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por RUY MOURA |
Editor do Mundo Botafogo
Eis uma partida que evidencia muitos aspectos interessantes.
Aos 6’ o Botafogo efetuou um ataque com Artur, Jordan
Barrera recebeu, quase sem ângulo rematou à trave, a bola sobrou para Arthur
Cabral que fez exatamente o mesmo de sempre: frontalmente à baliza rematou por
cima.
Discutiu-se se havia falta de Barrera, mas essa não é a questão
principal: a questão principal é que os nossos desaires – sobretudo na frente
de ataque – devem-se muito mais a erros individuais do que a erros de conceito
de jogo.
O Botafogo não marcou, o Cruzeiro tomou conta do jogo, ganhou
o meio campo e a posse de bola, rolou-a para cá e para lá, bem à maneira de
Leonardo Jardim, que prefere trabalhar as jogadas e só arriscar em oportunidades
raras e específicas em que o adversário relaxa ou se desarticula por qualquer razão.
E assim, aos 15’, inaugurou o marcador na 1ª oportunidade que teve, mostrando
que rematar mais não é necessariamente uma virtude, mas sim rematar melhor
quando a oportunidade surge.
E assim continuou a partida, ao estilo pragmático do
técnico do Cruzeiro, e somente aos 33’ tornou a ameaçar a nossa baliza com um
remate por cima do travessão, mas jogando com boa articulação sempre em busca
de um momento privilegiado para marcar.
Aos 35’ o Botafogo realizou a sua 2ª infiltração, mas aí
deparou-se com um goleiro à altura de uma equipe verdadeiramente competitiva:
Cuiabano rematou cruzado, como é seu costume e Cássio efetuou uma grande
defesa.
Aos 44’ Artur recebeu um passe longo, aguentou a marcação
e chutou para marcar, mas aí Cássio fez a defesa da noite e o intervalo chegou
com a vantagem do Cruzeiro.
É verdade que duas grandes defesas de Cássio nos tiraram
a oportunidade de gol, mas ele está sob o travessão justamente para defender o
que é mais difícil. Se observarmos isentamente, o Cruzeiro jogou muito mais
articuladamente e com bola no solo do que o Botafogo, em que os nossos escassos
ataques – embora também perigosos – resultaram de bolão pra frente e não de
jogadas articuladas envolvendo parte significativa do coletivo.
A minha esperança era que Álvaro Montoro entrasse após o
intervalo para buscar o empate. Pensei que a estratégia de o preservar era boa,
tendo em conta o toque que sofrera no jogo anterior, e que entraria logo no
reinício da partida.
Erro crasso – mais um – de Ancelotti, cujo potencial continua
por crescer nos aspetos mais elementares, ao não recomeçar com Montoro –, como se
pudesse dar-se ao luxo de, numa equipe com tantos desfalques, prescindir do
mais tecnicista meia-atacante de que dispomos. E vai daí que, evidentemente, o
Cruzeiro continuou a rendilhar o jogo até ampliar o marcador logo aos 50’ – confirmando
que não é preciso rematar mais, mas rematar melhor. Então, o 2º gol do Cruzeiro
teve o condão – tal como no conto da Bela Adormecida – de acordar Ancelotti da
letargia que o assaltava, não com um beijo, obviamente, mas com a evidência do
seu conservadorismo e a falta de visão estratégica que aparentava ter melhorado
nos dois últimos jogos.
E o jogo mudou. E mudou muito quando Marçal – em minha
opinião o capitão mais importante da equipe – concretizou aos 57’ novamente uma
das artes que sabe fazer bem: cabecear para o fundo da baliza. E o Botafogo
diminuiu a desvantagem para 1x2.
Daí em diante, com Montoro a conduzir o jogo e o Cruzeiro
meio ‘apardalado’ com a reação inesperada do Glorioso, passaram-se 15 minutos (72’
de jogo) em que o Botafogo dominou totalmente o Cruzeiro, pressionando a todo o
terreno, fazendo o Cruzeiro recuar e levando perigo à baliza adversária. Porém,
o melhor é inimigo do mais – e apesar de mais domínio de jogo não tivemos o melhor
aproveitamento.
