segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Botafogo 1x0 São Paulo – em jeito de balanço

 

Crédito: Marcos Ribolli.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

É espantoso como tantas vezes a crítica, mais do que irracional e desconstrutiva, roça a vulgaridade do preconceito, da má educação, da agressividade e da desconsideração do outro e o respeito que lhe é devido.

Aqui no Mundo Botafogo houve comentários que se referiam ao intenso trabalho técnico realizado com a equipa em construção como “deplorável, patético, um terror, o pior trabalho de um treinador em nossa história.” Cheguei a ler nas redes sociais, e cito integralmente, que “esse John Textor está nos fazendo de palhaço. Fora a SAF, queremos nosso time de volta”. De volta o Clube falido à beira de fechar portas se não fosse a SAF e o extraordinário investimento que tem sido feito?!?!?! No facebook, antes de cada jogo, um suposto ‘botafoguense’, homem bem posto fisicamente e de meia idade, detonava nas minhas publicações um resultado adverso antes do jogo ocorrer, e após os jogos e os resultados indesejáveis detonava o Botafogo. Pois bem, meus amigos, o homem sumiu do facebook desde o jogo contra o Coritiba até hoje…

Sei que a emoção leva os torcedores a falar demais no auge da zanga, mas um verdadeiro torcedor botafoguense devia regressar ao local das críticas socialmente inaceitáveis para um bom convívio e retratar-se, satisfeito por se ter enganado. Eu próprio, após tantos pontos perdidos para adversários fracos, fiz uma vez uma crítica excessiva porque não levei em consideração todos os fatores conjunturais, mas, por isso mesmo, logo depois, passei a defender o trabalho suado da comissão técnica, não apenas o trabalho técnico, mas também – e isso é importantíssimo – o ambiente criado nos treinos e no vestiário que leva para campo gente a jogar com alegria, a suar até á ultima gota do seu esforço e a vencer, quando não com argumentos técnicos, vencer com argumentos comportamentais de empenho total e absoluto durante os jogos. E às vezes esse ambiente ganha mais jogos do que equipes com muitos craques divididos por ‘panelinhas’. No Botafogo só há uma panelinha: a de todos juntos!!!

Dito isto, vamos falar do jogo?... Sei não… Afinal, tratou-se de um jogo de polo aquático, um dos meus desportos preferidos, mas pouco compatível com futebol, à excepção de haver duas balizas. Confesso que detesto partidas em tais condições e que podem mascarar a verdade dos jogos. E, neste caso, teoricamente com prejuízo do Botafogo porque o São Paulo adapta-se melhor a este tipo de terreno pesado. Porém, com este Botafogo parece que ninguém brinca e fomos nós que nos adaptamos melhor à piscina olímpica…

Repare-se que a equipe continua em construção, porque ainda não conseguiu reunir todos os seus melhores elementos num só jogo e mecanizar todos os processos, mas apresenta um desempenho formidável desde a derrota para o Flamengo, e ainda assim vai-se às redes sociais (refiro-me a ontem e aos jogos anteriores) e é curioso como Luís Castro, na escrita de alguns (o que vale é serem uma minoria), continua a ser o mau do filme. O Botafogo perde, “Castro é burro”; o Botafogo ganha e diz-se “apesar de Castro” ou, como ontem num blogue aqui ao lado, que permanentemente abate os méritos da comissão técnica dia após dia, a vitória deveu-se aos jogadores e à sorte e não ao técnico. Caramba, gente que vê futebol há anos (e são botafoguenses!) como é que pode ser futebolisticamente tão iliterata?!?!?!

Relembrando a campanha pós-Flamengo:

1x0 São Paulo (F)

2x1 Avaí (F)

1x3 Palmeiras (C)

1x0 Goiás (F)

1x0 Coritiba (C)

0x0 América (C)

3x1 Fortaleza (F)

[0x1 Flamengo]

Várias coisas ressaltam à vista:

(1) O Botafogo só perdeu com o quase imbatível Palmeiras e, ainda assim, deve-se ter em conta que a derrota ocorreu com 3 gols ‘oferecidos’ ao adversário por erros individuais.

(2) Que fora o jogo contra o Palmeiras sofremos apenas 2 gols em 6 jogos.

(3) Que vencemos os últimos 4 jogos fora de casa e conseguimos a melhor pontuação de sempre em jogos como visitante na era dos pontos corridos (2010: 25 pontos em 19  jogos fora; 2022: 27 pontos em 16 jogos fora de casa).

(4) Que nem os ‘inventivos’ árbitros chegaram para nos retirar alguns pontos, como no pênalti do jogo contra o Avaí.

