por Roma
Leitor do Mundo Botafogo
"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la."
O verso de Cecília Meireles seria o prólogo perfeito àquele dia 25 de outubro de 2011.
Meus olhos eram testemunha do que eu não queria acreditar ao assistir àquela vergonha que ultrapassava os níveis da altitude de Bogotá.
Precisava fazer alguma coisa, além de ficar enrolado na bandeira e vociferar o que eu nem acreditava ser capaz de dizer.
Lembro-me como se fosse ontem: parei, expirei, tomei fôlego e rezei, copiosamente, para os deuses do futebol, pois estes sabem que o Botafogo tem o lugar mais alto na história e não o abandonaria nos momentos mais difíceis.
"Senhores dos céus, São Mané, São Didi, São Carlito e todos os Santos... rogo para que algo aconteça a fim de evitar esta humilhação. Que las pelotas furem, que a altitude baixe, que o Caio Jr. peça demissão. Nem vou pedir quatro gols, pois sei que estaria pedindo demais..."
E foi aí, já depois de uns quatro no balaio e uma centena de ‘olés’ (que heresia) entoados da arquibancada, que minhas preces foram atendidas.
Subitamente, como que rolado dos céus, Biriba é incorporado num vira-lata que resolve entrar em campo para desfilar toda a sua rebeldia e demonstrar que havia algo errado no reino do futebol.
Sem mais nem menos, em todos os lados do campo, aplicou todos os possíveis dribles dos mais felizes dias de Mané.
Meu semblante mudou, sorri como num baile de Garrincha. Eu e toda a torcida do futebol. Estava ali reconstruída a ordem natural das coisas e a alegria do povo.
Depois disso, reza a lenda que nenhuma bola vadia ousou se aproximar do gol de Jefferson.
No desfecho, um indivíduo alvinegro de camisa 18 (número do cachorro, no jogo do bicho) ainda faria um gol em homenagem ao bom amigo do homem e do melhor futebol.
Senhores, Deus escreve certo pelas linhas tortas e há coisas que só acontecem ao Botafogo.
Obrigado, Biriba. A cachorrada agradece.
3 comentários:
Gostei muito!
Sim. E nós botafoguenses mais idosos não mereciamos aquilo. Perder é algo natural mas ser humilhado pelo Santa Fé, sim senhores, Santa Fé, me fez ir às lágrimas na solidão da sala do meu ap. em Goiânia. No quarto minha neta de seis anos dormia como um anjo. Fui lá vê-la. Olhei para ela e pensei. "Jamais a farei torcedora do Botafogo. Não tenho o direito de fazê-la sofrer". Que Deus a guie para torcer para um time onde os homens dirigentes exijam apenas uma coisa: "que nas vitórias ou derrotas não se perca a dignidade". De um avô moribundo. Loris
Parabéns pelo belo texto, caro Rui Moura!
Gloriosas Saudações Alvinegras.
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