quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Para onde foi o Mané?

Botafogo tinha dois amistosos em El Salvador. Contra a seleção local e contra o Independiente. O último jogo foi antecipado em um dia e, na véspera, um jogador não estava no hotel. João Saldanha, técnico, não sabia onde estava Mané Garrincha. Pegou um táxi, acompanhado do roupeiro Aloísio Birruma e do dirigente Renato Estelita e saiu pelas ruas para procurar o craque desaparecido.

Rodaram, rodaram e rodaram e nada de encontrar Mané. Aloísio viu um cartaz pendurado em um poste que anunciava um “Gran concurso de Bolero” naquela mesma noite. Era difícil imaginar Garrincha participando de um concurso de dança, mas, como as opções estavam se esgotando, a delegação do Botafogo foi para La Caverna ver se ele estava lá.

E não é que estava?. O público tomava conta da pista, extasiado com os movimentos de uma dupla singular: uma garota baixa, de um metro e meio, usando um vestido verde e um lenço amarelo e vermelho e o maior ponta direita da história. Renato não quis saber de nada. Invadiu a pista e mandou Mané entrar no táxi, deixando a pequena dançarina aturdida, sem saber o que estava acontecendo.

Por que diabos Mané Garrincha estava em um concurso de dança? A explicação, reproduzida no livro Histórias do Futebol, escrito por Saldanha, é simples: “O senhor (Renato) não me mandou ir representar a gente na Escola Brasil? Lá só tinha velha e ninguém quis ir. Eu fui e me chateei a tarde toda. Depois, fui ao cinema e voltei ao hotel. A garota me convidou para o concurso. Era dia livre e eu fui. Eu ia ganhar vinte dólares no concurso. Ainda tinha uma taça. A garota é o fino na dança e o papai aqui é o maior. O senhor estragou tudo”.

Todos entenderam que Mané não viu o aviso de que o jogo havia sido antecipado e não houve punição, mas Garrincha tinha outra preocupação: não queria que os companheiros tirassem sarro. Não deu muito certo. No café da manhã do dia seguinte, Édson chamou o colega de pernas tortas de “Cinderela” porque ele “tinha saído à meia-noite antes do baile acabar”.

E que fim levou a garota? Bom, ela apareceu no hotel e fez um escândalo até que Renato Estelita aceitasse pagar os vinte dólares, já que ela tinha certeza que seria campeã do concurso. Ao ver o chefe tirar a carteira do bolso, Mané emendou: “Seu Renato, também tenho direito a vinte dólares. Eu também ia ganhar o prêmio. O senhor viu como o pessoal aplaudia, né?”. Garrincha não ganhou os vinte dólares.

Fonte: https://trivela.com.br/ha-35-anos-perdemos-garrincha-7-historias-incriveis-da-alegria-do-povo/

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