quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Eu transitava no Rio em junho de 1968: obrigado, capitão Sérgio Macaco!

O capitão da intendência Sérgio Macaco (à esquerda) acompanhado do indianista Cláudio Villas-Bôas

Capitão Sérgio Macaco, o paraquedista que salvou mais de 10 mil vidas que seriam destruídas pela ditadura militar do Brasil. Este capitão da Aeronáutica teve o discernimento, a sensibilidade e a coragem de colocar o respeito à humanidade acima da hierarquia militar.

Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho era militar de carreira da Aeronáutica, com o posto de Capitão em 1968 e era chamado de Capitão Sérgio Macaco, sem que esta alcunha o desagradasse. Na época, comandava o Para-Sar, batalhão de elite de paraquedistas da Aeronáutica, especializado em resgate e salvamento. Era considerado um dos mais obstinados e admirados oficiais da Força.

Certo dia, foi chamado pelo Brigadeiro João Paulo Burnier, então Chefe de Gabinete do Ministro da Aeronáutica, Márcio de Souza e Mello, durante o governo Costa e Silva. O Brigadeiro Burnier planejava a ação típica de guerrilha de explosão do Gasômetro para ser atribuída a militantes de esquerda e, com isso, a sociedade aceitar o endurecimento da ditadura.

No Gasômetro, era produzido o gás que era injetado na rede de gás canalizado da cidade. Na época, havia a necessidade de estocagem deste gás que, com o uso crescente do gás natural, ela diminuiu.

Pelo nível da estocagem, admitindo-se que seria uma explosão planejada para causar o máximo dano e considerando o número provável de pessoas que estariam na região, estimou-se que ocorreriam dezenas de milhares de óbitos.

Quando o Capitão Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho recebeu a ordem de explodir o Gasômetro, mesmo estando consciente da repercussão que a negativa a esta ordem representaria, ou seja, ele colocaria no lixo a sua carreira, até então brilhante na Aeronáutica, respondeu que não atenderia a ordem.

Foi uma opção consciente, pois preferiu não ser o assassino de um número expressivo de pessoas, abrindo mão de algo extremamente valioso para ele, a continuidade da sua carreira.

Ao saber do ocorrido, o Brigadeiro Eduardo Gomes apoiou o Capitão Sérgio Macaco. No entanto, o apoio pouco adiantou, pois a história do Capitão foi negada pela Aeronáutica, que buscou caracterizá-lo como um insubordinado. O herói acabou sendo reformado pelo AI-5, em 1969, perdendo a patente e o meio de vida.

Depois de penosa tramitação pela Justiça, em 1992, o Supremo Tribunal Federal reconheceu os direitos do Capitão, estabelecendo que ele deveria ser promovido a Brigadeiro, posto que teria alcançado se tivesse permanecido na ativa.

O então ministro da Aeronáutica, o Brigadeiro Lélio Lobo, ignorou a decisão da corte, sendo o STF obrigado a mandar um ofício exigindo o cumprimento da lei.

O Brigadeiro Lobo novamente se recusou a cumprir, transferindo o problema para o Presidente da República, à época Itamar Franco, que por sua vez protelou a decisão até que o Capitão Sérgio Macaco morreu de câncer em 1994, sem ver sua reintegração à Aeronáutica e a simultânea promoção a que tinha direito.

Excetuando políticos, que, com suas decisões econômicas e sociais, podem postergar ou antecipar a morte de milhões de brasileiros, o Capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho foi o cidadão que mais salvou vidas no Brasil.

Se você vivia ou transitava pelo Rio de Janeiro em junho de 1968, deve agradecer ao Capitão Sérgio Macaco por ter, talvez, salvado a sua vida e, como consequência, as de seus descendentes ainda não nascidos.

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