por RUY MOURA | Editor
do Mundo Botafogo
«Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades, / Muda-se o
ser, muda-se a confiança: / Todo o
mundo é composto de mudança, / Tomando
sempre novas qualidades.»
Há dois anos o Botafogo terá feito uma partida semelhante à
de ontem pelo campeonato brasileiro série B quando estava em 15º lugar
espreitando o Z4; porém, ontem, como hoje, era líder destacadíssimo do
Brasileirão.
Há dois anos seria execrado por, durante 90 minutos, efetuar
apenas um frouxo remate enquadrado na baliza adversária ao minuto 61; ontem, amigos
meus e boa parte da mídia atribuiu o desempenho pífio praticamente devido a
‘gestão de plantel’. Ouvi a mídia, que antes diria que o Cruzeiro amassou o
Botafogo e merecia golear, afirmar que o Cruzeiro saiu satisfeito devido à sua
exibição e que, afinal, empatou nada mais, nada menos, do que com o Líder.
É difícil considerar haver ‘gestão de plantel’ quando a
equipe entrou em campo na sua máxima força possível. Na verdade, há tendência para
uma excessiva crítica negativa quando o período é mau e uma excessiva crítica
positiva quando o período é bom.
Compreende-se, porque mudam-se os tempos, mudam-se as
vontades, mesmo quando se está perante a mesma situação, mas a essência do
Botafogo mudou, a confiança é quase ilimitada e novas qualidades se apresentam.
É uma situação típica da nossa humanidade, especialmente
neste caso concreto em que o Botafogo é líder disparado, aumenta a sua vantagem
rodada após rodada, tanto quando ganha como quando empata. Joga bem, ganha e
aumenta a vantagem, joga mal, empata e aumenta a vantagem, e recusa-se
simplesmente a perder quando tudo indica o merecimento da vitória adversária.
O empate de ontem valeu alargar a vantagem para os segundos
qualificados em um ponto, já que Palmeiras e Flamengo, os mais aplaudidos
candidatos ao título no início da temporada, perderam claramente para os seus
adversários e estão ‘apenas’ a 13 pontos do Líder Botafogo uma rodada antes do
término do 1º turno.
Em suma, estamos muito felizes, mais líderes ainda, todo
mundo pensando em título, embora eu me contenha e viva exclusivamente a alegria
do “dia a dia, treino a treino, jogo a jogo”, sem foguetes nem oba-oba porque a
“procissão ainda vai no adro” e eu quero mesmo ser feliz no final do ano.
Porém, houve uma partida e ocorrências que merecem alusão. É
unânime que o desempenho do Botafogo ocorreu – como se diz na atualidade – no
seu último terço, porque os outros dois terços do campo foram do Cruzeiro,
assim como dois terços de posse de bola. Perdemos em remates por 13x2 e em
escanteios por 8x1, e somente nas faltas saímos mais uma vez como grandes
desportistas fazendo apenas 7 faltas contra 17 do Cruzeiro, o que deveria
alertar os árbitros sobre o jogo duro habitualmente utilizado contra o
Botafogo.
Aliás, ocorre pensar que apenas com meia equipe o Botafogo
conservou o zero a zero mediante as atuações do enormíssimo Adryelson e do
grande Lucas Perri e ainda dos ótimos coadjuvantes Di Placido, Victor Cuesta e
Marçal. O meio campo praticamente não entrou na partida, não criou uma única jogada vistosa, errou quase todos os passes para a frente, foi
totalmente manietado pelo esquema do Cruzeiro. E, claro, desse modo o ataque
não funcionou, nem com nem sem Tiquinho Soares.
Uns dizem que foi ‘gestão’ e outros que as oscilações e os tropeços
ocorrem. São aceitáveis tais argumentos, especialmente quando a nossa vontade
mudou e a confiança na equipe do Botafogo cresceu exponencialmente.
No entanto, mesmo em jogos contra o Palmeiras e o Grêmio, em
que estivemos claramente o tempo quase todo à defesa, entregamos a bola ao
adversário e ganhamos os jogos, em virtude da nossa organização em campo obedecer
a uma tática muito bem definida e melhor executada. Em nenhum jogo anterior
pelo Brasileirão, ou pela Copa Sul-Americana, o Botafogo efetuou apenas um
único e frágil remate enquadrado à baliza adversária. Mas ontem fomos
totalmente manietados por um plano prévio do Grêmio que anulou completamente a
nossa saída de bola e a criação do meio campo, embora a maior parte do tempo
claramente anulado pela defensiva do Glorioso.
