segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Botafogo 1x3 Cabofriense: olhem o remo… olhem o remo...

Sabe-se que o campeonato carioca, como qualquer campeonato estadual, não tem outra função que não seja manter aceso o espírito de rivalidade entre os maiores clubes – muitas vezes de rivalidade violenta com mortos e feridos –, bem como servir de laboratório para as verdadeiras competições nacionais que são o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil.

Ainda assim, no que respeita aos grandes clubes, tal preparação exige, no mínimo, um desempenho digno da grandeza de cada qual, até porque para clubes como o Botafogo, que não conquista o título máximo há 23 anos e jamais conquistou uma Copa do Brasil, e que não se vislumbra que venha a conquistar tão cedo, sobra o título carioca para que a torcida comemore alguma conquista.

É pouco estimulante escrever essa verdade, mas essa é a verdade de um Clube que se relaxou, que permitiu e permite que uma minoria mande em um dos maiores patrimônios do futebol brasileiro e mundial, que os desmandos ocorram à vista de todos e não sejam punidos, que a incompetência da gestão amadora não consiga vislumbrar uma luz sequer ao fundo do túnel.

Dito isto, considero que apesar de Zé Ricardo estar testando jogadores, em especial os mais jovens, a vergonha futebolística apresentada contra a Cabofriense é INQUALIFICÁVEL! Coisa de Clube de 3ª divisão nacional.

Efetivamente, tudo começa errado pelo planejamento, que não se esmerou minimamente para incluir uma preparação atempada do plantel, tal como fez a Cabofriense, nem – como se esperaria dessa figura inacreditável que é Anderson Barros – se observou nenhum reforço sério, em especial nas posições mais frágeis.

Ano após ano o Botafogo contrata meias, ‘volantes’ e ‘atacantes’ para todos os gostos, mas atacantes para entrar na área capazes de marcar com regularidade é que não se vislumbram… Em todo o caso há coerência: meia-atacante é compatível com meio-futebol e meia-vitória.

Se o planejamento foi errado e Barros uma nódoa no Departamento de Futebol, Zé Ricardo foi incapaz de mostrar, durante a partida, qualquer capacidade de mudança estratégica e ajustamentos numa equipe com volantes a mais e nenhum armador criativo, ficando Luís Fernando como único a tentar fazer alguma coisa nesse sentido. Sem criador e com um atacante chamado Kieza, adeus equipe…

Claro que a culpa não foi do cinzento e inerte Zé Ricardo, porque ele explicou-se bem com as desculpas habituais: “não queríamos estrear com derrota, dentro de um processo de reconstrução” (?!?!?!) e os gols “saíram em erros que acontecem nesse início de processo” (no início de processos?!?!? TODOS OS ANOS, ANO APÓS ANO!!!).

O que vale é que Zé Ricardo sempre acha que “os erros ensinam”, o problema é que nem ele nem a equipe do Botafogo aprende com eles, erros iguaizinhos aos de 2018, 2017, 2016, 2015… Caramba, que porcaria de futebol… Fora a arte de Dodô e Seedorf (além dos goleiros) e a eficácia de Loco Abreu, são pelo menos duas décadas sem nenhuma arte, sem uso sério da razão ou da emoção…

Os jogadores andaram em campo, fizeram um gol e a Cabofriense passou a trazer perigo até ao empate no final da 1ª parte. Na 2ª parte tudo velho, lento e anestesiante: uma equipe inexistente e uma virada de três gols da Cabofriense apesar de o Botafogo ter aberto o placar…

Visão inexistente; objetivos medíocres; estratégia inexistente, contraditória ou desarticulada; filosofia de gestão amadora e, ainda assim, despida das virtudes amadoras e, obviamente, incapaz de incorporar virtudes profissionais.

A minha sugestão é substituir a atitude de Nelson Mufarrej pela atitude de Marcelo Murad, a incapacidade gerencial de Anderson Barros pela capacidade coordenadora de Xoxô, a obliquidade técnica de Zé Ricardo pelo discernimento técnico de Paulinho, o comportamento de treino e hábitos dos futebolistas pelo comportamento de treino e hábitos dos nossos remadores. Isto é, que o profissionalismo exemplar do Remo, hexacampeão brasileiro e hexacampeão estadual nos últimos anos, seja exemplo e caso de boa prática a aplicar ao futebol de General Severiano!

Em suma, a equipe dececionante do costume, as banalidades do costume, a falta de atitude do costume, e nós engrossando as inesperanças do costume. Não espero nada de bom em 2019.

FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x3 Cabofriense
» Gols: Luiz Fernando, 31' (Botafogo); Rafael Gladiador, aos 48', Anderson Rosa, aos 74' e Rincon, aos 90+4 (Cabofriense)
» Data: 20.01./2019
» Local: Estádio ‘Moacyrzão’, em Macaé (RJ)
» Público: 2.159 pagantes e 2.260 presentes
» Renda: R$ 53.640,00
» Árbitro: Pathrice Wallace Corrêa Maia (RJ); Assistentes: Michael Correia (RJ) e Carlos Henrique Alves de Lima Filho (RJ)
» Disciplina: cartão amarelo – Leandro Carvalho (Botafogo) e Roberto Júnior, Manoel e Marcos Vinícius (Cabofriense)
» Cabofriense: George; Watson (Pedro), Brunno Lima, Roberto Júnior e Manoel; Diego Valderrama, Michel (Kaká Mendes), Marcelo Gama Anderson Rosa; Marcus Vinícius e Rafael Gladiador (Rincon). Técnico: Luciano Quadros.
» Botafogo: Gatito Fernández; Marcinho, Marcelo Benevenuto, Helerson e Gilson, Wenderson, Alan Santos (Alex Santana) e João Paulo (Rodrigo Aguirre); Leandro Carvalho (Gustavo Ferrareis), Luiz Fernando e Kieza. Técnico: Zé Ricardo. 

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