por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
A partida contra o Estudiantes terá sido testemunha do
melhor desempenho na temporada. A equipe teve posse de bola, mas não uma posse
inócua que não dá medo a ninguém, pelo contrário, uma posse com cara de gol. No
entanto, o Estudiantes jogando com uma linha de 5 e outra de 4 próximo à sua área,
às vezes fazendo mesmo uma linha de 6, retardou muito o gol do Botafogo.
Todavia, apesar disso, houve oportunidades de gol, pelo
menos para Cuiabano e Igor Jesus. O Botafogo jogava em todo o campo, fazia
triangulações, mudanças de flanco, jogava pelas laterais e por dentro,
movimentava-se com rapidez, antecipava-se muito bem às bolas divididas, marcava
bem e a defesa mantinha-se coesa.
Os cruzamentos de Cuiabano pela esquerda e os de Artur
pela direita desmantelavam as linhas de 5 e de 6 do Estudiantes, e quando a 1ª
parte estava em vias de terminar injustamente em zero a zero, Artur, numa noite
memorável em que estraçalhou a defesa contrária, mudou de flanco, apareceu não
pela direita, mas pela esquerda, recebeu um lançamento longo de Jair, cruzou a
bola tensa e rasteira para o segundo poste e Rwan, aparecendo de rompante,
estufou as redes sem apelo nem agravo. Botafogo 1x0.
No caso, vale a pena uma nota para Jair: Bastos é mais
zagueiro do que Jair (até mesmo devido à experiência de um e outro), mas Jair
faz algo que Bastos não faz: tem uma saída de bola muito boa e consegue
municiar o ataque da equipe.
Porém, 1x0 era pouco para a produção do Botafogo no 1º
tempo; era preciso continuar a ousar criar e ousar lutar para vencer com
solidez. E logo no reinício da partida, após muitos escanteios cedidos ao longo
do jogo pelo adversário, o goleiro falhou a interceção de um deles e Igor Jesus
aproveitou para cabecear para o fundo das redes. Botafogo 2x0.
A equipe despendera muitas energias e era tempo de
acalmar o jogo, sem perder de vista uma terceira oportunidade para ampliar e
cravar definitivamente a vitória. Porém, o árbitro tirou um ‘coelho’ do vácuo,
ou de algum buraco negro do seu bolso, e decretou uma grande penalidade contra
o Botafogo. John acertou no canto, como sempre, mas também como sempre, nunca
consegue chegar a tempo. Botafogo 2x1.
Sobre John, que é um excelente goleiro, devo dizer que
necessita de ser mais cauteloso nas saídas de bola, porque ontem como noutras
ocasiões, entregou a bola ao atacante e por pouco não tomávamos um gol. E deve treinar mais penalidades máximas porque costuma acertar no canto para o qual a bola é rematada.
Com o Estudiantes a voltar ao jogo e com as substituições
dos argentinos para refrescar a equipe, o Botafogo caiu de produção,
desligou-se da sólida organização que mantivera até aí e o Estudiantes acabou
por empatar a partida: 2x2.
Noutros tempos a equipe murcharia, a torcida virava 'cri-cri' e o
adversário daria a volta ao marcador. Mas isso era noutros tempos.
Como diria Heleno de Freitas, “o Botafogo não é sítio
para covardes”, e a coragem faz cada vez mais parte do nosso DNA de campeões.
Numa noite memorável, que nos recoloca na luta pela classificação às
oitavas-de-final, Marlon Freitas lançou espetacularmente Artur que, marcado por
dois adversários conseguiu ludibriá-los ‘à lá Garrincha’, passou por entre eles
com um toque mágico na bola e disparou inapelavelmente para o gol da vitória:
Botafogo 3x2.
O sucessor de Luís Henrique apresentou-se, finalmente, para renovar a consagração da gloriosa CAMISA 7!
Foi a vitória da Alma Botafoguense como se aquela torcida
e aquela Camisa estivessem umbilicalmente ligadas no momento mais crucial do
desafio!
Os argentinos, que esperavam manter o empate ou fazer a
reviravolta do placar, foram simplesmente dominados até ao fim por uma gestão
de jogo impecável que nos salvou de quaisquer novas aflições.
Renato Paiva vai continuar à frente do Botafogo, com algumas virtudes e com alguns defeitos. Por isso, necessita corrigir certos aspectos, designadamente, face ao jogo de ontem, melhorar os tempos de substituições, selecionar melhor essas substituições, sobretudo porque os reservas qualitativamente viáveis são poucos, gerir melhor o condicionamento físico dos atletas ao longo do jogo para evitar oscilações drásticas e reforçar a crença de que qualquer jogo que comece com mau resultado para nós no início, ou que estejamos à beira de uma reviravolta favorável ao adversário durante a partida, é possível de reverter em nosso favor com a coragem e a resiliência associadas à capacidade técnica que a equipe demonstrou contra o Estudiantes.
