sábado, 18 de outubro de 2025

Conjugação perfeita de superstições e atitude elegante

Fonte: Diário de Notícias (RJ),18.12.1962.

[Nota preliminar: o texto obedece à ortografia da época.]

«Tôdas as superstições dos homens do Botafogo funcionaram certinhas no jôgo com o Flamengo. Vejamos algumas delas:

1 – O sr. Paulo Azeredo, como em 61, ficou no seu sítio, e só desceu quando o título estava assegurado;

2 – Os srs. Emílio Beaklini e Manuel Maria de Paula Ramos, no campeonato passado, haviam ido à Gruta de Imprensa e êste ano repetiram o lance;

3 – Nilton Santos e Garrincha deixaram de ir aos “barbadinhos”, da mesma forma que na véspera da decisão do ano anterior;

4 – O nosso confrade e colaborador, Canor Simões Coelho, foi para o mesmo lugar, na Tribuna Especial, de onde assistira à partida que levou o Botafogo ao título em 1961;

5 – E o sr. Miguel Couto Filho apareceu com a mesma camisa do ano passado. Só ficou aborrecido porque na camisa faltava um botão e sua espôsa colocara um outro. Arrancou-o, discreta, mas ràpidamente.

*

Só quem não deu bola para a superstição foi Garrincha, porque enquanto os seus companheiros acertavam o passo para entrar em campo com o pé esquerdo, “Seu Mané”, com aquelas pernas tortas que Deus lhe deu, entrou mesmo com o pé direito. O mesmo pé que decidiu a partida, pois foi dêle que saíram os três gols.

*

O Botafogo mandou confeccionar mesmo, por antecipação, as suas faixas de bicampeão. Mas teve uma atitude elegante, mandando fazer também as do Flamengo, como campeão. Assim, se as coisas não saíssem como se esperava, haveria uma outra saída, muito distinta. Para o ano, se o Botafogo tiver que decidir o campeonato, esperem pela repetição. Tudo como manda o figurino da superstição

Fonte: Diário de Notícias (RJ), Coluna ‘Pinga Pinga’, 18.12.1962.

Botafogo 0x2 Fluminense – 5ª rodada da Taça Guanabara feminina

Crédito: Mariana Garcia / Fluminense FC.

A derrota do Botafogo deixou o Fluminense isolado na liderança e dificilmente poderemos conquistar a Taça Guanabara, mas estaremos classificados para a semifinais do campeonato estadual.

FICHA TÉCNICA

Botafogo 0x2 Fluminense

» Gols: Lelê, aos 14’, e Cotrim, aos 84’

» Competição: Campeonato Estadual / Taça Guanabara

» Data: 13.10.2025

» Local: Estádio Marcelo Vieira, em Duque de Caxias (RJ)

» Árbitro: Marcus Vinícius Latorre (RJ); Assistentes: Nayra da Cunha Nunes e Fabiana Nóbrega Pitta; 4ª Árbitra: Alessilma da Silva Nascimento

» Disciplina: cartão amarelo – Thaiane, Yasmim e Fran Bonfanti (Botafogo) e Camila, Raquel e Débora (Fluminense; cartão vermelho – Thaiane (Botafogo)

» Botafogo: Yasmim; Fran Bonfanti, Sassá, Thaiane e Natane (Guima); Duda Basílio (Bia), Paola (Rebeca) e Tefinha (Kimberlyn); Carol, Júllia (Raissa) e Tipa (Sinara). Técnico: Lé Goulart.

» Fluminense: Jany; Keke, Gislaine, Cotrim e Sorriso; Claudinha (Karina), Gaby Louvain (Camila) e Raquel Fernandes; Kamilla (Altamires), Lurdinha (Carina) e Lelê (Maria Luísa). Técnico: Saulo Silva.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Da fórmula criadora à gestão destruidora

por DINAFOGO | Colaborador do Mundo Botafogo | Coluna “Botafogo nisso!”

Bom dia, Blog! Esse é mais um daqueles textos tristes e cheios de reclamações que me acostumei a escrever neste nefasto ano de 2025, mas que se tornam ainda piores quando perdemos clássicos para os nossos rivais, dada toda a dimensão emocional e moral que envolve um jogo deste porte. Anteontem, o Botafogo defrontou o rival da Gávea em partida válida pelo Campeonato Brasileiro, que poderia dar um gás extra para a reta final do campeonato e a briga pela classificação à Libertadores do ano seguinte.

A torcida do Botafogo, apesar de tudo que vem vivenciando nos últimos tempos, se fez presente, em um número que considero até muito elevado para este elenco. E, como em todo clássico, houve muita provação: desde críticas à hipocrisia de se pedir fair play financeiro enquanto temos cotas tão discrepantes, passando pela frase de Zico sobre o martírio que era enfrentar o Glorioso em tempos antigos, até à famigerada faixa com as cores do rival, com a palavra “moda”. Era um clima de “guerra” na arquibancada.

