por RUY MOURA |
Editor d Mundo Botafogo
Antes de efetuar uma análise ao jogo quero
expressar, uma vez mais, que não aprecio o dito ‘jogo posicional’ e defendo
sempre o ‘jogo vertical’, seja contra adversários teoricamente mais fortes ou
menos fortes – com a diferença de haver num caso e noutro maior ou menor posse
de bola pela nossa parte.
Por exemplo, as críticas feitas ao jogo
defensivo de Renato Paiva poderiam ser as mesmas feitas a Luís Castro em 2023,
que chegou a ganhar ao Palmeiras, se bem me recordo, com um único remate
enquadrado à baliza e uma posse de bola ínfima. As diferenças eram apenas duas:
Castro ganhava mais em 2023 com o seu ‘ferrolho’ do que Paiva em 2025 e era
líder do Brasileirão; e o foco e eficácia da equipe era muito superior em 2023
do que em 2025.
Tem havido campeões continentais que ganham
finais incontestavelmente apenas com 30% de posse de bola. Consequentemente, a
questão não está no ‘jogo posicional’ ou noutro esquema qualquer, mas sobretudo
na organização coletiva, ousadia, dinâmica e ambição quando se ataca – e ao
Botafogo, apesar de resultados globalmente positivos, tem faltado uma certa
ousadia e dinâmica à qual se associou também menos eficiência com a maldita
‘posse de bola’ e menos eficácia (entendendo-se por eficácia os resultados
obtidos).
Ora, o jogo de ontem mostrou uma vez mais que
a posse de bola pode ser muito eficiente, mas não assegura eficácia. Aliás,
pessoalmente adoro que o Botafogo jogue contra equipes de Fernando Diniz,
porque topou perfeitamente o seu único modo de jogar e deixa o adversário com a
posse de bola para nos momentos do seu balanço atacante a equipe adversária se
apoderar subitamente da bola e em jogadas verticais e velozes invada o campo
adversário e seja eficaz com a redondinha a estufar o véu da noiva.
Em suma, gostei do jogo de ontem porque o
Botafogo foi coletivamente organizado, ousado, dinâmico, foi capaz de criar,
sobretudo através de Álvaro Montoro – a única aquisição recente aparentemente
muito boa até agora – que esteve nas duas jogadas dos gols, a equipe circulou
bem a bola quando foi necessário, driblou quanto baste nos momentos próprios e
chegou sempre ao ataque com mais do que um jogador – e não apenas com o
sacrificado Igor Jesus que se ‘esfolava’ sozinho para resolver partidas a nosso
favor porque a equipe não acompanhava o movimento, e esse era um dos pontos
fracos da equipe de Renato Paiva, que raramente conseguia atacar em bloco.
E quanto a defender o Botafogo foi quase
perfeito, conseguindo-se um bom equilíbrio entre os setores. Em boa verdade o
Vasco não logrou entrar na grande área e as suas tentativas para gol foram
sobretudo em remates (frouxos) de fora da área. John foi mais assistente do que
protagonista em todo o jogo.
Jogando verticalmente o Botafogo pode ficar
entre 30% a 40% de posse de bola porque será o suficiente para criar volume de
jogo e oportunidades, dando uma maior posse de bola ao adversário de modo
absolutamente controlado.
E foi assim que o Botafogo venceu em toda a
linha com apenas 34% de posse de bola, 6 oportunidades claras de gol contra
apenas 1 do Vasco da Gama, rematando o dobro do adversário e marcando 2 gols em
6 remates enquadrados contra 0 gols do Vasco em 5 remates enquadrados.
A equipe entrou no jogo com vontade e
dinamismo dominando quase totalmente os primeiros 20 minutos. Logo aos 2’ Kaio
Fernando não marcou de cabeça à boca do gol por 4 ou 5 centímetros de atraso no
cabeceamento e aos 17’ Arthur Cabral – que está melhorando – aproveitou uma
assistência de Marlon Freitas para obrigar Léo Jardim a uma grande defesa.
O Vasco conseguiu equilibrar mais o jogo
depois desse período, mas sempre com remates de fora da área que paravam nas
mãos de John. O Botafogo deixava o Vasco trocar a bola sem ameaçar a baliza do
Botafogo, terminando a 1ª parte em 0x0.
No 2º tempo entramos para ganhar. Aos
48’Montoro driblou o zagueiro, rematou cm perigo, Léo Jardim fez uma enorme
defesa espalmando para a frente e Arthur Cabral entrou oportunissimamente para
inaugurar o marcador com justiça. Botafogo 1x0.
As 58’ Vitinho perdeu uma enorme oportunidade
de cabecear vitoriosamente num cruzamento ao 2º poste; e aos 78’ Montoro girou
à frente do zagueiro, cruzou da esquerda para Marlon Freitas na direita tocar
para a entrada da pequena área e Nathan Fernandes, também oportunissimamente
consolidar o placar. Botafogo 2x0.
Aos 80’ ainda houve tempo para, com o jogo
controlada, o Botafogo ameaçar novamente com um remate de Joaquín Correa para
grande defesa de Léo Jardim.
