sábado, 11 de abril de 2020

Botafogo 6x2 Fluminense: narração em prosa

por JOSÉ CARLOS LUCK
9 de abril de 2020

Botafogo e Fluminense decidiram o título carioca de 1957 sob o excesso de confiança do diretor de futebol do Fluminense, que, na véspera do jogo, declarou que o Fluminense já era campeão e que o Botafogo esperasse outra oportunidade.

O técnico do Fluminense tratara de aperfeiçoar o esquema defensivo e escalar o meio-campo com Jair Santana, Róbson e Jair Francisco, trio que teria de contar com a ajuda de Telê Santana. Mas o técnico do Botafogo, João Saldanha, tinha ideias diferentes: confiou a Quarentinha a marcação cerrada e permanente de Telê, o jogador-chave do adversário, visando dominar o meio-campo e chegar na cara do Castilho, o goleiro das Laranjeiras.

No dia 22 de Dezembro de 1957 o árbitro Alberto da Gama Malcher deu início ao jogo com mais de 90.000 torcedores no Maracanã. E aos 3 minutos de jogo, a cruzamento de Didi, Paulo Valentim inaugurou as redes de Castilho: Botafogo 1×0.

Carlito Rocha presidente do Fogão dissera que Jesus Cristo lhe aparecera a anunciar a vitória do Botafogo, mas quem se apresentou em campo foi um demónio com o número 7 às costas. A cada bola recebida de Didi, Garrincha passava fulgurante pelo seu marcador Altair, e quando o zagueiro Clóvis saía da área para o combater também era inevitavelmente driblado.

Aberta como uma lata, a defesa do Fluminense vergava-se a Garrincha, que cruzava para os remates, as cabeçadas e as bicicletas de Paulo Valentim. Alguns gols do centroavante foram verdadeiramente espíritas, porque até as bolas que chutava mal entravam na baliza de Castillo, incluindo uma com o joelho.

Aplicando a tática de João Saldanha, os jogadores não davam espaço para o Fluminense criar fosse o que fosse. A defesa tricolor descontrola-se: Pinheiro, atraído pelo deslocamento de Paulo Valentim para a ponta esquerda, deixa a área livre; Clóvis está desorientado e não sabe se deve dar cobertura a Pinheiro ou ao lateral Altair, que leva um verdadeiro baile de Garrincha.

A certa altura Garrincha dribla Altair, cruza da linha de fundo, a bola passa por Édson e Castilho, mas Paulo Valentim entra pela meia-esquerda e toca de joelho para o gol vazio, aos 35 minutos: Botafogo 2×0.

Sete minutos depois é Nílton Santos quem avança como ponta-esquerda e cruza alto sobre a área. De costas para Castilho, o centroavante Paulo Valentim acerta em cheio uma bicicleta e a bola entra no ângulo direito do goleiro: Botafogo 3×0. A torcida botafoguense vai ao delírio e o cenário do colorido Fluminense era o preto, o branco e o cinza de pesadelo.

No início do segundo tempo, Escurinho faz uma jogada individual pelo meio, aproveita uma rebatida de Adalberto e toca de cabeça para fazer 3×1. Mas para o Botafogo isso era completamente indiferente: três minutos depois Paulo Valentim dá dois dribles em Pinheiro dentro da área deixando o zagueiro sentado e o artilheiro da tarde fixa um novo placar: Botafogo 4×1.

Aos 12 minutos Garrincha passa por Pinheiro e Clóvis, entra na grande área, chuta cruzado no canto direito de Castilho e faz Botafogo 5×1. Mas a torcida pede mais gols, e aos 23 minutos Garrincha investe novamente pela ponta direita, Altair fica novamente batido, tal como Clóvis, e toca para Paulo Valentim que, diante de Castilho, aumenta o marcador: Botafogo 6×1.

Emocionados, os jogadores do Botafogo choram, vibram, comemoram o título esperado há nove anos. Perto do final Valdo desconta para 6×2, mas os botafoguenses até disso se aproveitam para fazer rima: “Foi 6×2… no pó-de-arroz”.

João Saldanha é carregado aos ombros da torcida; Paulo Valentim, desmaiado, sai carregado. O Maracanã é uma festa da torcida botafoguense, reforçada pelas torcidas do América, do Flamengo e do Vasco da Gama, que não suportavam a arrogância tricolor.

Esse título foi marcado não apenas pelas exímias finalizações de Paulo Valentim, artilheiro do campeonato, mas pela promessa feita por Didi de que caminharia do Maracanã a General Severiano se fosse campeão, e cumpriu a promessa onde fez todo o trajeto acompanhado de sua esposa Guiomar.

Um torcedor decidiu também vestir a estátua do Manequinho, em frente à sede social do clube, com a camisa botafoguense. Manequinho, a nova mascote, passaria a envergar a camisa d’O Glorioso sempre que o clube fosse campeão.

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