sábado, 14 de dezembro de 2013

Sporting vs Botafogo: um presidente, um treinador, um time


certo que no futebol como em muitas outras coisas da vida, sem ovos não se fazem omeletas, mas no futebol nem só os ovos (jogadores) contam. Hoje o futebol começa a ser ganho nas diretorias e nas comissões técnicas, incluindo todo o manancial de estruturas de preparação ao serviço dos atletas.

Há nove meses o Sporting tem um novo presidente, de 41 anos, que é licenciado em gestão de empresas, mestre em gestão do desporto e diplomado como treinador em um curso da UEFA, tendo enfrentado finalmente, sem medo, o presidente do FC Porto, cara a cara – coisa inédita no futebol português em que o presidente do Porto tem sido rei e senhor, dentro e fora dos bastidores. Bruno de Carvalho, que suspendeu a sua carreira de empresário e é remunerado no Sporting para se dedicar a tempo inteiro ao clube do seu coração, em vez de se sentar na tribuna de honra com as mordomias habituais dos presidentes de clube, senta-se no banco dos suplentes, incita os jogadores e vibra a cada gol dos Leões.

Há seis meses o Sporting também tem um novo treinador, de 39 anos, que nunca foi futebolista e iniciou a carreira de treinador de futebol aos 27 anos num pequeno clube da Ilha da Madeira. Sempre gostei dos treinadores que nunca foram futebolistas e não têm os vícios deles, ou que só o foram nas divisões amadoras – casos, por exemplo, dos portugueses José Mourinho e André Villas Boas, técnicos do Chelsea e do Tottenham. Leonardo Jardim dispõe de diversos cursos de treinador de futebol, já se demitiu por não concordar com a política de vendas de um clube que treinava, foi despedido do Braga na sua melhor campanha por discordar do presidente e do seu último clube na Grécia, de onde saiu com o time na liderança com 10 pontos. Sereno, sem os espalhafatos carismáticos / showman de muitos treinadores, mantém o seu rumo sem vacilações e os sucessos crescem na sua carreira.

Em seis meses, vindo de um inédito 7º lugar no campeonato português, o Sporting tornou-se o clube da moda, com menos futebolistas ‘famosos’ do que no ano passado; com uma mão cheia de atletas oriundos da base; com um crescimento notável da performance dos seus jogadores e uma valorização que, em alguns casos, ascende de 2-3 milhões a 20 milhões de euros; com o valor da ações do clube a ultrapassar o valor das ações do Benfica na bolsa de Lisboa; dono da liderança do campeonato português após 40% de rodadas já realizadas e com um orçamento de 16 milhões de euros contra um orçamento de 96 milhões de cada um dos rivais Benfica e Porto.

Desacreditado e obtendo a sua pior classificação de sempre, já ninguém apostaria numa recuperação rápida do clube leonino. Mas eis que um presidente, um diretor de futebol e um treinador mudaram radicalmente a face do Sporting.

Nos programas desportivos a novidade é inédita: os comentadores benfiquistas elogiam mais o Sporting do que eu próprio. Anotei alguns dos seus comentários, tais como “o presidente é a pessoa que conduz animicamente o Sporting”; “o clube rejuvenesceu”; “o clube é manifestamente diferente de há um ano atrás”; “o presidente impôs-se na negociação com a banca, e foi logo aí que começou a ganhar credibilidade, foi duro, abandonou a mesa de negociações e quando regressou à discussão os bancos já tinham deixado de ver um presidente que se acomodava como os outros” [tratava-se de renegociar a dívida do clube aos bancos]; “os jogadores foram escolhidos por quem percebe de futebol” [o diretor de futebol é Augusto Inácio, que foi jogador e treinador campeão pelo Sporting, e agora dirigente]; “a presença do presidente no banco de reservas, os seus gestos, a ida aos adeptos com o time para agradecer no fim dos jogos é contagiante”; “a estratégia de comunicação foi concebida ponto por ponto e quando se quiser estudar o marketing desportivo moderno, o Sporting é o melhor estudo de caso em Portugal”; “O merchandiser é cativante”; “os sócios que estavam a decrescer, aumentam em flecha”. Não sou eu que digo isto, meus amigos: foram os comentadores benfiquistas, adversários de anos sem tréguas, que reconheceram tais coisas em programas desportivos da semana que passou.