A oscilação não foi de ontem, mas dos últimos jogos. Temos
mantido a invencibilidade porque a equipe resiste a perder, mas contra o
Patronato jogamos com o regulamento debaixo do braço, contra o Santos foi
preciso uma forte reação, assim como contra o Guaraní, o que desgasta muito a
equipe, e ontem, apesar da entrada da equipe titular, o Botafogo perdeu fôlego,
alegria e criatividade.
Tivemos mais uma vez alguma sorte, e sobretudo um quinteto
defensivo que nos tem brindado com o erguimento de sucessivas muralhas
intransponíveis pelos adversários. Porém, os jogos ganham-se não apenas pelo
paredão da defesa, mas pela criação do meio campo e, pelo menos, por um gol
marcado.
O tempo de preparação é curto na medida em que há dois jogos
por semana, mas no pouco tempo que resta entre jogos é necessário que a
comissão técnica reveja esquemas alternativos de jogo, apresente novidades que
certamente todos esperamos, reanalise o condicionamento e a recuperação física da equipe, mantenha o trabalho sobre a mentalidade e a
resiliência dos atletas, porque não parece normal que o líder disparado do
campeonato, jogando com qualidade ao longo de toda a competição, seja manietado
pelo Cruzeiro, não consiga saída de bola, não crie, não remate, enfim, não
mostre sequer 10% do que tem sido o desempenho do melhor ataque do campeonato.
O Botafogo irá certamente perder algures no tempo, mas perder
e ganhar faz parte do jogo, e que seja sempre à maneira do hino da Portuguesa
Carioca: “Vencer, vencer com galhardia, perder, perder com fidalguia”.
Ontem nem vencer nem perder, porque neste caso vem sempre à
lembrança o nosso hino popular no qual se prediz que o Botafogo não pode
perder, perder pra ninguém – e talvez honrando o hino esta equipe não aceita
perder. Ontem houve um empate de um líder que mais parecia uma equipe do Z4,
sem meio campo e sem ataque, apenas disposto a defender e a manter o Cruzeiro
pouco perigoso a maior pate do tempo, apesar da posse de bola. Ontem, ficamos
felizes por alargar a nossa vantagem na liderança, por chegarmos até ao ponto
de um empate sair-se vitorioso na tabela classificativa contra os mais diretos
adversários, mas hoje temos (têm, sobretudo a comissão técnica e a equipe) que
refletir sobre tão desastrosa atuação da defesa para a frente e tornar a vencer.
Ontem, os ‘heróis’ foram Adryelson todo o tempo e Lucas Perri
nos últimos minutos, mas não queremos que descansem tanto Tiquinho Soares,
Marlon Freitas, Eduardo e Companhia.
Rapaziada, é precisar jogar bola e ganhar ao Guaraní!
Cuidem dos nossos corações porque ENTRAM ONZE, JOGAMOS TODOS!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 0x0 Cruzeiro
» Gols: –
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 06.08.2023
» Local: Estádio do Mineirão,
em Belo Horizonte (MG)
» Público: 44.759 espectadores
» Renda: R$ 2.368.777,50
» Árbitro: Raphael Claus (SP); Assistentes: Marcelo
Carvalho Van Gasse (SP) e Daniel Paulo Ziolli (SP); VAR: Rafael Traci (SC)
» Disciplina: cartão amarelo – Tiquinho Soares e Marçal (Botafogo) e Luciano
Castán (Cruzeiro)
» Cruzeiro: Anderson; William (Palacios), Neris, Luciano Castán e Marlon; Matheus
Jussa, Filipe Machado (Matheus Vital), Lucas Silva (Paulo Vítor) e Matheus
Pereira (Nikão); Arthur Gomes e Gilberto (Rafael Elias). Técnico: Samuel
Correia.
» Botafogo: Lucas Perri; Di Placido, Adryelson, Victor Cuesta e Marçal; Marlon Freitas, Tchê Tchê (Janderson) e Eduardo (Danilo Barbosa); Júnior Santos (Matías Segovia), Tiquinho Soares (Lucas Fernandes) e Victor Sá (Carlos Alberto). Técnico: Bruno Lage.
