quinta-feira, 17 de abril de 2025

Botafogo 2x2 São Paulo - entre a ficção e a realidade

Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

O Mundo Botafogo tem vindo a afirmar que se o ‘crescimento’ da equipe mantiver o mesmo ritmo chegará atrasada para seguir na Libertadores, para alcançar um lugar seguro no G4 e para fazer boa figura no Mundial de Clubes.

A base mais remota deste atraso radica, naturalmente, na incompreensível e absurda gestão de John Textor em 2025, mas a razão mais recente, na opinião do Mundo Botafogo, deve-se à incompreensão de Renato Paiva em perceber o contexto da equipe e o essencial para a arrumar.

Confesso que a veia atacante de técnicos com um modesto palmarés sempre me fizeram soar os alarmes, porque se cada qual – sem perder os seus sonhos – souber reconhecer as suas virtudes e as limitações que encontra em determinados contextos, percebe que não pode contar apenas com a sua ‘teoria’, até porque as teorias, sendo um instrumento essencial para concretizações práticas, só são boas quando se adequam aos contextos – e consequentemente as teorias são elas mesmas transformadas face ao contexto e seguidamente aos resultados de cada prática.

Foi isso que Luís Castro – muito tardiamente e porque se sentia acossado pela realidade – percebeu e conseguiu a metamorfose mais de um ano depois de ter iniciado funções, isto é, conseguiu compreender que a sua ficção não funcionava nem no contexto nem com as características da equipe e passou a construir uma defesa quase intransponível, dando bola ao adversário e matando-lhe a eficácia para, em contra-ataques letais, ganhar jogos praticamente com um único remate à baliza adversária.

Não estou dizendo que Renato Paiva deve fazer o mesmo; o que digo é que tem de olhar o contexto, compreender as melhores características dos jogadores de que dispõe, fechar a defesa com marcações cerradas que não fazemos, encontrar as melhores soluções para saída de bola e a sua imediata circulação pelo meio-campo visando o ataque. Que tanto pode ser – e alternar faz bem – através de jogadas articuladas na grama em busca do erro adversário ou através de contra-ataques fulminantes que esta equipe não consegue concretizar em tempo hábil e em velocidade com a bola dominada.

Dou a Renato Paiva o benefício da dúvida quanto às suas capacidades para conduzir um campeão brasileiro e sul-americano, mas se não o conseguir fazer em tempo útil, o problema é mais dele do que dos jogadores que, diga-se, não estão rendendo o que renderam em 2024 – um Marlon Freitas sem reação de marcação metido no bolso por Ferreirinha, ou uma dupla de zaga (com Barboza abaixo do seu rendimento habitual) que deixa um jogador são-paulino sozinho num enorme clarão dentro da grande área (com responsabilidades para Jair e Barboza), ou laterais (Vitinho e Cuiabano) que não regressam atempadamente e não são devidamente cobertos na retaguarda, desalinhando a zaga que vai socorrer os espaços vazios, são problemas de marcação intensiva e rigorosa, de posicionamento da dupla de zaga, de capacidade de movimentação da frente para trás.

Para o caso não interessa discutir se a arbitragem anulou bem ou mal o penâlti apitado pelo árbitro a nosso favor (assunto que inevitavelmente temos de esperar a cada jogo em nosso desfavor) ou se poderíamos ter ganho se não fosse Rafael e alguns remates desafinados – porque tanto na 1ª parte do jogo como já no final da partida, o São Paulo conseguia atacar com facilidade e, num golpe de sorte adversária, poderíamos ter perdido o jogo.

Interessa-nos discutir sobre uma equipe que não faz marcação cerrada aos adversários, que a zaga não consegue entender-se e posicionar-se adequadamente, que volantes e zagueiros têm de sair dos seus esquemas para cobrir bolas nas costas dos laterais. Além, evidentemente, de um meio-campo que perdido por essa desarticulação também perde a capacidade criativa de municiar o ataque com passes cirúrgicos para um Igor Jesus incansável, mas quase sempre lutando isoladamente contra as linhas de 4 e de 5 dos adversários.

