por Vinícius André Dias
Primeiramente, um esclarecimento: para não incomodar as(os) leitoras(es) que não gostam de futebol, e para não me expor a uma concorrência desleal de outros blogueiros especializados (como o grande Leonardo Mendes Júnior), que entendem muito mais do riscado do que eu, prometo que só vou escrever sobre o esporte mais popular do mundo quando ocorrer algo extraordinário, que valha o risco. Foi o caso da derrota do Brasil na Copa América – com os quatro pênaltis perdidos. É o caso agora. Há tempos eu não acordava tão feliz com o meu time depois de uma rodada de domingo. Depois de fazer uma justíssima homenagem ao Zagallo, o meu Botafogo goleou o Vasco, o rival pelo qual tenho mais carinho, já que é o time de grande parte de minha família luso-brasileira.
Depois dos 4x0 no Vasco e de descobrir que “Botafogo líder” tem 13 letras (e "Zagallo é nosso" também), alguns de meus poucos conhecidos botafoguenses (aqueles que enchem a Kombi) já começam a sonhar com o título do Campeonato Brasileiro. Eles pediram até que eu relembre o trabalho espiritual campeão – na última vez em que fiz promessa, em 1995, funcionou. Não vai dar, pois tenho outras promessas pendentes mais importantes no momento – a da paz no mundo ainda não deu certo. Mas, sigo na torcida, apesar de conhecer todas as dificuldades do Campeonato Brasileiro. E a dificuldade é ainda maior quando se trata de Botafogo. Afinal, como todo mundo sabe, há coisas que só acontecem ao Botafogo – e há outras que quase não acontecem, como a conquista de títulos.
Lendo comentários pela internet, vi até um botafoguense escrever que o Botafogo está rumo ao Mundial Interclubes. Particularmente, neste momento, acho que a paz no mundo está mais próxima. Afirmo isso porque já tentei de tudo para ver o Botafogo campeão mundial. Há uns três anos, depois de ler um texto em que o Luiz Fernando Veríssimo revelava ter vendido a alma ao diabo em troca do título mundial do Internacional (da última vez, o trabalho do Mazembe foi mais forte), tentei seguir as instruções do cronista colorado. Mandei uma mensagem para o e-mail 666@belzebu.com, pedindo um campeonato do mundo para o Botafogo. A resposta do chifrudo foi publicada originalmente em um blog sobre futebol, com o qual eu colaborava à época – agora, adapto-a para este blog:
"Da Presidência da República Democrática do Inferno
Prezado Sr. Vinícius André Dias, portador da alma de n.º 3.444.987.686.690.905.
Infelizmente, não será possível atender ao seu pedido. Por dois motivos. O primeiro decorre do disposto no artigo 3.420 do regulamento 666-B, assinado no Fórum Céu-Inferno, realizado no Purgatório, em 1992, por representantes do Paraíso e das Trevas. Determina tal artigo:
" Art. 3.420 - O Diabo não pode impingir aos seres, humanos ou não, sofrimentos piores do que: a) ser empalado diariamente, por 100 anos consecutivos; b) ser cortado vivo em fatias com medida inferior a 0,5 centímetro de espessura; c) ser torcedor do Botafogo de Futebol e Regatas, a partir da década de 1970. Parágrafo único: em relação ao disposto na alínea anterior, o torcedor botafoguense não pode ser condenado ao inferno, por já tê-lo vivido na Terra."
Como o Sr. pode notar, não posso receber sua alma alvinegra como contraprestação pelo pedido formulado. Mas isso não impediria o negócio. Poderíamos fazer, em três vias de documento assinado com sangue pelo Sr. e por duas testemunhas, uma "Confissão de Vira-Casaca", em que o Sr. atestaria ter deixado de torcer pelo Botafogo e passado a ser fã de outro time (que não o Atlético-PR, pois esse, diante da fase recente, pode vir a fazer parte do rol descrito no artigo supracitado, se aprovado o projeto de lei de autoria do Diaboputado Nicodemo, do PTD – Partido das Trevas Democráticas). Enfim, esse probleminha legal poderia ser resolvido, com um "jeitinho diabreiro".
O que, de fato, impossibilita o negócio é o objeto de seu pedido: um título mundial para o Botafogo de Futebol e Regatas. Comovido com sua fé em um time como esse (até eu, o Capeta, fico emocionado quando vejo algo assim), faço uma revelação: o título mundial do Botafogo é um dos sinais do Apocalipse. Está escrito em nossos arquivos secretos. "Os três últimos sinais antes do Fim dos Tempos serão os mais esdrúxulos. O primeiro será a paz no Oriente Médio. O segundo será a diminuição radical dos impostos e o fim da corrupção no Brasil. O terceiro será o título mundial do Botafogo de Futebol e Regatas. E o mundo, então, acabará em fogo".
Até lá, título mundial para o Fogão, só por Deus, meu caro. Só por Deus.
Atenciosamente,
O Diabo."
Enfim, se o Botafogo arrancar mesmo para um título brasileiro, vou comemorar muito. Mas também começarei imediatamente a estocar alimentos em meu abrigo subterrâneo. Afinal, "Botafogo no Fim" tem 13 letras.
***
Agudas
- Aos mais radicais, que não aceitam brincadeiras com os "seus" times, peço moderação, por favor. Futebol é entretenimento, diversão.
- E antes que alguém venha me dar uma bicuda por eu não torcer para um time do Paraná, esclareço que não cresci em Curitiba. Vivi minha infância e adolescência no interior do estado, onde os times gaúchos, cariocas e paulistas têm mais apelo. Escolhi o Botafogo inspirado em meu avô e meu pai, botafoguenses, e depois de ler um pouco da história do time -- fiquei encantado com tudo que "só acontece ao Botafogo".
Pesquisa de Rui Moura (blogue Mundo Botafogo)
1 comentário:
Rui. O que dá pra rir da pra chorar. Nese caso eu penso que dá mais pra chorar. Loris
Enviar um comentário