O capitão da
intendência Sérgio Macaco (à esquerda) acompanhado do indianista Cláudio
Villas-Bôas
Capitão Sérgio Macaco, o paraquedista que salvou mais de
10 mil vidas que seriam destruídas pela ditadura militar do Brasil. Este
capitão da Aeronáutica teve o discernimento, a
sensibilidade e a coragem de colocar o respeito à humanidade acima da
hierarquia militar.
Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho era militar de
carreira da Aeronáutica, com o posto de Capitão em 1968 e era chamado de
Capitão Sérgio Macaco, sem que esta alcunha o desagradasse. Na época, comandava
o Para-Sar, batalhão de elite de paraquedistas da Aeronáutica, especializado em
resgate e salvamento. Era considerado um dos mais obstinados e admirados
oficiais da Força.
Certo dia, foi chamado pelo Brigadeiro João Paulo
Burnier, então Chefe de Gabinete do Ministro da Aeronáutica, Márcio de Souza e
Mello, durante o governo Costa e Silva. O Brigadeiro Burnier planejava a ação
típica de guerrilha de explosão do Gasômetro para ser atribuída a militantes de
esquerda e, com isso, a sociedade aceitar o endurecimento da ditadura.
No Gasômetro, era produzido o gás que era injetado na
rede de gás canalizado da cidade. Na época, havia a necessidade de estocagem
deste gás que, com o uso crescente do gás natural, ela diminuiu.
Pelo nível da estocagem, admitindo-se que seria uma
explosão planejada para causar o máximo dano e considerando o número provável
de pessoas que estariam na região, estimou-se que ocorreriam dezenas de
milhares de óbitos.
Quando o Capitão Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho
recebeu a ordem de explodir o Gasômetro, mesmo estando consciente da
repercussão que a negativa a esta ordem representaria, ou seja, ele colocaria
no lixo a sua carreira, até então brilhante na Aeronáutica, respondeu que não
atenderia a ordem.
Foi uma opção consciente, pois preferiu não ser o
assassino de um número expressivo de pessoas, abrindo mão de algo extremamente
valioso para ele, a continuidade da sua carreira.
Ao saber do ocorrido, o Brigadeiro Eduardo Gomes apoiou o
Capitão Sérgio Macaco. No entanto, o apoio pouco adiantou, pois a história do
Capitão foi negada pela Aeronáutica, que buscou caracterizá-lo como um
insubordinado. O herói acabou sendo reformado pelo AI-5, em 1969, perdendo a
patente e o meio de vida.
Depois de penosa tramitação pela Justiça, em 1992, o
Supremo Tribunal Federal reconheceu os direitos do Capitão, estabelecendo que
ele deveria ser promovido a Brigadeiro, posto que teria alcançado se tivesse
permanecido na ativa.
O então ministro da Aeronáutica, o Brigadeiro Lélio Lobo,
ignorou a decisão da corte, sendo o STF obrigado a mandar um ofício exigindo o
cumprimento da lei.
O Brigadeiro Lobo novamente se recusou a cumprir,
transferindo o problema para o Presidente da República, à época Itamar Franco,
que por sua vez protelou a decisão até que o Capitão Sérgio Macaco morreu de
câncer em 1994, sem ver sua reintegração à Aeronáutica e a simultânea promoção
a que tinha direito.
Excetuando políticos, que, com suas decisões econômicas e
sociais, podem postergar ou antecipar a morte de milhões de brasileiros, o
Capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho foi o cidadão que mais salvou vidas
no Brasil.
Se você vivia ou transitava pelo Rio de Janeiro em junho
de 1968, deve agradecer ao Capitão Sérgio Macaco por ter, talvez, salvado a sua
vida e, como consequência, as de seus descendentes ainda não nascidos.
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