sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O último guerreiro de Vargas


COMUNICADO DO BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS – Nota de falecimento

É com muito pesar e tristeza que o Botafogo de Futebol e Regatas comunica o falecimento do Grande Benemérito Dr. Guilherme Arinos Franco, aos 96 anos. O Glorioso presta solidariedade aos familiares do grande botafoguense. O clube decretou luto de três dias e o pavilhão alvinegro encontra-se a meio-mastro.

Guilherme Arinos Franco foi condecorado Benemérito em 1975 e Grande Benemérito em 1983. O enterro será nesta quarta-feira, às 17h, no Cemitério São João Batista.

Botafogo de Futebol e Regatas

Homenagem do blogue Mundo Botafogo ao notável botafoguense, pela mão de Luís Nassif:

O ÚLTIMO GUERREIRO DE VARGAS

por Luís Nassif
Folha de São Paulo, 19 de junho de 2005

“Uma das características menos explicadas do Plano Real foi a obsessão com o chamado legado de Getúlio Vargas. Não se tratava apenas de mudar um modelo que se esgotou com o tempo. Havia uma crítica visceral e ahistórica, de julgar os atos de Vargas fora do seu contexto histórico. Nenhuma crítica foi e tem sido mais exacerbada que a de Gustavo Franco, o grande ideólogo do Real.

Hoje em dia, parte do legado de Vargas está depositada nas mãos e na memória de um senhor de 89 anos, de nome Guilherme Arinos. Todo dia 24 de agosto, o velho senhor manda celebrar uma missa em homenagem a Getúlio Vargas. No momento, está criando uma associação de defesa da memória de Vargas, que tem, entre seus integrantes, a ex-deputada Ivete Vargas e o ex-governador do Rio de Janeiro Marcello Alencar.

Guilherme Arinos tornou-se assessor pessoal de Vargas no longínquo ano de 1942, com apenas 26 anos. Desde os 20 anos já trabalhava com Vargas. É dono de uma biografia extraordinária.

Nasceu no interior do Amazonas em 1916, em um subúrbio do município de Itacoatiara, nas margens do rio Solimões. O nome Arinos é em homenagem a um dos rios da região. Fez o ginásio na própria cidade. Em 1933, houve concurso nacional do Banco do Brasil. A família juntou toda sua poupança para conseguir comprar uma passagem de terceira classe para Guilherme, que levou oito dias para chegar a Belém.

Saiu-se tão bem nas provas de matemática e de português que o inspetor-chefe Ovídio Xavier de Abreu mandou-o escolher a praça que quisesse para trabalhar. Como queria aprender sobre câmbio, optou pela agência de Belém.

Quando estourou a Segunda Guerra, o país não sabia como administrar a questão cambial. Foram convocados 11 funcionários do BB para pensar em uma estratégia de defesa das reservas cambiais, entre eles o jovem Guilherme. Dos estudos saíram os regulamentos de criação da Coordenação de Mobilização Econômica, e, depois, da Carteira de Exportação e Importação (Cexim). Guilherme convocado para assessorar o segundo presidente, Gastão Vidigal – o primeiro, Leonardo Truda, morreu uma semana após assumir.

Dois meses depois, recebeu recado de Alzira Vargas, secretária e filha de Vargas, convidando-o a trabalhar com o presidente, que precisava de alguém que conhecesse câmbio. Tornou-se oficial de gabinete e, logo após, secretário particular de Vargas.

Em 29 de outubro de 1945, quando o general Cordeiro de Farias comunicou a Vargas sua deposição, Guilherme passou 29 dias detido em um quartel. Quando saiu, apresentou-se ao novo presidente do BB, o velho conhecido Ovídio, que lhe perguntou onde gostaria de trabalhar. E ele: com o dr. Getúlio.

Seguiu para o Rio Grande e foi morar com Vargas na pequena fazenda Santo Reis, em São Borja, para onde o presidente se mudou depois de se desentender com o irmão Protásio. Eram três morando durante dois anos em uma casa sem luz elétrica: dr. Getúlio, Guilherme e Gregório Fortunato.