(5) Leonardo Miranda, jornalista SporTV: “Foi bom ter confiado no projeto e mantido o técnico, apesar das pressões, e ter melhorado o elenco. Receita básica que muito clube não segue por agir na emoção.”

É curioso verificar que temos realizado alguns maus primeiros tempos, mas as conversas de vestiário, as alterações à tática inicial, as substituições e a maior aplicação nos últimos 45 minutos tem-nos levado a reagir e vencer - exatamente como ontem. E isso é uma vitória de todos, cuja união hoje é indiscutível em todo o plantel. Até Patrick de Paula paga sessões do seu bolso para se redimir de comportamentos anteriores e regressar à equipe.

Por outro lado, todas as críticas feitas à nossa defesa – incluindo as minhas – vão sendo gradualmente anuladas pela construção de uma defesa mais sólida que já superou diversos defeitos antigos. Coisa que os corneteiros que mencionei acima omitem deliberadamente. Assim como omitem que uma das maneiras que Castro lançou mão para resolver o problema da fragilidade da defesa foi flexibilizar o sistema de jogo sempre que necessário, isto é, passa por vezes do 4-3-3 para o 4-5-1 precisamente para os pontas auxiliarem a defesa e buscarem jogo. O ideal seria mesmo o 4-3-3, com um meio campo forte e laterais muito capazes, mas continuamos com problemas na lateral direita e com pouca capacidade de criação no meio – e a opção escolhida tem resolvido melhor o sistema defensivo, embora agora também critiquem essa opção que tem funcionado bem. Creio que uma nova janela de transferências, ou a recuperação de todos os atletas, poderá resolver tais problemas e regressar ao pleno do 4-3-3 (embora não seja de todo desagradável o 4-4-2 que alguns de nós defendem para sustentar melhor a criação).

Quanto a minudências do jogo, a primeira parte foi um pesadelo para ambas as equipes, apesar de Lucas Fernandes poder ter aberto o placar aos 17’, não tivesse perdido tão boa oportunidade com remate a sair ao lado da baliza por mais de 2 metros… E para se ter a noção da ‘maldade’ de jogar futebol em piscina de polo aquático, note-se que nem Botafogo nem São Paulo fizeram qualquer remate enquadrado nas balizas dos dois goleiros…

O segundo tempo melhorou consideravelmente, tivemos duas oportunidades claras de abrir o placar, mas, a partir de dada altura, os locutores e comentadores viam a cara do jogo como um 0x0 até final. Não contavam que o Botafogo de hoje NUNCA desiste se ainda tiver uma mínima arma para combater. E Tchê Tchê lá foi combater, arrancou um pênalti e… não só estamos a escassos 2 pontos da provável zona da pré-Libertadores como, a 7 rodadas do final, 13 pontos acima do Z4 que muita gente (incluindo botafoguenses) vaticinava que seria a nossa ‘luta final’.

Eu preferia que os nossos progressos evoluíssem patamar a patamar, tendo como objetivos para 2023 disputar palmo a palmo a Copa do Brasil e Copa Sul-americana, mas se a evolução continuar para a Copa Libertadores – que é um risco dado não constar do plano inicial e faltar tempo de maturação à equipe – teremos que torcer para um grande incremento financeiro de John Textor durante a janela de transferências em janeiro do próximo ano.

Porém, não é de espantar tal evolução, porque Castro respondeu perentoriamente a um jornalista, em coletiva há algumas rodadas, que se recusava a olhar para baixo da tabela porque o Botafogo só olhava para cima. Premonitório!

Notas à margem: (1) Com o nosso desempenho como visitantes, proponho que abandonemos o Engenhão e joguemos sempre fora de casa! (rsrsrs). (2) É espantoso como os árbitros levam 6 minutos para decidir a favor de um pênalti claríssimo! Na Premier League, um pênalti como o de ontem consumiria escassos 30 segundos para decisão final.

FICHA TÉCNICA

Botafogo 1x0 São Paulo

» Gols: Tiquinho, aos 89’ (pen.)

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 09.10.2022

» Local: Estádio do Morumbi, em São Paulo (SP)

» Público: 23.918 espectadores

» Renda: R$ 2.116.070,00

» Árbitro: Jean Pierre Gonçalves Lima (RS); Assistentes: Jorge Eduardo Bernardi (RS) e José Eduardo Calza (RS); VAR: Daniel Nobre Bins (RS)

» Disciplina: cartão amarelo Kanu e Victor Cuesta (Botafogo) e Léo, Pablo Maia e Rafinha (São Paulo); cartão vermelho – Léo (São Paulo)

» Botafogo: Gatito Fernández; Rafael (Kanu), Victor Cuesta, Adryelson e Marçal; Tchê Tchê, Lucas Fernandes (Danilo Barbosa) e Eduardo; Victor Sá (Philipe Sampaio), Júnior Santos e Tiquinho. Técnico: Luís Castro.

