Sabe-se que o campeonato carioca, como qualquer
campeonato estadual, não tem outra função que não seja manter aceso o espírito
de rivalidade entre os maiores clubes – muitas vezes de rivalidade violenta com
mortos e feridos –, bem como servir de laboratório para as verdadeiras
competições nacionais que são o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil.
Ainda assim, no que respeita aos grandes clubes, tal
preparação exige, no mínimo, um desempenho digno da grandeza de cada qual, até
porque para clubes como o Botafogo, que não conquista o título máximo há 23
anos e jamais conquistou uma Copa do Brasil, e que não se vislumbra que venha a
conquistar tão cedo, sobra o título carioca para que a torcida comemore alguma conquista.
É pouco estimulante escrever essa verdade, mas essa é a
verdade de um Clube que se relaxou, que permitiu e permite que uma minoria
mande em um dos maiores patrimônios do futebol brasileiro e mundial, que os
desmandos ocorram à vista de todos e não sejam punidos, que a incompetência da
gestão amadora não consiga vislumbrar uma luz sequer ao fundo do túnel.
Dito isto, considero que apesar de Zé Ricardo estar
testando jogadores, em especial os mais jovens, a vergonha futebolística apresentada
contra a Cabofriense é INQUALIFICÁVEL! Coisa de Clube de 3ª divisão nacional.
Efetivamente, tudo começa errado pelo planejamento, que
não se esmerou minimamente para incluir uma preparação atempada do plantel, tal
como fez a Cabofriense, nem – como se esperaria dessa figura inacreditável que é Anderson Barros – se observou nenhum reforço sério, em especial nas
posições mais frágeis.
Ano após ano o Botafogo contrata meias, ‘volantes’ e
‘atacantes’ para todos os gostos, mas atacantes para entrar na área capazes de
marcar com regularidade é que não se vislumbram… Em todo o caso há coerência:
meia-atacante é compatível com meio-futebol e meia-vitória.
Se o planejamento foi errado e Barros uma nódoa no
Departamento de Futebol, Zé Ricardo foi incapaz de mostrar, durante a partida,
qualquer capacidade de mudança estratégica e ajustamentos numa equipe com
volantes a mais e nenhum armador criativo, ficando Luís Fernando como único a
tentar fazer alguma coisa nesse sentido. Sem criador e com um atacante chamado
Kieza, adeus equipe…
Claro que a culpa não foi do cinzento e inerte Zé
Ricardo, porque ele explicou-se bem com as desculpas habituais: “não queríamos
estrear com derrota, dentro de um processo de reconstrução” (?!?!?!) e os gols
“saíram em erros que acontecem nesse início de processo” (no início de
processos?!?!? TODOS OS ANOS, ANO APÓS ANO!!!).
O que vale é que Zé Ricardo sempre acha que “os erros
ensinam”, o problema é que nem ele nem a equipe do Botafogo aprende com eles,
erros iguaizinhos aos de 2018, 2017, 2016, 2015… Caramba, que porcaria de
futebol… Fora a arte de Dodô e Seedorf (além dos goleiros) e a eficácia de Loco
Abreu, são pelo menos duas décadas sem nenhuma arte, sem uso sério da razão ou
da emoção…
Os jogadores andaram em campo, fizeram um gol e a
Cabofriense passou a trazer perigo até ao empate no final da 1ª parte. Na 2ª
parte tudo velho, lento e anestesiante: uma equipe inexistente e uma virada de
três gols da Cabofriense apesar de o Botafogo ter aberto o placar…
Visão inexistente; objetivos medíocres; estratégia
inexistente, contraditória ou desarticulada; filosofia de gestão amadora e,
ainda assim, despida das virtudes amadoras e, obviamente, incapaz de incorporar
virtudes profissionais.
A minha sugestão é substituir a atitude de Nelson Mufarrej
pela atitude de Marcelo Murad, a incapacidade gerencial de Anderson Barros pela
capacidade coordenadora de Xoxô, a obliquidade técnica de Zé Ricardo pelo
discernimento técnico de Paulinho, o comportamento de treino e hábitos dos
futebolistas pelo comportamento de treino e hábitos dos nossos remadores. Isto
é, que o profissionalismo exemplar do Remo, hexacampeão brasileiro e hexacampeão
estadual nos últimos anos, seja exemplo e caso de boa prática a aplicar ao
futebol de General Severiano!
Em suma, a equipe dececionante do costume, as banalidades
do costume, a falta de atitude do costume, e nós engrossando as inesperanças do
costume. Não espero nada de bom em 2019.
FICHA TÉCNICA
Botafogo
1x3 Cabofriense
» Gols: Luiz
Fernando, 31' (Botafogo); Rafael Gladiador, aos 48', Anderson Rosa, aos 74' e Rincon,
aos 90+4 (Cabofriense)
» Data: 20.01./2019
» Local: Estádio ‘Moacyrzão’,
em Macaé (RJ)
» Público: 2.159
pagantes e 2.260 presentes
» Renda: R$
53.640,00
» Árbitro: Pathrice
Wallace Corrêa Maia (RJ); Assistentes: Michael
Correia (RJ) e Carlos Henrique Alves de Lima Filho (RJ)
» Disciplina: cartão amarelo – Leandro
Carvalho (Botafogo) e Roberto Júnior, Manoel e Marcos Vinícius (Cabofriense)
» Cabofriense: George;
Watson (Pedro), Brunno Lima, Roberto Júnior e Manoel; Diego Valderrama, Michel
(Kaká Mendes), Marcelo Gama Anderson Rosa; Marcus Vinícius e Rafael
Gladiador (Rincon). Técnico: Luciano
Quadros.
» Botafogo: Gatito
Fernández; Marcinho, Marcelo Benevenuto, Helerson e Gilson, Wenderson, Alan
Santos (Alex Santana) e João Paulo (Rodrigo Aguirre); Leandro Carvalho (Gustavo
Ferrareis), Luiz Fernando e Kieza. Técnico: Zé
Ricardo.
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