segunda-feira, 26 de junho de 2023

Botafogo 1x0 Palmeiras: tornado a sul da Linha do Equador

Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Confesso que não sei bem por onde começar com tanta coisa que há para dizer sobre o jogo de ontem e de tudo o que tem sido a caminhada do Botafogo pós-carioquinha.

O mais óbvio é que o Botafogo venceu sem afobação o campeão brasileiro, unanimemente considerado o mais forte candidato ao título, e na casa do adversário, conquistando os 3 pontos em disputa e, finalmente, disparando na liderança do Campeonato Brasileiro, contrariando todas as previsões que, no início do campeonato, davam o Botafogo como Clube a lutar pela manutenção na Série A.

Porém, este não é o Botafogo de todos estes anos durante os quais, na generalidade, não teve dirigentes nem comissões técnicas à altura – salvo uma ou outra excepção muito efêmera.

Este é um Botafogo com Visão e Liderança, comandado a alto nível dentro e fora de campo, com uma nova lógica de profissionalismo, de gestão, de ética e de caráter.

O Botafogo está se construindo como eu sempre tenho insistido ao longo de anos a fio desde a fundação do blogue em 2007: não trabalhar para o curso prazo e nem para o ilusório sucesso momentâneo, mas sim começando um projeto de raiz no sentido de se iniciar a edificação do Clube pelos alicerces estruturais da casa e por uma defesa sólida; depois criar os pisos intermédios da casa e montar um meio campo criativo; finalmente cobrir a casa com telhado impermeável e um ataque veloz e certeiro.

Isto é, criar as estruturas que assegurem a consistência do Clube no tempo e paulatinamente montar uma equipe rodeada de todos os meios que lhe permitam desenvolver-se harmoniosamente de acordo com as suas qualidades e capacidades.

Ao nível da casa o Botafogo tem construído passo a passo as suas estruturas de apoio, essenciais para a estabilidade da equipe de futebol; ao nível da equipe a construção foi-se fazendo em várias etapas, com montagem de equipes diferentes com novos jogadores, testadas até ao limite das alternativas possíveis e na base de matéria-prima que era reserva nos seus respectivos clubes, isto é, eram segundas opções e pouco jogavam nas suas equipes.

Jogadores escolhidos segundo conhecimentos objetivos e diretos da comissão técnica, moldagem de uma nova mentalidade vencedora, articulação sistemática para a criação de rotinas em campo, observação rigorosa das táticas desenhadas para cada jogo, concentração absoluta em cada partida.

O Botafogo não joga na chamada ‘raça’, que é aquilo que ocorre quando a técnica e ou a tática falham; o Botafogo joga focado, paciente, com muito suor e esforço, capaz de suportar qualquer pressão com a galhardia de um desportista que sabe o que quer, e o que quer é vencer, ser cirúrgico no momento crucial aproveitando meia ou apenas um quarto de oportunidade para enfiar a bola no buraco da agulha e estufar o véu da noiva levando a torcida ao clímax.

E o Botafogo, estando à frente do placar, claramente ou pela margem mínima, continua a jogar bola consoante as circunstâncias, porque os seus jogadores não fazem cera, não simulam lesões para fazer escoar o tempo nem se atiram para o chão.

Os jogadores do Botafogo têm ética e caráter, sabem fazer contenção de jogo com profissionalismo, aprenderam a focar inteiramente no jogo, com concentração absoluta. Foram levados a autoconvencerem-se que podem ganhar qualquer jogo em qualquer parte do mundo porque em cada partida os jogadores conseguem, enquanto equipe, entender todos os momentos do jogo.

Foi essencialmente por isso que ontem vencemos o Palmeiras, um dos quatro candidatos ao título no início do campeonato, já depois de termos vencido os outros três candidatos badalados pela mídia: Atlético Mineiro, Flamengo e Fluminense. Dentro e fora de casa. Em qualquer estádio, em qualquer parte do país, quiçá do mundo.

Este Botafogo é muito mais do que parece, é muito mais do que se vê: é profundo, articula mentalidade, tática, técnica e físico com ética, caráter e resiliência.

Não joga de uma só forma como muitos apregoam: é uma equipe em metamorfose constante, que entende o que fazer a cada momento do jogo, segundo as características dos adversários e desdobra-se em 4-2-3-1, 4-5-1, 4-3-3, etc. de acordo com aquilo que o seu jogo necessita para dobrar o adversário, seja pela persistência do ataque se o adversário quebrar, seja pela consistência da defesa e oportunidades de contra ataque.