» São Paulo: Felipe Alves, Rafinha, Miranda, Léo e Welington (Reinaldo); Pablo Maia, Nestor (Galoppo), Alisson (Igor Vinícius) e Patrick (Marcos Guilherme); Luciano (Eder) e Calleri. Técnico: Rogério Ceni.

9 comentários:

Ruy Moura disse...

Nota a propósito de um comentário não publicado.

O Mundo Botafogo manifesta o direito de, no momento presente, não publicar comentários que firam a união extraordinária que existe atualmente entre proprietário da SAF Botafogo, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, comissão técnica da equipe de futebol e futebolistas, porque ao contrário do passado muito recente (2009-2020), estão todos remando na mesma direção e com o mesmo espírito clubista em prol do Botafogo e do seu maior patrimônio: a torcida.

Críticas construtivas e saudáveis, sim, sempre, mas para se exprimirem críticas destrutivas e desgaste de personalidades empenhadas no nosso regresso à Glória – tal como se fez em um comentário não publicado – sugere-se a frequência de outros blogues botafoguenses.

O Mundo Botafogo rejeita os modelos agressivos ou passivos e segue o modelo comportamental assertivo, âncora do equilíbrio racional como meio de valorização social das nossas emoções.

Após termos tido presidentes pavorosos, técnicos pavorosos e jogadores pavorosos durante tanto tempo, o mínimo que o Mundo Botafogo pode fazer para não se constituir como veículo de beliscadura pública aos ‘remadores’ do nosso grande barco, que procuram seguir na mesma direção, é não aceitar que os diminuam em momento algum sem uso da razoabilidade e da assertividade.

Que me perdoe o amigo SL, porém em 15 anos de blogue sempre aqui foram defendidos e praticados princípios de elevada cidadania, justamente porque, como afirmou, este blogue é “um patrimônio da instituição Botafogo”.

Obrigado. Abraços Gloriosos.

marlon disse...

Excelente análise, caro Rui! grande abraço

Ruy Moura disse...

Obrigado, Marlon! Eu sempre acreditei no projeto e estou bastante otimista quanto futuro, acreditando ser possível conquistar um título importante em 2023. Já imaginou se pudessemos comemorar uma Copa do Brasil e ou um título internacional precisamente 30 anos após a Conmebol?

Abraços Gloriosos.

Sergio disse...

Ruy amigo, nem sei por onde começar, talvez pelo prazer de ler um texto que eu gostaria imensamente de ter escrito, tal o brilhantismo e a precisão do momento atual do Botafogo.
Mas vou pegar o seguinte gancho: uma parte considerável de torcedores sei lá porque razão, implicaram desde a primeira partida do time com o Luís Castro de forma absolutamente irracional, talvez por uma antipatia gratuita, em especial pela franqueza e inteligência demonstrada desde o início do seu trabalho. Mas o que me espanta é não reconhecer o méritos do treinador pelo momento atual do time e a sua união dentro e fora de campo, e isso é trabalho do treinador e da comissão técnica.
Sobre a SAF a mesma coisa, alguns desavisados queriam um resultado excepcional num clube que foi pessimamente gerido por décadas e achavam que em poucos meses o Botafogo se tornaria uma potência quando este estava a beira da falência e para fechar as portas.
Sobre disputar a LA o John Textor disse num evento com torcedores do Botafogo na Flórida que se o Botafogo for para a pré Libertadores aí sim a "brincadeira vai começar" sinalizando que vai investir pesado.
Sobre o jogo, de fato foi um jogo de polo aquático. Um gramado naquele estado em minha opinião não poderia ter jogo, pois além de prejudicar o espetáculo é muito perigoso para os atletas, pois um escorregão pode ocasionar uma lesão grave.
O Botafogo se comportou muito bem, a equipe vai aos poucos ganhando corpo, uma equipe sólida, com uma dupla de zaga das melhores que vi no Botafogo. Eu tenho a impressão que se o lado esquerdo do Botafogo tivesse jogado contra o Palmeiras e contasse com o Lucas Fernandes bem recuperado, acho que não perderia da maneira que perdeu, não tirando os méritos do Palmeiras que é o melhor time do campeonato.
Ontem num comentário escrevi que o Botafogo deveria transferir o jogo contra o Internacional para o Beira Rio, pois fora de casa o Botafogo é o segundo melhor visitante do campeonato e obteve uma das vitórias mais sensacionais da sua história.
Ainda bem que os pessimistas de plantão erraram sobre o Botafogo, e da previsão de que o Botafogo cairia agora está com chances de a pré LA. Será que eles estão chateados? Talvez, pois preferem ter razão do que ver o sucesso do Botafogo. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

(1) Eu escrevo ao sabor da alma, Sergio. Se a alma passa para o papel um real inteligível, como o Sergio sugere, é porque ela está em consonância holística com o centro das nossas razões e aspirações.

