sábado, 1 de outubro de 2022

Fogão derrota o Flamengo até na prisão

Crédito: Reprodução / Internet.

Gentileza de ANGELO ANTONIO SERAPHINI | Colaborador do Mundo Botafogo

Jornal Folha do Esporte, 19.05.1992

O que diriam o delegado Sivuca, autor do lema "bandido bom é bandido morto", e o deputado federal Amaral Neto, defensor da pena de morte, se assistissem à abertura dos Jogos Penitenciários? Foi um show. Uma verdadeira aula de disciplina e lealdade e de futebol. Segundo expressão do próprio árbitro do jogo inaugural.

O árbitro, Cláudio Vinícius Cerdeira, do quadro da Fifa, acostumado a apitar jogos de profissionais, ficou impressionado com o que viu: "Se os profissionais de futebol respeitassem tanto as regras, jogassem com tanta lealdade, seria muito fácil apitar jogos no Brasil". Cerdeira foi um dos convidados para abrilhantar a festa de abertura dos 1ºs Jogos Penitenciários, entre presidiários das unidades penais do Rio.

Um time de cada lado com as cores do Botafogo e do Flamengo. O Botafogo orientado por Gil e o Flamengo pelo professor de Educação Física, Ariquernam, que substituiu Carlinhos, treinador do Flamengo. Ele não apareceu nem justificou a ausência. Foi uma frustração para os detentos, cuja maioria torce pelo Flamengo. Restou o consolo de aplaudir Zico que por ter outro compromisso não pode ficar até o fim da festa. Vinte e dois jogadores correram atrás da bola disputando os lances, disciplinadamente, com vontade e garra, a ponto de provocar a expressão de admiração do árbitro.

O "clássico" de abertura dos 1ºs Jogos Penitenciários teve tudo das partidas entre jogadores profissionais, menos a violência e a indisciplina daqueles que são pagos para darem espetáculo. Da virilidade nas divididas aos lances de requinte de quem tem intimidade com a bola, como o apoiador do time do Botafogo, Marquinhos de 31 anos. Um craque, que se não enveredasse pelo caminho do crime certamente estaria exibindo seu talento e dando brilho ao nosso pálido futebol. Com toques de rara habilidade, ele e o goleiro Lúcio, que defendeu três pênaltis, arrebataram os aplausos e as atenções da plateia formada por policiais, jornalistas, autoridades e presidiários de todo o sistema penal do Rio.

O jogo foi um espetáculo digno de um domingo de Maracanã. De fazer a torcida vibrar. Da habilidade de Marco Antônio, o "Marquinhos", ao arrojo e a elasticidade de Lúcio, a festa demonstrou que em um outro país, um pouco diferente, quem sabe, aqueles homens não estariam encarcerados, mas seriam ídolos, e não estariam na estrada inversa da vida. Se tivessem oportunidades, seriam certamente homens corretos, trabalhadores, orientadores de suas famílias, na condição de seres normais.

O empate em 2 a 2 foi justo, mas a vitória, nos pênaltis, coube ao time de Gil, com a camisa do Botafogo. Lúcio deixou o campo nos braços dos companheiros, depois de uma grande atuação. Mas o prêmio mais cobiçado não ficou com ele ou Marquinhos. Foi para o aplicado zagueiro Pierre, do time do Flamengo: a camisa 10 do Sumitamo, doado por Zico, foi para ele, autor do primeiro gol da competição. Os outros três gols da partida foram marcados por Celso, para o Botafogo, e Catarino e Feijão, para o Flamengo.

Times

Botafogo: Lúcio; Bira, Gordinho, Feijão e Cebolinha; Dutra, Americano, Melancia e Henrique; Celso e Ricardo. Reservas: Bil, Zé Maria, Beto, Baixinho e Roberto.

Flamengo: Xandão; Maurino, Pierre, Jurandir e Sarará; Wilson, Marquinhos, Peninha e Manoel; Catarino e Carlinhos. Reservas: Luisinho, Cláudio, Magal e Clóvis.

Nota do Mundo Botafogo: Os leitores que tiverem interesse no tema ‘lazer, esporte e presidiários’ podem ler um interessante artigo na Revista Digital (de Buenos Aires), Ano 11, nº 106, março de 2007, publicado em https://www.efdeportes.com/efd106/lazer-esporte-e-presidiarios-algumas-reflexoes.htm.

2 comentários:

Sergio disse...

Fantástico, que texto brilhante, algo muito bonito esse relato. Ressaltado pelo autor, fica patente que um país com mais justiça social a realidade de muitos seria bem diferente do que estamos cansados de ver. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Muito bom, Sim. E uma aposta mais séria no desporto penitenciário poderia ser um caminho interessante para recuperar algumas dessas pessoas (homens e mulheres) para a sociedade.

Abraços Gloriosos.

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