Particularmente, gosto da brincadeira sadia contra nossos adversários; entretanto, sinto que o momento do Botafogo exigia mais apoio e união do que preocupação com provocações contra o time da Gávea. As melhores respostas sempre devem vir em campo e, somente depois, ir para as arquibancadas, como na histórica goleada de 6x0 em 1972, que depois virou faixa, ou nas vitórias que se transformaram na frase “o bicho é certo”. Essa história de achar que a vitória é ganha antes da hora não nos pertence.

Agora, depois de dar essa volta sobre a arquibancada, vou me focar na análise do jogo. O Botafogo até começou com algumas jogadas de contra-ataque e levando algum perigo, mas já podíamos observar a falta de pontaria e a dificuldade de saber o que fazer na grande área. O time adversário, por sua vez, apostava na posse de bola e na postura passiva do Botafogo, apenas observando a bola ir de um lado para o outro e esperando recuperar a bola para se lançar ao ataque e pegar a zaga rubro-negra distraída, porém sempre esbarrando na limitação técnica do seu sistema ofensivo. Assim se seguiu o jogo, com oportunidades de ambos os lados, até que o gol do adversário saiu e desequilibrou a partida.

O Botafogo, que antes tinha um pouco de lucidez, se perdeu em campo e não se encontrou em nenhum momento nos minutos que se seguiram. O atacante adversário que marcou o primeiro tento precisou de poucas oportunidades para estufar a rede alvinegra, lembrando o atacante Romário, que sempre foi um carrasco na nossa história justamente por sua capacidade de fazer gols com poucas chances. Nós, porém, não tínhamos um Túlio que fizesse o mesmo e tantas vezes decidisse uma partida para nós; o que tínhamos era um “artilheiro” de quatro gols que custou milhões ao nosso cofre.

Ainda na segunda etapa o adversário balançaria a rede mais duas vezes e, em ambas as situações, nossos jogadores caíram no chão e perderam a bola que resultou em gol. O Botafogo se comportou de forma apática, sem brio e sem criatividade, a cara desse planejamento de 2025.

Eu me pergunto se foi essa sensação de impotência que os flamenguistas sentiram quando aquele Botafogo imponente de 1962 os atropelou pelo mesmo placar ou, mais recentemente, nos 4x1 do ano de 2024. Só que nessas ocasiões tínhamos a certeza da nossa qualidade técnica, jogadores decisivos e confiança em nós mesmos, e não apenas em um dia ruim do adversário. O problema é que, nas mãos de amadores, o Botafogo saiu do “bicho é certo” contra os urubus para ser um azarão no clássico, passando a depender do extraordinário e de dias ruins do adversário para vencer, o que não acontece sempre. Isso explica porque mais perdemos do que ganhamos. No entanto, no ano passado, quando se comportou como protagonista, venceu as duas partidas, sendo uma delas de goleada, não esperou a incompetência do adversário, mas se aproveitou dela, o que é bem diferente.

Outra coisa que nos salta aos olhos no clássico de anteontem: enquanto o adversário tinha vários personagens daquele 4x1 que vencemos, apesar do nível excelente do plantel deles, o nosso não tem nem mais o goleiro. Fica escancarada a diferença de planejamento e de entendimento do que é o futebol e uma rivalidade desse porte. Não por acaso, eles levaram muito a sério a Supercopa, que desdenhamos, a briga no Carioca e a vontade de anteontem. Estavam mordidos. Falta isso a esse elenco do Botafogo: sangue no olho, defender o clube e entender o que significa uma derrota como a de anteontem.

Nos anos 2000, o rival conseguiu aumentar muito a sua hegemonia no clássico, principalmente após o ano de 2019, por entender que o futebol moderno se faz com investimento, base, manutenção de elenco e desejo de vencer do mais simples ao maior dos campeonatos. Enquanto o time da Estrela Solitária se acostumou com elencos pífios, e vencer um clássico era um título e não algo normal dentro de forças que se equivalem. Fora que, com a SAF, com exceção de 2024, estamos vendo um elenco caro e com grife, porém sem qualidade. A fórmula foi achada e perdida em 2025.

Por fim, o Botafogo precisa ser mais decidido no que quer: se quer fazer como o Palmeiras, mantendo um bom treinador e oferecendo elenco para ele levar o projeto, ou se quer investir como o time da Gávea, em estrelas, e independente do treinador, ter time para brigar. Só que ao  meu ver Ancelotti não é esse treinador, e esse elenco nem preciso comentar.

Artefatos (327): um estranho chaveiro

 

Conjugação perfeita de superstições e atitude elegante

Fonte: Diário de Notícias (RJ),18.12.1962. [Nota preliminar: o texto obedece à ortografia da época.] « Tôdas as superstições dos homens ...