2016-2017
Jair Ventura, a grande novidade que surgiu
como um relâmpago, após Ricardo Gomes nos deixar na linha da 2ª divisão e não
demonstrando o caráter que lhe era habitual, embora tivesse alguma razão,
porque as anunciadas promessas de reforços da diretoria foram sendo adiadas e nunca
cumpridas. Só por isso a sua atitude pode ser relevada.
Mas Jair foi
‘apenas’ a maior surpresa deste século no futebol do Botafogo!
Jair, apesar
de ir realizar o seu primeiro trabalho como técnico principal e obviamente com
muitas correções a efetuar ao longo do seu percurso, conseguiu, paulatinamente,
cobrir todas as áreas em deficiência e dar estrutura e consistência ao plantel.
Jair Ventura,
se o futuro não me atraiçoar, é o treinador que sempre faltou ao Botafogo desde
há mais de duas décadas. Jair manifestou diversas componentes que ao longo dos
anos tenho realçado a necessidade:
Planejar o
ano seguinte a tempo e horas, definir prioridades e estabelecer metas: Jair
teve, finalmente, a coragem de não querer disputar todo com o memso objetivo,
centrando-se em primeiro lugar na Copa Libertadores e em segundo lugar na Copa
do Brasil, sem abandonar o campeonato brasileiro e como que desistindo do
‘carioquinha’ que a mídia considera esvaziado quando o Clube de Regatas
Flamenguesa não o vence.
Jair definiu
uma estratégia e um modelo de jogo; arrumou o posicionamento da equipe,
geralmente muito desorganizado há vários anos; introduziu uma variação tática
importante de acordo com os recursos disponíveis, tendo não apenas estruturado
a equipe titular quando chegou ao Clube como ainda teve que refazer o plantel
em duas ocasiões apenas no espaço de um ano, não reclamando da sorte como
outros fizeram, mas enfrentando as contrariedades e refazendo permanentemente o
futuro; cobra os jogadores e fá-lo de forma absolutamente imparcial, sendo
direto e frontal em todas as ocasiões. Jair sabe de técnica e acresce o domínio
da gestão de pessoas, fundamental para que não se seja apenas um técnico, mas
um treinador completo.
Jair fez o
que é elementar desde o início: privilegiou a montagem de uma defesa,
garantindo tomar poucos gols; estruturou gradualmente o meio campo com os
recursos disponíveis; procurou passar de um jogo mais defensivo a um jogo mais
ofensivo, mas esbarrou em atacantes de baixa qualidade técnica.
Em todo o
caso, foi sempre difícil jogar contra o Botafogo, e verdadeiramente ninguém
conseguiu jogar a plenitude do seu futebol contra nós porque não somente o
sistema tático não o permitiu, como jair conseguiu algo extremamente difícil de
fazer no futebol brasileiro: montar uma equipe baseada na união e resiliente
até ao último segundo de jogo.
Durante
aproximadamente um ano à frente da equipe de futebol do Botafogo, Jair teve
três pontos mais fracos: em certos momentos focou excessivamente em si mesmo
mas foi emendando gradualmente até se tornar um líder de grupo; ainda não
consegue ler completamente o jogo durante o seu desenrolar e, assim, conseguir
mudar orientações em pleno jogo, embora ultimamente a sua atuação tenha sido
mais visível no caso das substituições; finalmente, Jair cometeu uma gafe
monumental ao criticar a chegada de Rueda ao futebol brasileiro, emendando
depois para dizer que apenas queria igualdade de tratamento. Mas, efetivamente,
o que Jair disse foi que a chegada de estrangeiros tirava oportunidade a
treinadores nacionais, porém, se tira essa oportunidade é porque os nacionais
não servem… e realmente estão fortemente atrasados, porque enquanto há
jogadores brasileiros em grandes clubes europeus, não há um único treinador
brasileiro em grandes em tais circunstâncias e os que antes tiveram essa
benesse fracassaram rotundamente. A cada ano novas revelações de brasileiros
chegam à Europa, mas nem um único treinador se destaca no ‘velho’ continente.
