sábado, 18 de junho de 2016

Futebol: gestões das emoções e paixão anárquica

A na Bola!

“O racha não acabava nunca, era na base do doze vira e vinte e quatro acaba, só que não acabava nunca. Jogávamos sob o luar, que era fantástico”, recordou certa vez o anarquista Jaime Cubero sobre as partidas de futebol que jogava no Jardim Bertioga, em São Paulo.

Cubero conta que por meio da paixão pela bola, da relação entre amigos estabelecida nos campos e expandida para fora deles, aprendeu muito sobre a anarquia.

Inspirado por algumas histórias desse libertário, Roberto Freire apresentou, em seu romance Os cúmplices, Liberto, jovem zagueiro de várzea que “além do anarquismo se apaixonou pelo jogo bastante autogestivo, pelo menos o de várzea, que só se joga por amor e por pura solidariedade”.

Para além do Brasil, sem respeitar as linhas demarcatórias das fronteiras, futebol e anarquia se espalharam pelo planeta ainda no século XIX.

O futebol, como o conhecemos, foi organizado em 1863, na Inglaterra, um ano antes da Associação Internacional de Trabalhadores (AIT), por meio da aprovação do “Association Football”.

Entretanto, foi somente a partir dos anos 1880 que a bola rolou para outras terras, em especial pela América do Sul, possibilitando a criação de federações na Argentina (1891) e no Chile (1893).

E foi precisamente ao sul, em 1904, que no bairro da Vila Crespo, Buenos Aires, emergiu a equipe Mártires de Chicago.

Não se sabe ao certo quanto tempo durou o nome, dado em memória dos trabalhadores anarquistas assassinados pelo governo estadunidense em 1886.

A equipe da Vila Crespo, identificada mais tarde como Argentino Juniors, foi a responsável, nos anos 1970, pela revelação de Diego Armando Maradona, maior craque da história do país.

Eugenio Valdenebro conta que em viagem de fuga pela mesma Buenos Aires, vinte anos depois da invenção do Mártires, outro libertário, Buenaventura Durruti, driblou a polícia portenha ao se apresentar como jogador de futebol basco.

Em 1937, já de volta à Espanha para os combates da revolução, o mesmo Durruti deve ter vibrado com as exibições dos anarquistas que, segundo pesquisadores, compunham a maior parte da equipe do Barcelona.

As histórias extraordinárias de Cubero e Durruti ecoam até hoje entre libertários e amantes da bola, quase imperceptíveis.

O rosto de Durruti está impresso no escudo do Radical Contra FC, equipe boleira recentemente inventada por jovens libertários do Rio de Janeiro.

Hoje, diante de clubes extremamente organizados, patrocinadores estampados pelos uniformes e material dos clubes, torcidas cercadas por grades, permanência dos árbitros que se pretendem juízes com seus apitos, é vital lembrar essa apaixonada tabela, ataque que, com elegância, pode entortar o governo e suas retrancas.

Para isto, basta ter coragem e A na bola!

Militantes anônimos mostram como certas batalhas, campos de luta, uniram anarquia e futebol.

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Fonte: Boletim eletrônico mensal do Nu-Sol – Núcleo de Sociabilidade Libertária do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP, no. 187, maio de 2016.

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