por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
A constatação
maior deste jogo é o empate a zero gols, no Nilton Santos, contra um adversário
que se encontra na zona de despromoção, o que nos impediu chegarmos ao 4º lugar
a 3 pontos do líder se ao menos uma bola tivesse entrado na baliza do Vitória.
O Botafogo
seguiu a estratégia da posse de bola para sufocar o Vitória nos primeiros minutos
de jogo e decidir a partida. O problema é que esta estratégia apressada, quando
não resulta em gol na primeira meia hora de jogo, costuma tornar difícil o resto
da partida contra adversários com duas linhas de defesa compactas.
Na
verdade, o Vitória só defendeu, não fez uma única jogada perigosa de ataque e
menos ainda qualquer chance de gol, tornando John Victor mero assistente na
partida. Isto significa que a defesa continua forte, mas o ataque, embora
criando oportunidades, nem sempre decide bem, nem define bem.
Na verdade,
o domínio absoluto de jogo com oportunidades em catadupa ocorreu até aos 20’,
mais precisamente entre os 8’ e os 19’.
Aos 8’
Arthur Cabral cabeceou e Lucas Arcanjo defendeu; aos 11’ novamente Arthur
Cabral quase acertou uma cabeçada falhada por centímetros; aos 14’ foi Artur
que, cara a cara, chutou em cima do goleiro; aos 17’ Kaio Fernando cabeceou à
entrada da pequena área e Lucas Arcanjo fez uma defesa reflexiva espetacular;
aos 18’ foi Savarino que cabeceou para outra defesa espetacular do guardião
vitoriano; aos 19’ Artur poderia ter cruzado com três jogadores do Botafogo
atrás da linha da bola, mas decidiu chutar à baliza e a bola voou para a
arquibancada.
E acabou
aí o sufoco. O Botafogo só chegou a nova oportunidade quando aos 37’ Arthur
Cabral rematou com o goleiro batido e o zagueiro afastou a bola em frente da
linha do gol.
O 2º tempo
mostrou um Botafogo menos perigoso, com poucas chegadas de oportunidade real de
gol: aos 54’ Arthur Cabral cabeceou à trave; aos 60’ Savarino rematou ao lado do
poste; as 90+6’, após um lançamento longo espetacular de Gregore, foi a vez de Lucas
Arcanjo dar um ligeiro tapa na bola em cabeçada de Cuiabano com o travessão
completando a defesa.
O
Botafogo merecia naturalmente ter ganho, sobretudo pelo que fez nos primeiros
vinte minutos, mas era esperado que o Vitória tivesse a tal estratégia de
estacionar o ônibus à entrada da grande área. Então, o Botafogo teria que fazer
mais, teria que encontrar modalidades de atrair os adversários, procurar o
futebol vertical em jogadas rápidas, atacar pelas alas, e não simplesmente ficar
na posse de bola com 66% que não lograram eficácia.
Cada vez
mais a posse de bola retira velocidade no ataque e possibilidade de novas
variações, e a equipe dominante com 65%, 70%, 75% de posse de bola perde
pontos. Foi assim que vencemos o PSG, foi assim que o Arsenal foi campeão do
mundo, foi assim que o Flamengo com 75% de posse de bola perdeu para o Santos,
que conseguiu mais oportunidades de gol contra apenas uma do Flamengo, e o Botafogo
não sabe apenas jogar com posse de bola, mas também sem bola – o que é uma arte
no futebol moderno – porque o seu setor defensivo é o mais forte da equipe.
Não sou
treinador nem gostaria de sê-lo, mas parece bastante evidente que a posse de
bola por si só não é decisiva em todas as circunstâncias. Importa estabelecer
táticas diversas, no âmbito de uma estratégia de jogo, consoante o adversário, e
se Ancelotti é ‘mestre’ em inovação e futebol way, como já se disse, então necessita compreender que as
famosíssimas posses de bola do Manchester City e do Paris Saint-Germain não
surtiram efeito no Mundial de Clubes. A posse de bola só interessa feita com
critério e o Botafogo não tem ainda equipe que consiga estabelecer processos
equilibrados ao longo de toda a partida.
Se umas
vezes a posse de bola para sufocar o adversário pode funcionar, outras vezes isso
não se consegue por falta de variações e é preciso usar de outros esquemas e de
paciência para enervar o adversário, atraí-lo e contra atacar.
Globalmente
o Botafogo jogou bem, mas não foi eficaz no último chute à baliza, na última
cabeçada para a meta. Sem eficácia ou se empata ou se perde um jogo, e este não
poderíamos ter perdido, tais eram as condições a nosso favor, que poucas vezes ocorrerão
durante o campeonato.
A vitória
e a entrada no G4 teria sido ideal para dar força à equipe enquanto novos
reforços não chegam. No entanto, a equipe demonstrou um futebol mais solto, mais
objetivo e pode ainda recuperar pontos ao líder se novas modalidades de ação em
campo forem desenvolvidas.
O tempo
não está a favor de Ancelotti, o que significa que se quiser lutar seriamente
nas três competições em que estamos envolvidos tem que usar toda a criatividade
dos seus métodos para abrir novos horizontes à equipe. O Sport é uma nova boa oportunidade
para subirmos na tabela classificativa, mas, atenção, a torcida está em polvorosa
com a equipe na lanterna e técnico e jogadores tudo farão para reagir aos maus
resultados.
