terça-feira, 28 de junho de 2016

O Futebol do Botafogo 1961-1965: uma análise crítica

Carlos Ferreira Vilarinho lançou o segundo volume da sua obra ‘O Futebol do Botafogo’, correspondente ao período 1961-1965’.

Aquando da crítica que efetuei ao primeiro volume (ver em http://mundobotafogo.blogspot.pt/2013/08/o-futebol-do-botafogo-1951-1960-de.html), escrevi o seguinte:

Li de ponta a ponta: é a almejada continuidade da obra de Alceu Mendes de Oliveira Castro. Carlos Vilarinho adotou o mesmo modelo e mesclou as descrições dos jogos com os acontecimentos mais importantes do Botafogo e acrescentou, aqui e ali, subitamente, ligações ao que acontecia no país em termos políticos. (…)

Numa linguagem tipicamente anglo-saxónica, de parágrafos sucintos e significantes, Vilarinho imprime uma dinâmica fortíssima à narração, porque a leitura envolve o leitor na própria narração. E com a mesma facilidade que envolve o leitor nas jogadas, Vilarinho muda subitamente de registro entre um jogo de quarta-feira e outro de domingo, narrando episódios de assuntos que estão a ser geridos pelo Botafogo ou outros novos acontecimentos de gestão, não poucas vezes relacionados a acontecimentos políticos do país.

É assim que, de uma forma aparentemente aleatória, mesclando a descrição dos jogos com a narração dos acontecimentos e com a pontuação de ocorrências no país, Vilarinho consegue manter um ritmo fortíssimo de leitura com mudanças frequentes de registros que levam o leitor de um lado a outro e varrem da leitura qualquer hipótese de descrições entediantes e repetitivas.

Além do mais, Vilarinho está dentro do livro: o seu envolvimento é total e toma partido. Partido sobre as ocorrências políticas, partido sobre os atos de gestão, partido sobre as jogadas e os resultados, usando sempre um adjetivo muito significante para catalogar o resultado das partidas. Isto é, Vilarinho não é consensual, não pode ser consensual. E essa não consensualidade certamente causará alguns desagrados entre alguns dos leitores que foram protagonistas reais das histórias narradas. Mas Vilarinho não cede um milímetro ao cinismo, à hipocrisia, ao apaziguamento; não é consensual, mas pretende justamente não sê-lo, assumindo a sua ‘individualidade coletiva’ sem qualquer condescendência ao ‘politicamente correto’. O autor é um investigador rigoroso, que pesquisou intensivamente os acontecimentos, mas não fica à margem deles: protagoniza-os como botafoguense apaixonado e dá-lhes uma coerência feita de emoções e razões. (…)

Vilarinho sabe, obviamente, que o real nunca se apresenta tal como é, que o real é construído num escrutínio que alcança muito mais do que a vista e por cada um de nós na interação com o Outro, e o Botafogo não é o real em si mesmo, mas sim um significante em mutação que carrega consigo opções e decisões de inúmeras gerações de botafoguenses que foram moldando um clube recheado de personalidade e ideologia própria, (…) mas uma história ciência, uma história analítica, uma história que constrói o real com todos os seus protagonistas e lhes dá a força da emoção e da crença num destino escolhido.

A análise mantém-se completamente válida, mas com um pormenor diferenciador que revelei ao próprio Carlos Vilarinho após a leitura deste segundo volume: o segundo volume – embora quase impossível de tê-lo conseguido fazer – AINDA É MELHOR DO QUE O PRIMEIRO!

Se o primeiro volume era uma mescla imensa de acontecimentos, o segundo volume é um jorrar sucessivo de acontecimentos e de emoções que leva qualquer um a nocaute pela intensidade da narrativa e da revelação de fatos mal conhecidos do público em geral!

À mesma dinâmica do volume anterior Vilarinho ampliou a narrativa em duas componentes espetaculares: uma mescla permanente de narração dos jogos do Clube e das reações dos seus protagonistas, da realidade sociopolítica do Botafogo, do futebol carioca, da Seleção Brasileira, dos acontecimentos político-partidários do país; e uma contínua revelação de acontecimentos sui generis que na primeira metade da década sucederam em turbilhão, no Botafogo e no País, desmistificando uma grande parte deles e acrescentando EFETIVO CONHECIMENTO ao leitor.

No quadro de um período áureo do Botafogo e da meia loucura do futebol bicampeão do mundo, assim como da efervescente situação política do País, a narração de Vilarinho sabe potencializar ao milímetro, com emoção e lucidez, cada um desses acontecimentos. E não se coíbe de – tal como antes – tomar partido na narrativa, implicar os leitores e manter-se ele mesmo numa dupla posição: profundamente implicado com o Clube e absolutamente implacável na narração dos fatos reconstruídos a partir de um manancial de informações predominantemente desportivas que, articuladas, ganham sentido ético, estético, político e estratégico – abrindo implicitamente pistas para resgatar a Glória Clubista que, outrora, percorreu os quatro cantos do planeta.

É o melhor livro que li até hoje sobre a vida do Botafogo, e creio que a saga de Vilarinho, iniciada em 1951 a partir do ponto em que ficou o ‘mestre’ Alceu Mendes de Oliveira Castro, e cujo terceiro volume (1966-1970) está praticamente concluído, assegurará ao Grande Escritor Botafoguense um lugar eterno na literatura sobre o Botafogo de Futebol e Regatas!

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