quinta-feira, 30 de junho de 2011

Botafogo 2x0 São Paulo

Os últimos resultados do Botafogo poder-se-ão considerar previsíveis face às opções e ao trabalho desenvolvido por Caio Júnior, além de uma melhoria significativa originada nos desempenhos de Elkeson e de outros atletas colocados nas suas posições de origem.

Não digo isto pela primeira vez. Na verdade, tenho sido muito crítico das opções táticas, do tipo de treino desenvolvido e do trabalho físico feito com os atletas, quer pelo Cuca, quer pelo Ney Franco, quer pelo Joel Santana (os principais treinadores dos últimos anos).

Sobre o Caio Júnior já escrevi que não é ‘brilhante’, mas que as suas opções podem constituir um modelo consistente de jogo no médio prazo. Isso foi muito visível já no jogo contra o Flamengo, apesar de a maioria da torcida não ter entendido que se tratava de um novo modelo de jogo sem as emoções ‘vistosas’ de jogos ‘eletrizantes’ que nos levam à perda de controlo dos jogos. Futebol hoje é controlar os jogos, não andar ‘eletrizantemente’ a correr de um lado para o outro e fazer placares de 4x4, 3x3 ou coisa parecida, como fizemos em 2007 e 2008.

Releia-se o que tenho dito sobre o assunto. Escrevi a 19.06.2011 na análise ao jogo contra o Flamengo:

“Finalmente vejo o Botafogo sem a subdesenvolvida estratégia do ‘chutão’ e sem a enxurrada de passes errados que caracterizava o futebol do Glorioso. Não ganhamos o jogo, mas poderíamos ter ganho e a orientação em campo foi certa. (…) A nossa equipa jogou pressionando, levando perigo sucessivo ao reduto adversário. (…) A orientação da equipa pode vir a dar grandes frutos, já que só o tempo permitirá rotinizar as ligações e pressionar consistentemente o adversário, com posse de bola, velocidade, mudanças de flancos e eficácia na finalização. (…) Apesar da ineficácia do último remate, o trabalho estratégico e posicional de Caio Júnior é bem visível. A correção efectuada ao nível dos passes e a tendência para manter a bola no chão são fatores muito importantes para aumentar a posse de bola, pressionar o adversário e acabar por marcar gol. (…) Gostei do esquema de jogo do Glorioso, e apesar do empate fiquei satisfeito com o desempenho tático da equipa, que dá alguma esperança para o futuro à medida que aumentar o entrosamento em função do esquema básico de jogo. (…) Considero que a ‘boa emoção’ em futebol é aquela que começa na ‘razão’ e na ‘organização’ e, na base de um esquema de jogo tendencialmente mais ‘plástico’ com o tempo, passa a gerar emoções fundadas em futebol antecipadamente pensado. (…) Isto é, parece-me que, embora à medida da nossa dimensão, o caminho começou a ser trilhado…”

Escrevi a 27.06.2011 na análise ao jogo contra o Grêmio:

“O Botafogo continua a palmilhar um caminho consistente de posse de bola, situação a que o chutão para a frente nos desabituara. A persistência há-de trazer resultados. (…) Porém, essa consistência de posse de bola não se traduz em eficácia imediata. Na verdade, o plantel continua (…) sem atacantes para a definição final. Além de o último passe, antes do remate final, funcionar deficientemente. (…) Caio Júnior não é um ás do futebol, mas se melhorar o último passe e ensinar os atacantes a rematarem decentemente, então pode criar uma equipa coesa.”

Até os fracos analistas desportivos perceberam isso ontem. Veja-se o Globoesoorte.com:

“O domínio botafoguense ficou claro desde o início. No primeiro lance de perigo, Rogério Ceni evitou gol de Herrera. (…) A marcação botafoguense não dava moleza. (…) Os cariocas, com paciência e domínio das ações, valorizavam ao máximo a posse de bola. Até que aos 37 o Botafogo transformou sua supremacia em vantagem no marcador.”

