quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O cri-cri e o urubu


Botafogo e Flamengo iniciaram uma rivalidade que vem, pelo menos, desde o famoso Jogo do Senta – relatado anteontem no blogue –, em que ao quinto gol do Botafogo os jogadores do Flamengo se sentaram no relvado, obedecendo a uma ordem dos dirigentes que reclamavam do árbitro.

Nos anos sessenta, com a ascensão dos jogadores do Glorioso ao estrelato mundial a rivalidade acentuou-se e manteve-se até aos dias de hoje. No entanto, Botafogo e Flamengo estiveram sempre muito relacionados, especialmente nos primórdios do século XX.

Consta que a beleza e os músculos dos remadores botafoguenses encantavam as meninas que residiam no Flamengo, e os rapazes do bairro, invejosos dos namoricos delas, resolveram fundar também um clube de regatas, que se chamou Flamengo.

E a partir daí as histórias curiosas entre ambos os clubes foram acontecendo, como é natural suceder com rivalidades intensas.

No artigo “Club de Regatas Botafogo, os anos mágicos do remo”, escrevi, em 8 de Dezembro de 2007, na etiqueta ‘história’, o seguinte:

“A 27 de Outubro de 1903 o Jornal do Commercio narra uma partida de futebol realizada dois dias antes, precisamente entre os remadores do Club de Regatas Botafogo e do Clube de Regatas Flamengo. O jogo decorreu no campo do Paysandu e teve como resultado 5x1 favorável aos alvinegros, embora nenhum dos clubes possuísse secção de futebol.”

Mais adiante escrevi:

“Dos três maiores rivais no Rio de Janeiro, o Botafogo está ligado ao Flamengo praticamente desde o início da fundação do clube rubro-negro e foi com ele que efectuou o seu jogo ‘pioneiro’ no futebol. Como se prenunciasse que o Botafogo havia de fundir as regatas e o futebol em 1942…” (…) Entretanto, na primeira regata que [o Flamengo disputou], a nova baleeira ‘Sycra’ largou no Gragoatá, em Niterói, mas como a tripulação almoçara um bacalhau à portuguesa regado com vinho verde, sentiu-se mal durante o percurso, embateu numa bóia de sinalização e foi uma lancha do Botafogo que rebocou a guarnição do Flamengo para terra firme.”

Muito mais tarde, Botafogo e Flamengo tornam a estar ligados devido à mascote adoptada pelos rubro-negros – o urubu. Mas o melhor é dar a palavra aos próprios ‘urubus’, que referem o assunto de forma adequada no blogue “Flamengo Eternamente”:

“O Maracanã estava lotado numa tarde de um fim-de-semana dos anos 1960 durante um jogo entre o Botafogo e o Flamengo.

O jogo corria normal quando torcedores do Botafogo soltaram um urubu carregando uma bandeira do Flamengo. Mais do que uma provocação era uma crítica pesada: para os alvinegros, os flamenguistas não passavam de favelados que reviravam o lixo em busca de comida. Ou seja, urubus.

Mas o Flamengo soube dar a volta por cima e o urubu passou a ser a sua mascote, após Henfil desenhar, no dia seguinte, no Jornal dos Sports, um urubu com a camisa do Flamengo.”

Foi o mesmo Henfil (Henrique de Souza Filho, 1944 – 1988), adepto rubro-negro roxo, que criou o vascaíno Bacalhau, o tricolor Pó-de-Arroz e o botafoguense Cri-Cri – torcedor do Glorioso com um tridente na mão.

Até hoje alguns botafoguenses – como o meu amigo Cesar Oliveira – utilizam a expressão ‘cricrizada’ quando se referem à gloriosa torcida botafoguense.

Fontes:
flamengoeternamente.blogspot.com: “O fanático torcedor chamado Henfil”
mundobotafogo.blogspot.com: “Club de Regatas Botafogo, os anos mágicos do remo”

12 comentários:

Jorge Costa disse...

Caro Amigo Rui
Estive um pouco ausente das postagens por causa das minhas tarefas de trabalho e também problemas de vírus e que já foi solucionado.
O Botafogo vai de vento em popa numa escalada ascendente no Brasileiro e ótimo na Sul americana com direito a goleada no Atlético Mineiro.
Abraços

Ruy Moura disse...

Amigo Jorge, os jogadores são os mesmos, a única variável que mudou foi o treinador. Qualquer treinador, após golear o Galo fora por 5x2, estaria muito feliz a dizer somente bem. Mas Ney disse que tomar dois gols não é bom e vai corrigir esses erros. Antes tínhamos um treinador que dizia: "tomar dois ou três gols é normal de quem ataca muito." Considero a frase absolutamente anormal, e Ney Franco é que sabe muito bem que equipa que quer ser campeão só pode tomar, no máximo, um gol num jogo. Grande treinador!

Acho que ele conseguiu mesmo quebrar os espelhos retrovisores dos jogadores e dar-lhes potente faróis, porque para a frente a estrada é larga e grande...

Desejo que o teu Vascão arranque definitivamente daquela zona perigosa... (nós ajudámos um pouco... eheheh...). Já os tricolores, até que podem ficar por lá...

SAUDAÇÕES ESPORTIVAS

Saulo disse...

É verdade mesmo. Gostei que o NF disse. Para ser campeão não podemos tomar mais de um gol. Não podemos vacilar e tomar gols bestas, mesmo que seja uma goleada como foi contra o Atlético-MG. Ele realmente, está sendo um grande treinador, está mudando a cara do Botafogo e espero que esse sucesso continue por muito tempo.

