certo que no futebol como em
muitas outras coisas da vida, sem ovos não se fazem omeletas, mas no futebol
nem só os ovos (jogadores) contam. Hoje o futebol começa a ser ganho nas
diretorias e nas comissões técnicas, incluindo todo o manancial de estruturas
de preparação ao serviço dos atletas.
Há nove meses o Sporting tem um
novo presidente, de 41 anos, que é licenciado em gestão de empresas, mestre em
gestão do desporto e diplomado como treinador em um curso da UEFA, tendo
enfrentado finalmente, sem medo, o presidente do FC Porto, cara a cara – coisa
inédita no futebol português em que o presidente do Porto tem sido rei e
senhor, dentro e fora dos bastidores. Bruno de Carvalho, que suspendeu a sua
carreira de empresário e é remunerado no Sporting para se dedicar a tempo
inteiro ao clube do seu coração, em vez de se sentar na tribuna de honra com as
mordomias habituais dos presidentes de clube, senta-se no banco dos suplentes,
incita os jogadores e vibra a cada gol dos Leões.
Há seis meses o Sporting também
tem um novo treinador, de 39 anos, que nunca foi futebolista e iniciou a
carreira de treinador de futebol aos 27 anos num pequeno clube da Ilha da
Madeira. Sempre gostei dos treinadores que nunca foram futebolistas e não têm
os vícios deles, ou que só o foram nas divisões amadoras – casos, por exemplo,
dos portugueses José Mourinho e André Villas Boas, técnicos do Chelsea e do
Tottenham. Leonardo Jardim dispõe de diversos cursos de treinador de futebol,
já se demitiu por não concordar com a política de vendas de um clube que
treinava, foi despedido do Braga na sua melhor campanha por discordar do
presidente e do seu último clube na Grécia, de onde saiu com o time na
liderança com 10 pontos. Sereno, sem os espalhafatos carismáticos / showman de muitos treinadores, mantém o
seu rumo sem vacilações e os sucessos crescem na sua carreira.
Em seis meses, vindo de um
inédito 7º lugar no campeonato português, o Sporting tornou-se o clube da moda,
com menos futebolistas ‘famosos’ do que no ano passado; com uma mão cheia de
atletas oriundos da base; com um crescimento notável da performance dos seus
jogadores e uma valorização que, em alguns casos, ascende de 2-3 milhões a 20
milhões de euros; com o valor da ações do clube a ultrapassar o valor das ações
do Benfica na bolsa de Lisboa; dono da liderança do campeonato português após
40% de rodadas já realizadas e com um orçamento de 16 milhões de euros contra
um orçamento de 96 milhões de cada um dos rivais Benfica e Porto.
Desacreditado e obtendo a sua
pior classificação de sempre, já ninguém apostaria numa recuperação rápida do
clube leonino. Mas eis que um presidente, um diretor de futebol e um treinador
mudaram radicalmente a face do Sporting.
Nos programas desportivos a
novidade é inédita: os comentadores benfiquistas elogiam mais o Sporting do que
eu próprio. Anotei alguns dos seus comentários, tais como “o presidente é a
pessoa que conduz animicamente o Sporting”; “o clube rejuvenesceu”; “o clube é
manifestamente diferente de há um ano atrás”; “o presidente impôs-se na
negociação com a banca, e foi logo aí que começou a ganhar credibilidade, foi
duro, abandonou a mesa de negociações e quando regressou à discussão os bancos
já tinham deixado de ver um presidente que se acomodava como os outros”
[tratava-se de renegociar a dívida do clube aos bancos]; “os jogadores foram
escolhidos por quem percebe de futebol” [o diretor de futebol é Augusto Inácio,
que foi jogador e treinador campeão pelo Sporting, e agora dirigente]; “a
presença do presidente no banco de reservas, os seus gestos, a ida aos adeptos
com o time para agradecer no fim dos jogos é contagiante”; “a estratégia de
comunicação foi concebida ponto por ponto e quando se quiser estudar o
marketing desportivo moderno, o Sporting é o melhor estudo de caso em
Portugal”; “O merchandiser é cativante”; “os sócios que estavam a decrescer,
aumentam em flecha”. Não sou eu que digo isto, meus amigos: foram os
comentadores benfiquistas, adversários de anos sem tréguas, que reconheceram
tais coisas em programas desportivos da semana que passou.
