por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Em um jogo onde a improbabilidade conjunta de
acontecimentos favoráveis ao Botafogo mascararam muito bem as evidentes deficiências
da nossa equipe mediante um resultado enganador, vale a pena seguir a abordagem
cronológica dos acontecimentos.
O Juventude começou a partida muito melhor do que o
Botafogo. Com muito empenho, boa marcação e ganho sucessivo de bolas divididas,
os gaúchos mantinham o Botafogo em sentido e ameaçavam marcar a qualquer momento,
perante um Botafogo meio atônito errando passes, perdendo divididas, sem
criação a meio campo e um ataque que vivia de jogadas individuais de Jeffinho e
de luta de Cabral contra a zaga, mas sem resultados concretos.
Pela nossa parte somente aos 23’ conseguimos cabecear à
baliza, através de Cabral, mas a bola foi bem defendida por Jandrei. A
qualquer momento se desenhava o gol do Juventude ante um Botafogo sem nenhuma espécie
de vibração nem capacidade de penetração, enquanto o Juventude ia a cada
disputa como se tivesse vontade de comer a própria bola. E eis que aos 29’ o
experiente Nenê efetuou um cruzamento, em jogada típica dos gaúchos, Batalla
cabeceou e o goleiro Neto, muito mal batido, aceitou. Juventude 1x0.
Porém, apesar do esforço do Juventude, a estrela estava
do outro lado. Cabral entrou na área, foi travado ilegalmente e o árbitro mandou
seguir a jogada. E aqui abro um parêntesis para mais uma cena ridícula de
narrador e comentador.
Nem narrador nem comentador consideraram pênalti uma
falta que na minha ótica era claramente pênalti logo à primeira vista. Desdobraram-se
em análises ‘profundas’ para justificar a omissão da arbitragem. Porém, o VAR
chamou o árbitro e após análise foi assinalado o pênalti – e eis que os nossos
anfitriões televisivos passaram a aceitar o pênalti por que, afinal (!), havia
um ângulo de imagem que permitia considerar pênalti. Já não há paciência para
estes aldrabões incompetentes e parciais inclusive em transmissões
internacionais!
Como de costume, Alex Telles bateu na perfeição,
rasteiro, no canto, e empatou a partida aos 38’, sem que o Botafogo tivesse
realmente feito algo para o merecer. O meio campo não existia e peço, imploro,
a Marlon Freitas que não remate à baliza – de dois remates, um na 1ª parte e
outro na 2ª parte, ambos viajaram em direção à arquibancada. Aliás, confesso
que não vislumbro as virtudes de que Marlon Freitas tem sido alvo, porque não
marca bem, chuta pessimamente e a maior parte das suas intervenções são passes
lateralizados – raramente efetuando lançamentos longos e bem colocados. É uma
opinião da qual muitos irmãos de escudo discordarão.
Para meu alívio não se passou mais nada de relevante na
1ª parte, porque apesar do esforço e do brio dos jogadores do Juventude, a sua
grande jogada era a bola aérea, que levava perigo, naturalmente, mas que foi
sempre rechaçada, excepto quando Neto aceitou uma cabeçada cuja consequência foi
o fundo da baliza. Aliás, a incapacidade do Juventude em entrar na área e com poucas
soluções de eficácia, agrava ainda mais as críticas passíveis de serem feitas à
nossa equipe, porque não se conseguiu encontrar face a um adversário que,
corajoso e ousado, evidenciou que atualmente já ninguém ‘respeita’ o Botafogo
em campo, já ninguém nos teme como há oito meses temia.
Esperei que algo acontecesse com a equipe na 2ª parte, mas nada de divergente ocorreu. O mesmo marasmo botafoguense, o Juventude atacando com perigo pelas pontas, doando-se em campo contra a burocracia do Botafogo, ameaçando o 2x1 e a nossa equipe mostrando que não dispunha de armas suficientes para virar o resultado, nem mesmo após as três primeiras substituições com a entrada de Matheus Martins, Danilo e Marçal, apesar de ter melhorado a ligações,
Até que o técnico decidiu tirar de campo o improdutivo
Joaquín Correa aos 66’, substituindo-o pelo estreante Chris Ramos, assim como Montoro
substituído por Santi Rodríguez aos 79’, já sem produção suficiente, e a
estrela tornou a brilhar.
No entanto, quem perigava mais era o Juventude: aos 71' Neto foi chamado a uma intervenção providencial espalmando uma bola venenosa e ao 72' foi a vez de um remate fora da grande área que explodiu estrondosamente na trave.
