por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
O Botafogo da versão ‘volta redonda’ foi bastante diferente do Botafogo da versão ‘madureira’ do ponto de vista comportamental, mas não do ponto de vista tático e técnico. Viu-se muito mais vontade, mas pobre na qualidade demonstrada.
Efetivamente, desde o primeiro ao último minuto, foi o Botafogo que dominou as ações, tendo o Madureira sido pouco mais do que um espectador fechado no seu território. Ainda fez algumas incursões nos primeiros 20 minutos, mas Douglas Borges efetuou as respectivas defesas.
Porém, esse domínio não se traduziu em eficácia, e a prova cabal disso é que o goleiro do Madureira não realizou uma única defesa na primeira parte. E para equipe considerada ‘grande’ no contexto do futebol brasileiro, isso é muito preocupante – apesar de se saber que estamos em início de temporada e a tão badalada pré-época se ter resumido a nove dias.
Viu-se o Botafogo a correr campo do primeiro ao último minuto, com muita vontade, mas em correria. Já Didi dizia que a bola é que deve correr mais do que os jogadores, os quais devem correr muito menos mediante uma capacidade técnica e um esquema tático que lhes permita ocupar as posições onde a bola chega.
Mas o que se viu, além da desenfreada corrida dos jogadores, empenhados em mostrar ao público que não são apenas os lentos da versão do jogo ‘volta redonda’ – já para não falar dos inacreditáveis pupilos de Lúcio Flávio –, foi uma baixa capacidade técnica, falta de pensar o jogo e, sobretudo, um paupérrimo discernimento nos passes, sobretudo no último passe, nas inversões de jogo e nos remates à baliza.
Por exemplo, logo aos 10’ Luís Henrique recebeu uma bola na área, tinha dois defesas à sua frente, e mesmo assim chutou de frente, obviamente em cima deles, em vez de tocar subtilmente para o miolo da área onde estavam dois botafoguenses preparados para fuzilar a baliza. E foi assim durante todo o primeiro tempo.
Continuo a interrogar-me porque é que Luís Henrique regressou ao clube, já que não me lembro de ter feito algo de bom antes e agora – assim como dificilmente acredito que Carlos Alberto venha a ser boa opção. Na mesma linha, Gabriel Pires só cometeu disparates durante a primeira parte e Piazon continua sem mostrar o futebol que começara a mostrar antes de se lesionar. Vi lançamentos longos absurdos para a terra de ninguém e remates tendo a Lua como alvo, fosse de Piazon, Gabriel Pires, Luís Henrique ou Rafael. Douglas Borges juntou-se-lhes, com duas saídas extemporâneas inacreditáveis. Tanto quer mostrar-se que sai da baliza sem conta, peso e medida.
É certo que há gente chegando de novo – como Segovia ou Marlon Freitas –, gente regressada de lesões e gente ainda sem ritmo, mas a verdade é que os muitos erros de 2022 permanecem, pelo menos por enquanto, em 2023.
Um primeiro tempo de pura correria desconexa típica do futebol brasileiro, dito ‘eletrizante’ por muitos, assemelhou-se a uma ‘peladobol’ em que os jogadores entram em campo cada um por si, sem orientação tática, ou, tendo orientação tática, desajustados dela, isto é, jogando num 4-3-3 onde deveria haver um 4-4-2 ou um 4-3-1-2 ou outro esquema qualquer mais adaptado aos estilos dos jogadores.
Na segunda parte manteve-se o panorama do Madureira muito fechado, bem como a correria do Botafogo, mas verificou-se, claramente, muito maior interligação entre os setores e parece que alguns jogadores ‘adormecidos’ acordaram ao fim de 45 minutos. O sono foi tão reparador que, vejam!, foi o desastrado Piazon que conseguiu cobrar uma falta milimetricamente para a pequena área do Madureira e o também desastrado Gabriel Pires apareceu de rompante para, de cabeça a meia altura, inaugurar o marcador aos 55’. E foi o mesmo Gabriel Pires que deu um passe milimétrico para, no miolo da área, Sauer tocar, com muita oportunidade, para o fundo das redes e selar a vitória aos 87’. Três jogadores com problemas de desempenho foram os que resolveram a partida!
