por LÚCIA SENNA | Escritora e Cantora | Cronista do Mundo Botafogo
Meus
caros, venho aqui compartilhar com vocês uma teoria intrigante: a tal da água
com memória. Pois é, andam dizendo que a água – sim, a mesma H20 que usamos
para matar a sede e fazer aquela limonada refrescante, tem memória. Pode isso,
Arnaldo?
Se
isso é verdade, minha garrafinha deve ser uma verdadeira enciclopédia
ambulante. Só espero que ela tenha um filtro de memória para guardar apenas as
coisas boas.
Espero
que ela tenha esquecido, embora duvide muito, do tempo que ficou perdida na
geladeira, escondida atrás de uma alface murcha. Será que ela guarda mágoas por
ter sido esquecida lá atrás, entre os potes de comida chinesa esquecida de um delivery?
Eu
já me vejo tendo uma conversa séria com minha garrafa de água, procurando
ajudá-la a resolver suas angústias: “peço desculpas, querida água, por te
deixar tão maltratada na geladeira. Prometo que vou ser mais atenciosa, mas da
próxima vez, tente não ter tantas memórias, tá?
Pois
é, mas se essa tal água com memória se recordar de tudo o que acontece à sua
volta – COITADA – deve andar traumatizada com o tanto de vezes que derramei um
mar de lágrimas no chuveiro, por situações as mais variadas possíveis. Ah, água
querida, se teu estresse for por causa desses momentos turbulentos, por favor,
esqueça tudo. Mas se precisares de terapia, estou aqui pra te ajudar.
Meu
medo é que essa água acabe por revelar todas as minhas trapalhadas na cozinha.
Não quero de forma alguma imaginar a minha água lembrando do dia que tentei
fazer uma sopa sofisticada que aprendi com a minha amiga francesa, e o
resultado foi uma catástrofe gastronômica. Tomara que ela guarde com carinho, o
dia em que decidi fazer uma vitamina de frutas no liquidificador, esquecendo de
tampá-lo. Precisei de uma pipa d’agua pra faxinar a cozinha.
Já
me peguei até em pensamentos filosóficos, imaginando a conversa da minha água
engarrafada com as gotinhas da chuva lá fora. Enquanto a água engarrafada se
sentia toda importante dentro do seu bonito recipiente, as gotinhas de chuva lá
fora, também tinham suas histórias pra compartilhar:
“Ei,
você aí, já viu o que acontece quando somos vapor e voltamos a terra? É
uma grande aventura“,
comentava uma gotinha.
“Ah, sim, claro, eu vi vocês dançando com o vento e caindo na grama.
Isso aí, pareceu um verdadeiro balé líquido”, respondia a água da garrafa, já se
imaginando fazendo piruetas, na sua próxima viagem à geladeira.
“E
você, sempre nessa garrafa, deve ser entediante, não?”
“Não se engane, minha amiga, aqui dentro já ouvi de tudo um pouco:
conversas de parabéns em festas, discussões sobre a vida e até conselhos
amorosos. E
vocês? Viagens interessantes pelo mundo?”
“Ah, sempre
em movimento, deslizando pelos telhados, saltitando pelas folhas, mas de vez em
quando, aterrissamos em lugares bem estranhos, como as poças de lama dos
buracos das ruas.”
“Ah, isso deve ser horrível, cair nessas poças sujas! Não posso nem
imaginar o tanto que isso deve ser desagradável! Sabe, às vezes, eu também
passo por situações bem complicadas. Uma vez fui parar num copo com umas
pedrinhas de gelo e... bom, você pode imaginar a confusão que isso foi. “
E
a água engarrafada, do alto da sua experiência, prosseguiu filosofando:
“Nossa natureza, gotinha, é sábia: não perdemos tempo argumentando com
obstáculos; simplesmente os contornamos e seguimos em frente. E, caso alguma
situação estressante venha te aborrecer, não te esqueças, minha garota, que até
as tempestades passam. No final das contas, isso tudo vira apenas mais uma
história pra contar.”
A
gotinha, com olhos úmidos de emoção, fitou a água engarrafada e disse
suavemente:
“A
sua sabedoria é como um oceano profundo que me encanta. Suas palavras são
como melodias suaves que dançam em meus ouvidos. Ah, água engarrafada, você é o
reflexo do equilíbrio e da serenidade em meio ao nosso mundo líquido. Obrigada
por ser meu farol de compreensão em meio a tantas dúvidas. Quem diria que um
simples encontro como este, poderia transformar o meu ser, em algo tão, tão
especial... “
34 comentários:
Oi, Lúcia! Já começo o meu comentário com uma boa risada rsrsrs
Uma graça de texto! Fiquei louca pela gotinha, a personificação da liberdade!!!
