por RUY MOURA | Editor do Mundo
Botafogo
Mário Sérgio Pontes de Paiva nasceu no dia 7 de setembro de
1950, no Rio de Janeiro (DF), e faleceu no dia 28 de novembro de 2016, em La
Unión, Antioquia, na Colômbia, vítima da queda do avião que transportava a
equipe da Chapecoense, tendo sido sucessivamente futebolista (1969-1987)
atuando como meia-ofensivo e ponta-esquerda, treinador (1987-2010) e
comentarista dos canais Fox Sports (2012-2016).
A sua morte trágica não destoa da vida complexa
que viveu entre dramas, polêmicas e glórias. A vida de Mário Sérgio foi atribulada
desde a infância. A família tinha boas condições de vida. O pai foi o primeiro
vendedor de medicamentos do Laboratório Fontoura, tinha automóvel, era
presidente de um clube de Carnaval e sócio-proprietário do Fluminense.
Todavia, o pai, que lhe batia desde a infância, acabou
por se arruinar perdendo tudo nas corridas de cavalos e abandonou a família,
deixando-a muito pobre, o que obrigou Mário Sérgio a trabalhar.
De dia trabalhava, no período noturno estudava,
concluindo o curso científico e ingressando no curso superior de Processamento
de Dados, e aos fins-de-sema jogava futebol de salão no Fluminense, tendo sido,
segundo o próprio, bicampeão brasileiro com a Seleção Carioca. Porém, como não
podia contar com remunerações no Fluminense, o trabalho numa empresa de
informática era a sua fonte de rendimento.
No entanto, o futebol acabaria por ser o seu
destino, tornando-se um meio-campista tão habilidoso e criativo quanto de
temperamento muito difícil.
Em 1969 fez testes no Flamengo (1969-1971) e a
sua grande habilidade foi aprovada, seguindo um caminho de adaptação (difícil)
ao futebol. Nesse ano foi campeão de aspirantes e em 1970 ascendeu aos
profissionais, apoiado pela diretoria e contra a vontade do técnico Yustrich,
que gostava mais do futebol-força do que do futebol-arte, considerando o
individualismo em campo um ‘crime’ imperdoável, enquanto Mário Sérgio era
admirador de Rivelino e Samarone.
Dois homens de temperamento forte caminhando para o desentendimento desde o início acabariam por ficar desavindos. No auge da juventude hippie, Mário Sérgio usava roupas coloridas e cabelo longo, algo que o treinador não compreendia e então chamava-o de ‘boneca’. Num treino Yustrich expulsou-o e disse-lhe para não estragar o negócio em curso de transferência para Salvador. O atleta respondeu de pronto: - “Não vou. Gosto do Rio e minha família mora aqui.”
Então o técnico prometeu que ele não teria mais
chances e acabou no banco de reservas, até que um dia, durante um treino, Mário
Sérgio decidiu provocar o técnico, fez diversas ‘embaixadinhas’ e depois chutou
a bola para as nuvens, declarando anos mais tarde sobre o desfecho:
– “Recebi uma bola longa, me esforcei, alcancei
a bola a um palmo da linha e parti para o gol. Já dentro da área, quando ia
marcar o gol, Yustrich apitou dizendo que a bola saíra. Ah, peguei a bola e
zuei. Dei um chutão para o alto, e disse que ali não jogava mais.”
Prometido e feito, nunca regressou ao Flamengo,
nem como jogador nem como treinador. Deixou o clube rubro-negro após 5 partidas
e 1 gol na equipe principal e a conquista da Taça Guanabara em 1970, rumando
finalmente a Salvador, ingressando no Vitória (1971-1975) e cumprindo a estadia
mais longa nos muitos clubes por onde passou.
No Vitória consagrou-se devido a grandes
exibições e em 1972 conquistou o campeonato baiano. O Bahia foi derrotado por
duas vezes na decisão. No primeiro jogo por 1x0, precisamente com gol de Mário
Sérgio; no segundo jogo por 3x1. Polêmico tal como foi durante toda a vida,
Mário Sérgio declarou antes do segundo jogo da decisão:
– “Se o Vitória vencer o jogo, vou dar todo o
meu material. Vou sair de campo de sunga. Só não saio nu porque complica.”
E o craque continuou com os seus prazeres e
caprichos, vivendo noitadas intensas, sendo flagrado nu a conduzir na Avenida
Sete de Setembro e jogando bola como nunca.
Em 1973 conquistou a Bola de Ouro (revista Placar) atuando como ponta-esquerda, mas em 1974 mudou de posição e passou a armador, continuando as boas exibições, apesar da mudança. Especialmente como armador ganhou o apelido de ‘vesgo’, porque quando passava a bola aos companheiros olhava para um lado e endereçava o esférico para o outro lado – ato que, diz-se, inspirou Ronaldinho Gaúcho. Tornou então a impressionar a revista Placar que lhe dera a Bola de Prata como ponta-esquerda em 1973, conquistando o bi da Bola de Prata em 1974 atuando como meia-armador.
Em 1973 participou no ‘Jogo da Gratidão’ numa
partida contra um Combinado estrangeiro em homenagem ao inigualável Garrincha,
em 19 de dezembro de 1973, cuja renda reverteu a favor do maior driblador de
todos os tempos.
