sexta-feira, 17 de junho de 2022

Botafogo 1x0 São Paulo – rota estrutural com modelos contingenciais

Uma estrela brilhando na noute carioca. Captura de tela (16.06.2022).

por RUY MOURA

Editor do Mundo Botafogo

O Mundo Botafogo e outros companheiros botafoguenses vinham dizendo que a situação atual da equipe de futebol estava se tornando incontornável e sem saída, a menos que a comissão técnica reconhecesse, por fim, que o 4-3-3 não se adaptava às insuficiências técnicas da equipe e introduzisse um esquema que passasse por menos posse de bola e esperasse o adversário avançar no terreno para depois contra atacar.

Sabendo-se que Luís Castro (LC) é um homem com forte componente racional e de cultura futebolística, havia alguma esperança que usasse o seu bom senso para entender melhor os seus jogadores e o futebol brasileiro de modo a mudar o rumo dos acontecimentos, sob pena de entrarmos num furacão e de lá sairmos estilhaçados.

LC percebeu estar numa encruzilhada, discerniu bem e abandonou a sua teimosia do 4-3-3 com posse de bola, que como mencionei anteriormente, não é por si mesmo garantia de vitória se não estiver bem adaptado à equipe. E LC, que nunca na sua carreira sofreu 4 derrotas sucessivas, e que em 2021-2022 esteve 18 jogos invicto, percebeu que ou mudava o esquema ou entrava em espiral descendente que o tempo tornaria cada vez mais difícil de se sair.

As mudanças foram várias, quer no sistema utilizado quer nos atores escalados. Mas não foi preciso fazer nada de muito radical, mas sim desdobrar o 4-3-3 com um 3º zagueiro, jogar apenas com dois atacantes e reforçar o meio campo dando mais apoio aos contra-ataques, aproximando as linhas da zaga e do meio e efetuando lançamentos mais verticais com bola no chão em vez da inócua posse de bola lateralizada.

O esquema de três zagueiros comandados – finalmente! – por Carli anularam a entrada do adversário na área, mitigaram o nosso problema de resposta ao jogo aéreo do qual a nossa zaga sofria e apostou-se no contra-ataque com bastante mais verticalidade. Por outro lado, as linhas próximas da defesa e do meio campo facilitaram a montagem de um bom esquema defensivo, notando-se apenas maior perigo por parte do São Paulo quando as duas linhas criavam espaços resultantes dos nossos contra ataques.

Na defesa Carli anulou completamente o maior artilheiro do São Paulo, que perdeu todas as bolas disputadas, a marcação em geral melhorou claramente mercê de melhor aproveitamento do tempo de oportunidade de desarme com base numa velocidade muito superior à moleza apresentada nos últimos jogos, nos quais perdíamos constantemente as divididas com chegadas atrasadas no tempo e no espaço (refletido nos placares: apenas 1 gol a favor e 8 contra nos últimos 4 jogos).

No meio campo brilhou Kayke, mostrando robustez e alguma capacidade criativa, que andava arredada da nossa equipe, e finalmente, após algumas falhas de finalização, assistimos a uma das melhores jogadas de (contra)ataque do Botafogo nos últimos anos, quer pelo entendimento coletivo, envolvendo Saravia, Erison e Piazon em toques rápidos, quer pela lucidez técnica de Kayque a driblar e a rematar. Um verdadeiro golaço coletivo-individual! Que mereceu ser o gol da vitória.

Golaço! Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

Até nos detalhes houve algumas melhorias. A título de exemplo: Piazon mostrou finalmente alguma técnica, Kanu melhorou muito ao lado de Carli, Hugo mostrou potencial de crescimento e até Chay conseguiu, já nos acréscimos, manter a bola quase dois minutos na zona de escanteio com sucessivas vantagens de cobrança de lateral e de escanteio, tal como manda a lei de segurar o resultado na frente de ataque nos últimos minutos.

Pode ser o virar de uma página ‘quadruplamente’ negra: 3 derrotas para os 3 clubes que subiram de divisão este ano e que havíamos superado na Série B e 1 derrota para o Palmeiras, que embora natural pesou pelos números. Porém, a reação mental dos jogadores foi extraordinária, e seria bom sabermos que o desempenho evidenciado é para continuar, independentemente de alguns ajustes táticos que se devam fazer para enfrentar adversários que são diferentes e muitos deles tecnicamente melhores do que nós.

Finalmente, veja-se como os números mostram como foi a mudança operada na equipe: apenas 1/3 de posse de bola, mas com 17 remates contra 6 do São Paulo, sendo 3 enquadrados na baliza contra apenas 2 do São Paulo.

Porém, atenção, porque este resultado não é novidade em termos históricos do Botafogo: nesta como noutras edições anteriores, o Botafogo ‘rouba’ aos ricos (Flamengo, São Paulo…) para entregar aos pobres (Avaí, Coritiba, Goiás…), tal como Robin Wood. Não queremos nem o ‘roubo’ nem a ‘entrega’: queremos sistemas de jogo eficazes que os jogadores reconheçam e que se tenha em conta os estilos adversários e que sejam anulados.

Jogar futebol ofensivo e bonito como LC gosta pode esperar por reforços adaptados a tais modelos. Nessa altura veremos se o seu futebol é realmente tudo isso que se fala, mas agora a prioridade é reconstruir conjugando projeto estrutural com gestão contingencial para que o Brasileirão 2022 seja tranquilo para o Botafogo e 2023 seja projetado adequadamente, com um planeamento rigoroso que este ano não tivemos e com maior vigor futebolístico.