A história do jogo de ontem já contei nas citações acima. Caio Júnior sustenta-se num modelo europeizado de futebol e, mesmo quando erra, o modelo suporta os erros e funciona. Na verdade, quem mais aparece são o próprio Caio Júnior e as rotinizações crescentes num futebol de posse de bola – uma equipa. Isso mostra que o treinador faz trabalho tático, aperfeiçoa o passe e a posse de bola, e ainda se preocupa, aparentemente com qualidade, da evolução física dos atletas – elemento crucial nos dias de hoje.

Caio aposta primeiro na ‘razão’ – nas mecanizações e no uso do pensamento – em vez de apostar na ‘emoção’ da fuga para a frente em jogos ‘eletrizantes’ que renegam a ‘razão’ e atualmente não criam verdadeiros campeões. Na verdade, o futebol brasileiro perde os seus craques para a Europa e, por isso, a opção não é a ‘emoção eletrizante’, mas a ‘razão’ fundada em esquemas táticos e jogadores ‘pensantes’.

Note-se que os campeões brasileiros que conquistaram merecidamente o título nacional máximo nos últimos cinco anos (São Paulo tricampeão em 2006-2007-2008 e Fluminense campeão em 2010), não jogaram ‘bonito’ – jogaram futebol à moda europeia, ou, se quiserem, ‘muricyana’…

Posse de bola, pressão, persistência, marcação cerrada, mudanças de flanco velozes e bom aproveitamento de bolas paradas, são ‘receita de campeão’. Insisto que com um modelo de jogo do tipo 4-4-2 em losango (Caio usa o 4-5-1, com variação para 4-4-2, até possuir melhores atacantes) é possível irmos bem longe num campeonato em que os clubes não têm táticas consistentes (exceção honrosa dos times de M. Ramalho). E por isso podem ser batidos pelo nosso Botafogo em versão ‘caio júnior’. Espero não me enganar nessa matéria.

Eu gosto deste Botafogo, e o meu irmão Marcos Venícius parece ter razão quando profetizou que Caio Júnior era gente boa e trabalhadora – e que haveria resultados. Isso é fundamental: gente com bom caráter (e aparentemente bem diferente do estilo Cuca ou do estilo Joel), trabalhadora e, sobretudo, sem inventar. Desde 2006 é a primeira vez que vejo um treinador não inventar, não colocar jogadores fora das suas posições, como insistiam Cuca, Ney, Estevam e até mesmo Joel Santana.

Vejo um novo Botafogo com muitas possibilidades de crescer. E, claro, de dar muito trabalho aos dirigentes federativos e às arbitragens, que terão que reinventar grandes penalidades, gols limpos anulados, etc.

Porém, como sempre tenho dito, se formos superiores aos adversários com margens razoáveis, teremos espaço também para derrotar os dirigentes federativos e as arbitragens. Como na década de 1960 em que a superioridade era imparável por quem quer que fosse.

Vamos torcer, estar atentos e, sobretudo, afinarmos a nossa inteligência sobre o que significa o futebol de hoje num quadro de conquistas que tanto desejamos. Sei que sou – como todos os companheiros de clube – um botafoguense exagerado, mas esta noite sonhei que íamos à final do mundial de clubes. É um exagero, eu sei, e não devemos embandeirar em arco quando as coisas começam a correr melhor, porque a confiança excessiva geralmente traz muitos desaires. Porém, sonhar é lindo, ter utopia é essencial. Mas as utopias, que começam sempre nas emoções, são invariavelmente concretizadas com a ‘razão’.

O Botafogo precisa de gente cerebral, que muito tem faltado na última década, começando por dirigentes, comissões técnicas e atletas até aos torcedores que xingam e vaiam indiscriminadamente sem acrescentarem ‘razão’ ao nosso ambicioso projeto de recolocar o Botafogo na rota do futebol mundial.

Tal desiderato não é impossível se a ‘razão’ imperar. Não foi assim nesse glorioso tempo de grandes conquistas, caro Paulo Antônio Azeredo?...

FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x0 São Paulo
» Gols: Elkeson 35’ e Herrera (pen) 51’
» Competição: Campeonato Brasileiro
» Data: 29.06.2011
» Local: Estádio do Morumbi (SP)
» Público: 8.361 pagantes
» Renda: R$ 185.4190
» Arbitragem: Elmo Alves Resende da Cunha (GO); Assistentes: Fabrício Vilarinho da Silva e Christian Passos Sorence
» Disciplina: Renan, Antônio Carlos e Somália (Botafogo); Rodrigo Souto, Henrique e Willian José (São Paulo)
» Botafogo: Renan, Alessandro, Antônio Carlos, Fábio Ferreira e Marcio Azevedo (Araruama); Lucas Zen, Somália, Everton (Cidinho), Elkeson e Maicosuel (Caio); Herrera. Técnico: Caio Júnior.
» São Paulo: Rogério Ceni; Ilsinho (Rivaldo), Xandão, Luiz Eduardo e Juan; Rodrigo Souto, Jean, Casemiro e Marlos; Willian José e Fernandinho (Henrique). Técnico: Paulo César Carpegiani.

12 comentários:

Saulo disse...

Bravo Rui Moura! Parabéns pela lúcida e penetrante análise do momento de nosso glorioso.
Cabe destacar que hoje nosso elenco apresenta múltiplas opções apesar do nosso déficit no ataque.
Lembrando que o Botafogo estava tão ou mais desfalcado que o São Paulo: Jefferson, Cortes, Marcelo Mattos, Renato e Loco Abreu… Todos titulares absolutos… e ainda tem o Diego que pode pintar… Além das contratações “incognitas” para compor elenco… Felipe Menezes, Gustavo e Alexandre Oliveira.

Há propósito, Elkeson e Lucas Zen tem sido fundamentais para nossa boa campanha.Lucas Zen joga de cabeça erguida,lúcido, desarma sem falta, com uma consciência tática absurda. Impressiona como o futebol do Elkeson se parece com o do Hulk. Quem sabe não veremos jogando juntos na seleção brasileira um ataque formado por Elkeson, Hulk e Neymar?
Vamos dar "tempo ao tempo", mas o início de Elkeson é mais do que promissor...
Saudações Alvinegras

Paisano disse...

Prezado Rui,

Ótima análise!!!

Um abraço.

Gil disse...

Rui,

Muito tempo que não tenho o sentimento de dias melhores!

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Saulo e Paisano, obrigado pelos vossos comentários. São sempre estimulantes.

Abraços Gloriosos!

Yolanda - RJ disse...

Caro Rui, é gratificante ver alguns jogadores da base, jogando no time principal, Renan, Caio, Cidinho, Alex e o Lucas Zen que tem sido uma grata alegria com seu futebol muito habilidoso e sem fazer faltas conduz o time com um futebol de grande esperança para a felicidade da nação alvinegra. Um grande abraço.

Itamar Alves disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Bernardo Rocha disse...

Caro Rui,
Excelente análise do nosso Botafogo! Gostaria de aproveitar e lhe fazer uma pergunta.Diante deste cenário que temos hoje em General Severiano, você acha válido a vinda do Diego? Sei que é muito difícil, mas se concretizar, você acredita que diante da união desta equipe, pela filosofia da diretoria e do elenco, pelos valores envolvidos que destoará grosseiramente dos outros jogadores, depois dos novos "reforços", cairá bem essa contratação? Desde já agradeço. Saudações alvinegras

Ruy Moura disse...

Yolanda, há uma bela foto de Caio a visitar o CT com a rapaziada toda a ouvi-lo atentamente.

É importante aproveitar os jovens, porque temos escola, mas só se for com um bom acompanhamento do Caio, porque se o treinador não acompanhar e apoiar as destrezas dos atletas, eles perdem-se. Na década passada não vi nenhum teinador do Botafogo dar real atenção à base. Não basta escalar um ou outro jogador na equipa principal e mais tarde dizer-se que foi o treinador tal que o lançou. É preciso acompanhar e apoiar, e talvez seja a hora de pensar que Caio o fará. Mas para isso tem que se prever que o treinador fique a médio prazo, porque só a médio prazo o trabalho com os jovens dá resultado.