No Vitória atuou ao lado de André Catimba e Osni,
formando o melhor trio de ataque de sempre do clube baiano e encantando a
torcida vitoriana. Mário Sérgio tornou-se o primeiro jogador do Vitória a ser
convocado para a Seleção Brasileira, nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1978.
Foi em Salvador que Mário Sérgio atingiu o clímax
de boêmia irresponsável:
– “Ali foi
o apogeu. Tudo o que eu podia ter feito de errado eu fiz na Bahia. Andava nu.
Eu andava de carro pelado. Fazia miséria, fazia um monte de coisa. Festa era
direto. Eu fugia da concentração para ir para a boate. Tinha a boate de um
amigo meu, o Carmel. […] Eu ficava
até 5h00, vinha para a concentração, dormia, acordava e ia para o jogo. […]
Uma vez saí da praia bebendo. Bebi todas.
[…] Fiquei nu de carro. Coisa de louco,
totalmente irresponsável.”
Porém, foi também na Bahia que a boêmia
desapareceu da sua vida quando conheceu a sua primeira esposa e o seu sogro, o
homem que Mário Sérgio gostaria de ter tido como pai. Casou aos 23 anos devido
a ter engravidado a namorada, de 16 anos. Então, a sua vida mudou – não por se
tornar menos polêmico, mas por perceber que chegara o tempo de interromper o
ciclo da irresponsabilidade em favor do ciclo da responsabilidade.
– “Mudou
muito, muito, muito. Porque já não tinha mais festa. Esporadicamente ela
viajava, eu saía com amigo, uma boate. Mas com a minha mulher em casa, com a
família em casa, jamais. Sempre para a minha casa. Nunca teve festa.”
Em 1975 Mário Sérgio foi vendido ao Fluminense para atuar ao lado de Rivelino, Paulo César, Gil, Manfrini e Edinho, na primeira versão da ‘Máquina Tricolor’, conquistando nesse mesmo ano a Taça Guanabara e o Campeonato Carioca. Em 1976 sagrou-se bicampeão carioca.
Porém, se do Flamengo saiu por desentendimento
com o técnico Yustrich, no Fluminense saiu em desavença com o presidente
Francisco Horta, acabando por ser contratado pelo Botafogo no início de 1976.
No Glorioso (1976-1979) fez parte da equipe
designada por Roberto Porto como o ‘time do camburão’, justificando assim a
‘pérola’ do apelidado dado: – “Um time
que tinha Dé, Mário Sérgio, Renê, Paulo Cézar, Perivaldo e Nilson Dias… todos
com a chave da cadeia!”
[Os protagonistas do time do camburão: https://mundobotafogo.blogspot.com/2019/03/os-protagonistas-do-time-do-camburao.html]
Estreou na vitória por 1x0 sobre o Caldense (MG),
gol de Antônio Carlos, em jogo amistoso realizado no dia 18 de janeiro de 1976,
no estádio Ronaldo Junqueira, em Poços de Caldas. O Botafogo alinhou com
Wendell (Ubirajara Alcântara); Miranda, Chiquinho Pastor, Nílson Andrade e
Marinho Chagas; Carlos Roberto (Artur), Ademir Vicente (Carbone) e Mário Sérgio
(Nivaldo); Jorge Luís, Fischer e Manfrini (Antônio Carlos). Técnico: Telê
Santana.
No Botafogo o atleta não rendeu o habitual porque
em 1978 teve uma lesão grave no joelho. Afastado por quatro meses, forçou o
regresso e danificou os meniscos, ficando afastado dos gramados por mais um
ano. Nesse espaço de tempo Mário Sérgio e a Diretoria do Botafogo foram se afastando
e o atleta foi negociado em 1979 para a sua primeira experiência internacional,
o Club Atlético Rosário Central, da Argentina.
Pelo Botafogo Mário Sérgio conquistou apenas a
Taça José Wander Rodrigues Mendes (1976), correspondente ao 2º turno do
campeonato estadual, e o Torneio Início do Rio de Janeiro (1977).
Todavia, a experiência argentina foi passageira.
A esposa de Mário Sérgio não o acompanhou porque havia ingressado no curso de
engenharia e rapidamente o atleta criou celeuma e a sua estadia foi abreviada,
sendo então indicado ao Internacional por Paulo Roberto Falcão.
Ainda em 1979 ingressou no Internacional para
consagrar novamente a sua habilidade e criatividade, tornando-se a peça mais
importante da equipe com a saída de Falcão. Em boas relações com o técnico Ênio
Andrade, Mário Sérgio conquistou o Campeonato Brasileiro (1979) e chegou à
final da Copa Libertadores (1980). Em 1980 e em 1981 tornou a conquistar o bi
da Bola de Prata da revista Placar e venceu o Campeonato Gaúcho (1981).
Fontes principais: https://ge.globo.com; https://ludopedio.org.br; https://patadasygambetas.blogosfera.uol.com.br; https://pt.wikipedia.org; https://tardesdepacaembu.wordpress.com; https://terceirotempo.uol.com.br; https://www.futvitoria.com.br; https://www.uol; https://www.zerozero.pt.
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