Lá, ele teve o privilégio de compartilhar da intimidade do homem mais poderoso e fechado do Brasil. Um dia, Getúlio lhe perguntou por que os juros eram tão altos. E o "índio" (como passou a ser chamado por Vargas, depois que deixou de ser "menino") disse-lhe que porque o dinheiro era escasso. "Você não é bancário?", indagou Vargas. "Por que não inventa um banco que arranje o dinheiro?"

Guilherme pegou um pedaço de papel em branco e rascunhou o esboço de um banco de desenvolvimento. Quando Getúlio foi eleito em 1950, seu trabalho serviu de base para a criação do BNDES.

Acompanhou dr. Getúlio a vida toda, mesmo depois daquele tiro que o matou em 24 de agosto de 1954. Em sua sala, tem espaço apenas para Getúlio, retratos, pinturas, livros na estante e em cima da mesa do escritório. Há uma exceção apenas, um retrato dos quatro netos e do filho do qual ele tem enorme orgulho: Gustavo Franco, que há 15 anos luta obsessivamente para liquidar com o legado do dr. Getúlio. Mas, enquanto Guilherme Arinos Lima Verde de Barroso Franco viver, dr. Getúlio também viverá.”

Imagem: BFR / AGIF. Guilherme Arinos Franco homenageado após a conquista do campeonato estadual de 2010.

6 comentários:

Émerson disse...

Rui,
Os grandes botafoguenses estão em vias de extinção. Só restam Montenegros, Rolins, Palmeiros. Não acredito que Assumpção seja botafoguense.
Tomara que o clube resista a tamanha incapacidade e falta de ambição e discernimento e se perpetue no tempo.
Saudações Gloriosas tristes pela derrota de ontem para o Bahia de Joel.

Ruy Moura disse...

Concordo, Émerson. Estamos em perda de grandes nomes. Mas permita-me discordar sobre o nosso presidente. Eu tenho a certeza que ele é botafoguense, e que perante as fortes críticas de que foi alvo no passsado, esforçou-se mais e melhorou. O problema é que ele nunca teve treino de liderança e visão, porque a própria profissão que exerce não dá essas competências. Por isso ele foi à procura de se pós-graduar e até conseguiu melhorar significativamente a nossa equipa de futebol, que hoje é um plantel muito melhor do que no passado. O problema maior neste momento já não será o presidente, mas a comissão técnica que escolheu para o futebol. Na verdade, o senhor Luís Carlos Saroli nunca será um grande treinador.

Abraços Gloriosos!

Émerson disse...

Grande Rui,
É, pode ser que ele seja botafoguense, mas suas atitudes não são de um botafoguense. Só para ilustrar, é só dar uma olhada nas reportagens sobre a comercialização dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro (2012 a 2015), e notar a traição perpetrada não só ao Clube dos Treze, mas principalmente às tradições de galhardia do Glorioso; e constatar que, manter Ânderson Barros na gerência do futebol é uma afronta à torcida.
Saudações Gloriosas!

Ruy Moura disse...

Bem, uma das razões de eu não apoiar o presidente é que ele tem atitudes às vezes bastante menos dignas do que sempre foram as atitudes e os comportamentos dos botafoguenses. Mas, claro, há torcedores assim em todos os clubes, e não é razão suficiente para não serem realmente torcedores. Eu só queria equilibrar um pouco o seu desabafo no sentido de dizer que temos um plantel razoável, e se alguém tem culpa dos maus plantéis, teremos que apontar também quem é o responsável por bons plantéis, como o que temos atualmente. Aí, acho que ele melhorou bastante. A escolha do treinador é que foi desastrosa...

Abraços Gloriosos!

José Gonçalves disse...

Olá Rui, eu achei estranho o fato do clube não ter entrado em campo com a faixa do luto e nem ter reservado um minuto de silêncio, pois o mando de campo era nosso e no caso do falecido, ele ajudou financeiramente o remo do clube, importando barcos para uso nas águas da lagoa. Lamento.

Ruy Moura disse...

A sua observação é bem pertinente, José Gonçalves. Problemas políticos entre ele e outros?...Não sei responder.

Abraços Gloriosos!

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