Em suma, a equipe apresenta alguns bons momentos, mas o que ressalta é a permanente desarticulação entre as linhas, a falta de mecanização posicional dos atletas face a tal desarticulação, a fraquíssima intensidade na marcação aos adversários, a incipiente recuperação de segundas bolas, as decisões erradas de passes por falta da mencionada mecanização, enfim, a desarmonia clara entre os três setores de linha.

O ponto de partida de Renato Paiva deveria ter sido o modelo de jogo de Artur Jorge. Não o fez e agora tem de arrepiar caminho do seu modelo teórico para um modelo contingencial que supra as falhas aqui apontadas e conseguir que além de tirar dos seus jogadores as melhores características e capacidades técnicas consiga insuflar-lhes uma dinâmica que associe as melhores capacidades técnicas de cada atleta à intensidade de atuação e à vontade inabalável de vencer.

Depois da Glória a sensação atual é de grande frustração dos torcedores e incompreensão sobre os diversos erros cometidos pela comissão técnica fruto da sua incompreensão do contexto e de como moldar da melhor maneira a matéria-prima ao seu dispor – cujos jogadores titulares são maioritariamente os mesmos de 2024!

Sabe-se, pela teoria da destruição criadora, que quando se cria algo é destruído, mas o que é destruído deve sê-lo com critério visando inovações com o selo da criação.

Mudar sem critério com base exclusivamente na ficção teórica sem ligação às práticas que a realidade exige, não costuma ser bom sinal futurista. 

FICHA TÉCNICA

Botafogo 2x2 São Paulo

» Gols: Savarino, aos 23’, e Igor Jesus, aos 83’ (Botafogo); Ferreirinha, aos 20’, e André Silva, aos 45+12’ (São Paulo)

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 16.04.2025

» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)

» Público: 10.597 pagantes; 12.014 espectadores

» Renda: R$ 696.360,00

» Árbitro: Davi de Oliveira Lacerda (ES); Assistentes: Rafael da Silva Alves (RS) e Douglas Pagung (ES); VAR: Rodrigo D’Alonso Ferreira (SC)

» Disciplina: cartão amarelo – Matheus Alves, Ferreirinha, Luis Zubeldía, Arboleda e Rodriguinho (São Paulo)

» Botafogo: John; Vitinho (Mateo Ponte), Jair, Alexander Barboza e Cuiabano; Gregore (Patrick de Paula), Marlon Freitas e Savarino; Artur (Jeffinho), Igor Jesus e Matheus Martins (Mastriani). Técnico: Renato Paiva.

» São Paulo: Rafael; Arboleda, Alan Franco e Ferraresi (Rodriguinho); Cédric, Alisson, Marcos Antônio, Matheus Alves (Luciano) e Wendell (Enzo Díaz); Ferreirinha (Lucas Ferreira) e Calleri (André Silva). Técnico: Luis Zubeldía.

4 comentários:

Sergio disse...