Abraços Botafoguenses.

Ruy Moura disse...

Itamar, para mim o complexo só acaba quando enfrentarmos os cathartiformes com a convicção absoluta de que vamos vencer. E a seguir vencê-los memso, claramente. Mesmo contra as arbitragens - é esta a prova de fogo da nosso nova maturidade.

Se ganhamos do São Paulo no Morumbi, qual será a dificuldade de ganharmos aos cathartiformes no Engenhão?

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Bernardo, francamente não sou favorável ao Diego. Já tivemos equipas campeão sem estrelas; muitas equipas do mundo foram campeãs sem estrelas. Basearam-se na coesão, na solidariedade, no espírito de sacrifício, na vontade de vencer. Todos com equidade, sem estrelismos.

Este Caio e estes jogadores têm vontade de vencer. As estrelas muitas vezes estragam tudo, especialmente se os dirigentes têm a tendência de fazer exceções às 'estrelas', o que é absurdo na gestão de uma equipa de futebol.

Em vez do Diego, preferia mais um zagueiro e um lateral esquerdo.

Abraços Gloriosos!.

Anónimo disse...

Alô Mundo Botafogo, câmbio.

No azul contra o São Paulo:

BOTAFOGO F.R. x SÃO PAULO F.C.
Total de jogos – 92
Vitórias do Botafogo – 37
Vitórias do São Paulo – 36
Empates – 19
Gols do Botafogo – 148
Gols do São Paulo – 156

1° Jogo – 10 / 07 / 1940 – Botafogo 8 a 1 (Torneio Rio-São Paulo), Laranjeiras.
Gols do Botafogo: Paschoal (3), Patesko (2), Tadique, Carvalho Leite e Nélson Juliani.
Gol do São Paulo: Paulo.

Último – 29 / 06 / 2011 – Botafogo 2 a 0 (Camp. Brasileiro), Morumbi.
Gols: Elkeson e Herrera (de pênalti).

Maiores goleadas:
10 / 07 / 1940 – Botafogo 8 a 1 (Torneio Rio-São Paulo), Laranjeiras.
Gols do Botafogo: Paschoal (3), Patesko (2), Tadique, Carvalho Leite e Nélson Juliani.

20 / 11 / 1986 – São Paulo 5 a 0 (Camp. Brasileiro), Morumbi.

As Decisões:
1ª) 03 / 04 / 1994 – São Paulo 3 a 1 (Recopa Sul-Americana), Kobe – Japão.
Gol do Botafogo: Roberto Cavalo, aos 24’ (2° tempo).
Gols do São Paulo: Leonardo, aos 12’ (1° tempo); Guilherme, aos 28’ e Euller, aos 42’ (2° tempo).

2ª) 04 / 03 / 1998 – Empate 2 a 2 (Torneio Rio-São Paulo), Maracanã.
Gols do Botafogo: Jefferson, aos 11’ (1° tempo) e Zé Carlos, aos 31’ (2° tempo).
Gols do São Paulo: Adriano, aos 37’ e Dodô, aos 44’ (1° tempo).
Botafogo, campeão do Rio-SP (1998).

3ª) 07 / 03 / 2001 – São Paulo 2 a 1 (Torneio Rio-São Paulo), Morumbi.
Gol do Botafogo: Donizete, aos 39’ do 1° tempo.
Gols do São Paulo: Kaká (2), aos 34’ e 36’ do 2° tempo.

Nota: é bom lembrar que o resultado de 1 x 6 contra o Tricolor do Morumbi (em 1999), o Alvinegro ganhou os pontos e passou a ser Botafogo 1 a 0, para eternidade.

Saudações Alvinegras.

Ruy Moura disse...

Obrigado, Pedro.

Abraços Gloriosos!

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