sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Botafogo 2x2 Cruzeiro: fase de grupos da Libertadores presa por um fio

Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

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por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo

Eis uma partida que evidencia muitos aspectos interessantes.

Aos 6’ o Botafogo efetuou um ataque com Artur, Jordan Barrera recebeu, quase sem ângulo rematou à trave, a bola sobrou para Arthur Cabral que fez exatamente o mesmo de sempre: frontalmente à baliza rematou por cima.

Discutiu-se se havia falta de Barrera, mas essa não é a questão principal: a questão principal é que os nossos desaires – sobretudo na frente de ataque – devem-se muito mais a erros individuais do que a erros de conceito de jogo.

O Botafogo não marcou, o Cruzeiro tomou conta do jogo, ganhou o meio campo e a posse de bola, rolou-a para cá e para lá, bem à maneira de Leonardo Jardim, que prefere trabalhar as jogadas e só arriscar em oportunidades raras e específicas em que o adversário relaxa ou se desarticula por qualquer razão. E assim, aos 15’, inaugurou o marcador na 1ª oportunidade que teve, mostrando que rematar mais não é necessariamente uma virtude, mas sim rematar melhor quando a oportunidade surge.

E assim continuou a partida, ao estilo pragmático do técnico do Cruzeiro, e somente aos 33’ tornou a ameaçar a nossa baliza com um remate por cima do travessão, mas jogando com boa articulação sempre em busca de um momento privilegiado para marcar.

Aos 35’ o Botafogo realizou a sua 2ª infiltração, mas aí deparou-se com um goleiro à altura de uma equipe verdadeiramente competitiva: Cuiabano rematou cruzado, como é seu costume e Cássio efetuou uma grande defesa.

Aos 44’ Artur recebeu um passe longo, aguentou a marcação e chutou para marcar, mas aí Cássio fez a defesa da noite e o intervalo chegou com a vantagem do Cruzeiro.

É verdade que duas grandes defesas de Cássio nos tiraram a oportunidade de gol, mas ele está sob o travessão justamente para defender o que é mais difícil. Se observarmos isentamente, o Cruzeiro jogou muito mais articuladamente e com bola no solo do que o Botafogo, em que os nossos escassos ataques – embora também perigosos – resultaram de bolão pra frente e não de jogadas articuladas envolvendo parte significativa do coletivo.

A minha esperança era que Álvaro Montoro entrasse após o intervalo para buscar o empate. Pensei que a estratégia de o preservar era boa, tendo em conta o toque que sofrera no jogo anterior, e que entraria logo no reinício da partida.

Erro crasso – mais um – de Ancelotti, cujo potencial continua por crescer nos aspetos mais elementares, ao não recomeçar com Montoro –, como se pudesse dar-se ao luxo de, numa equipe com tantos desfalques, prescindir do mais tecnicista meia-atacante de que dispomos. E vai daí que, evidentemente, o Cruzeiro continuou a rendilhar o jogo até ampliar o marcador logo aos 50’ – confirmando que não é preciso rematar mais, mas rematar melhor. Então, o 2º gol do Cruzeiro teve o condão – tal como no conto da Bela Adormecida – de acordar Ancelotti da letargia que o assaltava, não com um beijo, obviamente, mas com a evidência do seu conservadorismo e a falta de visão estratégica que aparentava ter melhorado nos dois últimos jogos.

E o jogo mudou. E mudou muito quando Marçal – em minha opinião o capitão mais importante da equipe – concretizou aos 57’ novamente uma das artes que sabe fazer bem: cabecear para o fundo da baliza. E o Botafogo diminuiu a desvantagem para 1x2.

Daí em diante, com Montoro a conduzir o jogo e o Cruzeiro meio ‘apardalado’ com a reação inesperada do Glorioso, passaram-se 15 minutos (72’ de jogo) em que o Botafogo dominou totalmente o Cruzeiro, pressionando a todo o terreno, fazendo o Cruzeiro recuar e levando perigo à baliza adversária. Porém, o melhor é inimigo do mais – e apesar de mais domínio de jogo não tivemos o melhor aproveitamento.