Botafogo 1x0 São Paulo

» Gol: Kayque, aos 61’

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: Estádio Olímpico Nilton Santos, Rio de Janeiro (RJ)

» Data: 16.06.2022

» Público : 18.677 espectadores

» Renda: R$ 453.785,00

» Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO); Assistentes: Bruno Raphael Pires (GO) e Bruno Boschilia (PR); VAR: Wagner Reway (PB)

» Disciplina: cartão amarelo – Patrick de Paula, Kanu, Saravia, Carli, Kayque e Cuesta (Botafogo); Patrick, Calleri e Arboleda (São Paulo)

» Botafogo: Gatito Fernández; Kanu, Carli e Cuesta; Saravia (Daniel Borges), Patrick de Paula, Kayque (Barreto), Hugo e Lucas Piazon (Chay); Vinícius Lopes e Erison (Matheus Nascimento),). Técnico: Luís Castro.

» São Paulo: Jandrei; Rafinha (Igor Vinícius), Diego Costa (Eder), Arboleda e Léo; Igor Gomes, Rodrigo Nestor, Patrick (André Anderson) e Wellington (Reinaldo); Calleri e Luciano (Rigoni). Técnico: Rogério Ceni.

4 comentários:

Saulo Lessa disse...

Enfim jogamos algo próximo de futebol. Até esteticamente é melhor vermos uma equipe reativa organizada, do que aquele bando de linhas espaçadas que tentava propor jogo. Kayque oferece força, combatividade e velocidade ao meio de campo do Botafogo, já tinha sido assim contra o Fluminense no Carioca. Demorou demais pra começar uma partida. Feliz somos nós de felizmente Castro ter saído da teimosia, poderia já ter pensado numa estratégia para progressivamente instituir seu jogo propositivo, a natureza não dá saltos, estava querendo fazer um bolo sem fermento. Ano que vem o Botafogo jogará o carioca com o time B, e terá todo tempo do mundo para treinar a equipe no seu modelo, inclusive com a melhor estrutura na Europa. Fazendo o feijão com arroz, conseguirá pelo menos classificar o Botafogo na Pré-Libertadores, quiçá até voos mais altos dependendo dos reforços da segunda janela. O time jogando com essa determinação, entrega, perde de quase ninguém nesse campeonato. Abraços gloriosos Ruy, saudações alvinegras!

Sergio disse...

De fato ontem houve uma evolução bastante interessante, em parte pelo bom senso do Luis Castro compreender a maneira do futebol brasileiro atual e a limitação do elenco que tem em mãos.
Além da mudanças tática contribuiu a disposição e o comprometimento do time que ontem foi intenso, além da boa atuação de grande parte dos jogadores, com destaque para o Kaike e o Carli. O primeiro dando consistência na marcação do meio campo sem abdicar de chegar ao ataque, fazendo o belo gol da vitória. Quanto ao Carli, este passa um seguranças aos companheiros de defesa e melhora até nas bolas altas. Com essa proteção da zaga e meio os laterais ficaram mais a vontade. Alguns jogadores surpreenderam com um futebol mais consistente como o Piazon, Hugo e uma melhora do Patrick.
Tomara que o Botafogo consiga manter essa pegada contra o próximo adversário, compromisso difícil contra o bom time do Internacional, e o Botafogo jogará sem o Kanu e o Cuesta.
Acho que se o time do Botafogo mantiver a atitude do jogo contra o São Paulo pode realizar um campeonato sem sustos. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Concordo inteiramente com o comentário. Creio que o Castro esticou até ao possível em favor do seu modelo, mas percebeu que não dava mais. Ele é inteligente e foi capaz de recuar; valha-nos isso para ver se temos uma no tranquilo, mas não acredito muito na pré-Libertadores porque o Textor me parece forreta com o dinheiro. Ademais, mesmo com melhores jogadores vai ser necessário mais um tempo de entrosamente dos novos jogadores em plena competição. Não vai ser fácil. Mas se o LC continuar a perceber melhor o futebol brasileiro e ajustar-se às características dos jogadores durante este ano,então acredito que poderemos progredir bastante, amadurecer certos modelos alternativos e entrar em 2023 com outra postura. Pelo menos é a esperança que temos que perseguir, porque não faria sentido o Textor comprar o Clube para coisa nenhuma diferente. Há muito para nós avaliarmos durante esta temporada e irmos consolidando ideias de futuro sobre o nosso Botafogo. Que a sorte nos sorria!

Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Concordo. Podemos fazer um campeonato sem sustos. Contra o Internacional preocupa-me que justamente 2/3 da zaga de ontem vai estará ausente contra o Internacional e a defesa quase certamente será mais frágil, a não que o Carli inspire os companheiros.

A disposição deontem contou muito para a vitória: antes não corriam o suficiente, chagvam atrasados na bola, perdiam as divididas, etc. Ontem foi bem diferente: havia sempre um pé para tirar a bola do adversário, seja ganhando-a seja atirando-a para longe da grande área. Gostei francamente. Foi talvez um dos melhores Botafogo desde que o Jair Ventura saiu. Porque apesar de ter saído pela porta baixa devido ao seu comportamento, apoiai-o sempre quanto ao futebol a prtaicar com aquele elenco. O futebol de ontem, se a memória não me trai, foi semelhante. Aiás, nu outro comentário eu já sugerira o tipo de jogo do Jair, saindo quase sempre em contra-ataque.

Porém, acho que percebi que provavelmente vamos alternar altos e baixos ao longo do ano. Não me preocupa se conseguir verificar evolução. Podemos até perder com o Internacional, mas se virmos que houve resposta positiva em campo e não oferecemos simplesmente a vitória como fizemos contra Avaí, Coritiba e Goiás, então estremos bem para enfrentar a seguidamente Fluminense, Bragantino e Cuiabá, equipes teoricamente mais ao nosso alcance.

Abraços Gloriosos.

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