Contra todas as expectativas de então, em um dos raros contra-ataques
rápidos do Botafogo, Danilo enfiou uma bola no meio, Cabral tocou instintivamente para Chris Ramos em posição
frontal próxima à linha de área, o nosso nº 9 tirou a zaga da jogada com um toque
subtil e rematou rasteiro e cruzado para o canto direito de Jandrei, virando o
resultado. Botafogo 2x1.
A improbabilidade de vencer a partida, e sobretudo de um atacante
discreto, que fez carreira apenas em Espanha, e principalmente em clubes de 2ª
e 3ª divisão, ser o protagonista da equipe na sua estreia, tomou conta do jogo novamente. O improvável Chris estava exatamente onde os 9 devem estar
para resolver as partidas.
Ferido pela injustiça do placar tendo em conta toda a
partida, o Juventude avançou mais as suas peças na ânsia do gol e partiu-se. Já
nos acréscimos, após ataque dos gaúchos, a bola sobrou na nossa defesa para Matheus Martins, que lançou rapidamente Santi Rodríguez em contra-ataque veloz e venenoso com várias peças em movimento para a frente, e na meia-lua da grande área tocou subtilmente para o lado direito onde novamente apareceu o
improvável Chris Ramos ajeitando a bola com um toque e rematando forte para bisar inapelavelmente e ter a sua estreia de sonho.
Botafogo 3x1 e resultado sacramentado.
Sacramentado?... Talvez não… O Juventude estoicamente não
desistiu e numa boa jogada a partir da defesa, rematou à entrada da nossa
grande área, David Ricardo decidiu jogar handebol dando um tapa numa bola que
Neto estava em posição de agarrar e o árbitro marcou obviamente penalidade
máxima. Porém, a improbabilidade repetiu-se mais uma vez: o jogador que assistiu
ao companheiro para o remate acabara de sair de fora de jogo e estava
naturalmente impedido, sendo anulada a marcação da grande penalidade.
Jogo atípico, com muitas deficiências da nossa parte,
evidenciando uma equipe insegura, pouco esclarecida no meio campo, perdendo
muitas disputas divididas e errando muitos passes, pouco produtiva de jogadas organizadas,
sem vibração e intensidade atacante.
A apreensão continua porque o conjunto das improbabilidades
a nosso favor não correrá com frequência. E sobretudo porque o jogo de futebol
está perdendo as características bases do espetáculo desportivo, intenso, bem
disputado, tecnicamente bem qualificado, a favor da força física, das faltas, de
duplas linhas de quatro em frente à grande área, enfim, está perdendo a magia
em muitos casos e o Botafogo não é excepção num ano em que o anti-planejamento
tem sido o protagonista maior.
Ancelotti, embora se deva ter em conta as nossas
dificuldades, ainda não mostrou ao que veio e o nosso futebol não é recomendável.
Urgem mudanças rápidas, com reforços capazes e inovações em lugar da burocracia futebolística, porque
mais uma eliminatória da Copa do Brasil está à porta e a luta pelo G4 vai ser
intensa.
FICHA TÉCNICA
Botafogo 3x1 Juventude
» Gols: Alex Telles, aos 38’ (pen.), e Chris Ramos, aos 83’ e 90+1’ (Botafogo);
Batalla, aos 29’ (Juventude)
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 24.08.2025
» Local: Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul (RS)
Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza (SP); Assistentes: Neuza Inês Back (SP) e Luiz Alberto Andrini
Nogueira (SP); VAR: Ilbert
Estevam da Silva (SP)
» Disciplina: cartão amarelo – Newton e Alexander Barboza (Botafogo)
» Botafogo: Neto;
Vitinho, Alexander Barboza, David Ricardo e Alex Telles (Marçal); Newton
(Danilo), Marlon Freitas e Joaquín Correa (Chris Ramos); Jeffinho (Matheus
Martins), Arthur Cabral e Álvaro Montoro (Santi Rodríguez). Técnico: Davide
Ancelotti.
» Juventude: Jandrei;
Reginaldo, Wilker Ángel, Luan Freitas e Alan Ruschel (Marcelo Hermes); Caíque
(Giraldo), Jadson, Mandaca (Matheus Babi) e Nenê (Gabriel Veron); Gabriel
Taliari e Batalla (Rafael Bilu). Técnico: Thiago Carpini.
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