2 comentários:
Hoje mais tranquilo refleti melhor sobre o jogo de ontem Cruzeiro 0X0 Botafogo. Realmente o Botafogo não foi bem, nem um pouco bem, o meio campo não jogou e com isso não pode haver ataque, mas na minha visão pareceu mais um jogo de um time com uma disposições muito grande e pouquíssimo futebol, contra um Botafogo sem inspiração e sem a tão especial determinação, o time parecia cansado, e o Cruzeiro só no final conseguiu duas chances muito boas magistralmente defendidas pelo nosso gigante Lucas Perri. Lembrando que o Cruzeiro não fez nenhum gol no estádio do Mineirão nesse campeonato.
É óbvio que nem os melhores times conseguem manter alta qualidade ao longo de um campeonato, principalmente disputando outras competições. Ontem me lembrei do jogo da taça GB de 68, quando o Botafogo foi massacrado pelo Flamengo e graças ao Cao terminou 0X0, estou falando daquele time que chamavam de Selefogo.
Um outro aspecto que chama a atenção e a arbitragem. Eu tenho a impressão que os árbitros brasileiro estão confundindo deixar o jogo correr com a deslealdade muitas vezes não punida. Em 3 ou 4 oportunidades em que o Botafogo partia para o ataque o jogador foi parado com falta claramente sem intensão de disputar a bola, mas simplesmente parar a jogada, algumas de forma ríspida, em uma delas provocou a contusão do Tiquinho, e o árbitro não advertiu o faltoso e pior, algumas faltas ele simplesmente fez vista grossa, a não ser que a regra tenha mudado e empurrar o jogador por trás não seja mais falta. Lembrando que contra o Coritiba se não fosse o var a falta clara não bateria sido marcada. A arbitragem brasileira e por extensão a Sul Americana é um horror.
Mas apesar de o time ontem estar irreconhecível, fica o consolo que temos uma defesa brilhante, com destaque para o Adryelson e em especial o Lucas Perri, um time que mesmo mal parece se recusar a perder e tem a sorte dos campeões. Quem espetaria que mesmo jogando mal o Botafogo somaria um ponto a mais que seus adversário diretos que simplesmente perder seus jogos.
Mas concordo quando você diz que é necessário procurar novas soluções, e creio que isso acontecerá a medida que o Bruno Lage consiga conhecer melhor o seu elenco. ABS e SB!
Sergio, o seu primeiro parágrafo evidencia bem o que foi o jogo. O Cruzeiro só dominou porque apenas metade do Botafogo jogou. É equipe de meio da tabela. Os passes do mei campo foram um desastre e assim nenhum perigo chegou à baliza do Cruzeironos 90' de jogo.
Devido a essa referência do jog com o Flamengo é que julgo que este Botafogo é muito semelhante, em modelo de jogo, ao Botafogo de 1967-68, embora individualmente não possa haver comparações com os craques daquela época, onde pel menos 4 viriam a ser campeões domund:Gerson, Jairzinho, Roberto e Paulo César. E haveria tambémRogério, que não ofi convocado po lesão.
As arbitragens brasileiras estão melhores desde que foi feita a última remdelação, mas ainda assim há grandes problemas. Na Europa as arbitragens também não são santas, mas são mais 'inteligentes'. Não são tão escandalosas. Por exemplo, interrompem jogadas com supostas faltas a meio do campo travando a equipe que partia perigosamente ao ataque. No Brasil dos últimos anos, quem vi fazer essa arbitragem 'inteligente' foi o MLH. Que nos prejudicu bastante nos tempos de 2002-2009.
Se o Bruno Lage não trouxer novas soluções, então não é preciso recorrer a um técnico estrangeiro. Talvez o Caçapa chegasse. Os técnicos estrangeiros, e particularmente os portugueses, que embora não sendo os melhores entre os portugueses, mostram conhecimentos e atualização adequadas. E por isso são contratados, e se não mostrarem capacidade não vale a pena recorrer a estrangeiros. Podem vir a ser a mudança de chave na qualidade dos técnicos brasileiros, brigados a estudarem e atualizarem-se.
Um Botafogo mais forte no ataque é essencial. Aliás, apesar da sboas decisões, a SAF não cuidou de arrumar um centroavante alternativ ao Tiquinho. E eu sempre pensei: quando o TS semachucar, como vai ser? Tem a palavra Bruo Lage para nos resolver a situação com criatividade.
Abraços Gloriosos.
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