sábado, 16 de abril de 2011

Didi – de olho vivo na Itália

por Alfredo Ogawa
in Placar, 1988.05.20

Depois de ficar um ano afastado do futebol, o treinador planeja cuidadosamente sua volta para ser o comandante do tetra, em 1990. [nota de Mundo Botafogo: este é um artigo sobre o sonho não concretizado do glorioso Didi]

Na sua época de jogador, o meia Didi praticava um futebol cerebral em que cada passe e cada chute tinha a precisão fria de um cirurgião habilidoso. Agora, depois de um retiro voluntário de quase um ano, o técnico Didi começa a preparar a sua volta aos campos com a mesma cautela de um grande mestre do xadrez. Cada lance, aparentemente sem importância, tem na verdade um objetivo maior: ser o treinador da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1990.

Em seu amplo sítio no subúrbio carioca de Campo Grande, este senhor de cabelos grisalhos e porte elegante, chamado Valdir Pereira, já programou seus movimentos iniciais para ter o comando da equipe brasileira na Itália. “Primeiro, preciso freqüentar os estádios de novo”, planeja. “Depois, penso em treinar um clube grande. De preferência, carioca.” Assim ficará fisicamente mais perto da CBF e, teoricamente, com mais chances de ser lembrado pela entidade.

ATALHOS EM CAMPO. Essa pretensão, no entanto, jamais é explicitada com clareza. Se um repórter lhe pergunta à queima-roupa se é candidato ao lugar de Carlos Alberto Silva, Didi escapa pela tangente. “É preciso que o escolhido seja um homem que conheça a intimidade do futebol e dos jogadores”, responde enigmático. Bicampeão do mundo pela Seleção (1958 e 1962) e campeão várias vezes pelo Fluminense e pelo Botafogo como atleta, e diversos títulos conquistados na Turquia, Arábia Saudita e Peru como treinador, não há dúvida que Didi se encaixa neste perfil. Seus olhos já viram mais do que os da maioria e suas pernas conhecem de cor os atalhos existentes dentro de um campo de futebol.

Se não se lança candidato abertamente, Didi mostra que vem pensando no assunto com frequência ao discorrer sobre possíveis convocados. Os goleiros Acácio (Vasco), Zé Carlos (Flamengo) e Paulo Victor (Fluminense) são alguns nomes que “merecem” ser chamados pelo futuro técnico da CBF, em sua avaliação ainda reconhecidamente “carioca”. Outros jogadores olhados com carinho por ele são os atacantes Romário (Vasco) e Renato (Flamengo) e os meio-campistas Douglas (Portuguesa) e Geovani (Vasco). “Mas não vejo por que não convocar veteranos como Zico e Leandro”, surpreende, para depois explicar: “A Copa do Mundo se resume a sete jogos somente e precisarei apenas da genialidade deles por este curto período de tempo”.

Didi também romperia com as barreiras do que chamam de “regionalismo”. Sua lista de convocados não ficaria limitada a jogadores dos centros mais adiantados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. “O lateral-direito do Bahia, Zanata, por exemplo, é formidável”, elogia. Assim, para não cometer injustiças, ele correria o país inteiro atrás de novos valores. Por mais que viajasse, porém, toda a sua admiração acabaria recaindo sempre sobre um nome: Andrade, volante do Flamengo. “É, no momento, o maior jogador brasileiro”, afirma.


CHUTES ESPECIAIS. Como se vê, suas declarações podem ser tão surpreendentes quanto os chutes que desferia contra o gol adversário em seu tempo de jogador. Eram chutes especiais, inventados por ele e que acabaram batizados de “folha-seca” – por lembrarem, de certa forma, uma folha caindo de uma árvore. Foi por causa de um tiro desses que se tornou treinador depois da conquista do bicampeonato mundial no Chile, em 1962. O chute, na verdade, ocorrera cinco anos antes, no Maracanã, quando, numa cobrança de falta contra o Peru, fez o gol solitário que classificou o Brasil para a Copa da Suécia. Impressionado com o chute e o futebol daquele meio-campista que jogava de cabeça erguida, Ricardo Bettín, proprietário da cervejaria e do time do Cristal, do Peru, passou a lhe fazer apelos patéticos para que fosse o técnico de sua equipe. Em 1962, Didi finalmente resolveu aceitar o convite.

Começava assim uma longa convivência que lhe rendeu dois títulos nacionais pelo Cristal, o cargo de técnico da Seleção Peruana na Copa do México, em 1970, e uma popularidade que roçava a idolatria. “Não podia sair às ruas de Lima que as pessoas me agarravam pelas roupas”, lembra.

No final do ano passado essa convivência foi abalada por uma tragédia: o avião que levava a bordo a delegação do Alianza, time que havia dirigido até alguns meses antes, caiu no mar. Didi conhecia a maioria dos jogadores mortos e ficou profundamente chocado. Resolveu então dar um tempo e descansar. Hoje, cinco meses depois do acidente, ele estudou seu retorno ao futebol. E o planeja com uma visão muito otimista do futebol brasileiro. “O Brasil tem jogadores bons. Até demais”, sorri. “Dá para fazer, fácil, duas seleções. Só é preciso tempo. Em nove meses podemos montar uma grande equipe.”

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