Por isso ganha jogando bem e ganha jogando mal, ganha no seu gramado sintético e ganha nos gramados naturais dos adversários. Ganha também muitas vezes com menos posse de bola, menos remates totais, menos chutes enquadrados na baliza, menos escanteios, menos faltas a favor, menos, menos, menos… de modo a que com menos se consiga fazer mais, de modo a que 1+1+1+1+1+1+1+1+1+1+1 não sejam apenas 11 peças, mas sim uma equipe consistente, resiliente, solidária e sustentável no tempo, que quer vencer e sabe vencer.

Sobre o jogo propriamente dito?... Ah, meus amigos, está tudo explicado nas palavras que escrevi – à excepção de a equipe também contar com uma oportuna ‘estrelinha da sorte’, ressalvando-se, no entanto, que geralmente só tem sorte quem a procura.

O Clube é estruturalmente outro e a equipe estruturalmente outra; as vitórias são o resultado de toda essa dinâmica interna que – após certos desentendimentos ultrapassados – acabou por contagiar uma torcida que está coesa e joga com a equipe num momento único na história do Glorioso em que a mentalidade vencedora regressou renovada, qual Fénix renascida e duradoura para alegria eterna dos seus Torcedores.

E por agora só falta que as extraordinárias capacidades de John Textor e de Luís Castro se mostrem discernentes e se decidam de uma vez por todas: um trazendo reforços para as disputas das duas provas que lideramos; o outro proclamando o “Fico!”

FICHA TÉCNICA

Botafogo 1x0 Palmeiras

» Gols: Tiquinho Soares, aos 27’

» Local: Allianz Parque, em São Paul (SP)

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 25.06.2023

» Público: 38.877 pagantes

» Renda: R$ 4.160.197,59

» Árbitro: Anderson Daronco (RS): Assistentes: Rafael da Silva Alves (RS) e Kleber Lúcio Gil (SC); VAR: Rafael Traci (SC)

» Disciplina: Tchê Tchê, Danilo Barbosa e Matheus Nascimento (Botafogo) e Abel Ferreira (Palmeiras);

» Botafogo: Lucas Perri; Rafael (Di Placido), Adryelson, Victor Cuesta e Hugo; Marlon Freitas, Tchê Tchê (Danilo Barbosa) e Eduardo; Júnior Santos (Matías Segovia), Tiquinho Soares (Matheus Nascimento) e Victor Sá (Luís Henrique). Técnico: Luís Castro.

» Palmeiras: Weverton; Mayke (Endrick), Luan, Gustavo Gómez e Piquerez; Zé Rafael, Richard Ríos (Flaco López) e Raphael Veiga (Jhon Jhon); Artur (Luís Guilherme), Rony e Dudu (Bruno Tabata). Técnico: Abel Ferreira.

12 comentários:

jornal da grande natal disse...

Daqui a mil anos quem quiser entender o momento botafoguense a fonte fidedigna serão os comentários de Ruy Moura. Pode crer!

Sergio disse...

Perfeita a análise do Botafogo, corroborada pelo ótimo comentário do Jornal da grande natal.
Tirando o pênalti infantil do Di Plácido, eu gostei muito do time do Botafogo, mas destaco o Adryelson, que zagueiro! Tiquinho como sempre fundamental e joga muito, o pequeno Segovinha que infernizou a defesa do Palmeiras, jogo muito esse garoto, mas vou destacar a atuação do Rafael, que jogou muito, anulou o perigoso Dudu e, no meu modo de entender, o Rafael precisava de uma atuação como essa para se afirmar.
O que me chama a atenção é ainda ler comentários dando conta que o Luís Castro é um técnico comum que insiste num 4 3 3!? Será que tem gente que ainda não percebeu que o time do Botafogo não joga no mesmo esquema o jogo todo e que para cada adversário a estratégia muda, ou melhor, se adapta ao adversário em questão? Luís Castro não é, digamos, perfeito ou o melhor que há, mas conhece de futebol, sabe potencializar os seus jogadores e sabe ler uma partida. Quanto a potencializar seus jogadores, basta ver a produção do Tchê Tchê reserva do seu antigo time, Cuesta dispensado do Internacional, o crescimento do Hugo, que se não é um grande lateral mas melhorou muito, ganhando inclusive confiança, e por aí vai.
Espero que o Castro fique e que não saia ninguém do elenco, pelo contrário, que venham reforços. Se isso acontecer teremos grandes chances de disputar o título e ficar nas primeiras posições. O Botafogo será o campeão? Difícil dizer faltando ainda 26 rodadas num campeonato tão disputado, mas tem grandes chances. ABS e SB!

Ruy Moura disse...