Eis senão quando, aos 72’, em contra-ataque muito rápido, o Cruzeiro poderia ter decretado a vitória mineira. No entanto, apenas com o goleiro pela frente e o gol à mercê, o atacante cruzeirense escorregou e a bola escapou-lhe no momento do remate.

Dois minutos após Cássio negou novamente o gol, desta feita a Arthur Cabral.

O jogo amoleceu, mas o Botafogo continuou em busca do empate, conseguido aos 90+4’ em pênalti cobrado categoricamente pelo suspeito do costume: Alex Telles.

Em suma, o Botafogo, mesmo sem alguns jogadores importantes, mostrou que pode lutar contra a adversidade se tiver ânimo e alguma criatividade, que os fiascos devem-se mais a erros individuais do que a erros de conceito, que necessita praticar um futebol mais articulado e em busca não de muitos remates, mas dos melhores remates – fazer melhor em vez de fazer mais, corrigir erros individuais às vezes clamorosos, seja de jogadores, seja de técnico, e saber aplicar conceitos de jogo diversificados de modo a surpreender os adversários.

Acredito que após as recuperações temos bons jogadores à disposição da cortina defensiva, como Alex Telles, Barboza, David Ricardo, Bastos, Vitinho, Marçal, e alguns criativos, como Álvaro Montoro, Jordan Barrera, Santi Rodríguez, Joaquín Corrêa, mas falta-nos reforçar três setores essenciais: a defesa, com um goleiro titular à altura da equipe (que não podem ser nem Léo Linck nem Neto); dois atacantes, porque Arthur Cabral, Chris Ramos, Mastriani, Jeffinho, etc. mostraram até agora que simplesmente não têm existido em campo; e um técnico experiente, ou alternativamente que Davide Ancelotti aprenda muito rapidamente não os conceitos, porque esses acredito que possa dominar, mas sim o pragmatismo essencial em jogos de futebol, de modo a não cometer erros de palmatória nem erros de conservadorismo excessivo durante os 90 minutos.

Finalmente, mencionar que permaneço preocupado quanto à preparação física dos atletas e aos tempos de recuperação e, em última nota, quanto à situação financeira da SAF Botafogo e à visão estratégica de John Charles Textor sobre o rumo do nosso Clube em 2026.

FICHA TÉCNICA

Botafogo 2x2 Cruzeiro

» Gols: Marçal, aos 57’, e Alex Telles, ao 90+4’ (Botafogo); Christian, aos 15’, e Matheus Pereira, aos 50’ (Cruzeiro)

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 04.12.2025

» Local: Estádio ‘Mineirão’, em Belo Horizonte (MG)

» Público: 34.649 espectadores

» Renda: R$ 1.038.832,50

» Árbitro: Anderson Daronco (RS); Assistentes: Luanderson Lima dos Santos (BA) e Michael Stanislau (RS); VAR: Diego Pombo Lopez (BA)

» Disciplina: cartão amarelo: Jordan Barrera e Allan (Botafogo) e Lucas Silva e Cássio (Cruzeiro); cartão vermelho: David Ricardo (Botafogo)

» Botafogo: Raul; Vitinho (Kauan Toledo), Marçal, David Ricardo e Alex Telles; Allan (Newton), Marlon Freitas e Jordan Barrera (Kadir); Artur, Arthur Cabral e Cuiabano (Álvaro Montoro). Técnico: Davide Ancelotti.

» Cruzeiro: Cássio; William, Fabrício Bruno, Villalba e Kaiki Bruno; Lucas Romero, Lucas Silva (Walace), Christian (Matheus Henrique) e Matheus Pereira (Bolasie); Sinisterra (Eduardo) e Kaio Jorge (Arroyo). Técnico: Leonardo Jardim.

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Crédito: Vitor Silva / Botafogo. Crédito: por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo Eis uma partida que evidencia muitos aspectos interes...