por LUIZ GUSTAVO MEDEIROS DE LIMA
Graduado em
Ciência Sociais e cursando atualmente mestrado em Literatura, carioca,
botafoguense, leitor assíduo do blogue, faz uma extraordinária reflexão sobre a unificação dos títulos nacionais de futebol, publicada em três partes no Mundo Botafogo
Um fato incontestável a respeito do futebol
brasileiro consigna o período entre 1950 e 1974 como o mais importante para o
esporte no país. Foi durante esses anos que o Brasil produziu a maior
quantidade de craques surpreendentes, esquadrões inesquecíveis e grandes
seleções com belas campanhas em copas do mundo. Em 1950 o Brasil foi
vice-campeão contra o Uruguai no Macaranã, em 1954 perdia nas quartas-de-final
para o poderoso time húngaro de Puskás, em 1958 e 1962 vence com Pelé,
Garrincha e companhia, em 1966 faz uma campanha ruim em virtude de um elenco
envelhecido, em 1970 conquista o tri e em 1974 perde para o carrossel holandês
de Cruyff na semifinal. Nos anos 1990 a seleção fez ótimas campanhas, tais como
o título de 1994, a final de 1998 e o título de 2002, mas foi no período anterior
que o Brasil venceu seus primeiros três títulos de copa do mundo e tornou-se
indiscutivelmente o país do futebol.
Outro fato inquestionável, fundamentado pelo
fato citado no parágrafo acima, considera que é precipitado comparar a grandeza
de clubes através da quantidade de títulos de campeão brasileiro que eles
possuem. No caso em questão refiro-me concretamente aos títulos do Campeonato Brasileiro,
criado em 1971 para ser a mais importante disputa de clubes de futebol em
âmbito nacional. E é importante destacar que nenhuma criança que decide por um
clube para torcer vai optar por um que é pouco vitorioso. Afinal, todos querem
ser vencedores. A repetição de uma hierarquia de grandeza baseada em um ou
outro troféu, embora não seja uma atitude parcial, pode contribuir para que
outras glórias sejam diminuídas, a história seja ofuscada, clubes sejam
desprestigiados e jovens façam a sua decisão sob as lentes embaçadas de um
óculos colocado à força sobre seus olhos. E é por estas e outras que a CBF decidiu
realizar a polêmica unificação dos títulos nacionais.
Outro fato também inegável é aquele que trata da
dificuldade de se fazer uma unificação dos títulos nacionais que seja justa,
imparcial e realmente traduza a realidade do futebol brasileiro. Em 2010 a CBF
decidiu acatar o pedido para considerar os títulos da Taça Brasil e da Taça de
Prata como equivalentes ao Campeonato Brasileiro. A Taça Brasil iniciou-se em
1959 e foi o primeiro torneio de âmbito nacional, reunindo clubes campeões em
seus estados, e tinha como objetivo indicar o representante do país para a
Libertadores, recentemente criada. Tinha o formato de Copa, com jogos de
mata-mata. Os clubes paulistas e cariocas já entravam na fase final da
competição, precisando apenas de dois duelos para conquistar o título. A Taça
de Prata, popularmente conhecida como Robertão, em virtude de seu nome oficial
que era Roberto Gomes Pedrosa, surgiu em 1967 e, diferentemente, da Taça Brasil
era disputado em turnos e quadrangulares. Era organizada pelas federações
paulista e carioca em conluio com a CBD e reunia os clubes que demonstravam o
melhor futebol do país.
É também importante ressaltar que o futebol
mudou. Em 1989, por exemplo, foi criada a Copa do Brasil, que é o segundo maior
torneio nacional. Mas uma peculiaridade de anos anteriores é que a
Libertadores, torneio mais desejado pelos clubes hoje em dia, não tinha tanto
valor. Muitos clubes brasileiros recusaram disputar o torneio, pois era
deficitário e os adversários violentos. Era mais interessante realizar
excursões rentáveis ou focar nos torneios contra os rivais locais. Podemos,
portanto, afirmar que o fato de um torneio garantir a vaga de um clube para o
torneio sul-americano não faz dele necessariamente o torneio mais importante do
país ou o torneio que define o melhor time do país.
Para ser bem franco, eu não li todas as razões
pelas quais a CBF se respaldou para fazer esta unificação dos títulos
nacionais. Em outro momento irei me aprofundar nisso. Li algumas notícias,
artigos de alguns jornalistas, opiniões de diversas pessoas e uma entrevista do
responsável pelos argumentos em que a CBF se alicerçou: o jornalista santista
Odir Cunha. Me agrada o fato disso ter saído da cachola de um santista, pois é
um dos clubes que mais exemplificam o fato citado no segundo parágrafo. Porém,
se nos atermos ao que é justo e à realidade que esta unificação deve
representar, veremos que o tiro saiu pela culatra. Acredito que o Campeonato
Brasileiro, o mais importante campeonato disputado entre clubes do país, deve
ser o responsável por definir a melhor equipe do país em uma disputa entre as
melhores equipes do país. Também acredito que esta opinião não é só minha.