Nos meios futebolísticos continua a ser ponto assente que os fabulosos plantéis do Benfica e do Porto acabarão por ultrapassar o Sporting na tabela classificativa, mas o certo é que até agora o comportamento leonino foi notável em todos os aspetos. Os seus atletas são conduzidos de modo a manterem a ‘fome’ de jogar futebol.

Estas linhas são a pretexto do Botafogo de Futebol e Regatas, dos seus presidentes, dos seus diretores de futebol e dos seus treinadores. Quando o Botafogo tiver um presidente profissional com uma personalidade indiscutível, um diretor de futebol que perceba de futebol e um treinador que adote os métodos mais modernos de treino e de preparação de futebolistas, então o ‘Gigante’ do passado que o twitter anunciou estar de volta às competições sul-americanas poderá resgatar o seu passado e renovar o seu futuro.

Por diversas vezes se assiste ao fracasso de times verdadeiramente galáticos do Real Madrid – o mais notável clube de futebol do mundo. Os atletas não são tudo. Atletas mal conduzidos técnica e taticamente fracassam seja qual for a sua qualidade futebolística; atletas de um clube cujo presidente não é respeitado, acabam por sair para novos rumos; atletas contratados sem critério por um diretor de futebol néscio na matéria, acabam armando confusão no vestiário.

Não acredito num time sem um bom presidente, sem um bom diretor de futebol e sem um bom treinador. Li anteontem no facebook a opinião de um botafoguense afirmando, a propósito de Tite, que o Botafogo “não precisa de bom técnico, mas sim, de bons jogadores”. É claro que o nosso botafoguense – com todo o respeito – não percebe nada de futebol moderno. A Grécia foi campeã da Europa contra Portugal na final em Lisboa… O Chelsea do técnico-adjunto Matteo venceu o grande Barcelona nas semifinais da Champions League e foi campeão europeu sobre o descomunal Bayern em Munique…

Sob a batuta do presidente Paulo Antônio Azeredo o Botafogo dispôs dos dois períodos mais consistentes da sua vida Gloriosa: na década de 1930 quando contratou um treinador estrangeiro notável, e depois se cercou de bons jogadores; no início da década de 1950 ao início da década de 1960, quando contratou João Saldanha e Paulo Amaral para técnicos e quando se cercou de bons dirigentes no futebol, os quais contrataram bons jogadores, e até mesmo quando se escolheu Neca para dirigir os times de base de onde saíram Jairzinho, Paulo César ‘Caju’, Roberto, Arlindo, Othon e tantos outros, que formaram grandes times de campeões.

Em minha opinião, a ´velha’ ideia de que são quase exclusivamente os futebolistas que ganham jogos, assente num passado de fabulosos craques brasileiros que, salvo raras exceções como Neymar, já não existem, é coisa irrealista. Um craque faz muito jeito, mas não chega ser craque se não existir uma estrutura de futebol que o suporte, o apoie e o desenvolva, como aconteceu com Cristiano Ronaldo, que cresceu nas estruturas excelentes do Sporting e do Manchester United, ou com Messi, que desde jovem beneficiou da excelente estrutura do Barcelona – e também se não existir um diretor de futebol que saiba contratar e um treinador que saiba explorar as margens de crescimento de cada atleta ao longo do tempo. É por isso que José Mourinho diz que os títulos não se ganham com um craque, mas com um time, e Leonardo Jardim afirma que os atletas leoninos ainda têm ‘margem de crescimento’. Mas eles sabem como conduzir os seus times de futebol.
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Tudo o que descrevi foi concretizado em oito meses. A competência sabe fazer reviravoltas impensáveis. Num Botafogo sem craques, o meu lema para o sucesso seria – um presidente, um diretor de futebol, um treinador para estruturarem um time.

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