Wilson Oliveira disse...

Aproveitando o assunto citado pelo amigos acima, eu ja dizia, logo da saída do Ney do Fla, que um dia, a mesma imprensa que o criticara (a do RJ, por sinal) o chamando de inexperiente, um dia o viria fazendo um belo trabalho num grande clube. Tenho certeza que é apenas o inicio. Afinal, um aprendiz de Vanderlei Luxemburgo veio pra fazer historia na função, com certeza.

E sobre e o post, eu ja sabia da historia do urubu. Aliás, somos chamados de favelados até hoje... Mas desconhecia a historia das regatas, que os moradores do Flamengo ficavam com ciúmes das meninas que se apaixonavam pelos remadores do Botafogo.

Muito bom texto, amigo Rui. Um grande abraço.......

Anónimo disse...

po num sabia desse cri-cri nunca vi esse mascote com tridente na mao,na mao num deve ter dado muito certo ja que manequinho,pato donald e biriba ja existiam

Ruy Moura disse...

Saulo, em minha opinião o Ney é oi melhor treinador que o Botafogo teve depois da época dourada... O paulo Autuori, o Levir Culpi, etc., fizeram um bom trabalho, mas o Ney é futebolisticamente muito inteligente e representa a modernidade no Botafogo! A diretoria acertou em cheio e a opção foi melhor do que eu pensava. Antes eu apostaria no Dorival do Coritiba, mas rapidamente me rendi à qualidade superior do Ney. Espero que mantenha a rota - que é de vitórias! O Ney adora títulos e... eu também!!!

Saudações botafoguenses

Ruy Moura disse...

Amigo Herbert, ainda bem que o seu Flamengo dispensou o Ney, tal como o Atlético PR. Fizeram muito bem... eheheh...

A história das moçoilas do Flamengo que ficavam apaixonadas pelos remadores botafoguenses quando eles remavam no Flamengo é narrada nas pesquisas de um famoso flamenguista - Ruy Castro. Ele é autor de vários livros, entre os quais 'Garrincha - uma estrela solitária'.

Sobre o Flamengo: (a) nunca chamei o Flamengo, ou qualquer outro clube, por nomes impróprios, seja 'flavelado' ou outra coisa qualquer; como exijo que me respeitem não posso deixar de respeitar os outros, obviamente, além de não gostar de chamar nomes seja a quem for - para ser feliz basta-me ser positivo e amar o meu Botafogo; (b)a política de contratações do Flamengo (incluindo treinadores), que foi muito boa, em minha opinião, nos últimos dois / três anos, está em queda absoluta com a contratação a esmo de jogadores sem qualidade, e o Caio vai acabar por sofrer as consequências.

Saudações esportivas

Ruy Moura disse...

Rafael, o Henfil era um génio do cartoon. Das quatro figuras que desenhou para os Grandes do Rio, somente a figura do Botafogo não foi muito adoptada. Penso que se deve à existência já de três mascotes bem consolidadas e porque aqueles seis cabelos em pé do Cri-Cri não são, em minha opinião, muito sedutores - faz lembrar o texto horrível do Nelson Rodrigues acerca de botafoguenses que arrancavam cabelos. Mas o Henfil era bom. Foi pena morrer cedo.

Saudações Botafoguenses

Impasse Livre disse...

Caro Rui belo post. Ainda caho muito cedo para louvar o trabalho do Ney franco. deixa dar tempo ao tempo. De certa forma ele herdou uma base do Cuca. Ano que vem poderemos falar mais. Bela matéria da rivalidade urubu x cachorro.
sugiro, aproveitando a onda de Heleno de freitas, um post sobre o craque de vasco e botafogo, assim que o fizer copio com todas as letras e indicações valeu. estória contada por que m entende da história!

Ruy Moura disse...

Caríssimo amigo, não percebi a sua referência ao Heleno de Freitas. Você sugere que eu escreva sobre ele?... Se é isso, já escrevi. Está na etiqueta 'figuras' sob o título "Heleno de Freitas, el jogador'"; e na etiqueta 'dramas' sob o título "Heleno de Freitas: entre a genialidade e a loucura".; e na etiqueta 'letras' publiquei "O poema dos olhos da amada" que lhe foi dedicado pelo seu casamento.

Era isso que queria?... Confirme, por favor.

Abraços.

warley.morbeck disse...

OLá amigo. Parabéns pelo post. São essas histórias apaixonantes que fazem dos clubes alvos de tantas paixões. No fim das contas, o futebol é só um pretexto. O que fica é o intenso amor que as pessoas sentem pelos seus clubes, se sentindo como parte de algo muito maior.


Warley Morbeck
http://flamengoeternamente.blogspot.com/

Ruy Moura disse...

Amigo Warley Morbeck, concordo inteiramente. Daí o meu imenso respeito por torcedores de outros clubes (faço uma única excepção, não aos seus torcedores, mas a um clube que não gosto nada porque aceitou passar da 3ª para a 1ª divisão sem jogar na 2ª, desrespeitando assim qualquer ética desportiva - e por isso não me vejo obrigado a respeitá-lo). Admito perfeitamente que torcedores de outros clubes sejam tão apaixonados por eles como eu sou pelo Botafogo. E o que vale mesmo é a paixão que cada um sente, tal como você muito bem diz. Paixão que é tão mais nobre quanto nos comportarmos como consta no hino da Portuguesa carioca:

"Vencer com galhardia, perder com fidalguia"

Esta parte do hino da Portuguesa é do melhor que há em hinos de clubes.

Saudações esportivas

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