por RUY MOURA
Editor do Mundo Botafogo
O
enfadonho Botafogo de Paulo Autuori ganhou ontem algum discernimento quando
mudou de esquema tático frente ao Atlético Mineiro.
Independentemente
da saída vergonhosa de Jair Ventura do Botafogo, desvalorizando as nossas
cores, sempre defendi o seu esquema de jogo. O Botafogo não tem grandes
plantéis, e muito menos atacantes, o que é visível num Clube que teve a maioria
dos artilheiros em todos os campeonatos cariocas e há uma década nem sequer se
aproxima do artilheiro do campeonato. Por outro lado, tem tido defesas muito
frágeis e que comprometem os resultados. Então, Jair fazia o que era preciso:
afinar e cerrar a defesa e explorar os erros adversários em velozes
contra-ataques letais. Foi assim que eliminamos cinco ex-campeões
sul-americanos na Copa Libertadores.
Em
suma, Jair mantinha uma equipe fechada na defesa e com marcação relativamente
alta e explorava o modo de jogo dos adversários nos seus aspectos mais frágeis
para vencer por 1x0 em muitas ocasiões. Jogava conforme o adversário.
O
Botafogo de Autuori tentou ensaiar um estilo de jogo autónomo,
independentemente do adversário, e foi o que se viu: com Autuori a equipe não
ganhava nem marcava gols, sendo-lhe extremamente difícil entrar na área e
acertar a pontaria, coisa bem mais fácil de fazer em contra-ataques ao modo de
Jair.
Ontem,
apesar da absurda escalação, Autuori adaptou-se finalmente ao adversário e
corrigiu os erros de escalação logo ao intervalo (substituindo os inócuos Luiz
Otávio e Pedro Raul), reorganizando o meio campo, bem diferente das suas
substituições aos 80’ quando pouco se podia fazer no jogo.
O
próprio Autuori referiu na coletiva pós-jogo que sabia como Sampaoli jogava e
adaptou-se para aproveitar as falhas adversárias. Ora, porque não faz
exatamente isso com todos os outros adversários estudando-os ao pormenor e
surpreendendo-os como ontem fez? Ou não tem tempo de se dedicar ao estudo dos
adversários?
Ainda
assim, a equipe fechou-se muito atrás e teve a sorte de o Atlético não estar
nos seus melhores dias, já que esperava o esquema habitual do Botafogo e
saiu-lhe o tiro pela culatra. Porém, se não fosse Gatito, o Atlético teria
marcado no primeiro tempo e talvez o jogo estivesse resolvido em nosso desfavor.
As oportunidades do adversário foram bastantes, designadamente devido a uma
defesa muito recuada e a um grande buraco na lateral direita da nossa equipe.
O
meio campo funcionou depois do intervalo e o apoio ao contra ataque foi mais
frutífero e permitiu fazer o 2x0 que foi o nosso salvo-conduto para o gol que
tomamos no final da partida.
Até
ver, este é o esquema que serve ao Botafogo, independentemente de poder variar
os esquemas conforme o adversário. Tantas vezes referi que o Botafogo da década
de 1960, apesar de plantéis brilhantes, jogava com um grande goleiro e uma
defesa cerrada, sendo temível precisamente nos contra ataques. É esse o
caminho.
E
tudo isso com 1/4 da posse de bola e 1/3 dos remates do Atlético, mas o dobro
na eficácia de remates…
Uma
palavra final sobre a arbitragem: ou o Botafogo se impõe nos bastidores e exige
arbitragens decentes ou não terá futuro, tal como sempre tem acontecido nos
últimos anos. O árbitro não marca um pênalti a favor do Botafogo por mão na
bola muito clara de um adversário e depois anula um gol do Botafogo, alegando
bola na mão quando a precedência de bola na mão nessa jogada foi precisamente
de um defensor atleticano dentro da sua grande área.
Os
árbitros têm que ser punidos severamente – especialmente se forem árbitros FIFA
–, tal como os VAR que também não veem o que todos veem e ainda veem o que mais
ninguém vê. Talvez possam alegar... defeito no vídeo.
FICHA TÉCNICA
Botafogo
2x1 Atlético Mineiro
» Gols: Luiz Fernando, aos 27’, e Caio Alexandre, aos 89’
(Botafogo); Igor Rabello, aos 90’+6 (Atlético)
»
Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 19.08.2020
» Estádio: Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza (SP), auxiliado por Neuza
Inês Back (SP) e Alex Ang Ribeiro (SP); VAR:
João Ennio Sobral (RJ)
» Disciplina:
cartão amarelo – Barrandeguy e Danilo Barcelos (Botafogo)
» Botafogo: Gatito Fernández; Barrandeguy (Fernando), Marcelo
Benvenuto, Kanu, Danilo Barcelos; Luiz Fernando (Rhuan), Luiz Otávio (Caio
Alexandre), Guilherme Santos, Luís Henrique (Bruno Nazário); Pedro Raul (Rafael
Forster), Matheus Babi. Técnico: Paulo Autuori.
» Atlético Mineiro: Rafael; Guga (Mariano), Igor Rabello, Junior Alonso,
Guilherme Arana; Allan (Jair), Alan Franco (Savarino), Hyoran; Marquinhos
(Maílton), Marrony (Bruno Silva), Keno. Técnico: Jorge Sampaoli.
2 comentários:
Perfeita análise, nada a acrescentar. Se não fosse o bafejo da sorte ontem na calamitoso escalação do primeiro tempo dificilmente o Botafogo venceria o jogo. Acho que com o Kalou e o Honda mais adiantado, nunca de 1º volante o Botafogo pode crescer. Ontem comentei algo semelhante sobre o Botafogo da década de 60: jogava atraindo o adversário e os contra ataques com os jogadores que tinha eram sempre muito bem feitos e muitas vezes terminavam em gol. Me lembro até do Saldanha falando que apesar do Flamengo ter o Flávio Costa, o Botafogo sempre se dava bem, principalmente porque eles partiam prá cima e aí, seja com Didi ou o Gérson e com os ataques daquele período, partir para cima do Botafogo era suicídio.
No caso atual, pela limitação do time é aramar a equipe com ontem, mas sem aquela escalação do 1º tempo. Caio Alexandre e Bruno Nazário não podem ser reservas nesse time. Sorte termos um Gatito e uma dupla de zaga que parece ter um belo futuro. Abs e SB!
Absolutamente de acordo! O Botafogo da década de 1960 não atacava como lopuco nem os seus jogos eram geralmente 'eletrizantes'. Ao contrário, jogavam segundo táticas 'cínicas' atraindo do adversário e 'matando-o' em passes longos para velocidades aí simmeio loucas. De que Garrincha era o auge nessa matéria. E depois o 'Furacão' na segunda metade da década.
O Autuori devia estar mais atualizado sobre o futebol atual. Se estivesse, creio que esta equipe poderia dar que falar. Não é ruim como dizem os idiotas dos comentaristas, apenas é mal orientada e subaproveitada.Honda e Jalou, se forem bem posicionados nos seus lugares de preferência, podem fazer a diferença. E ainda temos alguns jovens bem prometedores para fazer a diferença.
Abraços Gloriosos.
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