Botafogo tinha dois
amistosos em El Salvador. Contra a seleção local e contra o Independiente. O
último jogo foi antecipado em um dia e, na véspera, um jogador não estava no
hotel. João Saldanha, técnico, não sabia onde estava Mané Garrincha. Pegou um
táxi, acompanhado do roupeiro Aloísio Birruma e do dirigente Renato Estelita e
saiu pelas ruas para procurar o craque desaparecido.
Rodaram, rodaram e
rodaram e nada de encontrar Mané. Aloísio viu um cartaz pendurado em um poste
que anunciava um “Gran concurso de Bolero” naquela mesma noite. Era difícil
imaginar Garrincha participando de um concurso de dança, mas, como as opções
estavam se esgotando, a delegação do Botafogo foi para La Caverna ver se ele
estava lá.
E não é que estava?.
O público tomava conta da pista, extasiado com os movimentos de uma dupla
singular: uma garota baixa, de um metro e meio, usando um vestido verde e um
lenço amarelo e vermelho e o maior ponta direita da história. Renato não quis
saber de nada. Invadiu a pista e mandou Mané entrar no táxi, deixando a pequena
dançarina aturdida, sem saber o que estava acontecendo.
Por que diabos Mané
Garrincha estava em um concurso de dança? A explicação, reproduzida no livro
Histórias do Futebol, escrito por Saldanha, é simples: “O senhor (Renato) não
me mandou ir representar a gente na Escola Brasil? Lá só tinha velha e ninguém
quis ir. Eu fui e me chateei a tarde toda. Depois, fui ao cinema e voltei ao
hotel. A garota me convidou para o concurso. Era dia livre e eu fui. Eu ia
ganhar vinte dólares no concurso. Ainda tinha uma taça. A garota é o fino na
dança e o papai aqui é o maior. O senhor estragou tudo”.
Todos entenderam que
Mané não viu o aviso de que o jogo havia sido antecipado e não houve punição,
mas Garrincha tinha outra preocupação: não queria que os companheiros tirassem
sarro. Não deu muito certo. No café da manhã do dia seguinte, Édson chamou o
colega de pernas tortas de “Cinderela” porque ele “tinha saído à meia-noite
antes do baile acabar”.
E que fim levou a
garota? Bom, ela apareceu no hotel e fez um escândalo até que Renato Estelita
aceitasse pagar os vinte dólares, já que ela tinha certeza que seria campeã do
concurso. Ao ver o chefe tirar a carteira do bolso, Mané emendou: “Seu Renato,
também tenho direito a vinte dólares. Eu também ia ganhar o prêmio. O senhor
viu como o pessoal aplaudia, né?”. Garrincha não ganhou os vinte dólares.
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