Parabéns, amiga!!! Letícia
Boa tarde, Lúcia Senna! Tua criatividade, já comprovada em versos e prosas,é sempre notável! O diálogo entre uma gota e uma água presa numa garrafa, é surpreendente. Abraços Gloriosos! João Martini
Oi, amiga
Se a água tem memória, eu não sei, mas que você tem uma cabeça cheia de ideias engraçadas...ah, disso não há como duvidar (rsrss )
Beijão, sua maluquinha querida!
Clara
Lúcia, minha prima, você sabe muito bem quão romantica sou. Portanto, amei a relação da gotinha com a garrafa filósofa. Vislumbrei um climão entre os dois - hahahaha. Ah, adoro histórias de amor, mas nunca imaginei uma relação lírica no mundo líquido. ..
Sensacional! Lourdes coelho.
Oi, querida cronista!
Essa água com memória está dando o que falar...quando você diz que a água engarrafada ficou magoada por estar escondida na geladeira atrás de uma alface murcha...me acabei de tanto rir... só você, minha cara, pra escrever coisastão divertidas...
Um grande abraço,
Celso Rodrigues
Como sou também bastante desastrado, Lúcia, a minha garrafa de água, que levo todos os dias para a academia, teria muitas histórias pra compartilhar com a sua. Seu texto é delicioso! Parabéns por mais essa crônica cômica. GUILHERME.
Sempre gosto de ler os comentários dos leitores e concordo plenamente com o texto da leitora Clara , quando diz que a nossa cronista tem a cabeça fervilhante de ideias engraçadas. Muito bom mesmo! Gloriosos abraços,
Costa Neto
Oi, Le
A gotinha é muito fofa e já se deixou seduzir pelo garanhao da garrafa - rsrsrs.
Obrigada, amigona!
Beijos 💋
Oi, João! Desde que li o texto da minha colega e amiga SOL ( que fez sua estreia aqui no blogue há alguns dias) comecei a imaginar algumas situações engraçadas sobre essa história da água ter memória. Daí, nasceu essa crônica e consequentemente, o diálogo lírico entre a gota e a água engarrafada. Que bom que você gostou. OBRIGADA pelo gentil retorno.
Oi,Clarinha!
Adorei o " maluquinha querida".
Beijocas .
Oi,prima...
Também jamais poderia pensar em escrever uma crônica tão líquida assim... menos ainda que uma gota pudesse se apaixonar por uma água engarrafada...
Enfim, sinal dos tempos...rsrsrs
Beijão,
Pois então, Celso, essa novidade de água com memória, está me deixando com a sensibilidade bastante aflorada . Acabei com sentimentos de culpa ao perceber que a minha água engarrafada estava maguadissma por ter sido esquecida atrás da tal alface murcha na geladeira...
Eu,heimmmm...acho que estou ficando maluca...rsrsrs
Abração, Celso!
Ah, Guilherme, quantas histórias hilarias nossas garrafinhas teriam pra compartilhar...rsrsrs
Obrigada pelo gostoso comentário.
Abração!
É que essa ideia de que a água tem memória, com um pouquinho de imaginação, já dá pra bolar situações surreais. Foi o que tentei fazer e parece que deu certo, a tirar pelos deliciosos comentários de todos vocês, meus caros leitores . Só tenho a te agradecer pela gentileza de sempre.
Abração!
Que amor de diálogo entre a gotinha da chuva e água engarrafada. Ele é um gentlement e muito sedutor. Ela , claro, ficou sensibilizada com o equilibro e a sabedoria do " rapaz ".
Ficou com gosto de " quero mais " .
Beijão da Sandra.
Quem sabe, Sandra, esse amor entre os dois, não possa dar novas gotinhas ou aguinhas engarrafadas ? Quem sabe ?
Beijocas!
Quem diria que a nossa amada H20 tem memória ... ela, agora é a bola da vez e a INTERNET está repleta de matérias sobre isso. Dessa vez, é a nossa Lúcia Senna deixando a ciência de lado e pondo no lugar o seu fantástico senso de humor , nos deixando rindo com as suas criações hilárias. Valeu, Lúcia!!!!
Joaquim Alves.
Bom dia, Joaquim!
Que bom acordar cedinho e acessando o nosso blogue , encontrar um comentário tão especial assim.