Justíssima vitória num sistema de jogo fluido,
com jogadas articuladas em futebol vertical e um ‘aperitivo’ de Ancelotti que
esperemos possa passar rapidamente aos ‘pratos principais’ e ainda chegar a
tempo de disputar os títulos do Brasileirão e da Libertadores que, apesar das
críticas excessivas recentes, Renato Paiva deixou em boas condições para um
sucessor com futebol mais ousado e dinâmico.
Confesso que já tive muitas decepções depois
de acreditar, mas o ‘aperitivo’ de ontem abre-nos o apetite para os ‘pratos’
mais robustos. Que Davide Ancelotti dê certo – com mais reforços, John Textor!
– é o maior desejo de todos nós neste momento.
Duas notas: (1) É melhor esse gramado natural
do Mané Garrincha cheio de areia do que o gramado artificial do Nilton Santos?;
(2) Jogar ‘em casa’ com a enorme torcida brasiliense do Botafogo é sempre
delicioso, e sob a proteção de Mané Garrincha.
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x0 Vasco da Gama
» Gols: Arthur Cabral, aos 47’, e Nathan Fernandes, as 78’
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 12.07.2025
» Estádio: Estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF)
» Público: 31.468 presentes
» Renda: R$ 2.707.814,00
» Árbitro: Anderson Daronco (RS); Assistentes: Michael
Stanislau (RS) e Tiago Augusto Kappes Diel (RS); VAR: Wagner Reway (RS)
» Disciplina: cartão amarelo – Alexander Barboza, Álvaro Montoro (Botafogo) e Lucas
Freitas e Garré (Vasco da Gama)
» Botafogo: John; Vitinho, Kaio Pantaleão, Alexander Barboza e Alex Telles;
Gregore, Marlon Freitas e Savarino (Joaquín Correa); Artur (Allan), Arthur
Cabral (Nathan Fernandes) e Álvaro Montoro (Santi Rodríguez). Técnico: Cláudio
Caçapa/Davide Ancelotti.
» Vasco da Gama: Léo Jardim; Paulo Henrique, João Victor, Lucas Freitas
(Mateus Cocão) e Lucas Piton; Hugo Moura, Tchê Tchê e Philippe Coutinho (Alex
Teixeira); Rayan (Garré), Vegetti (GB) e Nuno Moreira (David). Técnico:
Fernando Diniz.
2 comentários:
A exibição do Botafogo ontem foi surpreendente boa. Achei o time mais disposto, marcando bem e atacando com mais qualidade e com mais variedade ofensiva. Será que o Davide conseguiu em 3 dias de treino dar uma dinâmica maior ao time do Botafogo que o Renato Paiva? É cedo para sabermos, mas que o time teve um comportamento bem diferente ontem isso é fato.
Gostei muito do Montoro, e me pergunto: por que o Paiva não o utilizou como titular contra o Palmeiras? Enfim, águas passadas não movem moinhos, mas aquela partida contra o Palmeiras foi de uma covardia que até hoje me irrita.
Também destaco o Kaio Fernando, bom zagueiro e tem um arranque interessante, como foi no primeiro gol. Vamos aguardar os reforços que virão, o elenco tem bons jogadores no elenco, e esse Botafogo que jogou ontem me parece mais forte e consciente. Vamos aguardar os próximos jogos. Abs e SB!
Exibição surpreendentemente boa, sim. Porém, fazemos sempre boas exibições contra esse esquema monolítico do Diniz. Em 14 jogos contra o Botafogo foi derrotado 10 vezes e teve apenas 2 vitórias e 2 empates. Até o Lúcio Flávio lhe ganhou por duas com exibições muito boas. Mas desejo que seja mesmo 'dedo' do Ancelotti, porque sendo poderá haver nova 'terra prometida'.
O Paiva é irregular, apesar de ter tido bons resultados na ponta final do grupo da Libertadores e nos últimos jogos do Brasileirão. No entanto, com descrevi no seu perfil aquando da sua chegada, tem sido treinador de altos e baixos - n Botafgo repetiu essa tendência para altos e baixos. Creio que lhe falta novas ideias e usa apenas o que aprendeu há muitos anos como treinador das bases do Benfica.
O Montoro foi a única aquisição que se evidenciou até agora e também não percebo porque o Paiva não apostou nele. Talvez achasse que era novo demais para o Mundial de Clubes. Se ele repetir exibições cmo a de ontem Textor trata de o vender rapidamente para faturar. Nesse aspeto nada de novo no Botafogo: primeiro a faturação monetária e só depois a faturação desportiva. Eu faria ao inverso: ter jogadores durante 2-3 anos, no mínimo, para poderem render desportivamente e após crescimento consolidado então vender.
Cm disse em diversos comentários, eu estava em cima do muro com o Paiva, por não saber ao certo se ele cairia para o lado do acerto ou se acabava por desacertar. Manter-me-ei em cima do muro até perceber se o Ancelotti é consistente com tudo o que terá aprendido nestes anos como assistente do melhor treinador do mundo.
Abraços Gloriosos.
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