terça-feira, 10 de julho de 2018

CR7: a minha (in)felicidade de ser fã dele


por RUI MOURA
Editor do Mundo Botafogo

Nós botafoguenses dizemos que fomos eleitos, que fomos escolhidos pela Estrela Solitária. Todos sabemos que não foi assim, que houve sempre algo ou alguém que nos fez escolher o nosso Clube, mas sabemos que a influência não foi completamente determinante porque a nossa decisão final foi feita indiscutivelmente mediante a identidade que o Glorioso Clube da Estrela Solitária representa.

E por essa identidade brasileira eu só podia ser Botafogo de Futebol e Regatas!

Quando me fixei em Portugal aos 18 anos fui influenciado na escolha de um Clube, mas também a decisão final foi determinada pela semelhança ética e identitária do Clube da Zona Sul do Rio de Janeiro.

E por essa identidade portuguesa eu só podia ser Sporting Clube de Portugal.

O Botafogo é pioneiro da cedência de futebolistas à Seleção Brasileira, com 102 atletas, e às Copas do Mundo, com 47 atletas, começando por ceder 8 atletas à Copa de 1938 e obtendo a proeza de em 1968 o Brasil golear a Argentina por 4x1 com 8 titulares e 1 técnico do Glorioso a comandar. E desses futebolistas deu ao mundo os mais extraordinários atletas do novo futebol da segunda metade do século XX: Garrincha, Nilton Santos, Didi, Zagallo, Amarildo, Gérson, Jairzinho, Roberto ‘Vendaval’, Paulo César Caju e ainda Rogério, todos campeões do mundo integrando à vez as delegações brasileiras de 1958, 1962 e 1970 que conseguiram ser tricampeãs do mundo! E o Clube ainda foi campeão sul-americano de Atletismo, Basquetebol, Pólo Aquático e Voleibol, além de um título da Taça Conmebol em futebol.

O Sporting, fundado no mesmo dia do Clube de Regatas Botafogo, a 1 de julho, e no mesmo ano em que o Botafogo participou no 1º campeonato carioca, em 1906, é o 3º Clube da ‘velha Europa’ com mais títulos europeus em todas as modalidades (29), um dos quais a atualmente designada Liga Europa, é o Clube do mundo com mais medalhados olímpicos por diversas modalidades, é o Clube que formou os três únicos atletas portugueses premiados ao nível mundial mais elevado: Eusébio, formado no Sporting Clube de Lourenço Marques, filial do Sporting Clube de Portugal, e que se destacou profissionalmente mais tarde no Benfica; Luís Figo, revelado na Academia do Sporting, vendido já como profissional ao Barcelona, conquistando uma Bola de Ouro; Cristiano Ronaldo, também revelado na Academia, vendido como profissional ao Manchester United, conquistou cinco Bolas de Ouro e cinco títulos de campeão europeu de clubes, além de ser campeão europeu de Seleções.

Títulos oficiais coletivos de Cristiano Ronaldo

Passando a Cristiano Ronaldo, evidentemente que sendo ele Sportinguista e sócio nº 100.000 só poderia ter o meu apoio incondicional, tanto mais quanto além das capacidades futebolísticas possui capacidades humanas ímpares e raras no mundo do futebol.  De tal modo assim é que se trata de um dos maiores ícones mundiais da atualidade desde há vários anos e a pessoa em todo o mundo com mais fãs: 400 milhões de seguidores nas redes sociais, acima de Shakira e disparado sobre os demais futebolistas; 30 mil artigos científicos fazem-lhe menção, 15 mil livros referenciam-no em capítulos. A Juventus valorizou 200 milhões de euros na Bolsa de Valores ao saber-se da hipótese de CR7 ingressar no clube italiano.

Uma verdadeira estrela reluzente para sempre no patrimônio mundial das grandes personalidades!

No futuro, quando abandonar o futebol, e provavelmente ingressar na carreira cinematográfica na qual seguramente ampliará a sua universalidade, CR7 será indiscutivelmente o futebolista mundial mais badalado, com mais filmes, documentários, livros, artigos científicos, banda desenhada, etc.

A esta altura o leitor interroga-se certamente a razão do título deste artigo ser “minha infelicidade de ser fã dele”…

Na verdade, nunca apreciei os clubes maioritários, arrogantes, narcísicos, prepotentes; na verdade desprezo a mania das grandezas, a megalomania dos homens fundando instituições que se arrogam de querer secar tudo à sua volta tal qual o eucalipto seca a terra que o rodeia.

Então, queridos seguidores do Mundo Botafogo, vou confessar que CR7 me obrigou a torcer indiretamente pelo Manchester United, o clube inglês que menos gosto, quando o Sporting o vendeu; depois me obrigou a torcer pelo Real Madrid, o clube espanhol e do mundo (a par do Flamengo) que menos gosto, quando o Manchester United o vendeu; e agora obriga-me a torcer pela Juventus, o clube italiano que menos gosto (a par da Lazio), vendido pelo Real Madrid.

É ‘sofrimento’ a mais caro leitor, e as únicas vezes na vida em que fui submetido: o insubmisso anarquista por filosofia de vida quedou-se rendido à figura única de CR7!

O que me vale nesta ‘submissa desgraça’ é que posso comemorar títulos mundiais, títulos europeus, Bolas de Ouro, Chuteiras de Ouro, recordes atrás de recordes e muitos mais de alguém que nunca bebe álcool, nunca fuma, não tem tatuagens nem piercings, não faz noitadas, apresenta-se sempre impecável, é assertivo, simpático e brincalhão e apoia pessoas e organizações dispensando-lhes benefícios financeiros, recursos materiais e uso da sua imagem para fins sociais e solidários.

Afinal, sou um ‘submetido’ fã feliz!

Sem comentários:

John Textor, a figura-chave: variações em análise

Crédito: Jorge Rodrigues. [Nota preliminar: o Mundo Botafogo publica hoje a reflexão prometida aos leitores após a participação do nosso Clu...