quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Estudo exaustivo sobre a unificação dos títulos nacionais de futebol (II)

por LUIZ GUSTAVO MEDEIROS DE LIMA
Graduado em Ciência Sociais e cursando atualmente mestrado em Literatura, carioca, botafoguense, leitor assíduo do blogue

Em 1978 foi realizada uma outra edição do Torneio dos Campeões da CBD, mas dessa vez com critérios distintos. Nesse caso, a CBD procurava emplacar mais uma competição nacional e determinou como participantes os vencedores do Campeonato Brasileiro até então. Atlético Mineiro foi o campeão, Palmeiras optou por não participar e o Internacional foi excluído pela própria CBD. Não encontrei os motivos pelos quais a CBD decidiu excluir o Colorado. É outro torneio com falhas, mas com critérios bem esclarecidos de participação. A CBD, assim como a CBF, cometeu inúmeros erros que partem desde o princípio do nosso futebol. O próprio Campeonato Brasileiro gerou revolta em certos clubes de estados ignorados pela CBD, que criaram uma competição paralela, Torneio de Integração Nacional. Ainda assim, acredito ser injusto ignorar títulos oficiais de esquadrões importantes para o futebol brasileiro. A CBD tentou novamente inserir um novo torneio de âmbito nacional e em 1982 criou uma edição do Torneio dos Campeões. Dessa vez, os participantes foram determinados por terem sido campeões ou vice-campeões de competições nacionais já disputadas no país, como Campeonato Brasileiro, Taça Brasil, Robertão, e também o Torneio Rio-São Paulo. O Flamengo, com Zico e companhia, decidiu excursionar e não participou da disputa. O América-RJ foi o vencedor de forma invicta. Estas duas edições, de 1978 e 1982, além de serem oficiais, eram a segunda competição nacional do país, assim como hoje é a Copa do Brasil. Em 2000, 2001 e 2002 a CBF organizou a Copa dos Campeões que, assim como a Taça Brasil, era disputada pelos atuais campeões estaduais. Era uma competição importante, pois dava vaga para a Libertadores em um momento que a competição continental era cobiçada. O problema é que nessa altura a Copa do Brasil já estava estabelecida, assim como o Campeonato Brasileiro. Contudo, são glórias que não podem ser esquecidas por estarem perdidas no passado por questão de nomenclatura e atualização, assim como as outras citadas. Também consideraria estes torneios como Copa do Brasil.

O futebol argentino também redescobriu o passado com a unificação dos títulos nacionais realizada pela AFA. Torneios antigos como a Copa Suécia, Copa Honor, Copa Ibarguen, muitos com regulamentos distintos, foram unificados. O Racing, que é talvez o primeiro grande clube do futebol Argentino ainda em atividade, teve muitas de suas glórias passadas devidamente reconhecidas. Tanto o Campeonato Argentino como a Copa Argentina foram recheadas com novas edições. A história agradece.

A Taça de Prata, em contrapartida, reunia as melhores equipes e possuía um formato mais similar ao atual. Teve apenas quatro edições, entre os anos de 1967 e 1970. Concordo que estes títulos devam ser unificados, mas muitos anos importantes para o futebol brasileiro ainda não seriam contemplados. O embrião da Taça de Prata ou Robertão foi o Torneio Rio-São Paulo, também denominado de Roberto Gomes Pedrosa. Na realidade, o Robertão é apenas uma ampliação do torneio regional. O primeiro Rio-São Paulo ocorreu em 1933 sem o aval da CBD e sofria com as distâncias, além de não reunir todos os grandes clubes. O Botafogo, que dominava de forma soberana o futebol carioca na primeira metade da década de 1930, não participou do torneio, e o Flamengo também ficou de fora. Era a transição do amadorismo para o profissionalismo. Em 1934 e em 1940 foram feitas outras tentativas para se implantar o torneio, mas as duas fracassaram e não foram concluídas. Finalmente em 1950 o torneio seria retomado e se consolidaria.

