por ISABELLA TRINDADE
MENEZES
excerto de tese de
mestrado
Pertencer a um clube não representa uma
simples escolha; representa a adoção de determinado estilo de
vida, de uma vivência em conjunto com outros torcedores que compartilham essa paixão
pelo objeto adorado, é uma vivência em comum, um amor partilhado.
O que é ser Botafogo? O
Botafoguismo.
O Botafogo Football Club
foi criado em 1904, fundado por rapazes habituados a jogar bola no Largo dos Leões,
no Humaitá. São características reconhecidas do botafoguense o sofrimento, a
superstição e a singularidade, presentes na estrela solitária, isolada de
outros símbolos clubísticos.
Se fizermos uma análise
acerca das construções identitárias que permeiam a história dos quatro grandes
clubes cariocas, percebemos que as identidades se constroem em pares de
oposição, nos quais o Flamengo ocupa um papel central no Rio de Janeiro.
Sigamos os exemplos. O primeiro par oposto é a dupla Flamengo e Fluminense. A
oposição se fundamenta na tradição do Fluminense, em sua ascendência nobre e no
caráter elitista de seus torcedores, contrária ao apelo popular e simples do Flamengo.
Se o primeiro é reconhecido pelo seu apelo aristocrático, o segundo tem como
característica ser o time das massas, sem distinção social e, por isso, o time
com a maior torcida, que agrega um número maior de torcedores. Outro par de
opostos é o Flamengo e Vasco. Nesse caso, o primeiro representaria o
brasileiro, o de casa, enquanto o Vasco representaria o estrangeiro […], o português.
E o Botafogo, quem seria
seu par oposto? Não há, o Botafogo é a estrela solitária, não se contrapõe, nem
se compara a ninguém. É o caso exemplar, sem precedentes. Se pensarmos que toda
a identidade é construída na relação com o outro, a partir de sua negação ou
aproximação, podemos entender melhor a alma do Botafogo, ao se distanciar, não
elege nenhum adversário a sua altura, apenas se isola, em sua vivência
diferente, não é o maior, nem o menor, nem o mais aristocrático, mais tradicional,
é apenas o diferente, o que não se iguala, o qual possui uma maneira própria de
ser, que imprime sua marca de destaque.
Fonte:
Menezes, I. T. (2013). Análise
das identidades botafoguenses a partir das narrativas orais. In Esporte e Sociedade, ano 8, nº 21, março.
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