Eis senão quando, aos 72’, em contra-ataque muito rápido,
o Cruzeiro poderia ter decretado a vitória mineira. No entanto, apenas com o goleiro
pela frente e o gol à mercê, o atacante cruzeirense escorregou e a bola
escapou-lhe no momento do remate.
Dois minutos após Cássio negou novamente o gol, desta
feita a Arthur Cabral.
O jogo amoleceu, mas o Botafogo continuou em busca do
empate, conseguido aos 90+4’ em pênalti cobrado categoricamente pelo suspeito do
costume: Alex Telles.
Em suma, o Botafogo, mesmo sem alguns jogadores
importantes, mostrou que pode lutar contra a adversidade se tiver ânimo e
alguma criatividade, que os fiascos devem-se mais a erros individuais do que a
erros de conceito, que necessita praticar um futebol mais articulado e em busca
não de muitos remates, mas dos melhores remates – fazer melhor em vez de fazer
mais, corrigir erros individuais às vezes clamorosos, seja de jogadores, seja
de técnico, e saber aplicar conceitos de jogo diversificados de modo a
surpreender os adversários.
Acredito que após as recuperações temos bons jogadores à
disposição da cortina defensiva, como Alex Telles, Barboza, David Ricardo,
Bastos, Vitinho, Marçal, e alguns criativos, como Álvaro Montoro, Jordan
Barrera, Santi Rodríguez, Joaquín Corrêa, mas falta-nos reforçar três setores
essenciais: a defesa, com um goleiro titular à altura da equipe (que não podem
ser nem Léo Linck nem Neto); dois atacantes, porque Arthur Cabral, Chris Ramos,
Mastriani, Jeffinho, etc. mostraram até agora que simplesmente não têm existido
em campo; e um técnico experiente, ou alternativamente que Davide Ancelotti
aprenda muito rapidamente não os conceitos, porque esses acredito que possa dominar,
mas sim o pragmatismo essencial em jogos de futebol, de modo a não cometer
erros de palmatória nem erros de conservadorismo excessivo durante os 90
minutos.
Finalmente, mencionar que permaneço preocupado quanto à
preparação física dos atletas e aos tempos de recuperação e, em última nota,
quanto à situação financeira da SAF Botafogo e à visão estratégica de John
Charles Textor sobre o rumo do nosso Clube em 2026.
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x2 Cruzeiro
» Gols: Marçal, aos 57’, e Alex Telles, ao 90+4’
(Botafogo); Christian, aos 15’, e Matheus Pereira, aos 50’ (Cruzeiro)
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 04.12.2025
» Local: Estádio ‘Mineirão’, em Belo Horizonte (MG)
» Público: 34.649 espectadores
» Renda: R$ 1.038.832,50
» Árbitro: Anderson
Daronco (RS); Assistentes: Luanderson
Lima dos Santos (BA) e Michael Stanislau (RS); VAR: Diego Pombo Lopez (BA)
» Disciplina: cartão amarelo: Jordan Barrera e Allan
(Botafogo) e Lucas Silva e Cássio (Cruzeiro); cartão vermelho: David Ricardo (Botafogo)
» Botafogo: Raul; Vitinho (Kauan Toledo), Marçal,
David Ricardo e Alex Telles; Allan (Newton), Marlon Freitas e Jordan Barrera
(Kadir); Artur, Arthur Cabral e Cuiabano (Álvaro Montoro). Técnico: Davide
Ancelotti.
» Cruzeiro: Cássio; William, Fabrício Bruno, Villalba e
Kaiki Bruno; Lucas Romero, Lucas Silva (Walace), Christian (Matheus Henrique) e
Matheus Pereira (Bolasie); Sinisterra (Eduardo) e Kaio Jorge (Arroyo). Técnico:
Leonardo Jardim.

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