Irei agora discutir sobre o que penso a respeito
da Taça Brasil e do Robertão e de como seria a unificação dos títulos nacionais
se eu fosse o responsável por essa decisão.
A Taça Brasil, conforme citado, reunia os clubes
vencedores em seus campeonatos estaduais. Ora, é evidente que o vice-campeão
carioca era um clube de qualidade superior ao campeão alagoano. As federações
carioca e paulista eram mais organizadas, os clubes paulistas e cariocas
possuíam os melhores jogadores, enfim. Não quero tirar o mérito de nenhum
clube, mas é importante destacar que o vencedor da Taça Brasil não definia o
melhor time do país, pois não disputava com os melhores. O Paulista de Jundiaí
foi campeão da Copa do Brasil em 2005 com uma belíssima campanha, mas não posso
afirmar que foi o melhor time daquele ano.
Além do que a Taça Brasil possui um formato que não condiz com o que
sempre foi o Campeonato Brasileiro. Penso que a Taça Brasil deveria
equiparar-se com a Copa do Brasil.
Eu ainda anexaria outros torneios antigos à
lista de edições da Copa do Brasil. Em 1920 foi realizada a primeira competição
a nível nacional do nosso futebol, chamada Copa dos Campeões Estaduais. Este
torneio foi organizado pela CBD e teve mais uma edição em 1931. A primeira foi
vencida pelo Club Athletico Paulistano e a segunda pelo Botafogo. Nessas duas
edições participaram três clubes – de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do
Sul – e todos eram à época os campeões estaduais. Em 1937 houve uma outra
edição do mesmo torneio, organizada pela Federação Brasileira de Football, que
rivalizava com a CBD por aceitar inscrição de atletas profissionais, enquanto a
CBD só aceitava amadores, a qual foi vencida pelo Atlético Mineiro. Diferente
do primeiro Torneio Rio-São Paulo, de 1933, esta edição da Copa dos Campeões
Estaduais teve um certo rigor para selecionar os participantes. Exceto um clube
convidado, da Marinha, todos os outros haviam sido recém campeões estaduais. Em
1967 uma outra edição foi realizada, tendo o Bangu como campeão, com critérios
bem definidos para a escolha dos clubes participantes, mas organizada pela
federação mineira de futebol. Como a premissa da unificação, creio eu, seja
fazer justiça ao futebol nacional no que se refere às glórias dos clubes, penso
que o que mais interessa é a magnitude dos times e jogadores, a relevância das
suas conquistas, a importância dos clubes para o esporte em determinados
períodos, e não o passaporte para a libertadores ou o fato de ter sido organizado
por certo órgão. Sendo assim, consideraria estas quatro edições da Copa dos
Campeões Estaduais como Copa do Brasil. Embora seja anterior ao Rio-São Paulo,
Robertão e Taça Brasil, eu optaria por não considerar como título de Campeonato
Brasileiro pelo fato de não reunir os melhores clubes do país e ter o formato
de copa.
Outros torneios foram criados, antes da Copa do Brasil
se estabelecer, na tentativa de se criar um novo torneio de âmbito nacional. Em
1969 foi realizado o Torneio dos Campeões da CBD, de cunho oficial, com as
participações dos campeões da Taça Brasil, Roberto Gomes Pedrosa ou Robertão,
Torneio Norte-Nordeste e Torneio Centro-Sul. O objetivo inicial era determinar
o representante nacional na Libertadores, o que acabou não sendo feito.
Botafogo e Santos alegaram desinteresse e decidiram não concluir sua
participação no torneio, fato este que naturalmente nos faz desconfiar da
legitimidade do torneio. Mas embora esse como outros torneios tivessem falhas e
sofressem com o desprezo de clubes de maior expressão, que conseguiam fazer
dinheiro em excursões internacionais, acredito que não podem ser ignorados tendo
em vista serem organizados pela entidade máxima do futebol e possuir um
critério bem definido de participação, ainda que tenha deixado de determinar o
clube brasileiro a jogar a Libertadores da América. Esta edição foi vencida
pelo Grêmio Maringá, que foi considerado campeão após o Santos se recusar a
jogar a partida de desempate. O fator que depõe contra a importância deste
torneio, assim como a Copa dos Campeões Estaduais de 1967 citada acima, é que
já havia no país dois grandes torneios nacionais, Taça Brasil e Robertão.
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