por DINAFOGO | Coluna “Botafogo nisso!” | Colaborador
do Mundo Botafogo
O Botafogo empatou nesta quarta-feira em 0 a 0 com o Vitória, no Estádio
Nilton Santos. O duelo marcou a estreia do técnico italiano Davide Ancelotti no
comando do alvinegro e a despedida de Gregore, uma das peças-chave na conquista
do Campeonato Brasileiro e da Libertadores da América de 2024, sendo que, nesta
última, poderia perfeitamente ter sido o vilão. Porém, o atleta marcou seu nome
no clube com raça, habilidade e, o mais importante, títulos. Dito isso,
gostaria agora de compartilhar com os amigos do blog algumas observações
pessoais:
1. Primeiras impressões sobre Davide Ancelotti
O treinador Davide Ancelotti, ao que podemos observar na vitória no
clássico diante do Vasco da Gama e no empate contra o Vitória, realmente aposta
em um jogo ofensivo, com boas transições e pressão no campo defensivo do
adversário. Também tive a impressão de ver os atletas com mais disposição
física, inteiros nos embates e correndo atrás da bola.
Outra coisa que me agrada é a presença de Montoro entre os titulares, pois
trata-se de um jovem promissor, habilidoso, inteligente e que não sente a
pressão do jogo. Então, deixar toda aquela conversa de que é muito jovem, que
não está pronto etc., me deixa muito contente. Isso transmite ousadia,
confiança na equipe e evidencia a utilização dos investimentos do clube.
Ainda é muito cedo para fazermos avaliações mais aprofundadas sobre o
trabalho do italiano, mas já é perceptível uma diferença na mentalidade, estilo
de jogo e entendimento do time em relação ao seu antecessor. É dar tempo ao
tempo e entender que estamos iniciando um trabalho do zero novamente, que
haverá erros e acertos até que tudo se equilibre e tenhamos uma ideia clara do
que esperar em campo a cada partida.
Esse trabalho deveria ter sido iniciado no começo do ano, contudo, como as
águas passadas não movem moinhos, agora é torcer e olhar para o futuro. Temos
duas copas e um campeonato de pontos corridos para serem disputados — e com
condições de vencê-los.
2. Janela aberta
A janela de transferências está aberta e é hora de irmos ao mercado. Em
2024, essa janela de julho foi o divisor de águas: chegaram Luiz Henrique e
Thiago Almada, além de outras contratações que elevaram o nível do nosso
elenco. Espero que em 2025 seja da mesma forma, pois é no meio do ano que a SAF
costuma fazer suas movimentações mais significativas — e, com todo o imbróglio
envolvendo o Lyon, John Textor está mais atencioso com o Glorioso.
Vale lembrar também que, além de contratar, precisamos repor, pois perdemos
peças importantes do nosso elenco: Jair, Igor Jesus e agora Gregore. É algo que
podemos discutir — a capacidade da SAF de segurar jogadores e o quanto isso
impacta o projeto. Sabemos que é difícil competir contra o dinheiro dos árabes,
dos europeus e as oportunidades de vida que são oferecidas, e que a SAF tem
como princípio respeitar a vontade dos atletas. Mas fica aqui a reflexão.
Acredito que, nesta janela, seria essencial contratar um ponta com estilo
parecido com o de LH (o que é muito difícil), um zagueiro canhoto, um volante e
alguns nomes para compor elenco, pois o campeonato é longo e o desgaste é
enorme.
3. Um problema antigo
Na noite de ontem, o Glorioso foi ofensivo, criou oportunidades, acertou a
trave e obrigou o goleiro adversário a fazer milagres debaixo das traves. No
entanto, não foi suficiente para empurrarmos a bola para o fundo da rede.
O Vitória fez um ferrolho, estacionou e se defendeu bem até chegar a etapa
final — e aí começou a cera. Uma estratégia já conhecida por nós, torcedores,
quando um time tecnicamente mais modesto vem jogar em nossos domínios. Foi
assim com o Cuiabá (2024 e 2022), Criciúma (2024), Avaí (2022), Juventude (2022),
Vitória (2024) e América-MG (2022). O roteiro é o mesmo: o Botafogo domina o
primeiro tempo, cria oportunidades claras de gol, mas peca na pontaria de seus
jogadores e enfrenta goleiros em noites inspiradas.