Pois é...dessa vez foi a ciência que me deu margem pra colocar umas pitadas de humor no texto. Jogar uma lufada de ar fresco em uma senhora séria, não traz nenhuma contraindicação, não é mesmo? rsrsrs
Que tenhas um ótimo dia!
Abração!!!
Lucia, querida cronista!
O que você é mesmo é uma notável contadora de histórias.
Parabéns por mais esse texto !
Vini
Oi, minha amigona!!!!
Tive o prazer de ouvir o audio dessa crônica com a sua deliciosa interpretação , fazendo as vozes da gotinha, toda feminina e do ar filosófico da água engarrafada. Lamento os leitores do blogue não terem essa oportunidade.
beijão da ANA
Bom dia, Lúcia Senna!
Dei uma lida em todos os comentários aqui publicados e percebo que não me resta nada a acrescentar, exceto te dar meus parabéns por me fazer rir com seus personagens tão divertidos. EDSON.
Começo perguntando ao Ruy, onde encontrou essa peça? hahaha.
Refiro-me a essa cronista genial que me fez dar boas risadas. Sou leitor do blog há poucos dias, atraído pelo GLORIOSO e, no entanto, bem, deixa pra lá...
Sendo a cronista colaboradora do blog, como faço para encontrar outros textos? Abraços Gloriosos. REGINALDO MENEZES
Lucia querida, vc cumpriu o q prometeu em seu comentário sobre minha crônica de 28/11 - A água tem memória!
Seu bem humorado texto sobre o diálogo entre a ingênua gotinha e água filósofa me trouxe outras inspirações e despertou outras memórias! Parabéns pela criatividade!
Sol de Anlarec
Amigo Reginaldo Menezes, seja bem-vindo ao Mundo Botafogo!
Don Quixote encontrou Dulcineia del Toboso em junho de 2016. Desde aí até agora - com interrupção durante os anos do COVID-19 - a cronista-cantora publicou 80 crônicas no blogue. Encontra-as na aba direita do blogue em Etiquetas e aí verá a etiqueta 'letras lúciasenna' com todas as suas crônicas.
Porém, também aconselho adquirir o livro que posteriormente foi editado com uma seleção especial dessas crônicas (com Prefácio do editor do Mundo Botafogo e Prefacinho de um delicioso jovem de 11 anos): https://mundobotafogo.blogspot.com/2023/09/no-embalo-da-rede-lucia-senna-em.html a um preço muito simpático.
Abraços Gloriosos.
Bom dia, Sol!
Duas crônicas complementadas na perfeição! Muito obrigado às duas cronistas!
Grande abraço Alvinegro!
Bom dia,Vini!
Amei seu comentário!
Apareça mais vezes...
Estou tendo somente agora o prazer em te ter entre meus leitores. Por onde você andava ?rsrs...
Brincadeiras à parte, obrigada pelo retorno . Abração!
Ah, lindona!!!
Bem...confesso que gosto muito de ler as crônicas que faço . Continuarei te enviando os áudios, se me permites, é claro.
Beijocas,
Ah, Edson...você e as suas gentilezas que , confesso,me fazem um bem danado.
Obrigada por me acompanhar desde os idos de 2016, quando tive a felicidade de ser aceita pelo Ruy .
Oi,Ruy
Obrigada pelo comentário tão bonito e que me trouxe recordações lindas destes 7 anos de blogue e ...não só.
" ...só nós dois é que sabemos,o quanto nos queremos bem..."
Te agradeço por tudo e por tanto!!!
Beijos 💋 💋 💋
Que interessante, curti demais
SOL, amiga enSOLarada!
Se não fosse pela tua crônica sobre A ÁGUA TEM MEMÓRIA jamais teria escrito uma linha sequer sobre tão inusitada questão. Sendo assim,só tenho a te agradecer por teres sido a minha grande inspiração ! E se a partir dessa crônica, outras inspirações estão te chegando, tanto melhor.
Esse mundo líquido está nos saindo melhor que a encomenda!
Beijão!
Obrigado, Ruy Moura , pelas informações que cordialmente me deste. Encontrei o caminho das pedras douradas e já estou me deliciando com as crônicas dessa escritora inteligente e que com muita graça e fino humor nos prende na leitura desde o primeiro parágrafo até o último.
Lucia Senna é um achado! Parabéns pela descoberta!
Do já amigo, Reginaldo Menezes
Glorioso Abração, amigo Reginaldo!
Esse comentário foi do Raphinha. Saiu no meu nome já que fez no meu celular.
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