Carlos Ferreira Vilarinho lançou o segundo volume da sua obra
‘O Futebol do Botafogo’, correspondente ao período 1961-1965’.
Aquando da crítica que efetuei ao
primeiro volume (ver em http://mundobotafogo.blogspot.pt/2013/08/o-futebol-do-botafogo-1951-1960-de.html), escrevi o seguinte:
Li de ponta a ponta: é a almejada continuidade da obra de Alceu Mendes de
Oliveira Castro. Carlos Vilarinho adotou o mesmo modelo e mesclou as descrições
dos jogos com os acontecimentos mais importantes do Botafogo e acrescentou,
aqui e ali, subitamente, ligações ao que acontecia no país em termos políticos. (…)
Numa linguagem tipicamente anglo-saxónica, de parágrafos sucintos e
significantes, Vilarinho imprime uma dinâmica fortíssima à narração, porque a
leitura envolve o leitor na própria narração. E com a mesma facilidade que
envolve o leitor nas jogadas, Vilarinho muda subitamente de registro entre um
jogo de quarta-feira e outro de domingo, narrando episódios de assuntos que
estão a ser geridos pelo Botafogo ou outros novos acontecimentos de gestão, não
poucas vezes relacionados a acontecimentos políticos do país.
É assim que, de uma forma aparentemente aleatória, mesclando a descrição
dos jogos com a narração dos acontecimentos e com a pontuação de ocorrências no
país, Vilarinho consegue manter um ritmo fortíssimo de leitura com mudanças
frequentes de registros que levam o leitor de um lado a outro e varrem da
leitura qualquer hipótese de descrições entediantes e repetitivas.
Além do mais, Vilarinho está dentro do livro: o seu envolvimento é total e
toma partido. Partido sobre as ocorrências políticas, partido sobre os atos de
gestão, partido sobre as jogadas e os resultados, usando sempre um adjetivo
muito significante para catalogar o resultado das partidas. Isto é, Vilarinho
não é consensual, não pode ser consensual. E essa não consensualidade
certamente causará alguns desagrados entre alguns dos leitores que foram
protagonistas reais das histórias narradas. Mas Vilarinho não cede um milímetro
ao cinismo, à hipocrisia, ao apaziguamento; não é consensual, mas pretende
justamente não sê-lo, assumindo a sua ‘individualidade coletiva’ sem qualquer
condescendência ao ‘politicamente correto’. O autor é um investigador rigoroso,
que pesquisou intensivamente os acontecimentos, mas não fica à margem deles:
protagoniza-os como botafoguense apaixonado e dá-lhes uma coerência feita de
emoções e razões. (…)
Vilarinho sabe, obviamente, que o real nunca se apresenta tal como é, que o
real é construído num escrutínio que alcança muito mais do que a vista e por
cada um de nós na interação com o Outro, e o Botafogo não é o real em si mesmo,
mas sim um significante em mutação que carrega consigo opções e decisões de
inúmeras gerações de botafoguenses que foram moldando um clube recheado de
personalidade e ideologia própria, (…) mas uma história ciência, uma história
analítica, uma história que constrói o real com todos os seus protagonistas e
lhes dá a força da emoção e da crença num destino escolhido.
A análise
mantém-se completamente válida, mas com um pormenor diferenciador que revelei
ao próprio Carlos Vilarinho após a leitura deste segundo volume: o segundo
volume – embora quase impossível de tê-lo conseguido fazer – AINDA É MELHOR DO
QUE O PRIMEIRO!
Se o primeiro
volume era uma mescla imensa de acontecimentos, o segundo volume é um jorrar sucessivo
de acontecimentos e de emoções que leva qualquer um a nocaute pela intensidade
da narrativa e da revelação de fatos mal conhecidos do público em geral!
À mesma
dinâmica do volume anterior Vilarinho ampliou a narrativa em duas componentes
espetaculares: uma mescla permanente de narração dos jogos do Clube e das
reações dos seus protagonistas, da realidade sociopolítica do Botafogo, do
futebol carioca, da Seleção Brasileira, dos acontecimentos político-partidários
do país; e uma contínua revelação de acontecimentos sui generis que na primeira metade da década sucederam em turbilhão,
no Botafogo e no País, desmistificando uma grande parte deles e acrescentando
EFETIVO CONHECIMENTO ao leitor.
No quadro de
um período áureo do Botafogo e da meia loucura do futebol bicampeão do mundo,
assim como da efervescente situação política do País, a narração de Vilarinho sabe
potencializar ao milímetro, com emoção e lucidez, cada um desses
acontecimentos. E não se coíbe de – tal como antes – tomar partido na
narrativa, implicar os leitores e manter-se ele mesmo numa dupla posição:
profundamente implicado com o Clube e absolutamente implacável na narração dos
fatos reconstruídos a partir de um manancial de informações predominantemente
desportivas que, articuladas, ganham sentido ético, estético, político e
estratégico – abrindo implicitamente pistas para resgatar a Glória Clubista
que, outrora, percorreu os quatro cantos do planeta.
É o melhor
livro que li até hoje sobre a vida do Botafogo, e creio que a saga de
Vilarinho, iniciada em 1951 a partir do ponto em que ficou o ‘mestre’ Alceu
Mendes de Oliveira Castro, e cujo terceiro volume (1966-1970) está praticamente concluído, assegurará ao Grande Escritor
Botafoguense um lugar eterno na literatura sobre o Botafogo de Futebol e
Regatas!
***
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distribuída pela Editora e Distribuidora Mauad X (ver portal) e pode ser adquirida
nos portais das grandes livrarias do Brasil, na
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