Nos meios futebolísticos continua
a ser ponto assente que os fabulosos plantéis do Benfica e do Porto acabarão
por ultrapassar o Sporting na tabela classificativa, mas o certo é que até
agora o comportamento leonino foi notável em todos os aspetos. Os seus atletas
são conduzidos de modo a manterem a ‘fome’ de jogar futebol.
Estas linhas são a pretexto do
Botafogo de Futebol e Regatas, dos seus presidentes, dos seus diretores de
futebol e dos seus treinadores. Quando o Botafogo tiver um presidente
profissional com uma personalidade indiscutível, um diretor de futebol que
perceba de futebol e um treinador que adote os métodos mais modernos de treino
e de preparação de futebolistas, então o ‘Gigante’ do passado que o twitter
anunciou estar de volta às competições sul-americanas poderá resgatar o seu
passado e renovar o seu futuro.
Por diversas vezes se assiste ao
fracasso de times verdadeiramente galáticos do Real Madrid – o mais notável
clube de futebol do mundo. Os atletas não são tudo. Atletas mal conduzidos
técnica e taticamente fracassam seja qual for a sua qualidade futebolística;
atletas de um clube cujo presidente não é respeitado, acabam por sair para
novos rumos; atletas contratados sem critério por um diretor de futebol néscio
na matéria, acabam armando confusão no vestiário.
Não acredito num time sem um bom
presidente, sem um bom diretor de futebol e sem um bom treinador. Li anteontem
no facebook a opinião de um botafoguense afirmando, a propósito de Tite, que o
Botafogo “não precisa de bom técnico, mas sim, de
bons jogadores”. É claro que o nosso botafoguense – com todo o respeito – não
percebe nada de futebol moderno. A Grécia foi campeã da Europa contra Portugal
na final em Lisboa… O Chelsea do técnico-adjunto Matteo venceu o grande
Barcelona nas semifinais da Champions League e foi campeão europeu sobre o descomunal
Bayern em Munique…
Sob a batuta do presidente Paulo
Antônio Azeredo o Botafogo dispôs dos dois períodos mais consistentes da sua
vida Gloriosa: na década de 1930 quando contratou um treinador estrangeiro
notável, e depois se cercou de bons jogadores; no início da década de 1950 ao
início da década de 1960, quando contratou João Saldanha e Paulo Amaral para
técnicos e quando se cercou de bons dirigentes no futebol, os quais contrataram
bons jogadores, e até mesmo quando se escolheu Neca para dirigir os times de
base de onde saíram Jairzinho, Paulo César ‘Caju’, Roberto, Arlindo, Othon e
tantos outros, que formaram grandes times de campeões.
Em minha opinião, a ´velha’ ideia
de que são quase exclusivamente os futebolistas que ganham jogos, assente num
passado de fabulosos craques brasileiros que, salvo raras exceções como Neymar,
já não existem, é coisa irrealista. Um craque faz muito jeito, mas não chega
ser craque se não existir uma estrutura de futebol que o suporte, o apoie e o
desenvolva, como aconteceu com Cristiano Ronaldo, que cresceu nas estruturas
excelentes do Sporting e do Manchester United, ou com Messi, que desde jovem
beneficiou da excelente estrutura do Barcelona – e também se não existir um
diretor de futebol que saiba contratar e um treinador que saiba explorar as
margens de crescimento de cada atleta ao longo do tempo. É por isso que José
Mourinho diz que os títulos não se ganham com um craque, mas com um time, e
Leonardo Jardim afirma que os atletas leoninos ainda têm ‘margem de
crescimento’. Mas eles sabem como conduzir os seus times de futebol.
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Tudo o que descrevi foi concretizado em oito meses. A competência sabe fazer reviravoltas impensáveis. Num Botafogo sem craques, o meu lema para o sucesso seria – um presidente, um diretor de futebol, um treinador para estruturarem um time.
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Tudo o que descrevi foi concretizado em oito meses. A competência sabe fazer reviravoltas impensáveis. Num Botafogo sem craques, o meu lema para o sucesso seria – um presidente, um diretor de futebol, um treinador para estruturarem um time.
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