OUSAR
CRIAR, OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!
FICHA TÉCNICA
Botafogo
0x0 Vitória
» Gols: –
»
Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 16.07.2025
» Local: Estádio Olímpico
Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Público: 17.140
pagantes; 19.733 espectadores
» Renda: R$
1.098.050,00
»
Árbitro: Lucas Casagrande (PR); Assistentes: Bruno
Boschilia (PR) e Marcia Bezerra Lopes Caetano (RO); VAR: Émerson de Almeida Ferreira (MG)
» Disciplina: cartão amarelo – Santi Rodríguez (BOT); Willian Oliveira, Lucas Arcanjo, Raul Cáceres,
Osvaldo e Erick (Vitória)
» Botafogo: John;
Vitinho, Kaio Pantaleão, Alexander Barboza e Alex Telles (Cuiabano); Allan
(Gregore), Marlon Freitas e Savarino (Joaquín Correa); Artur (Nathan
Fernandes), Arthur Cabral e Álvaro Montoro (Santi Rodríguez). Técnico: Davide
Ancelotti.
» Vitória: Lucas Arcanjo; Raúl Cáceres, Edu, Zé Marcos e Maykon Jesus; Ricardo Ryller,
Willian Oliveira e Ronald (Erick); Matheuzinho (Rúben Rodrigues), Renato Kayzer
(Renzo López) e Lucas Braga (Osvaldo). Técnico: Fábio Carille.
4 comentários:
O resultado do jogo de ontem não refletiu o que aconteceu em campo. Mas futebol é bola na rede, mas segundo um certo treinador é apenas um detalhe, porém, só se ganha partidas com este "detalhe". Parece um problema crônico no time as finalizações ineficientes, e acrescente-se a isso uma noite inspirada do goleiro do Vitória.
Entretanto, vejo progressos interessantes no time, claro que faltam ajustes importantes, mas pelo menos vejo margem para crescimento da equipe, coisa que não via sob o comando do Paiva, quando vencemos alguns jogos não jogando absolutamente nada, como os dois jogos contra o Carabobo ou contra o Santos.
Uma vitória ontem colocaria o Botafogo bem próximo ao líder do campeonato, isso nós temos que lamentar. Abs e SB!
Em minha opinião, é cedo para avaliarmos os progressos. Um jogo é só um jogo. E como já me escaldei muitas vezes anteriormente, aguardo por maior evolução (e também reforços). O certo é que os goleiros estão lá para defender e os atacantes têm a função de chutar a bola fora do seu alcance.O resultado foi simples: o goleiro fez o que devia, os atacantes não. O Botafogo parece estar mais solto, mas os problemas cruciais do ataque mantêm-se. O nível dos passes melhorou, as finalizações estão como dantes. E sem Igor Jesus, pior um pouco. Acredito que Ancelotti vai ter bastante trabalho pela frente se quiser disputar títulos em 2025. Estamos atrasados. Um terço do campeonato já se foi, e só agora recomeçamos. Será que ele consegue?... Creio que vai depender do nível dos reforços. Dito de outro modo: depende do que Textor quer desembolsar.
Abraços Gloriosos.
Boa tarde, Blog!
Ruy, deixei um novo texto no seu correio eletrônico.
Quanto ao jogo de ontem, novamente o Glorioso não consegue vencer um time tecnicamente inferior em seus domínios e cai na armadilha do ferrolho. Eu acho que não é somente um problema do alvinegro em si, mas do futebol sul-americano em geral, que não tem o costume de apostar em chutes de fora da área. São poucos os times que têm um batedor de falta de qualidade, capaz de desequilibrar (bateu saudade do Juninho e seus gols contra o Urubu nos tempos do Carrossel Alvinegro — suas batidas eram quase certeza de gol).
Vejo que essa é uma das formas de abrir a retranca e impedir a catimba, porque jogo brigado favorece esses times. A outra é apostar na habilidade dos atletas, e um drible pode abrir espaços na grande área, mas geralmente esses times são faltosos e dificultam muito.
É bem verdade que, apesar de ser bem inoperante ofensivamente, o Vitória, mais do que estratégia, tem de fato uma defesa sólida. Porém, não dá para perdermos pontos para times da parte de baixo da tabela. Para eles, é ponto para sair e alcançar os 45 pontos — estão no lucro. Mas para nós, é ponto perdido que faz falta quando precisamos de dois pontinhos para desempatar e ficar com os títulos.
Um dos pedidos de Ancelotti a John Textor foi um batedor de faltas! É incrível nã termos nem um bom batedor quando se sabe que no futebol moderno muitos jogos se ganham na cobrança de falta.
Quanto à habilidade para drible, escasseia, porque o futebol é cada vez mais físico e isso não favorece os 'artistas'. Em minha opinião, no Botafogo de hoje só há um jogador que se assemelha a um driblador/desequilibrador: Álvaro Montoro - e tem uma boa margem ainda para progredir.
No que respeita ao seu artigo, a publicação sai amanhã.
Abraços Gloriosos.
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