Em um
futebol global as nacionalidades já não contam como preferência seja do que
for, ou melhor, contam: quando maior mescladas, mais resultados positivos se
obtém. O melhor campeonato do mundo tem treinadores estrangeiros de diversos
países: Manchester United é treinado por um português, Manchester City por um
espanhol, Chelsea por um italiano, Arsenal por um francês, Liverpool por um
alemão… E quanto a jogadores nem se fala, começando pelos trios de ataque das
provavelmente duas melhores equipes do mundo – Real Madrid e Barcelona – nas quais
não há sequer um espanhol entre os seis…
Finalmente…
Finalmente,
deve-se referir que Jair foi ‘traído’ pela diretoria: aparentemente ninguém
acreditou que Jair conseguisse levar a equipe onde levou e não lhe reforçaram o
ataque, coisa fundamental para fazermos os gols que nos levariam mais além,
provavelmente com vitórias sobre o Flamenguesa na Copa do Brasil e sobre o
Grêmio na Copa Libertadores. Nem se procurou contratar um homem capaz de ser o
‘dono’ do time em substituição do malogrado Montillo, cuja função seria
exatamente essa. Não há desculpa: a Libertadores levou muito dinheiro ao
Botafogo e o Botafogo não soube potenciar para o futuro esse fenômeno
desportivo investindo no plantel. E não se tenha a costumeira e esfarrapada
desculpa financeira, porque muitos outros clubes pelo mundo fora devem muito
mais do que o Botafogo – o Benfica, por exemplo, tem 1,6 bilhões de reais de
passivo… O dinheiro inesperadamente recebido, agregado a contratações sérias e
não algumas que foram feitas, teria chegado para melhorar o plantel e seguir
mais longe. Sem prejuízo de se manter a recuperação financeira do Clube.
O entusiasmo
da torcida, as bilheteiras ‘gordas’ e novos patrocínios não foram minimamente
refletidos em contratações na janela de transferências em agosto.
A diretoria
do Botafogo foi fundamental para travar o descalabro do nosso Clube e efetuar
uma primeira reorganização, mas não tem nem a visão nem a ambição necessárias
para nos recolocar imparavelmente a caminho do topo do futebol brasileiro de
modo consistente e permanente. Além de que o candidato da ‘situação’ a
presidente já evidenciou algumas declarações infelizes antes mesmo de ser
eleito…
Ademais,
Carlos Eduardo Pereira foi contra reeleições no futuro – algo que o Botafogo
vai pagar caro por não permitir tempo a nenhum presidente preparar o futuro a
longo prazo – e, no entanto, fez uma pirueta exatamente à moda de Vladimir
Putin: deixa a presidência mas, caso seja ELEITO, fica ‘mexendo’ na sombra como
vice-presidente. Bem, talvez isso permita, no futuro, um mandato de oito anos
para planejar o futuro – um como presidente, outro como vice-presidente. Mas
transparente não é certamente…
Veremos como
evolui a parte final do campeonato brasileiro, agora também sem Roger, e ‘orar’
para que Jair não tire leite de pedra, mas faça algo mais difícil ainda: tirar
leite de coisa nenhuma, tirar leite daquilo que lhe deviam ter dado e não
deram.
Se esta
diretoria não mudar de rumo, com visão e ambição, não retornaremos à GRANDEZA a
que todos aspiramos, e perderemos Jair Ventura.
Reconheço o
trabalho positivo realizado, e esta diretoria vai basear-se nos resultados
obtidos COM Jair para manifestar as suas capacidades, mas se não subir degraus
de profissionalização da gestão, patinaremos depressa tal como no passado.
Está nas
mãos da nova diretoria pensar grande, continuando a equilibrar Clube mas
investindo no futuro. É elementar em economia: sem investimento não há retorno!
Que a felicidade esteja connosco!

2 comentários:
Prezado Rui Moura,
Muito bem colocado!
Pelo que venho observando há anos, ora falta um bom treinador, ora falta um artilheiro, ora falta um goleiro, ora falta dinheiro, ora falta estrutura, ora falta patrocínio, ora falta apoio da torcida. Ora bolas! Está faltando tudo? Se bem que tenho de reconhecer que em 2017 tivemos muita coisa boa, coisas que há anos não tínhamos. Mas, há de se ter profissionalismo para acrescentar o que ainda nos falta, ou havemos de descer ladeira abaixo, inevitavelmente. Que o planejamento para 2018 seja mais abrangente!
Grande abraço,
Humberto
Verdade, amigo Humberto. Todo o ano falta algo porque não há profissionalismo suficiente nem competências para providenciar todos os aspetos. Falha sempre algo quando tudo e encaminha para o cimo... Em todo o caso, se tomarmos juízo, poderemos nos classificar à Libertadores. O planejamento de 2018 poderá ser bom se for feito com o Jair. Se o Jair sair, bye-bye 2018...
Abraços Gloriosos.
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