Talvez tenha que ser revisto, entre outros aspectos, o posicionamento de jogadores de modo a melhorá-los mediante ajustamentos posicionais, porque o Gabriel Pires do 1º tempo não é o Gabriel Pires que marcou um gol com muita oportunidade, fez uma assistência irretocável e ainda um drible monumental em cima da zaga do Madureira.
Entre os 55’ e os 87’, tempo que mediou a marcação dos dois gols, foi mais de meia hora de futebol muito pressionante do Botafogo, com o Madureira amarrado à sua defesa, bem marcado na saída de bola, mas com pouca capacidade de criação de oportunidades claras, apesar do melhor entendimento entre os setores.
Na verdade, o Madureira teve na segunda parte uma única oportunidade de gol em toda a partida, e apenas por grave deslize do nosso goleiro. Não fosse uma monumental saída furada de Douglas Borges aos 62’, que deixou a bola nos pés do atacante do Madureira frente a frente à baliza – e não empatou apenas por incompetência técnica –, o nosso adversário não teria tido nenhuma grande oportunidade de vazar a baliza botafoguense. Dificilmente Douglas Borges poderá ser alternativa a Gatito e Perri.
Tiquinho Soares continua bem ‘tiquinho’ como matador e, em minha opinião, é essencial contratar um ‘matador’ de grande área, sob pena de termos um ano muito difícil – escrevi isto na análise ao jogo contra o Volta Redonda e continuarei a escrever até se contratar um atacante capaz de alinhar com eficácia ao lado de Tiquinho Soares e, quiçá, ser maior artilheiro do que ele, porque Matheus Nascimento não cresce tecnicamente e do ponto de vista físico tem muito a robustecer-se na medida em que perde todos os confrontos corpo a corpo.
Finalmente, porque já vão longas as minhas observações, e esperando que rodada a rodada as coisas melhorem, deixo três últimos comentários: a) Luís Castro tem que repensar muito bem se o seu esquema favorito (4-3-3) se ajusta a estes jogadores, porque se mantem uma clara desadequação entre capacidades técnicas dos atletas e o 4-3-3, e que tipo de alternativas mais adequadas deve treinar com a equipe; b) uma 2ª parte do Botafogo bem mais positiva e com esperança de mais rápido acerto, bem como de cumprimento das promessas de reforços expressas por J. Textor; c) Cazé TV faz lembrar o papagaio quando se diz “ vem cá, zé, dá cá o pé”, porque o amadorismo, a displicência e o mau gosto das transmissões conseguem ser ainda piores do que ouvir as asnices do presidente federativo ‘rubito lopes’.
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x0 Madureira
» Gols: Gabriel Pires, aos 55’, e Gustavo Sauer, aos 87’
»
Competição: Campeonato Carioca (Taça Guanabara)
» Data: 26.01.2023
» Local: Estádio Luso-Brasileiro, no Rio de Janeiro (RJ)
»
Público: 3.600 pagantes; 3.900 espectadores
»
Renda: R$ 120.525,00
» Árbitro: Alex Gomes Stefano; Assistentes: Gustavo
Mora Correia e Luiz Cláudio Regazone
»
Disciplina: cartão amarelo – Maurício Barbosa e Guilherme Ferreira (Madureira)
» Botafogo: Douglas Borges;
Rafael, Adryelson, Segovia, Hugo (Marçal); Danilo Barbosa, Marlon Freitas
(Patrick de Paula), Gabriel Pires; Lucas Piazon (Gustavo Sauer), Luís
Henrique (Carlos Alberto) e Matheus Nascimento (Tiquinho Soares). Técnico: Luís Castro.
» Madureira: Dida; Rhuan
(Oliveira), Maurício Barbosa, Pedro Cavalini e Guilherme Ferreira; Banguelê,
Matheus Lira, Pablo Pardal (Marcelinho); Rafinha (Thiaguinho), Guilherme
Henrique (Henrique) e Gustavo (Bruno Cosendey). Técnico: Felipe Arantes.
Sem comentários:
Enviar um comentário