Paiva esteve bem ao analisar todas as componentes de performance e manter Artur em campo apesar do desgaste, porque tem a noção claríssima que um craque - e sobretudo em noite inspirada - pode mudar o destino de um jogo a qualquer momento com jogadas mágicas.
Em suma, foi uma vitória justíssima, numa partida muito bem jogada, em
que tivemos 60% de posse de bola, 9 escanteios contra 1, 20 remates contra 7 do
Estudiantes, sendo que à baliza foram 6 contra 4 e, sobretudo, as grandes oportunidades
de gol foram 5 ou 6 contra 1, ou melhor, contra 2, porque a arbitragem criou uma
grande oportunidade que o adversário não desperdiçou.
Se o que jogamos ontem for para continuar e consolidar,
dir-se-á, apesar de se ter atrasado por três meses a contratação de uma
comissão técnica, que ainda temos temporada, se novos reforços chegarem, para
fazer valer as nossas capacidades.
FICHA
TÉCNICA
Botafogo 3x2 Estudiantes
» Gols: Rwan Cruz, aos 42’, Igor Jesus, aos 51’, e Artur,
aos 84’ (Botafogo); Tiago Palacios, aos 62’ (pen) e 76’ (Estudiantes)
» Competição: Copa Libertadores da América
» Data: 14.05.2025
» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Público: 24.691 pagantes; 26.613 espectadores
» Renda: R$ 1.179.269,50
» Árbitro: Juan
Benítez (Paraguai): Assistentes: Eduardo
Cardozo (Paraguai e Júlio Aranda (Paraguai); VAR: Ulises Mereles (Paraguai)
» Disciplina: cartão
amarelos – Cuiabano (Botafogo); Ascacibar,
Arzmanedía e Meza (Estudiantes)
» Botafogo: John; Vitinho (Mateo Ponte), Jair, David Ricardo e Alex Telles
(Jeffinho); Gregore e Marlon Freitas (Allan); Artur (Danilo Barbosa), Rwan Cruz
(Nathan Fernandes), Igor Jesus e Cuiabano. Técnico: Renato Paiva.
» Estudiantes: Mansilla; Meza, Santiago Núñez, Boselli (Cetré),
Facundo Rodríguez e Arzamendía (Tobio); Gabriel Neves (Piovi), José Sosa
(Farías), Ascacibar e Palacios; Lucas Alario (Luciano Giménez). Técnico:
Eduardo Domínguez.
8 comentários:
Subscrevo as palavras do editor.
Além da mística da 7, e do apoio massivo do maior patrimônio botafoguense - sua torcida -, houve ainda um elemento metafísico que acredito ter influenciado ontem: Aquele que dá nome ao estádio. Lembra-se que na última rodada do Brasileirão 2013, altura em que Nilton Santos falecera, o time do Oswaldo Oliveira, que vinha caindo de rendimento, teve uma atuação de gala fazendo 3 a 0 no Criciúma e classificando o Botafogo para uma Libertadores após 17 ou 18 anos? Ontem iniciaram as celebrações do centenário do eterno camisa 6. Coincidência ou não, tivemos aquele 'Absolute Cinema' que vimos, rs.
Não é o 7, mas é o 17 (que foi do Herrera): Marlon Freitas chegou a 33 jogos internacionais (oficiais) disputados com a camisa botafoguense, tornando-se o maior atleta do clube no quesito - além de ser quem mais vestiu a gloriosa na Libertadores e estar muito próximo de tornar-se o jogador com mais partidas da 'Era SAF'.
Que análise perfeita do jogo de ontem, vi o mesmo jogo que você.
Infelizmente, parece que muitos comentários de torcedores estão mais preocupados em criticar o Renato Paiva do que aceitar que gradativamente está entendo melhor o elenco e tendo estratégias interessantes, como colocar dois centro avantes e deixar o Artur flutuando no ataque, pois um gol saiu de jogada pela esquerda e outro pela direita. E o que mais me cama atenção no Paiva, é que ele faz uma análise bastante correta sobre o jogo e dos erros que cometeu.l, e isso é bom.
Na minha visão o pênalti inventado pelo soprador (seria um burro paraguaio) desnorteou o Botafogo, que perdeu perdeu a pegada e além disso as substituições do Estudiantes surtiram efeito e o Paiva demorou a perceber isso.
O destaque sem dúvida foi o Artur, essa camisa 7 do Botafogo é magica, desde os tempos do Paraguaio em 48, passando pelo maior de todos, e sempre apresentando jogadores decisivos ao longo de sua história.
Destaco também a zaga, que apesar de jovem e ainda sem muita experiência tem se mostrado bastante eficiente. O passe do Jair para o Artur no primeiro gol foi sensacional, assim como o lançamento do Marlon Freitas para o Artur no terceiro gol. Com o lançamento de ontem, são 3 lançamentos perfeitos do Marlon que resultaram em gols para o Botafogo.
