por JOSÉ CARLOS LUCK
9 de abril de 2020
Botafogo e Fluminense
decidiram o título carioca de 1957 sob o excesso de confiança do diretor de
futebol do Fluminense, que, na véspera do jogo, declarou que o Fluminense já
era campeão e que o Botafogo esperasse outra oportunidade.
O técnico do Fluminense
tratara de aperfeiçoar o esquema defensivo e escalar o meio-campo com Jair
Santana, Róbson e Jair Francisco, trio que teria de contar com a ajuda de Telê
Santana. Mas o técnico do Botafogo, João Saldanha, tinha ideias diferentes:
confiou a Quarentinha a marcação cerrada e permanente de Telê, o jogador-chave
do adversário, visando dominar o meio-campo e chegar na cara do Castilho, o
goleiro das Laranjeiras.
No dia 22 de Dezembro de
1957 o árbitro Alberto da Gama Malcher deu início ao jogo com mais de 90.000
torcedores no Maracanã. E aos 3 minutos de jogo, a cruzamento de Didi, Paulo
Valentim inaugurou as redes de Castilho: Botafogo 1×0.
Carlito Rocha presidente do
Fogão dissera que Jesus Cristo lhe aparecera a anunciar a vitória do Botafogo,
mas quem se apresentou em campo foi um demónio com o número 7 às costas. A cada
bola recebida de Didi, Garrincha passava fulgurante pelo seu marcador Altair, e
quando o zagueiro Clóvis saía da área para o combater também era
inevitavelmente driblado.
Aberta como uma lata, a
defesa do Fluminense vergava-se a Garrincha, que cruzava para os remates, as cabeçadas
e as bicicletas de Paulo Valentim. Alguns gols do centroavante foram
verdadeiramente espíritas, porque até as bolas que chutava mal entravam na
baliza de Castillo, incluindo uma com o joelho.
Aplicando a tática de João
Saldanha, os jogadores não davam espaço para o Fluminense criar fosse o que
fosse. A defesa tricolor descontrola-se: Pinheiro, atraído pelo deslocamento de
Paulo Valentim para a ponta esquerda, deixa a área livre; Clóvis está
desorientado e não sabe se deve dar cobertura a Pinheiro ou ao lateral Altair,
que leva um verdadeiro baile de Garrincha.
A certa altura Garrincha
dribla Altair, cruza da linha de fundo, a bola passa por Édson e Castilho, mas
Paulo Valentim entra pela meia-esquerda e toca de joelho para o gol vazio, aos
35 minutos: Botafogo 2×0.
Sete minutos depois é Nílton
Santos quem avança como ponta-esquerda e cruza alto sobre a área. De costas
para Castilho, o centroavante Paulo Valentim acerta em cheio uma bicicleta e a
bola entra no ângulo direito do goleiro: Botafogo 3×0. A torcida botafoguense
vai ao delírio e o cenário do colorido Fluminense era o preto, o branco e o
cinza de pesadelo.
No início do segundo tempo,
Escurinho faz uma jogada individual pelo meio, aproveita uma rebatida de
Adalberto e toca de cabeça para fazer 3×1. Mas para o Botafogo isso era
completamente indiferente: três minutos depois Paulo Valentim dá dois dribles
em Pinheiro dentro da área deixando o zagueiro sentado e o artilheiro da tarde
fixa um novo placar: Botafogo 4×1.
Aos 12 minutos Garrincha passa
por Pinheiro e Clóvis, entra na grande área, chuta cruzado no canto direito de
Castilho e faz Botafogo 5×1. Mas a torcida pede mais gols, e aos 23 minutos
Garrincha investe novamente pela ponta direita, Altair fica novamente batido,
tal como Clóvis, e toca para Paulo Valentim que, diante de Castilho, aumenta o
marcador: Botafogo 6×1.
Emocionados, os jogadores do
Botafogo choram, vibram, comemoram o título esperado há nove anos. Perto do
final Valdo desconta para 6×2, mas os botafoguenses até disso se aproveitam
para fazer rima: “Foi 6×2… no pó-de-arroz”.
João Saldanha é carregado
aos ombros da torcida; Paulo Valentim, desmaiado, sai carregado. O Maracanã é
uma festa da torcida botafoguense, reforçada pelas torcidas do América, do
Flamengo e do Vasco da Gama, que não suportavam a arrogância tricolor.
Esse título foi marcado não
apenas pelas exímias finalizações de Paulo Valentim, artilheiro do campeonato,
mas pela promessa feita por Didi de que caminharia do Maracanã a General
Severiano se fosse campeão, e cumpriu a promessa onde fez todo o trajeto
acompanhado de sua esposa Guiomar.
Um torcedor decidiu também
vestir a estátua do Manequinho, em frente à sede social do clube, com a camisa
botafoguense. Manequinho, a nova mascote, passaria a envergar a camisa d’O
Glorioso sempre que o clube fosse campeão.
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