(2) Confesso que tenho duas espécies de 'heróis' no futebol: o goleiro e o treinador. Como sempre estive ao lado dos mais desprotegidos não podia deixar de apreciar especialmente o goleiro, que o torcedor acha que nunca pode falhar, embora o atacante falhe 3 e 4 gols praticamente feitos em um só jogo, e o treinador, que é sempre o bode expiatório dos dirigentes. O treinador é sempre 'burro' porque quem percebe de estratégia e tática é o pessoal da arquibancada...

(3) Pode crer que sem a SAF nem sequer na 2ª dibisão estaríamos. A bancarrota faria o Botafogo fechar portas e desaperecer ou recomeçar pela competição mais baixa.

(4) Se o John Textor disse o que o Sergio mencionou, então a ida à Libertadores até pode ser vantajosa, mesmo que por falta de maturidade de processos não façamos grande figura. Ficaríamos então com um plantel bem mais melhorado para 2023.

(5) O Botafogo tem, finalmente, uma espinha dorsal que já vai do Gatito ao Tiquinho (desejo muito que o Gatito fique).

(6) A este ritmo, se jogassemos todas as partidas fora, iríamos direto à fase de grupos da Libertadores! (rsrsrs)

(7) Os pessimistas de plantão estão chateados, sim. Um sujeito que falava mal dos nossos jogos mesmo antes de começarem, augurando a derrota, sumiu do facebook desde a vitória sobre o Fortleza (ou sobre o Coritiba, não me recordo bem).

Abraços Gloriosos.

Prof. Pizzolato disse...

Texto muito bem escrito. Admiro, além do seu amor ao Botafogo, a facilidade e a beleza com que seus textos são escritos.

Ruy Moura disse...

Fico 'babado' com tão belo elogio, Prof. Pizzolato! Obrigado! Vou revelar o segredo: desde os 7 anos de idade comecei a ler romances até altas horas da noite e percorri as obras dos maiores escritores de todo o mundo. E depois eu próprio comecei a escrever, escrever, escrever. Poesia, contos e mais tarde longos relatórios científicos. Há três coisas que me dão um prazer superlativo: ler, escrever e viajar.

Quanto ao Botafogo... foi uma paixão súbita que nasceu em 1960, numa época em que o Clube disputava imensas modalidades desportivas e que ficaram comigo para sempre: futebol, polo aquático, remo, futebol de salão e vôlei, principalmente. Mas gosto de qualquer modalidade que o Botafogo jogue, mesmo que seja futebol de mesa, que também foi a minha maior paixão escolar. Num dia de 1960, um enfermeiro nordestino, torcedor do Botafogo (PB), rumou para o Rio de Janeiro, virou Botafogo FR, casou com a minha prima e revelou-me a Estrela Solitária!

Abraços Gloriosos.

Sergio disse...

Amigo Ruy, o prof. Pizzolato confirmou aquilo que sobre observei nos seus textos. E fico feliz pois os elogios não foram apenas pela amizade, mas pela incrível capacidade de escrever bem que você tem. Confesso que gostaria muito de saber escrever com tanta clareza e discernimento, mesmo tendo lido razoavelmente bastante nunca escrevi tão bem. Minha dissertação de mestrado foi parto dolorido,.
Pelo menos tenho o consolo de ter relativa facilidade para escrever música, ainda bem! ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Escrever bem ajuda muito a concretizar projetos com celeridade, e até mesmo prazer. Eu fiz o meu doutorado em menos de metade do tempo da maioria das pessoas e produzo estudos e artigos científicos com facilidade porque eu vou engendrando o filme todo na cabeça, e depois é só fazer fluir. Em contrapartida há coisas com as quais me entendo mal, como, por exemplo, a observação das coisas à minha volta ou a pouca apetência para tarefas do dia a dia. Mas pior do que isso é ser um apaixonado pela música e não tocar nenhum instrumento (rsrsrs). O que vale é que regularmente ouço a sua música que me presenteou em disquetes. E gosto da sua pintura. Ainda tenho um quadro seu para emoldurar. Um dia destes enviar-lhe-ei a foto por e-mail. E fico muito feliz que goste da minha escrita que tanto prazer me dá.

Abraços Gloriosos.

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