por REVISTA DO
ESPORTE | 1960
«Quando
Didi ainda sonhava em se transferir para a Europa a Revista do Esporte
publicava em seu n.º 1 (atenção, colecionadores) o grande “furo”, em entrevista
exclusiva. Hoje, que o craque está de volta, eta revista teve a primazia de
ouvi-lo ainda quando mal êle desembarcou do avião.
Meia hora foi o
suficiente para que Didi nos contasse a história verdadeira de seu retôrno:
– Fui perseguido pela
imprensa de Espanha. Os jornais de lá só publicam o que interessa ao Real. Como
eu não reunia a preferência dos dirigentes para formar na equipe, passei a ser
atacado pelos cronistas que são subjugados pelo clube. Posso citar os jornais
“Pueblo”, “La Marca” e “Madrid” como os mais influenciados. Só não tenho provas
de que sejam comprados e por isso não me arrisco afazer tal declaração.
– E agora, Didi:
pretende encerrar por aqui mesmo a carreira?
– Sim. E se Deus
quiser jogando ainda por muito tempo, para mostrar que meu futebol não acabou.
Minha atividade profissional será encerrada no Botafogo, clube do meu coração,
do qual tenho recebido as maiores provas de estima. Jamais sairei do Botafogo.
Por dinheiro nenhum e nem que seja para ser rei em outra parte do mundo…
Didi não gosta (ma
não procura esconder o seu descontentamento) de relembrar sua estada na
Espanha. Mas, mesmo a contra-gôsto êle narrou um dos capítulos que mais o
entristeceram:
– Tôda vez que o Real
excursionava, procuravam me excluir da delegação. Êles tinham inveja de ver meu
nome nas manchetes recebendo elogios de jornalistas de outros países e por isso
não me levavam. Comecei a perder o ânimo e aí minha vontade de voltar ao Brasil
aumentava dia a dia. Até que enfim deixei de sonhar para viver a realidade.
– Você sempre teve
condições de jôgo, Didi?
– No time do Real
Madrid, se me dessem chance, eu jogaria até com uma perna só…
Acendeu um cigarro e
soltou uma “bomba”:
– O Di Stefano é quem
manda no time do Real. Na casa dêle é que se realizam as reuniões (com os
jornalistas instruídos pelo clube) para a escalação… Na última reunião, os
homens da imprensa decidiram: “1960 será o ano de Di Stefano”.
Falando sobre a
entrevista que Canário (de passagem pelo Rio, com a delegação do Real) concedeu
a um jornal carica, Didi externou outra mágoa:
– Mentira o que foi
escrito [Didi referia-se às acusações sobre Guiomar, esposa do dele, lhe
prejudicar a carreira]. Conversei com Canário e êle negou que houvesse feito
tais declarações dispondo-se até a assinar um documento para comprovar que tudo
fôra invenção uma má interpretação do repórter que o entrevistou. Creio que o
Canário quis fazer publicidade às minhas custas e acho que era essa realmente
sua idéia, pois mais tarde vim a saber que êle havia dito tudo quanto fôra
publicado. Mas, para governo dêle e dos “ondeiros” da oposição aviso: minha
querida Guiomar jamais prejudicou meio jôgo e tampouco minha carreira. Pelo
contrário, só tem me estimulado com palavras de incentivo e de carinho.
– Qual a sua opinião
sobre o futebol espanhol?
– Nada mais do que
agitado. Os times não se preocupam em oferecer bons espetáculos como os nossos.
Querem ganhar o jôgo de qualquer maneira. O futebol espanhol tem muita técnica…
de publicidade.
– Que tal as
arbitragens, Didi?
– Facciosas. Os
juízes protegem os “grandes” e desprezam os “pequenos”. Estes jamais conseguem
vencer aqueles fora dos seus campos. Os árbitros espanhóis costumam dizer aos
jogadores quantos minuto faltam para acabar o jôgo. Eu mesmo recebi avisos
dessa natureza…
E finalizando:
– Realizo agora a
maior satisfação da minha vida voltando ao Brasil. Espero ser útil à CBD na
próxima Copa do Mundo.»
PS: Didi sagrou-se bicampeão do mundo em 1962,
mas não terminou a carreira no Botafogo.