Muito bom ver o time do Botafogo se acertando e dando mostras que pode evoluir sonda mais, mas realmente o preparo físico precisa melhorar, assim como foi no ano passado. Grande vitória, e que venham outras. Abs e SB!
Muito bem lembrada essa vitória contra o Criciúma! Mais uma deliciosa coincidência. Digo 'coincidência' porque pertenço a uma minoria (muito minoria... rsrsrs) de botafoguenses não supersticiosos, embora adore essas coincidências, que são muitas, deliciosas e que eu próprio gosto de realçar.
Além das coincidências ainda adoro acontecimentos épicos como o jogo de 30.11.2024 onde inúmeras situações raras aconteceram para dourar ainda mais a Vitória Eterna.
Escrevi muitas vezes no blogue que haveria de nos ver Campeões Sul-americanos, mas nunca imaginei que fosse tão cedo. Mesmo com a SAF eu previa que antes de 2026 não teríamos hipótese na Libertadores, porque sei que construir uma equipe de topo requer muita infraestrutura e muito trabalho de consolidação. Mas os investimentos de Textor (embora no caso de LH e Almada fossem visando o Lyon) e a clara decadência do futebol sul-americano, particularmente dos clubes argentinos e uruguaios, conjugaram-se plenamente para nos fazer sorrir para a Eternidade.
E se a equipe jogar contra a La U como contra os argentinos, seguiremos na Libertadores e, provavelmente, com maior consolidação do nosso futebol.
Abraços Gloriosos.
O Glorioso e a massa preta e branca encarnaram ontem o espírito da Libertadores. Estádio lotado, pressão em cima do adversário, jogo ofensivo e luta por cada bola. Foi buscar o resultado quando oscilou e, no final, fez um gol para explodir o Nilton Santos — daqueles com DNA de time que joga com a alma e entende que a Libertadores é para quem quer mais.
Se o Alvinegro mantiver a raça, e os reforços da próxima temporada vierem como no ano passado, podemos crescer na competição, nos mata-matas — aquela fase decisiva — e ir em busca da segunda glória eterna.
Esse é o Botafogo que eu gosto, quero e tenho prazer em ver. Viva a Estrela Solitária, o seu DNA de gigante e a torcida do Botafogo, que é um espetáculo à parte.
Como é bom vivenciar o Glorioso.
A camisa 7 tem mística, história, tradição. De Mané Garrincha até Luiz Henrique — e que agora seja a hora de Arthur consagrá-la. Viva a mística da Estrela Solitária. Lindo demais!
Sergio, muitos torcedores já têm na sua Gênese a mania brasileira de despedir treinadores todos os anos. Creio que atualmente só resistem à chicotada do despedimento o Abel e o Vojvoda. Vejo algumas virtudes interessantes no RP, mas também vejo ainda muita lentidão a perceber certas coisas durante os jogos e em entender como cada jogar se ajusta melhor a determinadas posições. Ainda estou em cima do muro no que respeita a validar RP, mas que o homem se esforça, não duvido. Vamos ver. O próximos jogos serão decisivoos para percebermos o tamanho do treinador que temos. Uma cisa é certa:o torcedor não ver no funcionamento tático impecável da equipe ontem o papel importante do RP, parece-me bastante injusto. Até porque nos interessa que o RP evolua, já que o JT não o deixará cair facilmente.
O Botafogo não se pode desnortear por causa de um gol porque isso derruba todo o trabalho tático planejado. RP tem que intensificar o trabalho de reforço da mentalidade.
A zaga é globalmente boa e ainda está em evolução, mas o Jair tem que perder as suas vaidadezinhas e não complicar. Ambos ainda erram, mas têm todas as possibilidades de se tornarem grandes zagueiros.
O Marlon, neste e noutros jogos, deu essas assistências e ainda outras semelhantes, as quais o ataque não conseguiu definir corretamente os remates. O MF é muito nos lançamentos, mas que não remate à baliza, porque erra todos. (rsrsrs)
O preparo físico é outro aspecto a melhorar.
Abraços Gloriosos.
Tenho esperança que a alma botafoguense nos permite lutar ainda mais pela Libertadores. Há essa hipótese, tendo em conta que muitos atletas viveram essa magia de 2024 e robusteceram a sua mente e a sua vontade.
em todo o caso, e por via das dúvidas,pelo menos que assegure a conquista da Copa do Brasil, que possa chegar à final da Liberta e se classifique no Z4 do Brasileirão. Se ganhassse a Liberta seria uma dupla cereja em cima do bolo. Mas os desígnios do futuro não estão traçados, palmilham-se jogo a jogo. Espero que possamos saber palmilhá-los.
Abraços Gloriosos.
Eu diria mais: de Paraguaio a LH e deste a Artur, desde 1948, na década em que as camisas passaram a ser numeradas (1947) - Paraguaio, Garrincha, Jairzinho, Rogério, Zequinha, Maurício, Túlio, Luiz Henrique e… Artur!
E que Artur consolide a magia da Camisa 7!
Abraços Gloriosos!
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