Finalmente: creio que precisamos basicamente de 4 bons reforços para a titularidade, porque o elenco atual ainda tem jogadores a recuperar pelo menos para o banco de reservas.

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Em tempo: tudo o que for acima do 10º lugar é ganho extra! O que significa que me enquadro com a expectativa inicial de JT: entre 9º e 12º lugar e consequentemente classificação para a Sul-americana.

AG.

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