Companheiro, finalmente serei eternizado lido daqui a mil anos! (rs) É muito gentil comigo, meu amigo. Obrigado!
Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Sergio, li em diversos sítios que o Tiquinho tinha sido o melhor em campo. Confesso que não concordo. Esteve sumido até ao gol e só apareceu e ganhou fama (justa, diga-se) após o gol. Mais um gol tecnicamente difícil de marcar, mas dali o Tiquinho faz remates cururgicos e vencedores. Depois tornou-se uma peça fundamental, mas quem me encheu oolho foi o Rafael. Julguei que nunca mais retrnaria ao seu futebol, mas colocou o Dudu no bolso e contrinuiu decisivamente para que os infrutíferos ataques vãos do Palmeiras fossem destinados ao fracasso.

O Adryelson não tem boa saída de bola, mas a despachá-la para longe é exímio! Cuesta tem melhor saída de bola.

O Di Placido parece pouco maduro para a idade. Não me parece equilibrado para a equipe.

O Matías Segovia é muito bom, mas dificilmente conseguirá jogar uma partida inteira, porque se cansa com alguma facilidade. Precisa de ir ao ginásio de musculação mais vezes. Na sua equipe era substituído normalmente aos 70'. O Castro faz o inverso: utiliza-o na segunda parte para desbaratar defesas já desgastadas. Funciona.

Sobre corneteiros que não percebem, ou não querem perceber, o papel decisivo do LC para a configuração e montagem da equipe, não vale a pena comentar. Só vale a pena comentar quando são críticas racionais e construtivas.

Sobre a eventual saída do Castro não me quero pronunciar. Aguardarei serenamente a sua decisão e depois tomarei a minha na qaulidade de editor do Mundo Botafogo.

Abraços Gloriosos.

jornal da grande natal disse...

Bem observado a wuestao do esquema múltiplo. Com jogadores velozes, hoje em dia, sem O estilo cadenciado de outrora, estão aposentados o 4 4 2, o 4 3 3, o WM, etc. Agora o estilo trata-se da sanfona junina. Se dança conforme a música orquestrada pelo maestro botafoguense

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o JORNAL DA GRANDE NATAL. Sim, meu querido, aquele que quiser conhecer com profundidade o GLORIOSO, não poderá JAMIAIS abrir mão de teus fabulosos comentários, postados desde 2007 , no blogue criado por ti. Todos nós BOTAFOGENSES temos um orgulho imenso da tua capacidade de esmiuçar com maestria tudo o que se refere ao Botafogo. És único ,apenas comparável à estrela solitária que ilumina o FOGÃO!
BEIJOS AFOGUEADOS!!!!

Ruy Moura disse...

Ah!... Essa ainda não me teinha lembrado, Vanilson: sanfona junina. É exatamente isso! Além da diversidade é boa música para... os nossos olhos!
Abraços Gloriosos.

Ruy Moura disse...

Sempre muito generosa nos seus elogios. Porém, a Estrela e Rainha do blogue eras tu, e o Rei nosso amado Sérgio. Saudades desses momentos inéditos de lazer cultural e alegre diversão dando ao ócio um soberbo caráter mágico.
Beijs Eternos!

jornal da grande natal disse...

Acho até que alguns comentários poderiam ser selecionados e transformados em livro. Uns 100 já está de bom tamanho. A internet tem importância, mas a fonte impressa fideliza as informações para consultas posteriores.

Ruy Moura disse...

Seria uma hipótese, incluindo mais de 50 comentários que fiz no extinto Arena Alvinegra. Mas o meu tempo é muito escasso, porque continuo tendo muita ocupação acadêmica e profissional, o blogue toma bastante tempo e ainda há o resto da vida. Filhas, netos, férias, lazer... Complicado... Mas a ideia é boa, com certeza!

Abraços Gloriosos.

jornal da grande natal disse...

Não conhecia o Arena. Agora fiquei curioso pra ver os artigos dele. Se estão arquivados seria bom reproduzir no Mundo. Aos poucos, claro, para quem não viu. Na entressafra do futebol...

Ruy Moura disse...

Tenho arquivado. São uns 52. Do período Cuca 2007-2009. Participa nessa época no Canal Botafogo e estava lançando o Mundo Botafogo. Acabei sendo convidado para criar o Arena Alvinegra pelo Macau (educador) e com a Cristina Saraiva (música) e a Pamella Lima (jornalista). Entretanto abandonei o Canal Botafogo porque ficou descontrolado e os comentários passaram a muito baixo nível com muito palavrão à mistura.

Escrevi em vários outros sites como convidado, mas a pouco e pouco concentrei-me na pesquisa e cmpilação da história do Botafogo e deixei de escrever nesses sites.

Voltarei ao assunto com mais tempo, Vanilson. Nem me lembro já muito bem o que escrevi.

Abraços Gloriosos.

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