sábado, 10 de dezembro de 2022

CBF: do sucesso ao declínio em tempo recorde

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

[Escrevi este artigo dois dias antes de o Brasil ser eliminado pela Croácia e somente acrescentei esta frase e outras duas adiante, todas colocadas em parêntesis reto. Não publiquei antes para não gerar eventual desconforto entre os leitores e não lhes retirar a alegria do otimismo. Porém, mesmo que a Seleção vencesse, o futebol interno continuaria com os mesmos problemas. Embora o país se pudesse apresentar como candidato ao título mundial devido a boas campanhas recentes, havia em mim um certo pressentimento contrário devido às fragilidades estruturais e conjunturais que sistematicamente se geram no seio da CBF. Agora, após a eliminação, uns culpam Neymar, outros culpam o técnico Tite, outros os próprios jogadores, como no texto de hoje dos ‘7 erros’ do Globoesporte sobre a jogada do gol croata, em que vários jogadores são apontados como errando. Ledo engano, a raiz está muito lá atrás e continua firme e forte, sem visão, sem liderança, sem conhecimento de como se gere o futebol de um país na atualidade: chama-se CBF.]

Eis um gráfico interessante (fonte: globoesporte.com), publicado antes do início da Copa do Mundo e que guardei para memória futura, que hoje resgato, e cuja evolução ao longo do tempo dividi em três fases (linhas a cor vermelha) e sugiro que seja um dos casos de estudo da Confederação Brasileira de Futebol para refletir sobre o que tem andado a fazer no e pelo futebol brasileiro.

Durante 7 décadas a Seleção Brasileira foi inteiramente composta por atletas de clubes brasileiros, o que parece normal pelo menos até 1978 já que não vivíamos num processo de globalização, e preparou-se estruturalmente para vir a ser campeã do mundo. Porém, a CBF não se preparou para as mudanças verificadas nas economias e nas sociedades mundiais, apesar de as mudanças estruturais se começarem a concretizar a nível global em todas as áreas e também no futebol.

Ficaram-se pela orgulhosa barriga cheia de títulos de Copa do Mundo, muito à custa do Botafogo e da visão do seu presidente Paulo Antônio Azeredo, a qual se projetou para além da sua saída de dirigente em 1963, por virtude dos atletas em processo de revelação nas bases e que viriam ainda a ser campeões mundiais em 1970.

A CBF ainda teve tempo, entre 1978 e 1986, para perceber os indícios da inversão de importância do futebol sul-americano a favor do futebol europeu. E sobretudo efetuar mudanças estruturais na sua estratégia e nos processos do futebol brasileiro quando, entre 1990 e 2002, o equilíbrio entre atletas de clubes brasileiros e clubes estrangeiros ainda se verificava nas convocatórias.

A CBF teve tempo, mas não teve ação.

E desde 2002 o futebol brasileiro foi completamente atravessado pelas mudanças de visão, de estratégia e de estrutura operadas no futebol europeu, mercê da produção e aplicação de novos conhecimentos metodológicos em diversas áreas do futebol, consolidando os clubes brasileiros, e de outros países, como fornecedores de mão-de-obra futebolística para os melhores campeonatos nacionais do mundo na atualidade, retirando espessura ao futebol dentro do próprio país a par da inação na produção intencional, estratégica e operacional de novas fornadas de craques em quantidade e qualidade, de árbitros capazes, de treinadores atualizados, de dirigismo federativo competente. Por outro lado, sendo os jogadores predominantemente atletas em atividade no futebol europeu, perderam a criatividade brasileira que fazia a diferença, a par da crescente escassez de revelação de atletas fora-de-série.

[Relembrar que a Seleção foi eliminada por congêneres europeias em 2006 (França), 2010 (Holanda), 2014 (Alemanha), 2018 (Bélgica) e 2022 (Croácia).]

A CBF, madrinha de alguns e madrasta dos demais, continua sem visão nem liderança para mudar, assim como as Confederações sul-americanas de futebol. E sem isso o futuro fica exclusivamente a cargo dos clubes que eventualmente consigam investimentos privados significativos.

Para que serve realmente a CBF como gestora e incentivadora do futebol de um país de dimensão continental se não inova nem renova o futebol brasileiro dentro do Brasil projetando-o para o Mundo?

[PS: Sem inovação e novos conhecimentos cooptados pela CBF, talvez o país fique à mercê de uma ‘milagrosa’ nova geração de futebolistas botafoguenses imbuídos da liderança e do saber de John Textor para que, por si mesmos, tornem o ‘hexa’ uma realidade…]

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