Análise perfeita do momento do Botafogo, o que acrescentar? Eu diria que me parece que muitos parecem perdidos e sem entender a proposta do treinador, ou o treinador realmente não consegue se fazer entender. Entretanto não se pode negar que muitos jogadores não estão bem. Os erros de passes e as tomadas de decisão me parecem no mais das vezes equivocadas, demonstrando ou falta de confiança ou fora de forma. E eu vou dar dois exemplos: embora tenha sido um dos melhores em campo o Savarino perdeu um gol no começo do jogo que não é normal, pois essa jogada foi idêntica ao gol que ele fez contra o mesmo São Paulo no jogo final do brasileiro ano passado. Naquela ocasião ele olhou o goleiro e o encobriu, dessa vez ele simplesmente não fez o mesmo, me pareceu que olhou a bola a desferiu o chute sem olhar para o goleiro, essa foi a impressão que me passou. O outro lance foi no final do jogo, quando o Artur recebeu um bom lançamento do Marlon Freitas, tinha campo para progredir e atrair a marcação podendo deixar o Igor em condições de finalização, mas faz o inusitado, um cruzamento absolutamente sem o menor sentido. Aliás, o Artur parece sempre tomar as decisões equivocadas.
Mas não há dúvidas que o Renato Paiva precisa entender melhor o elenco e mudar a abordagem tática tal como fez o Luís Castro, pois infelizmente começou muito tarde a treinar a equipe devido a um planejamento muito errado, numa estratégia do começo da temporada que me pareceu muito desleixada, o que não pode acontecer quando se pretende gerir um clube de futebol de forma profissional. Tomara que haja uma mudança de rota.
Mas confesso que apesar do time não estar bem, o que está me cansando são os erros da arbitragem que acontecem sistematicamente contra o Botafogo, pois já são 2 pênaltis não marcados a favor do Botafogo, pelo menos me pareceram bastante claros. Ontem por exemplo, no ano passado contra o mesmo SP uma dividida com o Bastos num lance menos anormal que o de ontem o juiz bem titubeou em marcar a penalidade. A não ser que a regra agora tenha mudado, calçar um jogador e empurra-lo dentro da área não é mais pênalti, pelo menos para o Botafogo , assim como agarrar pela camisa como contra o Palmeiras não é infração
O mais irritante é que os beneficiados pela arbitragem são sempre os mesmos. Confesso, estou cansado de ver o Botafogo ser prejudicado há décadas. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

É bem verdade tudo o que diz, Sergio. No entanto, jogadores contextualizados a uma programação absurda do Botafogo para 2025 e a uma grande dificuldade de se definir um DNA claro, são grandes contributos para que os erros individuais surjam com mais facilidade.

A mudança de rota tem que ser muito urgentemente desenhada pelo técnico, sob pena de trilharmos caminhos irrevogavelmente ruins.

Sobre as arbitragens eu creio que já quase não me beliscam, de tão acostumado que estou ao deboche do apito - e o Textor não conseguiu mudar nada no que à arbitragem diz respeito. Pelo contrário, recolheu-se temerário a partir de certa altura. Precisamos é jogar muito mais que os outros. Veja que em 2024 perdemos imensos pontos no apito e ainda assim chegámos ao fim com 6 pontos de avanço! Se apito fosse imparcial acabávamos com 14-15 pontos de vantagem, tal a imensidão do nosso futebol jogado.

Pelo andar atual da carruagem o único título mais provável ao nosso alcance seria a Copa do Brasil. Ou será que RP ainda vai a tempo para algo mais se as promessas de Textor sobre reforços se concretizarem?

Abraços Gloriosos.

Sempre Botafogo disse...

Prezado Ruy, quero parabenizá-lo pelo texto. E agora, ouvi do próprio Renato Paiva que o Botafogo de 2024 não existe mais. Isto me preocupou muito! Antes, pensava que bastava manter a base campeã da equipe que, com ajustes, seguiríamos forte perante nossos adversários. Mas, temo que teremos muitas agonias este ano.
Saudações botafoguenses

Ruy Moura disse...

Meu caro amigo, juntos já passamos por alegrias e tristezas a longo dos últimos anos, qual carrocel que sobe tão abruptamente quanto desce bruscamente. Infelizmente estamos a habituados a tais situações radicais, e tal como subimos abruptamente em 2004, também descemos bruscamente em 2025. Não vejo neste ano um futuro semelhante a 2024. Textor, que não entende de futebol nem dentro nem fora das quatro linhas, destroçou a dinâmica, a moral e a vontade de vencer da nossa equipe.
Abraços Gloriosos.

Botafogo Campeão Metropolitano Sub-12 (todos os resultados)

Equipe completa. Crédito: Arthur Barreto / Botafogo. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo O Botafogo sagrou-se Campeão Metropolitano...