Rio e São Paulo possuíam inegavelmente os maiores clubes do país pré-1970. A seleção Brasileira era representada em larga maioria por jogadores provenientes de clubes destes estados. Claro que havia clubes que despontavam em algum momento, como o Cruzeiro e o Bahia, que venceram a Taça Brasil em 1966 e 1959, respectivamente. Mas não há como discordar que antes da criação do Campeonato Brasileiro os maiores clubes do país concentravam-se majoritariamente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Não é difícil, portanto, conceber que o Torneio Rio-São Paulo era o campeonato que reunia os melhores clubes do país. Tanto é que quando o cenário começou a mudar a partir do assombro causado pelo Cruzeiro de Tostão, Dirceu e Piazza, em 1966, deu-se início o Robertão com a inclusão de clubes de outras regiões. Isto posto, entendo que entre os anos de 1950 e 1966 o Rio-São Paulo definia o melhor time do Brasil e penso que unificá-los como título nacional, apesar da confusão por se tratar de um torneio disputado por equipes de dois estados, é justo por contemplar a época de ouro do futebol brasileiro e por destacar a importância de grandes esquadrões que não têm seu devido valor reconhecido. Já destaquei e reiterei o fato de Rio e São Paulo concentrarem os melhores clubes do país e se pensarmos que, por este motivo, ele não poderia ser considerado um título nacional, teríamos que contestar o Robertão por, em uma edição, englobar clubes de apenas 5 estados.

Em uma entrevista, o pesquisador Odir Cunha rechaça a contestação da Portuguesa em considerar o Rio-São Paulo como Campeonato Brasileiro, dizendo que se o torneio pudesse ter esse valor a Taça Brasil não seria criada. Ora, concebendo dessa maneira não haveria necessidade de se ampliar o Robertão e a Taça Brasil prosseguiria como o único torneio de âmbito nacional. Entendo que é importante para o futebol que seja atribuído valor a quem o merece. E com a unificação que proponho, os títulos nacionais seriam distribuídos de uma maneira mais justa.

Na primeira metade da década de 1950, quando se inicia o Rio-São Paulo, três clubes se destacavam enormemente. A Portuguesa de Djalma Santos, Julinho Botelho e Pinga, o Corinthians de Luisinho, Baltazar e Gylmar, e o Expresso da Vitória do Vasco da Gama. A Portuguesa foi base da seleção brasileira na Copa de 1954 e o Vasco cedeu a maioria de seu time para a seleção de 1950. O Corinthians tinha o maior goleiro da história do futebol Brasileiro, bi-campeão de mundo, que também se destacou pelo Santos, além de Baltazar que representou o país em 1950 e 1954.

A Portuguesa venceu o Rio-São Paulo em 1952 e 1955, conduzida por um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro, Julinho Botelho. O Corinthians, além de três títulos paulistas conquistados por aquele esquadrão, também venceu os Rio-São Paulo de 1950, 1953 e 1954. O Vasco dominava o cenário carioca no final da década de 1940, além de vencer os cariocas de 1950 e 1952 e, embora não tenha vencido nenhum Rio-São Paulo no início da década de 1950, foi vice-campeão em 1950, 1952, 1953 e 1954. O Vasco só foi vencer o Rio-São Paulo em 1958 com um grande time liderado pelo bi-campeão do mundo Vavá, mas o seu grande time foi mesmo aquele Expresso da Vitória. Estes três esquadrões são exemplos de equipes de enorme importância para o futebol Brasileiro e que não são reconhecidos como grandes vencedores. E eu ainda deixei passar batido os títulos internacionais conquistados por eles.

Na segunda metade da década de 1950 o Vasco seguia como uma das maiores equipes brasileiras, reforçado por Bellini e Pinga, além da consolidação de Vavá, e via o surgimento do Santos de Pelé e do Botafogo de Garrincha. O Santos venceu o Rio-São Paulo de 1959. Em 1956 o Rio-São Paulo foi considerado sem efeito e em 1957 e 1960 o Fluminense foi o campeão. Não era um clube recheado de craques naquele momento, mas tinha Castilho no gol, Waldo e Escurinho no ataque, dois grandes ídolos da história tricolor. Foi no final da década de 1950 que o Brasil conquistava o seu primeiro título mundial e dava início ao período mais glorioso de seu futebol.

Vem então a década de 1960 com sua grande quantidade de jogadores inesquecíveis. O Botafogo de Garrincha, Didi e Nilton Santos empilhou títulos internacionais com suas excursões e dominava o Rio de Janeiro com os títulos estaduais de 1961 e 1962. Foi um dos maiores esquadrões de todos os tempos e fazia com o Santos o duelo que era conhecido como O Maior Espetáculo do Mundo. Venceu o Rio-São Paulo em 1962, 1964 (ex aequo com Santos) e 1966 (ex aequo com Santos, Corinthians e Vasco), além de ter sido vice-campeão em 1960 e 1961. Teve o melhor retrospecto no torneio mais disputado do país naquela época.

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