Esses jogos apresentam números muito parecidos. Por exemplo, em 2024, o
Botafogo chutou 26 vezes contra 10 do Vitória, e naquele mesmo ano, 25
finalizações contra apenas 6 do Criciúma. O cenário se repete: o Botafogo é
ofensivo na primeira etapa, o adversário se defende como pode, e o volume de
jogo não se traduz em gols. O time insiste em bolas levantadas na área, todas
rebatidas pela defesa adversária. O primeiro tempo termina com a sensação de
que o gol está por um detalhe, e que na segunda etapa ele virá. Porém, o que
acontece geralmente é a repetição do roteiro: o time cansa, o adversário começa
a fazer cera, e o clima de festa se transforma em impaciência, vaias e
nervosismo.
Às vezes, numa bola mal cortada ou em um momento de desatenção, o
adversário acha um gol — e então o Botafogo passa a correr atrás do empate, não
mais da vitória. Essa estratégia vem sendo repetida por todos os técnicos que
enfrentam o Glorioso com elencos mais modestos ou em situação delicada na
tabela. Não é mais acaso — é um padrão. E precisamos aprender a lidar com ele.
Em 2023, por exemplo, um empate contra o Vitória nos custou a liderança. E
naquele jogo contra o Peñarol, pela Libertadores, demoramos a furar a zaga
deles — e o resultado do segundo jogo poderia ter sido bem diferente caso o
empate persistisse no Rio de Janeiro. Aliás, aquela partida foi uma das poucas
em que o Gigante da Estrela Solitária conseguiu quebrar o ferrolho adversário.
Acredito que ela deva servir de exemplo para o futuro: bastou um gol e cabeça
fria para construirmos um placar elástico e histórico.
É urgente aprendermos a lição. Acredito que existam duas formas de quebrar
um ferrolho: por meio da bola parada e das jogadas trabalhadas dentro da área,
atraindo a defesa adversária para abrir espaços. Foi assim, inclusive, o
primeiro gol do Botafogo contra os uruguaios naquela memorável partida.
4. O relógio joga contra
Se fosse uma partida, este momento da temporada seria aquele jogo em que
estamos perdendo por 1 a 0 no segundo tempo e a classificação escorre pelos
dedos — mas, se marcarmos, ainda podemos levar para a prorrogação e alcançar o
título. Essa analogia se deve ao fato de que, como mencionado acima, o clube
perdeu muito tempo no início do ano com escolhas equivocadas. Agora, nosso
treinador terá pouco tempo para corrigir os erros, aprender a lidar com as
competições, enquanto Textor e os scouts
também precisarão ser cirúrgicos nas contratações — e os jogadores, adaptar-se
o quanto antes.
Não dá para perdermos muitos pontos no Brasileirão, principalmente em casa,
pois esse campeonato exige consistência — e times que oscilam demais
dificilmente se sagram campeões. Os empates devem ser tolerados apenas contra
adversários diretos pela ponta da tabela e, de preferência, fora de casa —
ainda mais considerando o elenco que temos. Lá na frente, o empate de ontem
fará falta. Sentiremos o peso desses dois pontos perdidos.
Quanto às competições eliminatórias, é preciso redobrar a atenção, pois boa
parte dos times não vêm ao Rio de Janeiro para jogar, mas para arrancar um
empate e levar a decisão para seus domínios. E aí, numa expulsão, numa
provocação, num abalo emocional, corremos o risco de sermos eliminados.
Novamente, o Botafogo precisará estar atento com cartões, arbitragem, emocional
e, acima de tudo, buscar constância. O alvinegro tem elenco para engatar uma
sequência de vitórias e se posicionar com conforto. Infelizmente, tropeços são
inevitáveis — mas devem ser exceções, jamais a regra.
Por fim, confio em John Textor, nos scouts,
na capacidade do nosso treinador, na força do elenco e, primordialmente, no
peso da nossa camisa. Espero que o futuro — que será presente no final do ano —
seja glorioso e termine em festa no Nilton Santos, em General Severiano, no
bairro mais famoso do mundo e na cidade maravilhosa.
Avante, Fogo!